por RUY MOURA
Editor do Mundo Botafogo
O Botafogo começou razoavelmente bem a partida e, aos 6’,
Diego Gonçalves teve a oportunidade de inaugurar o marcador, mas chutou por
cima do travessão. O Fluminense respondeu aos 9’, tendo Gatito defendido para
escanteio. Porém, aos 21’, na sequência de escanteio, Kanu cabeceou fulminante,
entre Fred e Felipe Melo, para o fundo das redes. Botafogo 1x0.
Naquele momento aceitava-se uma ligeira vantagem do Botafogo
no jogo. Ainda assim o Fluminense tinha mais posse de bola e o Botafogo, meio
descansado pela posse inócua do adversário, cometia erros que não auguravam a
possibilidade de ampliar o marcador. Sejamos francos: continuamos com grandes
problemas, além dos desfalques. Os erros elementares de passe continuam; perdas
de bola infantis a meio campo e nas proximidades da área, que não deram gol aos
nossos adversários porque também jogavam pouco; falta de visão para mudar o
jogo para espaços abertos, afunilando-se excessivamente o ataque em vez das
mudanças de flanco; etc.
Apesar de alguma movimentação o primeiro tempo não ofereceu
nenhum deslumbre técnico de parte a parte e foi chegando cinzento ao intervalo.
Gatito fez uma boa defesa aos 40’ e Matheus Nacimento ainda beneficiou de um
contra ataque pelo lado direito, mas em vez de acelerar e seguir em frente,
tocou a bola para o lado, justamente ao alcance do zagueiro, que bloqueou a progressão.
Abel Braga entrou para o segundo tempo com duas importantes
substituições: Arias por Samuel Xavier e Cano por Fred, que havia jogado ‘nada’
no primeiro tempo. Como resultado, o Fluminense liquidou o já fraco meio campo
botafoguense e começou a jogar pelas duas laterais. Logo aos 53’ Willian Bigode
empatou, também na sequência de escanteio, e Enderson Moreira continuava mudo e
quedo a ver o Fluminense jogar,ao contrário do que fez em outros jogos
efetuando substituições no tempo certo.
Abel Braga, em lição estratégica que venceu claramente
Enderson Moreira, percebeu que estava à beira da oportunidade de virar o
resultado, fez nova substituição, de Nino por Luccas Claro, aos 60’, e três
minutos depois o mesmo Luccas Claro colocou o Fluminense a vencer, novamente na
sequência de escanteio.
Além da oportunidade do nosso adversário ainda ter podido
ampliar o placar, nada mais de especial se passou, a não ser Enderson Moreira
esbracejando e xingando o árbitro por um suposto pênalti que, no que me foi
possível observar, não existiu porque o carrinho do defensor do Fluminense foi
direto à bola e o nosso atleta é que saltou receoso – embora haja opiniões
contrárias.
Como notas finais destaco:
1) Três gols de escanteio num jogo de três gols mostra que o
Botafogo tem que insistir ainda mais na técnica dos escanteios, quer para se
defender quer para marcar gols, tal como vem fazendo desde há algum tempo no
ataque.
2) Matheus Nascimento jogou nervoso durante toda a partida e
sumiu, o que pode significar que às vezes os excessos da torcida embandeirando
em arco prejudicam as jovens promessas, atribuem responsabilidades para as
quais os jovens ainda não estão preparados e cujo desempenho precocemente
glorificado pode ‘subir à cabeça’ e prejudicar toda uma carreira, como aconteceu
com Luís Henrique em 2015. Entregar a responsabilidade do comando de ataque a
um jovem como Luís Henrique foi fatal; a Matheus Nascimento pode ocorrer
exatamente o mesmo. Faço votos que não, porque Matheus Nascimento tem
inegavelmente qualidade técnicas para ser bom jogador.
3) Finalmente, Enderson Moreira. O nosso técnico foi
fantástico na conquista do Brasileirão 20221, brilhando claramente com algumas
das suas ideias técnicas e capacidade de unir a equipe, mas tem mostrado que é
truculento, agressivo e mal-educado à beira do campo, várias vezes expulso
pelas mesmas razões, e começa a desenhar-se como não sendo a figura ideal para
comandar um Botafogo profissionalmente mais sério e sereno, mais racional e
objetivo, mais empenhado na recuperação do seu antigo e honorável prestígio e
que tem atualmente a possibilidade de o fazer com base numa administração que
não deve dar tréguas ao amadorismo. Lamento isso, porque Enderson, apesar de
ainda possuir insuficiências de natureza técnica, poderia evoluir com novos
reforços se não fosse a sua incapacidade temperamental de se controlar – e
consequentemente não ser o exemplo comportamental desejado para os seus
comandados, que também dentro de campo têm que manter a postura profissional.
