domingo, 26 de fevereiro de 2023

Botafogo 0x1 Flamengo – as alterações do ‘clima’ chegaram ao Clube

A expressão de destempero de um lado; de autoritarismo abusivo do outro. Crédito: Divulgação.

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Raras vezes se vê um show de horrores futebolísticos tão completo, que começou logo aos 30” de jogo quando o inenarrável Daniel Borges entregou a bola para trás a um jogador do Flamengo, que aproveitou o brinde e avançou, enquanto Carli vai, vai, vai e…não vai e o flamenguista fez um gol perfeito – desde a sua atenção na intercetação da bola até à conclusão no ângulo direito.

O gol que bastou para o Botafogo ser derrotado em menos de um minuto de jogo.

A seguir foi o show da horrível, autoritária e amadorística arbitragem, precipitada, sem coerência disciplinar e favorável ao Flamengo (que novidade…), coadjuvada pelo VAR que não tinha as linhas calibradas para avaliar corretamente os impedimentos. Além de supostos pênaltis a nosso favor não analisados pelo VAR.

Ainda houve um período razoável na primeira parte quando o Botafogo perdeu algumas hipóteses de gol e/ou de tornar as jogadas mais perigosas, mas Tiquinho Soares é apenas uma sombra do que foi e Lucas Piazon não dominava as boas bolas que recebia à frente, acabando por se chegar ao intervalo com a vantagem flamenguista.

E daí para afrente foi uma segunda parte sombria, realçando a inabilidade técnica de praticamente todos os jogadores e a incapacidade de se fazer chegar a bola ao fundo das redes.

E então aconteceu o pior num Botafogo ineficaz, destemperado, totalmente descontrolado e atirando a razão para as urtigas destrambelhando-se emocionalmente e acabando por somar às duas expulsões contra o Vasco da Gama (Adryelson e Rafael) mais três (Carli, Marçal e Tiquinho Soares).

Ah…mas eles são jovens e inexperientes… Não… jovens e menos experientes são os flamenguistas, que usaram melhor a razão em vez da emoção atabalhoada de ‘medalhões’ bem experientes.

Todos eles teoricamente experientes, tendo quatro deles 32 ou mais anos: Adryelson (24), Carli (36), Marçal (34), Rafael (32) e Tiquinho Soares (32).

Eis um bom exemplo de eu sempre defender o uso da razão sobre a emoção, quer no âmbito das 4 linhas, quer no âmbito da arquibancada: quem se emociona sem controlo e sem possuir suporte racional robustez para lidar com as adversidades acaba por chegar à depressão – uns na arquibancada por vezes dando-nos espetáculos grotescos, outros dentro de campo provocando confusões, expulsões e invasões.

E, neste caso, nem a polícia faltou à emoção destemperada, invadindo o campo extemporaneamente e ajudando aos horrores de fim de tarde. Com o mundo vendo.

O Botafogo deprimiu. Porquê? Mistério…

Certo é que devíamos estar a cumprir simplesmente a reta final da pré-temporada usando o campeonato carioca para o efeito e fazê-lo com serenidade, controlo emocional, afinação dos pormenores e preparação mental para enfrentar uma época difícil a todos os níveis – incluindo saber-se lidar com arbitragens que nos vão ser desonestamente desfavoráveis.

Eis novamente o apito exibicionista sem autoridade competencial e o brigão sem comportamento profissional.

Vindos de uma campanha em crescendo e que nos estava dando algum entusiasmo, e acreditando em reforços capazes, conseguiram tornar as tradições botafoguenses em comportamentos mais de tipo flamenguista do que outra coisa qualquer. Mas ontem, diga-se a verdade, apenas um componente do espetáculo se salvou: a serenidade dos jovens flamenguistas que, alheios ao destempero botafoguense, levaram a água ao seu moinho como se de futebolistas experientes se tratasse.

E aqui estamos, como sempre frente a nós mesmos, relembrando as palavras de Augusto Frederico Schmidt a Santiago Dantas proferidas há 7 longas décadas: “O Botafogo tem a vocação do erro.”

As contratações não chegam, a organização em campo foi subitamente abduzida e os titulares mais experientes decidem expulsar-se de campo sabe-se lá porquê, mas seguramente mostrando que a ideia de ‘família’ dentro de um plantel é uma invenção completamente imprópria quando o profissionalismo mostra que são os planos traçados que são importantes, embasados em metas e objetivos a alcançar, em treino e concentração, em compromisso e lealdade coletiva, em fúria de ganhar com a racionalidade de um comportamento adequado, da tática cumprida ao rigor, da apuração técnica em cada jogada.

