O mineiro Mário José dos Reis Emiliano
conheceu o fundo do poço com a morte do filho e a separação da mulher. Se
afundou nas bebidas e depois reergueu. Craque cortado da Seleção às vésperas da
Copa de 1986, foi dono de um futebol encantador: velocidade, drible, alegria.
por
ALFREDO OGAWA; foto de RODOLPHO MACHADO
Revista
Placar, edição nº 1242, Set/2002, retomando reportagem de 1988.
Como
Viu o filho morrer e foi abandonado pela mulher e amigos. Um homem que procurou
na bebida a anestesia para a dor. É a história de um dos mais alegres ídolos de
um dos maiores clubes do Brasil. […] Passou da glória de defender uma Seleção Brasileira para a vergonha de
tropeçar embriagado pelos botequins do Rio. […]
Procura
forças para recomeçar tudo. “Não quero provar nada a ninguém”, diz. “Quero
apenas provar a mim mesmo que sou um homem digno”. […]
O
riso tímido de hoje, porém, tenta fazer esquecer os olhos inchados, a barba
malfeita, o cabelo desgrenhado de há algumas semanas. Não tem chegado mais
atrasado aos treinos, não é mais visto alcoolizado a perambular pelos pagodes.
Vai para casa cedo. […]
Corria
o mês de outubro do ano passado e o casamento ameaçava ruir. Cansada dos
sumiços do marido, Tânia decidiu ir embora para Belo Horizonte com as crianças.
“Foi quando tudo começou”, recorda o ponta. […]
Depois
de três meses a mulher resolveu voltar. Ao mesmo tempo, Marinho se transferia
do Bangu para o Botafogo. Veio, porém, a contusão no tornozelo num treino, antes
da estréia. Veio pior, a tragédia. […] Véspera de Carnaval, seu filho caçula, Marlon, 1 ano, morreu afogado na
piscina da casa. Dias depois, Tânia o abandonava de novo. […]
Durante
um treino, Marinho se surpreendeu quando os ocupantes de um carro preto o
chamaram. Eram funcionários de uma funerária. “Viemos buscar o cheque para
pagar o transporte do corpo do Marlon para Belo Horizonte.”
Seu
filho morto estava ali no rabecão. Tânia mandara exumar o caixão para
transferi-lo até Minas. […]
“Eles passaram o dia todo me procurando”, reclama, indignado, “correndo a
cidade com o corpo de Marlon no carro”.
Foi
a gota d’água. […] “Depois que
Marlon morreu, peguei meu carro e parti sem rumo. Onde havia um bar aberto eu
parava. Meu negocia era beber.”
Sua
casa era a Mercedes. Seu guarda-roupa, o porta-mala do carro. Seu chuveiro, um
banho de perfume Azzaro. Torrava o dinheiro em boates. […]
Os
“amigos”, que enchiam sua casa […] sumiram de repente. “Na rua, começaram a me evitar”, revela. “Os pais
não queriam que seus filhos se aproximassem de mim.”
Foi
assim que sua mãe o encontrou. Dormindo na casa vazia, no carpete da sala, sem
cobertor. Tânia levara tudo embora. […]
Hoje,
alheio à descrença geral, o ponta se diz recuperado. […] O inferno vai passando. Ele suspira e
arrisca uma brincadeira, como nos bons tempos: “Vai ser aquela história: com
Marinho em campo, não tem marcador em branco”. E ri. Um riso tímido com a marca
da esperança.
Agradecimentos a Mauro Axlace, editor do blogue Aqipossa [https://aqipossa.blogspot.com] que gentilmente cedeu a informação.
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