segunda-feira, 15 de abril de 2024

Botafogo infanto-juvenil 2x3 Cruzeiro juvenil

Júnior Santos, a única nota verdadeiramente positiva duradoura durante o ano de 2024.

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Se eu fizesse replicação da análise ao jogo anterior, praticamente tudo se enquadrava para analisar esta partida.

O Botafogo entrou novamente com um esquema ofensivo sem apoio do meio campo e dependente de uma defesa em que provavelmente é necessário substituir goleiro, zagueiros e laterais.

Foi ‘trabalho’ de André Mazzuco e do scout, provavelmente com a complacência de John Textor, montar a defesa desastrosa que temos. E é responsabilidade de Artur Jorge em montar uma equipe ofensiva que só pode dar mau resultado se não houver equilíbrio entre os setores de defesa, de criação e de ataque.

Que perdeu de modo ruim para uma equipe também ruim, que só poderia ter ganho mediante o (não) desempenho da defesa alvinegra.

O jogo começou com o Botafogo a atacar, mas em correria, sem controlar o esquema de jogo, emaranhando-se com os adversários e permitindo desarmes sucessivos.

Ainda assim, o atual melhor jogador da equipe, Júnior Santos, recebeu uma bola longa de Mateo Ponte pela ponta direita, tirou o marcador da jogada, disparou para a baliza e quase junto à linha de fundo cruzou para Tiquinho Soares, que se limitou a empurrar para as redes e inaugurar o marcador.

É normal no Botafogo o argumento de se dizer que quando o adversário marca muito cedo o jogo corre a favor do oponente. Porém, neste jogo o Botafogo marcou cedo e como aproveitou a vantagem?...

(Des)’aproveitou’ em correria no ataque, em jogadas embrulhadas com maus passes, por antecipação do adversário e por divididas de bola sucessivamente perdidas.

E nessa correria atacante, em vez de acalmar o jogo e trocar a bola, deu muitos espaços ao Cruzeiro para arrancadas de contra-ataque com vacilos da defesa alvinegra – e, claro, aos 19’ o empate estava feito após a defesa alvinegra vacilar.

Daí em diante o Cruzeiro apossou-se do jogo, chegou com perigo à nossa baliza e em nova atrapalhação da defesa o adversário virou o placar, que felizmente se manteve porque o VAR chamou o árbitro ao vídeo e a jogada foi invalidada por mão do autor do gol.

E até ao final do 1º tempo foi uma autêntica pelada entre os infanto-juvenis do Botafogo e os juvenis do Cruzeiro, longe de qualquer jogo decente de um campeonato como o Brasileirão.

No 2º tempo o Botafogo entrou melhor. Júnior Santos quase marcou um gol de letra. Logo depois, já com o goleiro batido e a baliza completamente escancarada, sem goleiro e sem nenhum defensor, Jeffinho engendrou uma ‘enorme capacidade’ de visar as redes – pelo lado de fora!

Por que razão Jeffinho foi devolvido pelo Lyon?... Talvez por deficiente sentido de ‘orientação’. E o Botafogo a ter que arcar com os inúmeros erros de Jeffinho.

E como é da praxe dizer-se que “quem não marca leva”, eis que em mais um lance totalmente atabalhoado dentro da área, com sucessivos falhanços da nossa defesa, eis que o Cruzeiro faz a virada.

E depois disso, o inenarrável Alexander Barboza, que acabara de entrar em substituição de Bastos, foi expulso por entrada muito violenta sobre o adversário, já depois do árbitro ter apitado uma falta a favor do Botafogo e o jogo ter sido paralisado, mostrando ter dificuldades de ‘audição’, pelo menos quanto aos estridentes apitos do árbitro. Surreal, para não dizer coisa pior…

Ainda assim, com menos uma peça em campo, o Botafogo conseguiu empatar numa cobrança de escanteio, tendo Danilo Barbosa cabeceado para o fundo das redes e empatado a partida aos 83’.

Porém, em vez de se cuidar e controlar o jogo para preservar pelo menos um ponto, o Botafogo tornou a falhar. Já nos acréscimos William endossa a bola a Rafael Dias que finalizou chutando a bola por entre as pernas de Gatito e fixando o placar final da nossa derrota, com o goleiro paraguaio evidenciando, nesta jogada, e em quase toda a partida, dificuldades de ‘locomoção’. A ‘velhice’ não perdoa…

No caso de Luiz Henrique talvez haja, pelo menos por enquanto, um problema de ‘dimensão’, isto é, a diferença abismal entre o seu custo e o benefício trazido.

