quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Perfis botafoguenses (V): El Lobo Fischer, em 1975

por RAUL QUADROS e OTTO JUNKERMANN
Revista Placar, edição nº 1242, Set/2002, retomando reportagem de 1975.

Adjetivos não faltam para denominar Fischer. Nervoso por natureza, o atacante brigava até nos treinos, mas, aos poucos, provou que seu temperamento explosivo era a tradução de sua grande vontade de vencer. Com seus gols acabou conquistando a torcida do Botafogo, onde jogou de 1972 a 1976.

Termina mais um treino coletivo do Botafogo. Os jogadores se encaminham para o vestiário – menos um. Fisionomia fechada, transtornada, Fischer vai em direção ao estacionamento interno do clube e começa a chutar pneus e para-lamas. Resmunga e diz palavrões. […] Custa a se acalmar. […] O argentino estava simplesmente reagindo ao péssimo treino. Recebera poucas bolas e, o que era pior, não marcara um mísero gol.

– Fischer é um dos melhores profissionais que conheci em minha vida de jogador e técnico. […] Ele reclama até mesmo durante os treinos e piora durante os jogos. […] Ele leva tudo a sério. (Zagalo) […]

– Fischer é mesmo meio doidão, mas se a loucura dele é para o time vencer, então nem me importo. Pode xingar à vontade. (Marinho)

Hoje, compreendido pelos colegas, idolatrado pela torcida, que vive gritando seu nome nos estádios, todos começam a explicar El Lobo Fischer. […]

[Fischer] é um papo muito bom. Fala de tudo e é, inclusive, um bom conselheiro. As pessoas em vez de procurá-lo, preferiram ficar*a distância. Eu fiz o contrário e acabei me tornando seu grande amigo. (Ademir)

Muitos acusam Zagalo de não gostar do seu futebol, de tê-lo deixado de fora do time […]:

– Quando cheguei ao Botafogo, ele não estava bem e andava perdendo muitos lances de gol, [mas] considero o Fischer um dos melhores atacantes do futebol carioca. […] Na última partida contra o São Cristóvão, estávamos vencendo de cinco e a nossa defesa bobeou, deixando o adversário marcar um gol. No mesmo instante, ele saiu lá da frente e veio até a defesa gritar e reclamar das brincadeiras. […]

E o Fischer? Não o atacante perigoso, mas o home que tão poucos entendiam. […] Argentino, filho de pai gaúcho e mãe alemã, que por isso fala português, alemão e, é claro, o idioma da terra onde nasceu. […] Como é El Lobo fora de campo?

Parece mais um cordeiro. […]

– Essa é a minha vida. Do clube para o estádio, do estádio pra casa. Sou um homem caseiro, de poucos amigos e muitos companheiros. Não se pode ser amigo de todo mundo, certo? […] Sabe o que acontece comigo? Não gosto de perder nem em treinos. […] Não sou maluco, como andaram dizendo por aí. Sou consciencioso e um sentimental. Se dá para continuar trabalhando num lugar, fico de bom grado. Se não dá, peço para ir embora. Uma vez, cheguei a solicitar que o Botafogo me liberasse. Não me lembro bem a época exata, mas havia muita fofoca, intrigas. Eu me aborreço com mentiras, elas me arrasam. Agora está tudo bem. Mas continuo tendo poucos amigos e muitos companheiros.

Agradecimentos a Mauro Axlace, editor do blogue Aqipossa [https://aqipossa.blogspot.com] que gentilmente cedeu a informação.

2 comentários:

Flavio Silveira disse...

uns dos meus ídolos de infância.Sacaneado por Zagalo, q o preteria por Puruca..um deboche...Nao se dava com Jairzinho, a quem ironizava chamando de Pelé, segundo me disse Roberto Porto.Excelente jogador .Uma pena ter perdido o gol do título de 72 contra o Palmeiras no fim do jogo

Ruy Moura disse...

Eu também era fã dele, Luiz Flavio. De Zagalo nem por isso... Sempre achei que Zagalo tem duas caras. Perdemos títulos tolos em 71 no estadual (tínhamos 5 pontos de avanço correspondentes hoje a 7 pontos), em 72 e 92 no Brasileirão. Uma pena. Fora os que nos roubaram descaradamente.

Abraços Gloriosos.

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