segunda-feira, 27 de julho de 2020

O ‘estado da nação’ botafoguense

por RUY MOURA
Editor do Mundo Botafogo

O Futebol está como está. Ou melhor, não sabemos exatamente como está. Como vai ser. Se vai realmente ser. Destruído nos últimos dez anos (2009-2019) por incompetência de uns, oportunismo de outros e sabe-se lá que mais, continuamos na expectativa do que virá a ser.

Quanto às modalidades ditas ‘olímpicas’ ou ‘amadoras’, o desastre é completo, o relapso da diretoria é absolutamente inqualificável, as omissões dos órgãos sociais são catastróficas na condução do Clube.

Confesso-me muito desgastado com tudo isso, mas ainda ganhei alento para umas breves linhas, para que fique registrado no futuro que há torcedores do Botafogo que consideram inadmissível, irresponsável e antidesportivo a condenação feita às nossas Gloriosas modalidades que tantas alegrias nos deram.

Remo
Após seis títulos de campeão nacional e seis títulos de campeão estadual entre 2010 e 2018, eis que a diretoria tira o tapete ao remo provocando uma debandada de remadores para o Flamengo, que assim regressou aos títulos e se sagrou campeão brasileiro e carioca em 2019. Diretoria muda e queda sobre a situação.

Voleibol
Após sermos campeões da segunda divisão e acedermos à primeira divisão com uma boa e promissora equipe, eis que a diretoria encerrou subitamente o projeto voleibol e abandonou os atletas à sua sorte. Diretoria muda e queda.

Polo Aquático
Os tricampeões sul-americanos, que sobrevivem dos esforços fantásticos da direção do departamento, eis que tiveram que obter financiamento da família e amigos para se deslocarem à Colômbia e se sagrarem tetracampeões sul-americanos de polo aquático, enquanto a diretoria se manteve – e assim continua – muda e queda.

Natação
Há uma década no topo do ranking nacional, as sucessivas diretorias degradaram a natação que, atualmente, não conquista sequer uma medalha de ouro individual a nível nacional. Diretoria muda e queda.

Basquetebol
O basquetebol ganhou o campeonato carioca, foi campeão da Liga de Ouro, fez duas boas colocações no NBB e sagrou-se campeão da Liga Sul-americana, e eis que vê agora Gláucio Cruz e Alexandre Brito, os únicos dirigentes que acreditaram realmente basquete, demitirem-se após enorme desgaste com a diretoria, cumprindo até ao fim os seus compromissos e tendo tudo encaminhado para que o basquete se reforce para o Campeonato Sul-americano de Basquete – para o qual nos classificamos – sem que haja entendimento para uma solução na próxima temporada. Renascemos no cenário nacional, mas o futuro é incerto. E a diretoria muda e queda.

Seria a decisão mais incoerente acabar com o projeto. Começamos do zero, ganhamos Cariocão, Liga Ouro, passamos muito bem por duas edições do NBB, fomos campeões da Liga Sul-americana e estamos na champions. Vamos aguardar.” – Léo Figueiró, técnico do Botafogo.

Até ao final do ano o Flamengo vai receber uma transferência bancária de mais de R$ 5,8 milhões para bancar profissionais de comissões técnicas de suas equipes ‘olímpicas’. O dinheiro, originário da Lei Agnelo/Piva, também estava disponível para outros clubes, entre os quais o Botafogo, que nem sequer concorreu porque não tinha a documentação necessária.

O Grande Clube Social que foi o Botafogo desde 1894, 1904 e 1942, parece fadado a desaparecer gradualmente, guardando melancolicamente nas suas galerias os inúmeros troféus de campeão mundial de futebol de 7, campeão sul-americano de atletismo, basquetebol, futebol de 7, polo aquático e voleibol, campeão brasileiro de atletismo, basquetebol, futebol de areia, futsal, futvôlei, natação, polo aquático e voleibol. Entre outras modalidades menos preferidas pelos adeptos do desporto.

Além do futebol, é inadmissível que o Clube Social perca a sua capacidade competitiva habitual nas principais modalidades onde brilhou intensamente, sobretudo basquetebol, natação, polo aquático, remo e voleibol.

É o mínimo que se pode exigir a um clube que se vangloria de ser o mais antigo clube multiesportivo do Brasil.

Se o caminho não mudar, sobrará apenas o futebol, se sobrar…

PS: Deve-se realçar que pelo menos o Remo, o Basquete e o Vôlei tinham receitas próprias, quer privadas quer através de subsídios oficiais. 

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