quarta-feira, 15 de agosto de 2018

A Tragédia de Piedade – quem seria o ‘assassino’?

Imagem: Reprodução / Correio da Manhã, 1909

O Theatro Municipal de São Paulo apresentou recentemente a ópera ‘Piedade, a Paixão Segundo Euclides da Cunha’, de João Guilherme Ripper. A obra conta a morte do escritor em um episódio que ficou conhecido como ‘A Tragédia da Piedade’, ocorrida em um bairro da zona norte do Rio de Janeiro, que envolveu Dinorah de Assis, o nosso Glorioso campeão de 1910. O espetáculo homenageou os 110 anos do lançamento do livro “Os Sertões”.

A montagem – encomendada a Ripper em 2012 pela Petrobrás e pelo maestro Isaac Karabtchevsky, foi exibida no Rio de Janeiro, em Campos dos Jordão e também a única ópera brasileira apresentada no Teatro Colón, em Buenos Aires.

As notícias sobre o assunto mencionavam Dilermando, uma vez mais, como o assassino de ‘Euclides da Cunha’ – a meu ver sempre incorretamente. Vejamos…

O episódio trágico, ocorrido em 1909, marcou a cena carioca e foi designado como “uma tragédia grega, uma trama tecida pelos deuses” pelo jornalista Paulo Barreto, mais conhecido como ‘João do Rio’. De péssimo temperamento, Euclides da Cunha foi expulso do Exército uma primeira vez – ao lançar sua espada de cadete aos pés do ministro da guerra, Tomás Coelho. Perdoado e reintegrado, foi novamente expulso, por desobediência.

A Tragédia da morte de Euclides, a 15 de agosto de 1909, ocorreu devido a Anna Emília Ribeiro, a ‘Saninha’, sua esposa, ter abandonado o conflituoso escritor para ir viver com o amante Dilermando de Assis, militar. Nesse dia, Euclides muniu-se de uma pistola e foi à residência do militar na Estrada Real de Santa Cruz com a intenção de o matar. Lá chegado acertou três tiros em Dilermando, enquanto um quarto tiro atingiu a nuca de Dinorah de Assis, irmão de Dilermando e jogador do Botafogo Football Club. Após os disparos, Euclides tentou fugir, mas, na refrega, Dilermando ainda disparou dois tiros que atingiram mortalmente o escritor.

Dilermando recuperou-se dos ferimentos e o irmão Dinorah, embora tenha sido campeão carioca no ano seguinte e vítima de Euclides, foi perdendo gradativamente os seus movimentos devido à bala estar encravada na sua coluna, o que acabou por levá-lo ao suicídio.

A história é contada pelo Mundo Botafogo no seguinte endereço:


O que sempre me espanta nesta história é que Dilermando, absolvido pelo Tribunal por agir em legítima defesa, continua a ser apontado pelas notícias que se referem à ‘Tragédia da Piedade’ como o ‘assassino’ de Euclides da Cunha, ignorando-se que o potencial assassino era precisamente Euclides da Cunha. Talvez porque na época Dilermando era apenas um ‘aspirante’ – antes de chegar a General no fim da vida – e o escritor já era famoso…

Efetivamente, recorrendo aos dicionários bastam dois exemplos para determinar o que é um ‘assassino’: “Que provoca a morte premeditadamente”; “É o ato de tirar a vida de outra pessoa intencionalmente e de forma ilegal.” Ora, quem foi a casa de Dilermando com o intuito premeditado de o matar, roubando-lhe a vida intencionalmente e de forma ilegal, foi precisamente Euclides da Cunha.

Euclides foi indiretamente o responsável pela morte de Dinorah e de si mesmo, enquanto Dilermando agiu em legítima defesa. A ‘Tragédia da Piedade’ tinha um único potencial ‘assassino’, sujeito que mata premeditadamente, intencionalmente e ilegalmente: Euclides da Cunha.

Pesquisa de Rui Moura (editor do blogue Mundo Botafogo).

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