Charge
by Carlos Amorim
«Das primeiras horas da terça aos últimos
minutos da quinta-feira, o futebol brasileiro viveu uma sequência surreal de
acontecimentos. Todos calculadamente interligados. Peças soltas de um
quebra-cabeças que, quando montado, se revelou uma imagem triste. Assustadora.
Durante 70 horas, o futebol nacional reviveu seus piores momentos. Um
retrocesso de décadas em menos de três dias. Voltamos ao tempo das viradas de
mesa na madrugada, das negociatas com políticos, dos jogos sem transmissão de
TV, das cartas marcadas, das decisões impostas sem debate, da falta de conexão
com a sociedade, do circo. As consequências virão. E são, ainda, completamente
imprevisíveis.
Tudo pode acontecer nos conselhos arbitrais do futebol
do Rio de Janeiro. Tudo. Das fórmulas mais absurdas de campeonato às viradas de
mesa mais escandalosas. Mas, desta vez, a Ferj e os clubes foram além. Na
madrugada da terça-feira – depois de oito horas de reunião – veio a
inacreditável notícia que, dois dias depois, Flamengo e Bangu entrariam em
campo para retomar o Estadual. Naquele dia, o Rio de Janeiro ultrapassou a
marca de oito mil mortes causadas pela Covid-19. Eram mais de 85 mil casos
confirmados. Naquele dia, dois clubes – Fluminense e Botafogo – sequer haviam
retornado aos treinos. Mas, naquele dia, nada disso importava. Milhares de
pessoas contaminadas, famílias destruídas pela morte de pais, mães, irmãos e
irmãs, atletas profissionais longe da condição física ideal, protocolos de
segurança ainda sendo estabelecidos. Nada importava. Naquele dia a única coisa
que importava para a maioria dos que estavam na reunião virtual era o retorno
do futebol.»
– Coluna de Fred
Figueroa / Diário de Pernambuco.
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