terça-feira, 20 de setembro de 2016

Pobre de mim que não caço Pokémons

por LÚCIA SENNA, escritora e cantora
escrito para o blogue Mundo Botafogo

Acabo de constatar que ando completamente desatualizada. Não sei mais do mundo e o mundo não sabe de mim. Mas… como assim?

Acordo cedo, leio os jornais, vou além das manchetes, leio os artigos de fundo e todos os editorias. Sou assinante de algumas revistas importantes, leio sobre política, economia, gastronomia, o Caderno B,  C , D e sei lá mais o quê. Leio o Caderno dos Esportes, o Boa Chance, os Classificados e, a partir de agora, por me saber desinformada, incluirei até mesmo o Obituário – de repente, quem sabe, já morri e nem me dei conta.

Apesar, meus amigos, de toda essa gama de informações, afirmo com precisão: não estou atualizada não!

Além da minha resistência de aderir às redes sociais, de comprar em lojas virtuais, de colecionar selfs nada originais e de muitas otras cositas más, confesso, com algum constrangimento, que ainda não ando correndo pelas ruas da cidade para  caçar Pokémons.

Uma coisa é certa:  se, hoje em dia, não caças Pokémons, meu caro, és figurinha totalmente fora do baralho. Na escola, estás fadado a sofrer bulling, trotes e com as garotas não terás sorte. É a maldição dos monstrinhos! E há boatos que a segunda geração deles já está a caminho.

Considero tudo isso uma verdadeira maluquice! E uma maluquice universal!

Aqui cabe com perfeição uma citação genial de Raul Seixas: “Pare o mundo que eu quero descer”.

Eu também quero, Raul, pois tenho também muitas e muitas queixas.

Tomei conhecimento de uma matéria sobre uma livraria em Paris, situada no Quartier Latin – conhecido ponto de encontro de intelectuais – onde, acredite, não existe um livro sequer. No lugar deles, apenas uma impressora que os imprime em tempo recorde. A pessoa, ao entrar, é imediatamente apresentada a uma espécie de cardápio contendo mais de cinco mil títulos. Depois de escolhido o livro desejado, é só aguardar por alguns minutos e sair com seu exemplar debaixo do braço. Surpreendente, não é mesmo? Tudo muito prático. Tudo muito rápido e eficiente.

Tudo sem poesia, sem sabor, sem cor. Sem nenhuma ludicidade!

Sou taurina, regida por Vênus, deusa da beleza na mitologia romana. Preciso do toque, dos cheiros, do visual, enfim,  tudo deve responder aos meus mais aguçados cinco sentidos. Se assim não for, nada fará muito sentido.  Uma livraria onde não há livros a serem manuseados, explorados, tocados, onde não sentimos o delicioso e quase sensual cheiro de papel fresco, fica muito a desejar...

Ah!... o aroma dos livros, simplesmente irresistível.

Uma livraria há de ter vida pulsando, pilhas e pilhas de livros com suas capas exuberantes e títulos que, de tão atraentes , nos convidam a abri-los e agarrá-los pelas orelhas na tentativa de ouvi-los, adivinhá-los e nos encantarmos de vez.

Imaginem, meus senhores, se a moda pega? Teremos, então, ao invés do prazer lúdico, o monótono e entediante barulho de uma impressora austera e irritante.

Já disse em algum momento que estou longe, muito longe, de ser uma xiita radical. Muito pelo contrário. Sou fascinada pelos avanços da tecnologia, adoro um smartphone e considero os aplicativos essenciais para nos ajudar a resolver alguns problemas simples do nosso dia a dia.

Mas, por favor, me peçam qualquer coisa, mas não procurem me convencer que há algum prazer em entrar em uma livraria onde só existe uma impressora e nada mais. Preciso demais ter livros de verdade nas minhas estantes não virtuais.

Quanto sair pelas ruas, aderindo à febre universal de caçar Pokémons, ainda que eles se encontrem nos lugares mais inusitados  da cidade, só tenho uma coisa a dizer: desculpem, meus caros, mas tenho mais o que fazer.

12 comentários:

Anónimo disse...

concordo plenamente com sua cronica pois também nao sou adepta a caçada de pokemons...rs voce conseguiu expressar de uma maneira super divertida aquilo que realmente acontece.
Parabéns e continue a nos entreter com seus maravilhosos textos.

Anónimo disse...

