sexta-feira, 6 de novembro de 2020

7 comentários por um treinador, uma torcida, um clube

Crédito: Divulgação/Botafogo

por RUY MOURA

Editor do Mundo Botafogo

Vou abrir um parêntesis ao meu estado de desilusão e repulsa por esta diretoria para produzir alguns comentários a propósito da chegada de Ramón Díaz.

1º Comentário:

Há vários anos que defendo a contratação de um técnico estrangeiro sul-americano mais velho que possua experiência e resultados pelo menos satisfatórios, ou mais novo e que mostre trabalho consistente e seja uma ‘promessa’ na carreira de treinador.

2º Comentário:

A minha preferência por esse tipo de treinador deve-se a não confiar em técnicos sem qualidade que inundam o campeonato brasileiro rodando de clube em clube e são sempre os mesmos, sem renovação, sem conhecimentos suficientes sobre o futebol moderno, sem investimento na sua formação e, talvez com – digamos – três excepções, o resultado está à vista. Os técnicos brasileiros, embora o desejassem, tal como os jogadores fazem, não são contratados pelo futebol europeu, mas apenas pelo futebol de países orientais porque não tenho memória de um técnico brasileiro ter conquistado um campeonato europeu neste século – nem Luxemburgo no Real Madrid com uma equipe verdadeiramente de luxo.

3º Comentário:

Não vejo, na conjuntura atual, que os técnicos europeus sejam adequados ao futebol brasileiro, porque os dirigentes querem resultados para ontem, porque não apostam na permanência de técnicos a conduzir o plantel, porque escolhem o caminho mais fácil de demissões sucessivas, que são improducentes e dispendiosas para os clubes. O Liverpool contratou Klopp há cinco anos e só começou a ganhar títulos o ano passado (Liga dos Campeões) e este ano (Campeonato Inglês), na medida em que uma equipe consistente constrói-se a prazo e não no imediato. Sir Alexis Ferguson não começou a ganhar no Manchester United, mas acabou o maior treinador do clube durante 28 anos. Alguns técnicos brasileiros, em vez de atacarem os técnicos estrangeiros talvez pudessem usar o seu tempo a prepararem-se consistentemente com base na nova realidade do futebol mundial, que privilegia muitas vertentes de treino e preparação, desde a alimentação seletiva e prudência na vida privada até ao treino intensivo e à preparação física rigorosa. Se não o fizerem os clubes brasileiros não terão verdadeiramente projeção no mundo do futebol, apesar de possuírem futebolistas notáveis que deveriam fixar-se mais no futebol nacional.

4º Comentário:

O Botafogo precisava de um técnico com o perfil de Ramón Díaz, com experiência em vários países e alguns títulos importantes, e por isso abro um parêntesis à minha desilusão para dar um voto de confiança a este treinador, embora reconheça que não é treinador de topo e que a sua tarefa é muito difícil com o plantel que possui e com a diretoria que existe – mas melhor aposta seria difícil. Devo por isso sublinhar que é o primeiro técnico que, à partida, pode merecer a minha confiança nos últimos 12 anos em virtude do seu percurso.

5º Comentário:

Não é caso para parabenizar a diretoria. Na verdade, perante o descalabro absoluto de uma gestão completamente irresponsável, a diretoria viu-se na obrigação de desistir de Tigrões, Barrocas, Valentins, Paquetás, Zés Ricardos, Barrocas, etc. e contratar alguém com currículo para se livrarem do ônus de mais uma descida de divisão, num ano em que quase todos acreditavam na realidade do Botafogo S/A, e para se esquivarem ao caldeirão fervente em que se estava tornando o ambiente no seio da torcida.

6º Comentário:

Acresce, consequentemente, que esta contratação tem por base principal, em minha opinião, além da diretoria se querer livrar do ônus da descida de divisão, a pressão crescente e legítima que a torcida fez em torno dos dirigentes, incluindo atitudes mais ‘musculadas’ que poderiam conduzir a uma espécie de ‘guerra civil’ entre dirigentes e torcedores, mas que são fundamentais em certos momentos da vida social.

7º Comentário:

Desejo e espero que a torcida perceba quatro coisas: que tem força suficiente para vergar as diretorias incapazes; que deve explorar intervenções públicas e privadas de qualidade mostrando quais são os caminhos proibidos e quais são os caminhos virtuosos; que não se deve entusiasmar excessivamente com alguns bons resultados conjunturais porque pode-se perder de vista o essencial; que o essencial não é conquistar títulos expressivos nos próximo dois anos, mas construir solidamente uma equipe, duradoura no tempo, capaz de em dois anos começar a ser um adversário temível e, então, poder apontar à conquista de competições como a Copa do Brasil e a Copa Sul-americana e depois então focar-se no Campeonato Brasileiro e, quiçá, na Copa Libertadores. O provérbio diz que “Roma e Pavia non sons tate fatte in un giorno” (Roma e Pavia não se fizeram num dia), o mesmo é dizer que o futuro exige que a torcida, os dirigentes, as comissões técnicas e médicas, os jogadores, se unam em torno de uma visão consensual e de objetivos estratégicos devidamente planejados no tempo, monitorizando os progressos e cobrando-se uns aos outros com lógica, competência, participação e envolvimento.

SEJA BEM VINDO, RAMÓN DÍAZ!

4 comentários:

Émerson disse...

Grande Ruy,

Há muito tempo não ficava tão esperançoso quanto a termos um TREINADOR!
Deposito confiança em Don Ramón, e espero que ele consiga ensinar alguma coisa parecido com futebol a esse time, e que consiga resistir aos "dirigentes", e nos livre de um rebaixamento que seria o último prego na tampa do meu amado Glorioso Botafogo!
Saudações Gloriosas!

Sergio disse...

Agora o Botafogo contratou um técnico, coisa que não fazia há tempos, só falta um time. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

Também me dá alguma esperança "que ele consiga ensinar alguma coisa parecido com futebol a esse time"... (rsrsrs)

Creio que há alguns jogadores razoáveis se forem bem conduzidos e explorado o seu potencial. Seria o suficiente para ficarmos a meio da tabela, porque a maioria dos outros times também são ruins.

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Sergio, descontando o Cuca, o 'fatalista' que eu não aprecio mas admito ser razoável, é talvez o primeiro técnico com esse nome que temos neste século. Nem mesmo Levir Culpi ou Ricardo Gomes considero verdadeiramente razoáveis. E o Autuori estava claramente desajustado da realidade.

Abraços Gloriosos.

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