terça-feira, 13 de setembro de 2016

Cardápio para a Arena Botafogo: peixe frito…

Ricardo Gomes abandonou o barco botafoguense em 17º lugar mais ou menos do mesmo modo que os ratos abandonam os barcos que se afundam; 6 jogos após, o Botafogo sobe ao 8º lugar com 5 vitórias nessa meia dúzia de jogos.

Jair Ventura assumiu o Botafogo menos de 24 horas após o ex-treinador sair – fracassou rotundamente na Copa do Brasil, mas tem conseguido pontos cruciais a seu crédito no campeonato brasileiro.

E amanhã tem um jogo que, se ganhar – e tem condições para isso –, pode começar a configurar-se como uma hipótese real de treinador com potencial de desenvolvimento após ganhar a 1/3 dos grandes clubes brasileiros (São Paulo, Grêmio, Fluminense e Cruzeiro). E, ganhando amanhã a outro grande clube, passa a vencedor de 45% dos seus 11 maiores adversários, o que é um palmarés considerável para um novato na profissão.

A título de brincadeira – que não pretende ser ofensa ao Santos – dir-se-ia que Jair poderia degustar peixe frito no seu cardápio de quarta-feira à noite…

Jair Ventura tem sido inteligente na gestão da equipe, recuperando o esquema de jogo que fez boa campanha no campeonato carioca e introduzindo uma flexibilidade tática essencial no futebol moderno, cujas dinâmicas criadas a partir de táticas flexíveis são fundamentais para o sucesso. Por outro lado, focou-se na defesa, escudando-se na máxima antiga que dita a construção de uma equipe de trás para a frente, isto é, suportada por um goleiro e uma defesa cuja eficácia transmite segurança à restante equipe.

Por outro lado, a equipe não é afoita pelas laterais como antigamente, cujos protagonistas se chegavam à frente (só que não eram Nilton Santos) mas não regressavam a tempo e levavam com sucessivas bolas nas costas. O meio campo não é muito criativo, mas é razoável no passe e na recuperação de bola, que são dois elementos muito importantes para imprimir transições rápidas no ataque apelando sobretudo a Neilton e a Sassá, com Camilo e outros atletas entrando por detrás dos atacantes e marcando gols também – alguns de belo efeito.

Espero que tudo isto seja consistente e não meramente conjuntural (como tem sido frequente), que Jair aprenda rapidamente e com humildade que é preciso tomar decisões rápidas em momentos de mesmice em que a equipe caia, seja durante o jogo seja durante os treinos, e que certos jogadores não podem jogar. Simplesmente não podem jogar.

Felizmente, Jair não seguiu a conversa do vice-presidente ‘Cacá’ Azeredo – claramente pouco entendido em futebol, ao contrário do seu brilhante avô – que dizia que Jair não iria alterar nada após a saída de Ricardo Gomes, o que significa que ainda estaríamos em 17º lugar se o tivesse feito.

E Jair necessita de fazer algo ainda mais forte, com base no prestígio que vai amealhando, que é não ceder nem a eventuais ingerências do gerente de futebol nem ao desejo de empresários que pressionam as escalações da equipe. Os treinadores dos grandes clubes europeus colocam a jogar quem está melhor, e não quem o gerente de futebol ou os empresários pretendem colocar na montra das vendas.

A correta escalação de Jair Ventura no último jogo, assim como o esquema que identifiquei de se fechar na defesa, pautar o jogo pelo ritmo ideal para a equipe, saber esperar, fazer transições rápidas para o ataque e aproveitar os inevitáveis erros dos adversários, são as chaves fundamentais para o sucesso da equipe.

A sequência de jogos até ao final do campeonato equilibra-se entre jogos teoricamente mais difíceis e mais fáceis. Considerando os 6 primeiros colocados atualmente (cor azul), o Botafogo defronta 3 deles fora nas próximas 7 rodadas (Santos, Corinthians e Atlético Mineiro), enquanto os demais 3 defronta em casa nas 5 últimas rodadas (Flamengo, Palmeiras e Grêmio). Pelo meio, 4 jogos em casa que podem ser vencidos por nós (Internacional, Coritiba, Chapecoense e Ponte Preta) e quanto aos restantes 4 jogos fora de casa podemos fazer também bons resultados porque se trata dos atuais ‘habitantes’ do Z4 (Vitória, América-MG, Figueirense e Santa Cruz) (cor verde). Eis a tabela:

BOTAFOGO x Santos
Vitória x BOTAFOGO
América-MG x BOTAFOGO
BOTAFOGO x Corinthians
Figueirense x BOTAFOGO
BOTAFOGO x Internacional
BOTAFOGO x Atlético Mineiro
Santa Cruz x BOTAFOGO
BOTAFOGO x Coritiba
Flamengo x BOTAFOGO
BOTAFOGO x Chapecoense
Palmeiras x BOTAFOGO
BOTAFOGO x Ponte Preta
Grêmio x BOTAFOGO

Por enquanto ainda estamos nos afastando do Z4 e perseguindo o objetivo de consolidar a permanência na 1ª divisão, mas se as coisas correrem bem (a tabela permite pensar nisso) e as arbitragens ‘vampirescas’ não entrarem em ação, então podemos começar a pensar, com humildade, ambição e competência (apesar da limitação do elenco), um pouco mais adiante – no G4. Mas ainda é muito cedo para falarmos nesse desiderato, porquanto todos sabemos que, regra geral, todas as equipes têm recaídas em determinados períodos do campeonato – embora o Botafogo tenha a vantagem de já ter passado pelos períodos piores e, neste momento, ser o Clube que lidera o returno do Brasileirão, empatado com o Flamengo e superando-o em saldo de gols. Mas… às vezes emerge a nossa tendência ‘robinwoodesca’…

Enfim, estou francamente satisfeito com o empenhamento e o desempenho da equipe, mas sempre alertando, neste meu posto botafoguense, que futebol não é uma fórmula e o Botafogo tem sempre muitos escolhos a superar dentro e fora de campo.

O BOTAFOGO PRECISA DE TORCEDORES INCONFORMADOS, EXIGENTES E PARTICIPATIVOS!

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