por TAUAN AMBROSIO
GOAL.COM / 2015
Passei boa parte da minha vida tendo a
certeza de que Garrincha era o segundo maior jogador da história. O melhor
dentre os camisas 7, sem dúvida nenhuma. Se estivesse vivo, o grande craque do
Botafogo completaria 82 anos hoje: uma quarta-feira, um dia de futebol. É
lógico que não tive a chance de vê-lo jogar, mas o relato de todos os que
tiveram esse privilégio sempre vem carregado de emoção, independente do
escudo que vem ao peito e das cores pintadas na camisa.
O futebol não começou com Garrincha e
não terminou após joelho e álcool pararem o seu drible. Antes dele a camisa 7
já havia sido usada por grandes jogadores, e depois esse legado continuou. De
1962 – ano que marca o seu auge e o início de decadência – para cá, o número
esteve às costas de craques que fizeram a diferença dentro de campo. Tantos,
que seria injustiça citar, para não cair no pecado de esquecer algum.
Hoje, Cristiano Ronaldo é o grande
expoente de camisa 7 no esporte mais popular do mundo. E ele também é comparado
a um camisa 10: as coincidências com o ponta bicampeão mundial pelo Brasil
acabam aí. O português do Real Madrid talvez seja o maior jogador da história a
usar o mesmo número de Mané: faz gols de todos os jeitos, quebra recordes de
maneira assombrosa e conquista uma infinidade de títulos, individuais ou não.
Para ser esta máquina de recordes e
gols, Cristiano tem uma dedicação quase doentia: controla rigorosamente a
alimentação, não bebe e tem até uma máquina da NASA, para prevenir lesões, em
sua casa. Coisas necessárias para brilhar no futebol/atletismo de hoje.
Garrincha só queria brincar de bola, e jogava fácil sem ter 7% do empenho do
luso: bebia, jogava pelada descalço em barranco, e bebia de novo. Não fazia
nada pensando em evitar lesões. Era um pássaro livre.
Cristiano Ronaldo é sim o melhor
jogador dentre os camisas 7. É impossível compará-lo a Mané, até porque o
esporte mudou muito nas últimas décadas. Se houver uma comparação, ela sempre
será subjetiva. O futebol do português espanta, e seus números impressionam. O
futebol de Garrincha encantava, fazia as pessoas rirem – mesmo o adversário, o
rival, que odiava amá-lo. O personagem Garrincha encanta até hoje. Ele não é o
grande camisa 7 da história? Na realidade ele nunca teria essa ambição. Ele só
queria jogar bola e divertir o público: algo bem mais nobre.
[Nota do Mundo Botafogo: O editor do MB
considera o artigo interessante, sobretudo por ser inesperado, mas não concorda
com certas partes, tais como Garrincha não ter “7% do empenho do luso”. Isso é
desqualificar Garrincha, que se treinava fortemente para, entre outros aspetos,
manter as suas capacidades físicas em ordem, e não bebia como é sugerido,
porque a bebida descontrolada somente ocorreu após Garrincha entrar em
declínio, e por causa disso mesmo também. Escrever que CR7 tem “uma dedicação
quase doentia” é desqualificar a habilidade e o extraordinário empenho
profissional de CR7 que todos os futebolistas deviam replicar, e que de doentio
nada tem. Finalmente, Garrincha não apenas “divertia” o público, mas também
conquistava títulos praticando um futebol de sonho, porque divertir e ganhar em
futebol é que faz as pessoas felizes, tal como CR7 comprova fazendo feliz todos
os torcedores dos clubes que representou, oferecendo-lhes muito bom futebol em
jogadas deslumbrantes e, sobretudo, títulos, muitos títulos, o que não é menos
nobre, porque competir é procurar ser “o mais veloz, o mais alto, o mais forte”
– lema dos Jogos Olímpicos.]
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