por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Evito o mais possível ler comentários nas redes sociais sobre o futebol do Botafogo na atualidade, seja por considerar alguns comentários absurdos, inapropriados ou simplesmente de torcedores que viram outro jogo bem diferente daquele que vi – e em geral mais desfavorável ao Botafogo.
O Botafogo jogou contra um adversário tradicionalmente muito difícil, especialmente em sua casa, tendo a nossa equipe um registo histórico desfavorável de 15 vitórias contra 26 do Goiás. Desde que o blogue foi fundado, em 2007, o registo foi de 5 vitórias contra 10 do Goiás, e na casa do adversário não ganhávamos desde 2009.
Os principais números do jogo de ontem mostram que o Goiás rematou 6 vezes na direção da baliza contra 17 vezes do Botafogo, e que bolas enquadradas no espaço do gol o Goiás acertou 1 remate e o Botafogo 6. Ademais, tivemos 56% de posse de bola e 11 escanteios a favor, contra 6 a favor do Goiás. Além de um árbitro com mau desempenho que favoreceu o Goiás em algumas ocasiões.
Não obstante, muitos comentários são de que o Botafogo jogou mal, é mal treinado, foi mal escalado, que o treinador é burro, que mais uma vez a vitória esteve só por conta da individualidade dos jogadores (no caso o autor do gol e o respectivo autor da assistência, como se não tivesse sido uma jogada iniciada no nosso meio campo por outros jogadores e com intenção de explorar a ala esquerda do ataque).
Razão tinha Augusto Frederico Schmidt quando confidenciou a Santhiago Dantas que “o Botafogo tem a vocação do erro”, porque neste momento de reconstrução do seu futebol em todas as suas dimensões a união de todos é decisiva. Afinal, apesar das dificuldades de montagem de uma equipe pela 3ª vez este ano, estamos em 9º lugar na tabela classificativa e consideravelmente distantes do mal afamado Z4. Eu próprio, bastante crítico algumas rodadas atrás, reconheço a diferença para melhor do jogo coletivo praticado e um empenhamento e união da equipe raramente observados nos últimos anos.
Claro que também há os opostos: aqueles para quem qualquer vitória dá direito a sonhar com a Libertadores, apesar de ainda não termos estrutura para disputar consistentemente uma competição dessa natureza, mas estes são aqueles que estão ao lado do projeto em curso liderado por John Textor, desculpando-se o seu excessivo otimismo devido à vontade de Glória.
Para não me estender mais devo dizer que o Botafogo atuou para neutralizar as peças de jogo mais perigosas do Goiás, designadamente contra-ataques rápidos que podiam apanhar a nossa equipe em desequilíbrio entre o ataque e a defesa (em especial os chutões típicos da estratégia de Jair Ventura), mas sempre sem perder o sentido do gol que foi procurado durante todo o jogo. Se o não tivesse feito e houvesse levado ocasionalmente um gol estaríamos hoje todos de orelha em baixo.
Pode-se se dizer que a nossa estratégia foi bem montada e que o Goiás realmente não teve verdadeiramente uma única chance de gol, enquanto o Botafogo, à medida que o tempo passava, em especial a partir da segunda metade do segundo tempo, tomou ainda mais conta da partida.
Se a defesa tem sido tradicionalmente um problema nas equipes treinadas por Castro, parece que finalmente a sua postura favorece mais a montagem de uma defesa sólida – algo que defendo desde sempre como base de uma equipe competitiva –, apesar de algumas vezes não haver boas soluções disponíveis, como é o caso de Saravia, ao qual Adryelson tem que dar cobertura. Castro defende o futebol atacante e de posse, mas percebeu – e disse-o – que sem defesa sólida não há ataque que nos valha.
Embora a 1ª parte tenha sido mais de estudo e controlo do adversário, tivemos três chances de gol: Adryelson de cabeça, Tiquinho Soares chutando à figura do goleiro com a baliza aberta à sua espera e Júnior Santos que, em circunstâncias semelhantes, desperdiçou para fora. Não fosse isso, a 1ª parte poderia ter dado outro rumo à partida – mais favorável ao Botafogo.
A segunda parte – em que as substituições foram feitas em tempo oportuno e tiveram um papel decisivo no jogo coletivo e na criação de oportunidades – foi de domínio absoluto e forte pressão do Botafogo com várias oportunidades de gol, principalmente as de Sauer e Jeffinho, com o goleiro Tadeu brilhando na baliza. E quando um goleiro está inspirado… Porém, Del Piage conseguiu encher o pé em mais uma jogada bem elaborada do ataque e garantir a vitória: Botafogo 1x0.