Sempre fui contra essa ideia peregrina de ‘família’ num plantel de futebol. Que pressupõe um pater familia. Supostamente, no caso, Luís Castro.

Gosto de Castro como pessoa e tem uma carreira razoável no futebol, sobretudo feita de seriedade. Porém, Castro falhou as suas previsões recentes e perdeu claramente o comando quando cinco dos mais experientes jogadores da ‘família’ se comportaram como garotos irresponsáveis prejudicando claramente a equipe e desesperando os torcedores do Glorioso – como se não bastasse a FERJ contra nós, a CBF contra nós, as contratações que não ocorrem e a venda extemporânea de atletas promissores que tem acontecido.

Como se não bastasse isso tudo, perdemos a confiança no tal agregado de ‘família’ e na capacidade de Luís Castro em dominar efetivamente o plantel e, sobretudo, os mais experientes, que são obviamente os que podem ser os mais agregadores ou menos agregadores num plantel.

Castro, que durante a sua carreira geralmente nunca falava das arbitragens, tem razão quando dispara sobre o árbitro e sobre o comportamento policial? É claro que sim, tal como dirigentes e torcedores deviam há muito tempo se ter insurgido organizando ações contestatárias sérias e até mesmo jurídicas, mas está enfrentando agora a realidade do futebol brasileiro – como se pode ilustrar, a título de exemplo, quando num certo jogo Náutico x Botafogo fomos claramente prejudicados e a polícia chegou ao despautério de prender (!!!) o presidente do Botafogo, Bebeto de Freitas, dentro do estádio!!!

Alguns jogadores podem ter razão em discutir com as arbitragens e tomar atitudes agressivas, Castro pode ter razão no que disse, mas isso não passa a borracha sobre duas coisas – os jogadores estão descontrolados e descontrolam o resto da equipe, Luís Castro está descontrolado e não domina o plantel.

Nem uma nem outra coisa pode acontecer.

Por tudo isto, 2023 afigura-se subitamente um ano sombrio com as dramáticas ‘alterações climáticas’ que invadiram o Botafogo.

Como nos podemos socorrer sabendo que John Textor, com a sua inatividade em robustecer seriamente a equipe, também contribui para inesperadas ‘alterações climáticas’?

Se os deuses existissem sempre poderíamos recorrer a Victória, deusa grega que personificava a desporto pela vitória, força e velocidade. Porém, perante tal impossibilidade, estamos entregues a nós mesmos, Torcedores. Que podemos realmente fazer por nós num mundo em que tanto se fala do empoderamento cidadão?...

FICHA TÉCNICA

Botafogo 0x1 Flamengo

» Gols: Matheus Gonçalves, aos 30”

» Competição: Campeonato Carioca (Taça Guanabara)

» Local: Estádio Mané Garrincha, em Brasília (DF)

» Data: 25.02.2023

» Público: 21.374 espectadores

» Renda: 2.422.291,16

» Árbitro: Tarcizo Pinheiro Caetano (RJ); Assistentes: Thiago Rosa de Oliveira Esposito (RJ) e Carlos Henrique Alves de Lima Filho (RJ); VAR: Rodrigo Nunes de Sá (RJ)

» Disciplina: cartão amarelo  Lucas Piazon, Joel Carli, Gabriel Pires, Marçal, Tchê Tchê, Tiquinho Soares e Victor Cuesta (Botafogo) e Everton Cebolinha, Erick Pulgar e Matheuzinho (Flamengo); cartão vermelho Joel Carli, Tiquinho Soares e Marçal (Botafogo)

» Botafogo: Lucas Perri; Daniel Borges (Matheus Nascimento), Joel Carli (Victor Cuesta), Luís Segovia e Marçal; Tchê Tchê, Patrick de Paula (Lucas Fernandes) e Gabriel Pires; Lucas Piazon (Carlos Alberto), Tiquinho Soares e Victor Sá. Técnico: Luís Castro.

» Flamengo: Matheus Cunha, Matheuzinho, Rodrigo Caio, Pablo e Cleiton; Erick Pulgar (Everton Araújo), Igor Jesus (Lorrant) e Matheus Gonçalves (Matheus França); Marinho (André), Matheusão e Everton Cebolinha. Técnico: Rui Quinta.

4 comentários:

Sergio disse...