Finalmente, às dificuldades de ‘orientação’, ‘audição’, ‘locomoção’ e ‘dimensão’, que anotam alguns dos problemas de certos jogadores, junta-se um problema de ‘visão’ por parte de Artur Jorge, que vê as partidas certamente com óculos escuros e ainda não percebeu que o Botafogo tem uma equipe desequilibrada, que ainda não sabe propor jogo, que tem que jogar no erro do adversário e no contra-ataque, juntar mais as linhas e, gradualmente, à medida que se vai reconstituindo e organizando detrás para a frente e não da frente para trás, então ser mais assertiva no ataque com apoio do meio campo e prevalência de saídas de bola em condições a partir da defesa.

E com menos correria! A correria indica falta de controlo, nervosismo e risco de perdas de bola que o adversário aproveita para contra-atacar e marcar.

Se continuarmos assim, e se Artur Jorge estiver focado no médio e no longo prazo, e no ataque em vez do contra-ataque, o desastre a curto prazo é quase certo. As várias goleadas que tomou do Sporting, por três vezes sucessivas de 5x0 em 14 meses são mau sinal para o Botafogo com o esquema precoce que está montando.

E quanto à sua Coletiva avalio-a como um tempo em que falou e falou dizendo nada, e concluindo unicamente que a nota positiva do jogo foi os jogadores terem lutado sempre e até ao fim, omitindo qualquer outra constatação. É certo, concordo, mas é muito pouco como conclusão de uma Coletiva de um jogo com tantos erros. Porque os jogadores efetivamente lutaram, mas lutaram mal, porque com um esquema tão impróprio para a equipe, lutar bem e ter sucesso é obra só para grandes craques – que não temos.

Querer fazer uma omelete recheada e suculenta sem os ingredientes adequados é risco de chumbo do cozinheiro. Solução?... Ajuste-se gradualmente os ingredientes até que se consiga apresentar globalmente um produto que agrade aos intentos do cliente – no caso, aos intentos dos torcedores do Botafogo e à instituição ‘futebol brasileiro’.

Que me desculpem os/as leitores/as e amigos/as por algumas ironias que mencionei nesta análise, mas a minha insatisfação não resistiu a ironizar, numa partida em que o Cruzeiro ganhou tão somente por apresentar um futebol de tipo 'juvenil' contra o futebol de tipo 'infanto-juvenil' do Botafogo.

FICHA TÉCNICA

Botafogo 2x3 Cruzeiro

» Gols: Tiquinho Soares, aos 4’, e Danilo Barbosa, aos 83’ (Botafogo); Lucas Silva, aos 19,  Rafa Silva 74’ e Rafael Elias 90’+1’ (Cruzeiro)

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Data: 14.04.2024

» Local: Estádio Mineirão, em Belo Horizonte (MG)

» Público: 20.701 espectadores

» Renda: R$ 623.060,00

» Árbitro: Matheus Delgado Candançan (SP); Assistentes: Marcelo Carvalho Van Gasse (SP) e Luiz Alberto Andrini Nogueira (SP); VAR: Rodrigo D’Alonso Ferreira (SC)

» Disciplina: cartão amarelo – Gregore, Júnior Santos e Danilo Barbosa (Botafogo); Arthur Gomes, Zé Ivaldo, Rafa Silva e Rafael Elias (CRU); cartão vermelho – Alexander Barboza (Botafogo)

» Botafogo: Gatito Fernández; Mateo Ponte, Lucas Halter, Bastos (Alexander Barboza) e Marçal (Hugo); Luiz Henrique, Gregore (Danilo Barbosa), Marlon Freitas (Tchê Tchê) e Jeffinho (Savarino); Júnior Santos e Tiquinho Soares (Óscar Romero). Técnico: Artur Jorge.

Cruzeiro: Anderson; William, Neris, Zé Ivaldo e Marlon; Lucas Romero (João Marcelo), Ramiro (Cifuentes), Lucas Silva (Mateus Vital) e Matheus Pereira (Gabriel Veron); Arthur Gomes (Barreal) e Rafa Silva (Rafael Elias). Técnico: Fernando Seabra.

