quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

O dia em que a caça consolou o caçador no Pacaembu…

 
Ilustração de Andrés Sandoval (Crédito: Editora Abril)

por JUCA KFOURI

https://blogdojuca.uol.com.br

Dois alvinegros, Santos e Botafogo, faziam os grandes jogos dos anos 60. Pelé x Garrincha, fora outros gigantes dos dois timaços.

Num desses jogos, em São Paulo, os cariocas fizeram uma exibição inesquecível e, estranhamente, pouco badalada nos embates entre os dois melhores times do país naquela época. Aliás, sempre que se fazem referências aos jogos entre Botafogo e Santos daqueles tempos, só são lembradas as vitórias santistas, as goleadas de Pelé & Cia. Pois o Pacaembu estava lotado para ver mais uma.

Pelé e Mané estavam em campo, mas o diabo estava era no corpo que vestia a camisa sete, não a dez. O lateral-esquerdo Dalmo, do Santos, viveu uma tarde de terror. Garrincha pegava a bola e, andando, levava Dalmo até dentro da grande área, onde o zagueiro não podia fazer falta.

O Pacaembu não acreditava no que via: um ponta andar desde a intermediária até a área sem que o lateral tentasse tirar a bola, temeroso do drible desmoralizante.

Até que Dalmo percebeu que tinha virado motivo de chacota dos torcedores, muitos dos quais nem santistas eram, mas que iam ao campo na certeza do espetáculo.

Crédito: Thomas Farkas

E Dalmo resolveu bater antes de chegar à grande área. Bateu uma vez, Garrincha caiu, o árbitro marcou a falta e repreendeu o paulista. Bateu outra vez, Garrincha voltou ao chão, o árbitro marcou a falta e ameaçou Dalmo de expulsão, porque naquele tempo o cartão amarelo não existia. A terceira falta de Dalmo foi a mais violenta, como se ele estivesse pensando: "Arrebento essa peste, sou expulso, mas ele não joga mais".

Pensado e feito. Enquanto o gênio das pernas tortas estava estirado no bico direito da área dos portões principais do Pacaembu, o árbitro determinava a expulsão de Dalmo, cercado por botafoguenses justamente irados com seu gesto. Eis que, como um acrobata, Garrincha levanta-se, afasta seus companheiros, bota o braço esquerdo no ombro de Dalmo e o acompanha até a descida da escada para o vestiário, que, então, ficava daquele lado.

Saíram conversando, como se Garrincha justificasse a atitude, entendesse que, para pará-lo, não havia mesmo outro jeito.

O Botafogo saiu aplaudido do estádio. Tinha visto uma autêntica exibição do Carlitos do futebol, digna mesmo de Charles Chaplin, divertida, anárquica, humana, sensível, solidária.

Fontes:

https://blogdojuca.uol.com.br/2020/04/o-dia-em-que-a-caca-consolou-o-cacador-no-pacaembu-2/?cmpid=copiaecola

https://brainly.com.br/tarefa/32417229

4 comentários:

Sergio disse...

Além de ter sido um fenômeno como o jogador, um Grande ser humano o nosso Garrincha, o inventor do fairplay. Abs e SB!

leymir disse...

Boa noite Ruy!

Que texto lindo, que personagem é o Garrincha!

Garrincha, Garrincha, Garrincha, toma meu aplauso em 2020, que belo texto do Corintiano Juca Kfouri.

Se eu fosse botafoguense, e estivesse triste com a fase atual do meu time, eu repetiria como se rezasse um terço: Garrincha, Garrincha, Garrincha, sairia extremamente revigorado.

Torcer para o clube que entre outras coisas, deu ao futebol sua maior alegria.

Obrigado e parabéns para vcs!

Viva Garrincha!

Ruy Moura disse...

Garrincha tinha apontamentos absolutamente fantásticos, quer se tratasse do homem ou do atleta. Improviso e imprevisto era a marca dele!

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Alegria, espontaneidade, delicadeza de sentimentos, um espírito livre!

Grande abraço!

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