Logo que o mundo parasse, descerias não,
Uma das coisas que sei por antecipação!
Craca da vida, craque perfeita nas crônicas,
Impecável no palco com um samba-canção,
A imortalidade entre as vocações agônicas,

Mandarias, da “boléia”: retorna a girar!
Apesar de estar, dizes, desatualizada,
Revolucionas, pioneira, a mulherada,
Intimidas alguns homens de forma sem par:
Ao viveres sempre um tanto desajuizada!

Sobre os livros, tu edificas a tua igreja,
Eletrônicos, pra bobos caças-Pokemons,
Numa maluquice que, aos acharem, festeja,
Na certa provando, de cuca, não são bons;
Ah, não entendo como esse pessoal não se peja!

Conquistada pelas livrarias, os e-books,
Ostentação me parecem, só e nada mais...
Sou do canto, sou das festas e sou dos new looks,
Tudo, pra mim, bastante emocionante, demais,
Ao limbo, ao purgatório, os spans, os facebooks...

Sergio Sampaio, www.umpoetinha.com.br

Anónimo disse...

Amiga, partilho de cada palavra sua. Embora tenhamos que acompanhar a fulminante evolução dos tempos, a vida sem Pokémons e com livros que possamos "agarrá-los pelas orelhas" é infinitamente mais rica, mais calorosa, mais criativa, mais poética. Beleza de crônica! Muito orgulho de você, da sua infinita lucidez. Parabéns! Maria Inês Galvão - jornalista e escritora.

Anónimo disse...

Nunca vi coisa mais certa: realmente um verdadeiro absurdo essa historia da caçar
Pokemóns. Achei a crônica muito atual e com muito senso de humor.
Maria de Lourdes Coelho

Lúcia Costa disse...

Pois é, tanta coisa interessante para se fazer...
Passar o fim de semana caçando Pokémons é surreal!
Parece até piada.
Obrigada pela participação
Abraços

Lúcia Costa disse...

A vida real era bem mais divertida. Chego a pensar que o mundo- em alguns aspectos-
involuiu. Final de semana agarrávamos a vida pelas mãos, braços e... pernas pra que te quero :saíamos para dançar, cantar e namorar. É bem verdade que, às vezes, fazíamos amizades com uns garotos meio " maluquetes'. Seriam eles Pokémons não virtuais dos nossos tempos de adolescência ? Vai saber... kkkkkk
Bjs, minha queridona

Lúcia Costa disse...

Temos que colocar sempre uma pitadinha de humor nos nossos textos.
O paladar agradece e a vida também!
Obrigada pelos gostosos elogios.
Abraços

Lúcia Costa disse...

Adoro teus acrósticos, Sérgio.
Traças um diagnóstico genial sobre algumas das minhas características : sou mesmo
do canto, das festas, sou cigarra , mas...não levo a vida na flauta. Minha parte
formiga existe e é bem forte. Aliás, acabo de escrever uma crônica sobre Cigarra e
Formiga. Quem sabe um dia sairá aqui publicada ? Nosso querido editor, Ruy Moura,
é quem decidirá.
Muito obrigada pela poesia. Espetacular!
Um grande abraço.

Anónimo disse...

Como sempre adoro ler as crônicas da escritora Lucia Senna. Geralmente é a síntese do que eu sinto. Eu também sou super desatualizada, mas, com certeza, não pretendo continuar assim, já acho que estou ficando ultrapassada. A caça aos Pokémons nem motivação tenho ainda pra pensar, não sei mais tarde. A adorável crônica da Lucia fala do que sinto. É muito bom. Parabéns! Bjs. Sonia Costa

Lúcia Costa disse...

Obrigada, Sônia, pelo teu ótimo comentário.
bjs.

Anónimo disse...

Tenho um filho de 13 anos que só quer saber de caçar Pokémons. Acabei indo na onda dele
e, confesso, que achei divertido. Sei que é maluquice...mas, cronista, uma maluquice a mais ou a menos nesse mundo do besteirol , não vai fazer diferença.
Gostei do texto; você me fez rir.
Abraços,

Lúcia Costa disse...

Realmente tens razão, caro leitor(a). O mundo está repleto de besteirol e caçar Pokémons
não vai mesmo fazer nenhuma diferença.
Mas, amigo(a), acho que vais concordar comigo que o tema é ótimo para ser explorado numa crônica, não é mesmo?
E se tu encontraste motivo para rir, já me dou por satisfeita (KKKKKKK )
Um grande abraço.

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