9 comentários:

Sergio disse...

Meu caro amigo, o texto é excelente e as ironias ótimas.
Historicamente os grandes times do Botafogo fazia dos contra ataques sua arma mais mortal, por essa razão as defesas eram sólidas, assim como no ano passado quando o Castro percebeu que o que tinha disponível era para ser um time propositivo, espero que o Artur Jorge tenha essa percepção.
O jogo de ontem foi uma pelada entre dois times bem medíocres e, se o Botafogo conseguiu perder para esse time do Cruzeiro, fico imaginando quando enfrentar times melhor qualificados.
Os três gols que o Botafogo sofreu ontem foram consequência de erros bizarros de seus jogadores, em especial os da defesa, se é que podemos chamar aquilo de defesa. Mas mais bizarro foi o gol perdido pelo Jefinho: baliza escancarada, dois companheiros livres e ele mira no local mais improvável da bola entrar, inacreditável!
Na minha opinião tudo o que está acontecendo é fruto de um planejamento equivocado, e pior, desde da demissão do Bruno Lage e a posterior equivocada do Tiago Nunes, isso para não falar do absurdo da breve efetivação do Lúcio Flávio. E o que dizer das contratações, qual foi o critério adotado? Por que nunca houve interesse em contratar jogadores capazes para a defesa? Realmente "o Botafogo tem a vocação para o erro".
Outro fato que me chamou a atenção é a falta de preparo físico além de deficiências técnicas gritantes de alguns jogadores, mas o pior é que o time todo espaçado, sem saber o que fazer parecendo um bando de baratas tontas.
Se não forem tomadas providências urgentes temos pelo futuro do time em todas as competições do ano. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

Obrigado, meu amigo. O Botafogo no tempo de Zagallo no seu comando foi sempre equipe de contra-ataque. Fechava-se bem na defesa, articulava com a criação que fazia passes longos de contra-ataque num futebol vertical que ainda prefiro ao tiki-taka de certas equipes hoje em dia.

Este Botafogo é bizarramente desarticulado, desequilibrado e mal preparado tecnicamente, fisicamente, taticamente e fisicamente. Esqueci-me de mencionar na análise o despreparo físico.

Concordo em tudo consigo: foi pelada, erros bizarros, planejamento equivocado, contratações vocacionadas para o erro, etc. etc. etc.

Também temo pelo futuro próximo porque AJ ainda não me deu garantias de coisa alguma com esse futebol de peito aberto no ataque sem cuidar da defesa nem prgredir na respetiva harmonização da equipe.

Abraços Gloriosos.

jornal da grande natal disse...

O negócio anda tão bisonho que estou torcendo para o Botafogo pegar meu America de Natal na Copa do Brasil. Pelo menos assim a disputa na terceira fase da competição nacional de tiro curto permanece "em casa" (rsrs).

Ruy Moura disse...

Pois é, Vanilson. A vantagem de torcer por dois clubes é que o 'azar' de um pode ser compensado com a 'sorte' do outro. No seu caso, o encontro dos dois seria sempre sucesso para si! Homem de sorte! (rsrsrs)
Abraços Gloriosos.

jornal da grande natal disse...

Comecei a torcer primeiro pelo Botafogo (67/68), no interior do RN, só iniciei o acompanhamento americano para valer em 1975, quando passei a residir na capital (rsrs). Os dois herança paterna!

Ruy Moura disse...

É caso pra dizer: "Tal pai, tal filho!" (rsrsrs)
Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Vanilson, não foi o Alvinegro carioca, mas, afinal, o América (RN) sempre vai defrontar outro alvinegro - o paulista. (rrsrs) Assim, podemos torcer duplamente pelo Botafogo e pelo América!!
Abraços Gloriosos.

jornal da grande natal disse...

Exatamente. Espero que o Botafogo melhore na CB. Na Libertadores ficou difícil. E claro: com o América zebrando contra o timinho Paulista! (rsrs)

Ruy Moura disse...

Esperemos que sim, que melhore na CB, e seria formidável o América eliminar o Corinthians, cuja equipe, pelo menos por enquanto, não é grande coisa.
Abraços Gloriosos.

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