por MAURÍCIO AZEDO
Placar, 4 de fevereiro de 1977
Um novo campo
No poder, Borer consumou negociações iniciadas pelo próprio Rivinha na tentativa de resolver o problema financeiro. Após avaliação do terreno pela Bolsa de Imóveis do Rio, o Botafogo vendeu sua área de 18 752 m2 no quarteirão das ruas General Severiano e Venceslau Brás e Avenida Lauro Müller à Vale do Rio Doce por 90 milhões de cruzeiros. Desse total, 58,4 milhões foram pagos em dinheiro, enquanto 31,6 milhões foram representados por quatro pavimentos num imóvel no centro da cidade, o edifício Clube da Aeronáutica, com 16 vagas na garagem (após a transação, o Botafogo alugou os quatro andares à própria Vale, obtendo assim uma receita mensal de 316 mil cruzeiros). Dos 58,4 milhões em dinheiro, porém, o clube só pôde ficar com uma parte, pois 48,6 milhões foram no mesmo ato transferidos à Caixa Econômica Federal.
Com prazo de três meses para entregar a sede e de um ano para transferir seu estádio à Vale do Rio Doce, o Botafogo tratou de procurar um terreno para construir seu novo campo. E o encontrou em Marechal Hermes, subúrbio da Central do Brasil a uma hora de trem do centro do Rio. Mediante o pagamento de 665 mil cruzeiros, obteve o comodato perpétuo de um terreno pertencente ao governo do Estado cedido ao Esporte Clube União, modesta agremiação que concordou em desaparecer, através de sua absorção pelo Botafogo, para que nessa área, onde já existe um campo de futebol com medidas oficiais, seja construído o novo estádio botafoguense. Seu nome já foi definido na escritura de incorporação de União pelo Botafogo: Praça de Esportes União de Marechal Hermes.
União necessária
Algumas cláusulas da escritura foram censuradas pela situação deposta, em particular a que prevê que os antigos sócios do Esporte Clube União pagarão sempre a mensalidade de dois-quintos da contribuição paga pelo corpo social do Botafogo, o que é compreensível, pois os associados do União, além de mais pobres, cederam uma área de 34 000 m2 a seu novo clube. Contra isso se insurgíramos antigos caciques botafoguense: ao ser votada a incorporação no conselho, 97 membros foram a favor e 26 contrários. De pé, expressando seu voto contra, podiam ser vistos Nei Cidade Palmeiro e Altemar Dutra de Castilho, Brandão Filho e Gumercindo Brunet, Rivadávia Correia Méier e Zeferino isto Toniato.
Na imagem desses
homens a manifestar sua discordância estava a síntese do momento vivido hoje
pelo Botafogo: um clube onde a luta entre o velho e o novo chegou ao ponto
decisivo. Um clube que em Marechal Hermes, longe de suas raízes, tentará abrir
caminho para o futuro, em busca de novas conquistas e novas glórias. Mas também
um clube onde mais do que nunca pode pesar como estigma a advertência de Sérgio
Darci, construtor da sede de General Severiano e que mesmo depois de morto
ainda é venerado como o maior patriarca do clube, ao lado de Ademar Bebiano,
Paulo Azeredo e esse infatigável e jamais descrente Carlito Rocha: “Somos
poucos. Unidos, é difícil. Desunidos é impossível.”
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