terça-feira, 16 de março de 2021

Rivalidade é quase amor!

por LEYMIR MORAES

Matéria autorizada pelo autor

Publicado originalmente no ‘Museu da Pelada’

Pode ser até que ame o BFR, e se o amo, o faço por linhas tortas. Não as linhas tortas que nos legou Deus nosso Senhor, e sim as linhas tortas dos dedos tortos, da muralha denominada Manga.

Manga, o ágil, o milagroso, o membro de um esquadrão que juntava, além de si, Zagallo, Garrincha, Nilton Santos, Quarentinha, Amarildo e Didi.

Dedos tortos de suicidas defesas, e sacolas de feira às custas do CRF de Dida, Carlinhos e Gerson.

O Flamengo que amo com linhas retas, retas sim, mas de arquitetos ébrios como Wilson Batista, Perácio e Vevé. Devoto ao Mengo um amor retilíneo como os desarmes limpos de Domingos.

Amar um rival é mais complexo, é quase um descuido, um drible que você não percebeu e te deixa espatifado diante de um Maracanã inteiro. O Maracanã verdadeiro, não este.

O Maracanã de 158.994 súditos que obrigou todo Flamengo a amar o anjo das pernas tortas, Mané Garrincha, em 15 de dezembro de 1962.

O homem com a Copa embaixo dos braços, entortou sem piedade e empáfia o retíssimo e nobre Jordan, e seu então fiel escudeiro, Gerson, o ‘Canhota’, dono dos lançamentos mais retos da história do futebol.

Engraçado, amar Garrincha, mesmo apanhando de 3 e com 3 gols seus (um deles generosamente dividido com Vanderlei), não me é difícil, difícil seria não amá-lo.

Tire o sorriso do rosto torcedor Vascaíno, pois vocês em perjúrio também amaram e ainda amam Rivelino, que imortalizou o fidelíssimo Alcir Portela com seu elástico perfeito. Tal qual o torcedor alvinegro agradece entre os lábios ao “moço que mora em Caxias” que recebeu no peito, chapelou Osmar e fuzilou o arco de Wendel! Salve, salve Roberto Dinamite e Vitorino Vieira!

“E eu sei, meninos, eu sei”, tricolores amaram em Fevereiro de 1986 e ainda amam o "jogador de Maracanã", o “pipoqueiro”, o “bichado” Zico, que é o Messias do meu amor mais reto e de […] milhões de apaixonados que o proclamam Rei! Assim mesmo, sem aspas.

Ciente de vossas infidelidades eu sou, pois partilho do mesmo andor. Porque amo Queixada, o maior artilheiro brasileiro de todas as copas, e lamento não poder abraçar e pedir perdão ao brioso e destemido Bigode, e ao craque campeoníssimo Barbosa.

O amor em nosso mundo é um Maraca dividido entre retidão e sinuosidade, os dedos tortos de Manga e as faltas perfeitas de Zico, o mesmo drible que finge dividir vencedor e vencidos, agrega na eternidade os honestos Vanderlei, Alcir, Wendell, Osmar e Leomir, juntos a Deuses como Garrincha, Rivelino, Roberto e Zico.

Rivalidade é quase amor, e essa é a linha torta mais perfeita que traçou o Criador, o segredo mais íntimo de Geraldinos e Arquibaldos. Eu sei, é constrangedor, mas qual grande amor não é?

20 comentários:

Carlos Eduardo disse...

Quanta brasilidade futebolística esse texto contém.
Museu da Pelada é, como dizem, raíz.
Vídeos e textos belíssimos.

Aliás, o que seriam dos clubes sem um ou vários rivais à altura???

A rivalidade sadia só engrandece o jogo.

Saudações Botafoguense!!!


leymir disse...

Professor!

Sempre uma alegria, gostei da elegante solução para o problema quantitativo! Hahaha

Um abração!

Ruy Moura disse...

Assino embaixo.

O Leymir tem realmente um grande sentido de 'brasilidade futebolística' e uma rivalidade muito sadia e generosa.

Creio que os esquemas subterrâneos do futebol, seja em campo seja fora dele é que estragaram a rivalidade e viraram torcedores contra torcedores. O que se lê nas redes sociais de uma grande parte de 'torcedores futebolísticos' é aterrador, pavoroso, atentado à cultura humana, desrespeito por tudo o que devia representar ainvenção do desporto em geral.

