quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Perfis Botafoguenses (XVIII): Marinho, 1988

O mineiro Mário José dos Reis Emiliano conheceu o fundo do poço com a morte do filho e a separação da mulher. Se afundou nas bebidas e depois reergueu. Craque cortado da Seleção às vésperas da Copa de 1986, foi dono de um futebol encantador: velocidade, drible, alegria.

por ALFREDO OGAWA; foto de RODOLPHO MACHADO
Revista Placar, edição nº 1242, Set/2002, retomando reportagem de 1988.

Como Viu o filho morrer e foi abandonado pela mulher e amigos. Um homem que procurou na bebida a anestesia para a dor. É a história de um dos mais alegres ídolos de um dos maiores clubes do Brasil. […] Passou da glória de defender uma Seleção Brasileira para a vergonha de tropeçar embriagado pelos botequins do Rio. […]

Procura forças para recomeçar tudo. “Não quero provar nada a ninguém”, diz. “Quero apenas provar a mim mesmo que sou um homem digno”. […]

O riso tímido de hoje, porém, tenta fazer esquecer os olhos inchados, a barba malfeita, o cabelo desgrenhado de há algumas semanas. Não tem chegado mais atrasado aos treinos, não é mais visto alcoolizado a perambular pelos pagodes. Vai para casa cedo. […]

Corria o mês de outubro do ano passado e o casamento ameaçava ruir. Cansada dos sumiços do marido, Tânia decidiu ir embora para Belo Horizonte com as crianças. “Foi quando tudo começou”, recorda o ponta. […]

Depois de três meses a mulher resolveu voltar. Ao mesmo tempo, Marinho se transferia do Bangu para o Botafogo. Veio, porém, a contusão no tornozelo num treino, antes da estréia. Veio pior, a tragédia. […] Véspera de Carnaval, seu filho caçula, Marlon, 1 ano, morreu afogado na piscina da casa. Dias depois, Tânia o abandonava de novo. […]

Durante um treino, Marinho se surpreendeu quando os ocupantes de um carro preto o chamaram. Eram funcionários de uma funerária. “Viemos buscar o cheque para pagar o transporte do corpo do Marlon para Belo Horizonte.”

Seu filho morto estava ali no rabecão. Tânia mandara exumar o caixão para transferi-lo até Minas. […] “Eles passaram o dia todo me procurando”, reclama, indignado, “correndo a cidade com o corpo de Marlon no carro”.

Foi a gota d’água. […] “Depois que Marlon morreu, peguei meu carro e parti sem rumo. Onde havia um bar aberto eu parava. Meu negocia era beber.”

Sua casa era a Mercedes. Seu guarda-roupa, o porta-mala do carro. Seu chuveiro, um banho de perfume Azzaro. Torrava o dinheiro em boates. […]

Os “amigos”, que enchiam sua casa […] sumiram de repente. “Na rua, começaram a me evitar”, revela. “Os pais não queriam que seus filhos se aproximassem de mim.”

Foi assim que sua mãe o encontrou. Dormindo na casa vazia, no carpete da sala, sem cobertor. Tânia levara tudo embora. […]

Hoje, alheio à descrença geral, o ponta se diz recuperado. […] O inferno vai passando. Ele suspira e arrisca uma brincadeira, como nos bons tempos: “Vai ser aquela história: com Marinho em campo, não tem marcador em branco”. E ri. Um riso tímido com a marca da esperança.

Agradecimentos a Mauro Axlace, editor do blogue Aqipossa [https://aqipossa.blogspot.com] que gentilmente cedeu a informação.

Sem comentários:

Botafogo no pódio nacional de basquete 3x3

Último ponto para o pódio. Fonte: Youtube Jean Thomps. por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo O Botafogo foi o único clube carioca a a...