por
A. NETTO
Jornal
do Brasil, 23.01.1983
Garrincha
– Manuel Francisco dos Santos – era um camponês com o apelido de um passarinho
raro e arisco. Menino de 19 anos, moreno, com as pernas incrivelmente arqueadas
e tortas, protegidas e movidas por uma poderosa massa muscular, considerada
aberração pelos professores de anatomia. Apareceu de repente. E, de repente, os
estádios cariocas melhoraram de humor. Puseram-se a rir, outra vez. Risos que
de repente também ganharam a força das gargalhadas: de uma alegria
incrivelmente contagiante e reparadora.
Obra
de um camponês simples, imaturo, alegre, rival do talento histriônico do melhor
Charles Chaplin. Alguém que não se limitava a contrariar as leis da estética e
da gravidade. Não respeitava, sequer, a lógica e o convencional do jogo.
Estranho driblados de um drible só. O drible pensado, planejado, ensaiado,
previsto e executado infalivelmente pelo lado direito. Um individualista que,
ao receber um passe, nunca lhe dava seqüência, sem antes divertir-se um pouco
com a bola, com o adversário e, assim, divertir a platéia. Mas que estranho
individualista esse que, em seguida, se transformava no mais generoso doador de
passes e de gols conhecido pelo futebol mundial. Garrincha foi tudo isso para
os estádios do Brasil.
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