Atualização às 18h00: Enderson Moreira foi demitido pela equipe de John Textor.
OBRIGADO PELO TÍTULO DO BRASILEIRÃO B, ENDERSON MOREIRA!
FICHA TÉCNICA
Botafogo 1x2 Fluminense
» Gols: Kanu, aos 21’ (de cabeça) (Botafogo); Willian Bigode,
aos 53’ (de cabeça), e Luccas Claro, aos 63’ (de cabeça) (Fluminense)
» Competição: Campeonato Carioca – Taça Guanabara
» Data: 10.02.2022
» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, o ‘Niltão’, no Rio
de Janeiro (RJ)
» Árbitro: Rodrigo Carvalhaes de Miranda (RJ); Assistentes:
Rodrigo Figueiredo Henrique Corrêa (RJ) e Carlos Henrique Alves de Lima Filho
(RJ); Vídeo-árbitro: Rodrigo Nunes de Sá (RJ)
» Disciplina: cartão amarelo – Hugo, Fabinho, Luiz Fernando,
Barreto, Matheus Nascimento e Carli (Botafogo) e David Braz, Nino e Felipe Melo
(Fluminense); cartão vermelho – Enderson Moreira, técnico (Botafogo)
» Botafogo: Gatito Fernández; Daniel Borges, Joel Carli, Kanu
e Hugo (Jonathan); Barreto, Fabinho (Breno) e Erison (Raí); Luiz Fernando
(Vitinho), Diego Gonçalves e Matheus Nascimento (Gabriel Conceição). Técnico:
Enderson Moreira.
» Fluminense: Marcos Felipe; Nino (Luccas Claro), Felipe Melo
e David Braz; Samuel Xavier (Arias), André, Yago Felipe e Cris Silva; Luiz
Henrique (Martinelli), Fred (Cano) e Willian Bigode. Técnico: Abel Braga.
3 comentários:
Texto excelente como sempre, muito bem observada a partida. Sejamos francos, com esse elenco só milagre, pois ontem tivemos um meio campo medonho, laterais fracos, mas o que mais me chama a atenção são as críticas ao Matheus Nascimento, como se fosse o salvador num time em que mal sabe tocar a bola e ele raramente recebe bolas limpas. Nesse time do Botafogo com esses laterais e esse maio campo, pode botar o Lewndovski de centro avante que nem esse resolveria. Acho injusto que se jogue essa responsabilidade nos garotos da base, pois estão começando num time que é muito fraco. A bem da verdade o Botafogo dos últimos anos mesmo ganhando tem tomado sufoco, vide o jogo contra o Nova Iguaçu. Lembrando que uma andorinha não faz verão. O Barcelona tomou de 8 do Bayern com o Messi em campo. Futebol é acima de tudo conjunto, equilíbrio entre os setores, se um ou mais setores não funcionam não adianta querer culpara esse ou aquele jogador.
Bom, o Enderson Moreira foi demitido e estão sondando o português Luiz Castro, confesso que não conheço, você o conhece, pode passar alguma informação, afinal é seu conterrâneo? Abs e SB!
Concordo com tudo o que escreveu, Sergio!
Quanto ao Luís Castro. Apesar de ser um portista, sempre gostei da postura dele. É um homem calmo, sério e objetivo. Treinou as bases do FC Porto durante 10 anos e depois foi treinador principal em substituição deum treinador demitido. Porém, o Porto não oefetivou. Na verdade tem uma postura humana muito boa, enquanto a postura dos dirigentes do Porto, dos treinadores do Porto e, por tabela, dos jogadores do Porto, assenta há décadas na rudeza e na truculência. Enão, não podia servir os 'instintos musculados' dos portistas. Saiu para o estrangeiro e foi campeão nacional pelo Shaktar. Não sei porque razão saíu entretanto, mas foi para o Catar. Creio que está lá atualmente. Julgo que o nome dele está na berlinda por uma tripla conjugação de fatores: possui algumas qualidades técnicas, fala português e, sobretudo, tem uma grande experiência em revelar jogadores por ter treinado as categorias de base do Porto durante os tais 10 anos que mencionei.
Em suma, penso que o Textor quererá justamente montar uma espécie de Academia no BFR e tornar a fazer do Clube um revelador de grandes figuras futebolísticas. Se assim for o Luís Castro poderá ser um treinado ideal, mas não se esperem milagres e sim muito trabalho, a médio prazo, de um homem sériono futebol, caso seja contratado.
Abraços Gloriosos.
A maior pedra que eu vejo no sapato dele é ter saído para treinar nas arábias. Eu desconfio sempre dos treinadores que vão treinar para terras árabes, asiáticas e africanas devido ao fraco futebol dessas regiões. Creio que futebol de elevada qualidade só em clubes da Europa e alguns da América do Sul.
Abraços Gloriosos.
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