Excelente texto. É surpreendente o destempero e a exibição abaixo da crítica de 90% dos jogadores do Botafogo ontem.
De fato o erro crasso do Daniel Borges determinou a dinâmica do jogo, porém o que se viu contra o Vasco por exemplo, apesar do time do Botafogo ficar com dois a menos, foi uma exibição digna, mostrando qualidade para um time com 2 atletas a menos. Ontem não, foi algo surreal: Marçal errou tudo, cada cruzamento feito foi assustador, Daniel Borges sem comentários, Tiquinho perde uma chance por falta de calma ou categoria, Lucas Fernandes completamente fora de jogo, teve 3 oportunidades de uma conclusão melhor da jogada, entretanto em uma não passa a bola para o companheiro, outra de frente pro gol dá um peteleco sem direção. Eu pergunto: quase dois meses de preparação e o LF completamente fora de jogo? Inacreditável. Sem medo de errar, não fosse a pixotada do DB o jogo ontem terminaria 0X0, pois o flamengo conseguindo um gol a 30 segundos pode se entrincheirar e buscar o contra ataque, mas apesar disso só teve uma chance clara durante todo o jogo, o Lucas Perri só fez uma única defesa. Mas de fato o time do Botafogo ontem fez uma das piores exibições que tive o desprazer de assistir.
Sobre a arbitragem já nem consigo mais comentar tal os absurdos que testemunho há décadas, em especial em jogos contra o Botafogo. Por alto devo ter visto.o Botafogo perder títulos ou condições de disputar títulos em umas 10 ocasiões, e mais grave, erros absurdos.
Fica uma pergunta: qual é a utilidade do var se ele não consegue ver um pênalti claríssimos como o que foi cometido no Matheus Nascimento? Não quero ser leviano,.mas não é a primeira vez que vejo um pênalti tão escandaloso que não é assinalado para o Botafogo sem que me passe pela cabeça que foi intencional o var não se pronunciar. Até jogada de vôlei já aconteceu contra o Botafogo e só o soprador e o var(gabundo) não viram.
Fora isso percebe-se claramente que há uma coação a jogadores do Botafogo, o que também não é novidade, pois já ouvi vários testunhos de ex jogadores do Botafogo sobre esse fato.
O Botafogo não perdeu por causa da arbitragem, embora tenha sido prejudicado, perdeu porque a exceção do Tchê Tchê, do Perri e um pouco do Gabriel Pires, o resto não jogou absolutamente nada e ainda perdeu o controle. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Inteiramente de acordo com o seu lúcido comentário, Sergio. Medo? Depressão? Burrice?, após a inacreditável jogada do DB?... Desaprenderam toda a evolução que fizeram neste ano?... Medo dos clássicos?... - e vai daí 5 expulsos?... Arrogância dos 'medalhões' que se sentem acima de alguma coisa?... Continuo sem compreender como o LC não controlou a equipe depois das duas expulsões infantis de Aryelson e Rafael, e ainda aconteceu pior ontem. Laxismo com os jogadores? Amolecimento após a conversa mole de o Botafoogo ser uma família?... Muitas dúvidas e uma única (provável) certeza: vamos ter um ano pra lá de difícil com estes jogadores e com a falta de reforços decentes. E confirmar ou infirmar se LC é o técnico adequado para o Botafogo no domínio comportamental.
Abraços Gloriosos.

Sergio disse...

Eu gosto do Luís Castro, acho ele uma pessoa fina, educada, não o acho o supra sumo de treinador, mas um treinador competente, mas precisa de um elenco , como aliás lhe foi prometido. Talvez por tratar os jogadores de maneira educada é que não consiga controlar alguns excessos de jogadores do elenco, em especial os mais velhos.
Ontem fiquei até surpreso com a explosão do Castro na entrevista, é a primeira vez que o vejo muito irritado e falando alto. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Penso o mesmo dele: educado, socialmente sensível, alguns furos acima da média, mas educado demais com essa história esfarrapada de o Botafogo ser uma 'família'. Jogador 'velho' e experiente abusa logo em situações de moleza. Essa coisa de 'família' é conversa para boi dormir. Tem que haver vigor na liderança e receio que Castro esteja a facilitar. Quanto à sua irritação, duas notas: irritado porque no Brasil as arbitragens e o comportamento policial nos estádios estão pra lá de admissíveis em padrões europeus; irritado também por uma estratégia de defesa do tipo "a melhor defesa é o ataque". Talvez tenha querido mostrar assertividade e liderança. Compreendo. Mas... fará o mesmoo em privado com os jogadores? Será implacável com os jogadores devido a tanto destrambelhamento mental e falta de profissionalismo? Não sei. Vou aguardar para ver. Mas agora com menos tolerância, porque Castro dissera que jamais falaria da arbitragem, e agora atirou-se a ela; também disse que por esta altura a equipe estaria prepararda, mas o que está verdadeiramente é pilhada e destrambelhada. Castro está, no mínimo. falhando previsões.
Abraços Gloriosos.

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