Sobre a polêmica Jeffinho, devido a não ser titular, apoio em absoluto a opção de Castro: em 1º lugar, por escalar quem melhor treinou durante a semana – o que obriga cada um a dar o seu melhor e não ter ‘trono’ garantido na escalação, bem como garantir a inexistências de ‘panelinhas’; em 2º lugar, porque Jeffinho deslumbrou-se recentemente e é necessário acalmar a sua juventude para não ser ‘queimado’ como foi Luís Henrique em 2015; em 3º lugar, porque a velocidade e a criatividade de Jeffinho pode ser útil numa 2ª parte em que o adversário está mais cansado e mais desprevenido face a mudanças decisivas. Em qualquer caso, Jeffinho é ‘pérola’, tem que ser bem polido e orientado para futuramente se assumir como titular absoluto com a cabeça no lugar e quando se transferir do Botafogo deixar bom dinheiro em caixa.
Botafoguenses, já li comentários pedindo a Textor para devolver o Clube – como se ele não estivesse falido em dezembro de 2021 – e que Luís Castro não percebe nada de futebol e até mesmo que (palavras de René Simões) nunca treinou uma equipe de futebol, mas apenas teve a função de diretor desportivo ou algo parecido, quando na verdade treinou 10 equipes e no FC Porto lançou durante anos os melhores craques do Porto vindos da base.
Botafoguenses, o projeto é bom, felizmente Textor está a dar toda a atenção às diversas componentes do futebol, mais do que eu inicialmente esperava, seja na integração de todas as equipes desde a base aos profissionais, seja no aspecto da logística de treinos, do marketing, da internacionalização, da reestruturação financeira e do respeito que novamente estamos resgatando no futebol brasileiro e, pouco a pouco, no mundo.
A DESUNIÃO FAVORECE OS ADVERSÁRIOS! A UNIÃO DO BOTAFOGO FARÁ A NOSSA FORÇA!
FICHA TÉCNICA
Botafogo 1x0 Goiás
» Gols: Del Piage, aos 89’
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 28.09.2022
» Local: Estádio Hailé Pinheiro, em Goiânia
(GO)
» Público: 8.980 pagantes; 10.773 espectadores
» Renda: R$ 274.900,00
» Árbitro: Luiz Flávio de Oliveira
(SP); Assistentes: Marcelo Carvalho Van Gasse (SP) e Miguel Cataneo Ribeiro da
Costa (SP); VAR: Rodrigo Guarizo Ferreira do Amaral (SP)
» Disciplina: cartão amarelo – Saravia, Victor
Cuesta, Lucas Piazón e Marçal (Botafogo) e Apodi, Caio, Felipe Bastos e Danilo
Barcelos (Goiás)
» Botafogo: Lucas Perri, Saravia, Adryelson,
Victor Cuesta e Marçal; Tchê Tchê, Gabriel Pires e Lucas Piazon (Del Piage);
Júnior Santos (Gustavo Sauer),Tiquinho Soares e Victor Sá (Jeffinho). Técnico:
Luís Castro.
» Goiás: Tadeu, Maguinho, Lucas Halter, Reynaldo
e Danilo Barcelos (Luan Dias); Auremir (Felipe Bastos), Mateus Sales (Caio),
Diego e Marquinhos Gabriel (Pedrinho); Renato Júnior e Nicolas. Técnico: Jair Ventura.
5 comentários:
Realmente ias redes sociais tem chegado a um ponto de comentários mais voltados para a paixão irracional e que parecem muito mais propensos a criticar o Luís Castro for o resultado do que analisar o que realmente aconteceu na partida. Creio que a relação com o treinador botafoguense de uma grande parte dos torcedores é mais baseado na antipatia do que em qualquer outra coisa.
Sobre seu o comentário, só posso dar os parabéns para seu texto
pela extrema lucidez e percepção do jogo. Críticas são importantes, mas muitas estão beirando a uma certa insanidade. Se o Botafogo ganha é a qualidade dos jogadores, se perde é culpa do treinador, ou seja, o treinador não faz gol e nem falha na defesa, mas quando o time não faz gol e sofre gol por falhas individuais a culpa é do treinador. Recordando o que escrevi sobre o paralelo futebol/ música de conjunto: se o músico é afinado e não erra é um gênio, mas caso contrário vá culpa é do regente.
O mais curioso é que todos tem soluções mirabolantes para montagem do time, mas sempre depois do jogo ter terminado, o treinador teria que ter feito isso ou aquilo, mas quando faz nunca dão mérito ao técnico, curioso isso.
Eu tenho a impressão que uma grande maioria desses comentários são de torcedores que não tiveram a oportunidade de ver os grandes times do Botafogo e imagina que os grandes jogadores e a equipe sempre jogavam o fino da bola. Não conheço nenhuma equipe no planeta que tenha conseguido isso, posso estar equivocado.
Interessante também é essa polêmica a respeito do Jefinho, como se este fosse o novo PC Caju, e por eria intocável. O Jefinho é muito bom jogador, mas falta tem muito chão pela frente, e se não abrir o olho se perde no meio do caminho.
