sábado, 27 de junho de 2020

Liverpool FC e Jürgen Klopp (II): sucesso inspirado na social-democracia?!?!

[O editor do Mundo Botafogo é fã incondicional das qualidades de Jürgen Klopp (Stuttgart, 1967) desde os tempos do Borússia Dortmund, considerando-o o mais dinâmico e artístico treinador de futebol do mundo – o melhor entre os melhores.]

Peter Moore (Liverpool, 1955), diretor executivo do campeão europeu de futebol, reflete sobre as particularidades do clube e os desafios que a indústria do futebol enfrenta.

Peter Moore é uma lenda do marketing. Responsável pelo desenvolvimento dos consoles da Sega, Microsoft e Electronic Arts que transformaram a indústria dos games em um gigante mais lucrativo do que o cinema e a música juntos, sua vida chegou a um ponto em que os desafios estritamente profissionais pararam de estimulá-lo. Poderia se retirar para sua mansão na Califórnia a desfrutar de sua imensa fortuna. Mas escolheu voltar para Liverpool, a cidade onde se criou, com nada melhor a fazer, diz ele, do que ir ao estádio Anfield para ver o Liverpool. Fazia quatro décadas que ele vivia fora da Inglaterra quando foi nomeado, em 2017, diretor executivo do clube que conquistou a Champions League em maio. Dias atrás, visitou o World Football Summit de Madri, e lá onde refletiu sobre a natureza da empresa que representa, cuja expressão máxima é o time que lidera a Premier League depois de somar 24 pontos de 24 possíveis.

Pergunta. O que distingue o Liverpool na indústria do futebol?

Resposta. Como especialista em marketing, eu queria desvendar o que ele realmente significava. Dizer que o Liverpool é único não significa muito. Real Madrid e Barcelona, Borussia Dortmund e Bayern, também são especiais. Então, como resolvemos isso? Tivemos essa incrível figura histórica no Liverpool: Bill Shankly, um treinador social-democrata da Escócia que estabeleceu as bases. Ainda hoje, quando falamos de negócios, perguntamos: “O que faria Shankly? O que diria Bill nesta situação?”. Era um verdadeiro social-democrata que acreditava que o futebol consistia em trabalhar em conjunto. Nós nos reunimos no departamento de marketing e dissemos: “Vamos colocar isso em palavras”. A conclusão foi que a ideia essencial do Liverpool é que isso é o que significa mais. Mais do que ganhar ou perder. Mais do que ir ao futebol, encontrar os amigos no bar e voltar para casa.

P. Você diz que para alcançar uma dimensão mítica os clubes precisam de uma cultura do sucesso. Em que consistia exatamente a cultura incutida por Shankly?

R. Ele a definia como social-democracia. Mas não num sentido político, e sim de solidariedade. Há uma faixa na The Kop [famoso setor de arquibancada do Anfield] que diz: “A união faz a força”. Liverpool é uma cidade socialista, de tradição operária, muito unida ao porto. Já foi o porto mais movimentado do planeta. Isso mudou, mas permanece, até certo ponto, o sentido da unidade e da insularidade. As pessoas muitas vezes se consideram liverpuldianas, não necessariamente inglesas. É estranho. É, como dizem os norte-americanos, um “círculo de carroças”. Essa cultura se fortalece com um sentimento que Shankly expressou na ideia de trabalhar juntos no campo sob o lema de “passar a bola e se mover”. É muito simples: “Passe a bola e se mova para se oferecer como opção ao seu companheiro”. Há uma canção dos torcedores de 60 anos atrás que descrevia esse estilo como “poesia em movimento” Não é exatamente o tiki-taka. Mas ocorre quando o jogo flui livremente, com contra-ataques muito rápidos. É nossa marca.

P. Parece natural que tenham escolhido Jürgen Klopp, um social-democrata alemão, para treinar o time.

R. Ele já é um clássico do Liverpool. Ele se inclina mais para a esquerda do que para a direita. Certa vez, Shankly disse: “Eu fui feito para o Liverpool e o Liverpool foi feito para mim”. Klopp pode dizer exatamente a mesma coisa. Entende perfeitamente os elementos social-democratas que permeiam o clube e a cidade, os desafios que empolgam o que significa o clube para muita gente que não teve a oportunidade de ter nada melhor na vida do que seu amor pelo clube. Houve uma época em que o símbolo da cidade eram os Beatles. Agora é o futebol.

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