E sem rivais jogaríamos contra quem? Teríamos que emoções? Usaríamos que razões? Jean-Paul Sartre foi muito claro quanto a isso. O Outro somos nós.

Gloriosíssimo abraço.

Ruy Moura disse...

E eu admiro profundamente a sua soberba postura no mundo da rivalidade futebolística. Parabéns pela publicação!

Grande abraço.

leymir disse...

Carlos Eduardo!

Muito obrigado pela gentileza, fico realmente muito feliz que tenha gostado.

Um abração!

leymir disse...

Querido Professor!

Essa postura vai me doer um pouco, sou amigo de um apaixanado pelo futebol.

Um senhor de 92 anos extremamente inteligente, lúcido e com a memória em forma. Ele acompanha o Vasco nos Estádios desde 1936, é um apaixanado pela Cruz de Malta do mesmo jeito que tu és pelo Botafogo e eu pelo Flamengo.

Mas ele carrega um pouco mais na pimenta da rivalidade que nós dois... E esse grande amigo me manda um texto sobre a final de 49 que viu in loco.

Como tu sabes foi um 5x2 de virada em cima do Mengo... Ocorre que apesar de ser um texto em certos momentos carregado na pimenta, é além de bem escrito valioso historicamente. Conta os dias antes da final, o título do Vasco e a triste reação da torcida do Flamengo contra Jair da Rosa Pinto.

É tão bom que vou pedir para publicar no museu da pelada, apesar de uma dose de dor no peito.

Vou fazer, mas se eu disser que é fácil estaria mentindo! Hehehe

Um abração!

Ruy Moura disse...

O seu desportivismo e amor ao futebol notável! Eu falho um pouco não por Anor ao Botafogo, cuja dimensão é de intangível grandeza, mas porque não tenho esse amor ao futebol. Gosto de todos os desportos quase por igual (refiro-me sobretudo aos principais), mas, sobretudo, o que eu gosto, amo mesmo, é o BOTAFOGO!

Aliás, acho que quem inventou o primeiro desporto no mundo estava pensando mesmo era no... BOTAFOGO! Ha!... Ha!... Ha!...

Grande abraço.

leymir disse...

Eu amo o clube em sua totalidade, o que me falta é cultura mesmo. Conhecimento de causa nas outras modalidades.

Um dos motivos de ter começado a seguir aqui , até mesmo antes de comentar foi a diversidade de matérias.

Ocorre que vi muito pouco até mesmo do futebol e já tenho que fazer um trabalho de pesquisa para conhece-lo melhor, e isso me toma algum tempo.

Entoa não sei se nessa vida, (sei que vc não crê nisso e respeito) irei conseguir corrigir esse déficit de conhecimento em relação as outras modalidades diante do futebol.

Mas me permita a petulância de corrigi-lo,acho que quem inventou o primeiro desporto estava pensando mesmo no Flamengo!

O problema que se existir um Vascaino por aqui irá corrigir a nós dois, dira qhe o inventor pensava no Vasco! Hahahhaha

Um divertido abraço!

Ruy Moura disse...

Na... na... na... O Botafogo foi fundado antes desses 'pequenotes' marinheiros de água doce do CRF e do CRVG! Ha!... Ha... Ha!...

Também me divirto. Abraço divertido!

leymir disse...

O mal educado vascaino passa por aqui e atirando Pessoa em nossas faces, diz que as águas salgadas que os remadores alvi-negros conheceram em 1894, já eram intimas a ele de além mar e foram temperadas por suas lágrimas.

Que petulante!

Eu dou de ombros a explicação dele, asism como nesse momento não me interessa saber da precisão de sua informação quanto a cronologia da fundação dos clubes.

Afinal de contas meu amigo Ruy, navegar nunca foi preciso! Hahahha

Como eu creio em Deus me dou o direito de usar a meu favor (so o faço assim em brincadeiras, porque é horroroso usar esse argumento a sério) que deus é brasileiro e por probabilidade estatística é Flamengo.

Ele criou o primeiro desporto só pra torcer pro mengooooo! Hahhaha

Ruy Moura disse...