Terminando esse longo texto, eu diria que parece que apesar do Botafogo ter ganho o jogo, controlado a partida e as substituições sendo feitas no momento exato, pois com o adversário cansado o Jefinho teria mais possibilidade de sucesso, assim como o Sauer e o Del Piage que vinham de longa inatividade e não aguentariam a correria imposta pelo Goiás, parece que apesar disso tudo, a impressão que eu tenho é que o Botafogo foi derrotado, pelo.menis parece que seria isto que muitos críticos do Luis Castro gostariam. ABS e SB!
Uma coisa é a crítica, Sergio, feita com respeito, dignidade e construtividade em prol do nosso Botafogo, tal como eu já fiz em relação a algumas opções do Luís Castro semana atrás. Outra coisa é o destempero emocional a que tenho assistido, e não só emocional, mas persecutório e quase exprimindo o desejo de sermos derrotados para que o Luís Castro seja desligado pelo Textor. Porém, é óbvio que o Textor o vai manter porque é um empresário estratega que vai além do imediato e sabe que para chegar ao futuro em condições precisa de uma estrada sem buracos, com o mínimo de curvas e o mais larga possível. E foi por isso, para montar um PROJETO GRANDIOSO que o Castro preferiu o Botafogo em vez do Corinthians.
Porém, devo salvaguardar que há muitos e muitos botafoguenses que acreditam no projeto e nestes protagonistas, uns com mais prudência (como eu, que entendo ser o tempo uma variável decisiva na construção consistente) e outros com um otimismo mais elevado. Mas ambos verdadeiramente ao lado do projeto para que o nosso Botafogo deixe de ter "a vocação do erro".
Quanto às suas demais observações, já sabe: pensamos do mesmo modo! Especialmente sobre o Jeffinho,que eu não quero ver 'morto' antes de tempo, como aconteceu ao LH. E nisso o Castro é craque, porque durante 10 anos forneceu ao Porto os melhores jogadores vindos da base do clube e sabe como tratar do fortalecimento das suas mentes. E é exatamente essa metodologia que ele está agora a implementar no Botafogo. Como ele disse, e muito bem, "o passado não tem futuro, o que tem futuro é o que vivemos no presente". E o presente é montar uma estratégia clara e unívoca para todo o futebol do Botafogo desde o infantil ao adulto criando uma lógica completamente nova no clubismo brasileiro.
Teremos um bom futuro, amigo. A lógica dos planos vencerá a emoção dos agoras. Acredito nisso porque o Textor está a implantar exatamente tudo que eu tenho defendido: antes de uma equipe de futebol competitiva está a construção do Clube como um todo nas suas diversas vertentes financeiras, técnicas, logísticas, administrativas, de internacionalização, etecetera, para apoiar com consistência o nosso futuro.
Abraços Gloriosos.
Ruy, verdade seja dita, há alguns sites de comentaristas botafoguenses no YouTube que diferem completamente dessas críticas infundadas a respeito do Castro e do time, com comentários bastante lúcidos e com os pés no chão, mas naturalmente como não poderia deixar de ser, depois da vitória de ontem sempre há uma certa euforia.
O próximo jogo é muito difícil pois é contra o melhor time do campeonato, e para agravar o time perdeu dois jogadores importantíssimos: Marçal e Cuesta.
É que grande zagueiro é o Adryelson, um achado. ABS e SB!
Com certeza, Sergio. Eu não me expressei bem. Na verdade, referia-me basicamente a comentários de torcedores em matérias publicadas por comentaristas mais 'profissionais' em redes sociais. Claro que há muito boa gente que analisa com racionalidade e pertinência, e alguns por vezes acompanho. E nesses casos as criticas são construtivas, e mesmo discordando de algumas aceitam-se porque baseiam-se em argumentos admissíveis. Mas os comentários do tipo de torcedores bota abaixo é que me irritam profundamente. às vezes até parece que nem são botafoguenses.
O Adryelson é formidável. Há outros também muito interessantes: o 'velho' Gatito (claro!), Eduardo, Marçal, Cuesta, Sá, e também Jeffinho em crescimento e talvez o MN se Castro e o fisio o souberem orientar adequadamente do ponto de vista emocional e de ganhos musculares. O Tchê Tchê também evoluiu. Penso que o Júnior Santos pode melhorar e que o meio campo precisa de maior criatividade. A desilusão maior creio que é o Parick pela esperança de criatividade que havia nele. Quem ainda não me convenceu foi Tiquinho Soares, que está bastante aquém do futebol que já vi nele. Há outros que podem evoluir, mas teremos que ter mais paciência porque o ritmo de crescimento não é igual para todos os atletas.
Abraços Gloriosos.
Costumo assistir, entre outros, a algumas edições do Thiago Franklin no youtube.
Abraços Gloriosos.
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