terça-feira, 6 de novembro de 2018

Perfis Botafoguenses (XVII): Josimar, 1986

O lateral-direito foi do céu ao inferno. O garoto criado na Cidade de Deus sucumbiu à fama após o sucesso na Copa de 1986, quando marcou dois goaços. Nunca mais conseguiu repetir aquelas atuações surpreendentes. Mas, em 1989, ajudou o alvinegro a levantar o troféu do carioca e sair da fila.

por MARCELO REZENDE
Revista Placar, edição nº 1242, Set/2002, retomando reportagem de 1986.

Como deve ser um ídolo do Brasil? Profissional exemplar, como Zico? Deve falar o que pensa, igual a Sócrates? Quem sabe, requintado e agradável, tal Paulo Roberto Falcão? Ou ainda reservado e de gestos medidos, como inigualável Pelé? […] Imaginemos uma contra proposta.

Imaginemos um ídolo adepto de boas quantidades de cerveja, sob suspeita de gostar de coisas proibidas, amante dos prazeres da noite e por duas vezes detido pela polícia. […] Ele é o dono da camisa 13, nosso talismã, dono de um futebol feliz e irresponsável, que nos faz evocar São Garrincha. Como Mané, ele veio do Botafogo. […]

Josimar Higino Pereira tem24 anos e um fã clube de 130 milhões de brasileiros. Possui um sorriso de anúncio de dentífrico e olhos negros e firmes, capazes de despertar confiança. […] Nem parece o arquiteto de dois dos mais belos gols da Copa. […] Aqueles pés número 42 mandaram a bola no ângulo do goleiro Pat Jennings, da Irlanda do Norte, e humilharam os poloneses do papa com dribles satânicos, até a extrema-unção no goleiro Mlynarczyk. […]

Outro dia se fez de bobo. Tomou emprestado o carro do presidente da comissão técnica, Nabi Abi Chedid. Ficou várias horas passeando e, quando voltou, por brincadeira, seus companheiros disseram que iam cortá-lo por indisciplina. Fez cara de medo. O próprio Nabi, penalizado, chamou-o para desmentir o corte. “É ingênuo demais”, pensaram. Engano. […]

[Criado na] Cidade de Deus [que] granjeou a reputação de ser um dos lugares mais violentos do Brasil. Uma escola capaz de abortar qualquer espécie de ingenuidade no nascedouro, e onde ele forjou sua filosofia de vida: “Pato no ovo não mergulha fundo”.

Foi lá que viu a mãe, dona Miúda, e seus cinco irmãos serem abandonados pelo pai, Hélio Godoy, que nem sequer o registrara. […] Foi na Cidade de Deus que Josimar viveu o inferno, quando a mãe juntou os trapos com o polícia Almir Leal dos Santos. Muitas vezes, ao chegar a casa, Josimar encontrava a mãe escondendo as lágrimas e o olho roxo. Tinha apanhado do companheiro… […] “Tinha vergonha dos amigos e vizinhos, que presenciavam minha mãe levar pancada, recorda, hoje, sem rancor. […]

A forra viria depois do III Mundial de Juniores. […] Ao chegar, […] entre um e outro copo, a irmã surgiu chorando, e ele não demorou a compreender… […] Correu para casa […] fez o valentão experimentar do sue próprio remédio e mostrou a ele que […] quem cantava alto era o galo novo. Depois disso, surrar, nunca mais. Hoje, o padrasto é um exemplo de marido. […]

Estava sem contrato com o Botafogo desde março, mas tinha se livrado da fama de amante das bebidas e das drogas. […]

O dirigente do Botafogo, Alcides Aguillar, viajou para o México para tentar renovar seu contrato, mas não conseguiu. O presidente Althemar Dutra de Castilho, que não suportava a idéia de vê-lo nem em fotografia, já passou dois telegramas cumprimentando-o pelas exibições. […]

Momentos antes [de enfrentar] a Irlanda, o técnico chamou o lateral: – Josimar, você vai jogar. “Eu tremi”, confessa hoje o novo herói. “Não esperava que o homem me desse a notícia assim, na bucha”.

Agradecimentos a Mauro Axlace, editor do blogue Aqipossa [https://aqipossa.blogspot.com] que gentilmente cedeu a informação.

Sem comentários:

Botafogo no pódio nacional de basquete 3x3

Último ponto para o pódio. Fonte: Youtube Jean Thomps. por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo O Botafogo foi o único clube carioca a a...