quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Sobre Garrincha e Cristiano Ronaldo: encantos de uma camisa 7

por TAUAN AMBROSIO
GOAL.COM / 2015

Passei boa parte da minha vida tendo a certeza de que Garrincha era o segundo maior jogador da história. O melhor dentre os camisas 7, sem dúvida nenhuma. Se estivesse vivo, o grande craque do Botafogo completaria 82 anos hoje: uma quarta-feira, um dia de futebol. É lógico que não tive a chance de vê-lo jogar, mas o relato de todos os que tiveram esse privilégio sempre vem carregado de emoção, independente do escudo que vem ao peito e das cores pintadas na camisa.

O futebol não começou com Garrincha e não terminou após joelho e álcool pararem o seu drible. Antes dele a camisa 7 já havia sido usada por grandes jogadores, e depois esse legado continuou. De 1962 – ano que marca o seu auge e o início de decadência – para cá, o número esteve às costas de craques que fizeram a diferença dentro de campo. Tantos, que seria injustiça citar, para não cair no pecado de esquecer algum.

Hoje, Cristiano Ronaldo é o grande expoente de camisa 7 no esporte mais popular do mundo. E ele também é comparado a um camisa 10: as coincidências com o ponta bicampeão mundial pelo Brasil acabam aí. O português do Real Madrid talvez seja o maior jogador da história a usar o mesmo número de Mané: faz gols de todos os jeitos, quebra recordes de maneira assombrosa e conquista uma infinidade de títulos, individuais ou não.

Para ser esta máquina de recordes e gols, Cristiano tem uma dedicação quase doentia: controla rigorosamente a alimentação, não bebe e tem até uma máquina da NASA, para prevenir lesões, em sua casa. Coisas necessárias para brilhar no futebol/atletismo de hoje. Garrincha só queria brincar de bola, e jogava fácil sem ter 7% do empenho do luso: bebia, jogava pelada descalço em barranco, e bebia de novo. Não fazia nada pensando em evitar lesões. Era um pássaro livre.

Cristiano Ronaldo é sim o melhor jogador dentre os camisas 7. É impossível compará-lo a Mané, até porque o esporte mudou muito nas últimas décadas. Se houver uma comparação, ela sempre será subjetiva. O futebol do português espanta, e seus números impressionam. O futebol de Garrincha encantava, fazia as pessoas rirem – mesmo o adversário, o rival, que odiava amá-lo. O personagem Garrincha encanta até hoje. Ele não é o grande camisa 7 da história? Na realidade ele nunca teria essa ambição. Ele só queria jogar bola e divertir o público: algo bem mais nobre.

[Nota do Mundo Botafogo: O editor do MB considera o artigo interessante, sobretudo por ser inesperado, mas não concorda com certas partes, tais como Garrincha não ter “7% do empenho do luso”. Isso é desqualificar Garrincha, que se treinava fortemente para, entre outros aspetos, manter as suas capacidades físicas em ordem, e não bebia como é sugerido, porque a bebida descontrolada somente ocorreu após Garrincha entrar em declínio, e por causa disso mesmo também. Escrever que CR7 tem “uma dedicação quase doentia” é desqualificar a habilidade e o extraordinário empenho profissional de CR7 que todos os futebolistas deviam replicar, e que de doentio nada tem. Finalmente, Garrincha não apenas “divertia” o público, mas também conquistava títulos praticando um futebol de sonho, porque divertir e ganhar em futebol é que faz as pessoas felizes, tal como CR7 comprova fazendo feliz todos os torcedores dos clubes que representou, oferecendo-lhes muito bom futebol em jogadas deslumbrantes e, sobretudo, títulos, muitos títulos, o que não é menos nobre, porque competir é procurar ser “o mais veloz, o mais alto, o mais forte” – lema dos Jogos Olímpicos.]

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