Mas que empáfia a sua! FRANKamente! E esse vascaíno também tem muita empáfia! E o editor do Mundo Botafogo não fica atrás!

Grande abraço.

leymir disse...

Verdade, esses três tem muita empáfia e o tricolor só não apareceu por aqui, porque a empáfia deles é tão grande que faria que esses três citados por ti parecessem humildes! Hahahaha

Abração!

Sempre Botafogo disse...

Grande Leymir!
Tenho apreciado muito seus textos aqui no Mundo Botafogo!
Você consegue aliar a rivalidade com a visão equilibrada do gosto pelo puro futebol!
Sensacional texto! Parabéns!
E parabéns também ao amigo Ruy Moura que publicou o texto integralmente!
Grande abraço Leymir!
Grande abraço, Ruy!
Humberto

Ruy Moura disse...

É uma honra ter o Leymir por aqui. Tem uma visão equilibradíssima entre apreciar o futebol seja ele de quem for, o seu modo de torcer e o respeito pelos rivais. Especialmente o futebol estava a precisar de muita gente assim para se redimir do que tem acontecido nas últimas décadas com a radicalização das torcidas. E nisso as entidade stêmmuita responsabilidade porque as suas ações promovem a revolta e a violência, física e verbal.

Rivais como o Leymir são bem vindos ao Mundo Botafogo.

Abraços Gloriosos.

leymir disse...

Muito obrigado Ruy e muito obrigado Humberto!

Fico muito feliz de ser bem recebido aqui, é um espaço precioso e aonde aprendo muito.

Esse bloque presta um serviço primoroso para o Botafogo, mas também para todos aqueles que amam os desportos em geral.

A honra é minha de frequentar, trocar e aprender por aqui.

Abração amigos!

leymir disse...

Ah, amigos Humberto e Ruy!

Vcs poderiam me dar uma ajuda? Eu estou preparando um texto para falar sobre ídolos mas não os Deuses, os ídolos humanos.

Não estou procurando nesse texto Didi ou Jairzinho, nem Zizinho ou Leonidas.

Vou dar um exemplo, um querido amigo vascaino no alto dos seus 92 anos escolheu Alfredo 2ⁿ como exemplo.

Não sei se os amigos conhecem a história desse jogador, mas o motivo foi além da devoção dentro de campo. Ao ganhar passa livre do CRVG que já o julgava envelhecido, acerta com o Flamengo mesmo contrariado.

Ocorre que um dia o presidente vascaino recebe a ligação do presidente do Flamengo, Alfredo 2 não conseguia entrar em campo trajado com o manto rubro negro e assim voltou ao CRVG aonde teve ainda bons momentos e se eternizou no panteão Vascaíno no mesmo patamar de Deuses como Ademir, Danilo e Roberto.

No Flamengo eu escolhi Valido, mas não pelo gol do primeiro tri onde ele jogou já aposentado e com febre, e sim pois no final de sua vida ao falar sobre o Flamengo ele ainda chorava de emoção. Por isso ele está junto a Leonidas, Zico e Junior por exemplo.

Sei que existem exemplos similares no Botafogo, vcs poderiam dar exemplos.

Muito obrigado e um grande abraço!

Ruy Moura disse...

Obrigado pelas suas belas palavras, Leymir.

Talvez o maior drama e devoção com enormes repercussões à época. Dinorah de Assis, craque campeão que acabou por se suicidar em 1931 devido à paralisia pelas balas recebidas. Após ser baleado pelas balas de Euclides da Cunha entrou em campo uma semana depois pelo Botafogo em 1909. E continuou até poder, jogando com uma bala alojada na coluna vertebra, perto pulmão. Foi um dos craques campeões da Gloriosa saga de 1910. Mas o destino estava marcado…

http://mundobotafogo.blogspot.com/2008/01/dinorah-de-assis-entre-o-drama-e-glria.html?q=trag%C3%A9dia+da+piedade

http://mundobotafogo.blogspot.com/2018/08/a-tragedia-de-piedade-quem-seria-o.html?q=trag%C3%A9dia+da+piedade

Grande abraço.

leymir disse...

Só sou capaz de uma frase: Meu Deus!

Abração!

leymir disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ruy Moura disse...

Pode enviar o texto para o meu e-mail? Eu respondo por esse meio.
Grande abraço.

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