por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Se eu fizesse replicação da análise ao jogo anterior, praticamente tudo se
enquadrava para analisar esta partida.
O Botafogo entrou novamente com um esquema ofensivo sem apoio do meio campo
e dependente de uma defesa em que provavelmente é necessário substituir
goleiro, zagueiros e laterais.
Foi ‘trabalho’ de André Mazzuco e do scout, provavelmente com a
complacência de John Textor, montar a defesa desastrosa que temos. E é
responsabilidade de Artur Jorge em montar uma equipe ofensiva que só pode dar
mau resultado se não houver equilíbrio entre os setores de defesa, de criação e
de ataque.
Que perdeu de modo ruim para uma equipe também ruim, que só poderia ter
ganho mediante o (não) desempenho da defesa alvinegra.
O jogo começou com o Botafogo a atacar, mas em correria, sem controlar o
esquema de jogo, emaranhando-se com os adversários e permitindo desarmes
sucessivos.
Ainda assim, o atual melhor jogador da equipe, Júnior Santos, recebeu uma
bola longa de Mateo Ponte pela ponta direita, tirou o marcador da jogada, disparou
para a baliza e quase junto à linha de fundo cruzou para Tiquinho Soares, que
se limitou a empurrar para as redes e inaugurar o marcador.
É normal no Botafogo o argumento de se dizer que quando o adversário marca
muito cedo o jogo corre a favor do oponente. Porém, neste jogo o Botafogo
marcou cedo e como aproveitou a vantagem?...
(Des)’aproveitou’ em correria no ataque, em jogadas embrulhadas com maus
passes, por antecipação do adversário e por divididas de bola sucessivamente
perdidas.
E nessa correria atacante, em vez de acalmar o jogo e trocar a bola, deu
muitos espaços ao Cruzeiro para arrancadas de contra-ataque com vacilos da
defesa alvinegra – e, claro, aos 19’ o empate estava feito após a defesa
alvinegra vacilar.
Daí em diante o Cruzeiro apossou-se do jogo, chegou com perigo à nossa baliza
e em nova atrapalhação da defesa o adversário virou o placar, que felizmente se
manteve porque o VAR chamou o árbitro ao vídeo e a jogada foi invalidada por
mão do autor do gol.
E até ao final do 1º tempo foi uma autêntica pelada entre os infanto-juvenis
do Botafogo e os juvenis do Cruzeiro, longe de qualquer jogo decente de um
campeonato como o Brasileirão.
No 2º tempo o Botafogo entrou melhor. Júnior Santos quase marcou um gol de
letra. Logo depois, já com o goleiro batido e a baliza completamente escancarada,
sem goleiro e sem nenhum defensor, Jeffinho engendrou uma ‘enorme capacidade’
de visar as redes – pelo lado de fora!
Por que razão Jeffinho foi devolvido pelo Lyon?... Talvez por deficiente
sentido de ‘orientação’. E o Botafogo a ter que arcar com os inúmeros erros de
Jeffinho.
E como é da praxe dizer-se que “quem não marca leva”, eis que em mais um
lance totalmente atabalhoado dentro da área, com sucessivos falhanços da nossa
defesa, eis que o Cruzeiro faz a virada.
E depois disso, o inenarrável Alexander Barboza, que acabara de entrar em
substituição de Bastos, foi expulso por entrada muito violenta sobre o
adversário, já depois do árbitro ter apitado uma falta a favor do Botafogo e o
jogo ter sido paralisado, mostrando ter dificuldades de ‘audição’, pelo menos
quanto aos estridentes apitos do árbitro. Surreal, para não dizer coisa pior…
Ainda assim, com menos uma peça em campo, o Botafogo conseguiu empatar numa
cobrança de escanteio, tendo Danilo Barbosa cabeceado para o fundo das redes e
empatado a partida aos 83’.
Porém, em vez de se cuidar e controlar o jogo para preservar pelo menos um
ponto, o Botafogo tornou a falhar. Já nos acréscimos William endossa a bola a
Rafael Dias que finalizou chutando a bola por entre as pernas de Gatito e fixando
o placar final da nossa derrota, com o goleiro paraguaio evidenciando, nesta
jogada, e em quase toda a partida, dificuldades de ‘locomoção’. A ‘velhice’ não
perdoa…
No caso de Luiz Henrique talvez haja, pelo menos por enquanto, um problema
de ‘dimensão’, isto é, a diferença abismal entre o seu custo e o benefício
trazido.
Finalmente, às dificuldades de ‘orientação’, ‘audição’, ‘locomoção’ e
‘dimensão’, que anotam alguns dos problemas de certos jogadores, junta-se um
problema de ‘visão’ por parte de Artur Jorge, que vê as partidas certamente com
óculos escuros e ainda não percebeu que o Botafogo tem uma equipe
desequilibrada, que ainda não sabe propor jogo, que tem que jogar no erro do
adversário e no contra-ataque, juntar mais as linhas e, gradualmente, à medida
que se vai reconstituindo e organizando detrás para a frente e não da frente
para trás, então ser mais assertiva no ataque com apoio do meio campo e
prevalência de saídas de bola em condições a partir da defesa.
E com menos correria! A correria indica falta de controlo, nervosismo e
risco de perdas de bola que o adversário aproveita para contra-atacar e marcar.
Se continuarmos assim, e se Artur Jorge estiver focado no médio e no longo
prazo, e no ataque em vez do contra-ataque, o desastre a curto prazo é quase certo.
As várias goleadas que tomou do Sporting, por três vezes sucessivas de 5x0 em
14 meses são mau sinal para o Botafogo com o esquema precoce que está montando.
E quanto à sua Coletiva avalio-a como um tempo em que falou e falou dizendo
nada, e concluindo unicamente que a nota positiva do jogo foi os jogadores
terem lutado sempre e até ao fim, omitindo qualquer outra constatação. É certo,
concordo, mas é muito pouco como conclusão de uma Coletiva de um jogo com
tantos erros. Porque os jogadores efetivamente lutaram, mas lutaram mal, porque
com um esquema tão impróprio para a equipe, lutar bem e ter sucesso é obra só
para grandes craques – que não temos.
Querer fazer uma omelete recheada e suculenta sem os ingredientes adequados
é risco de chumbo do cozinheiro. Solução?... Ajuste-se gradualmente os
ingredientes até que se consiga apresentar globalmente um produto que agrade
aos intentos do cliente – no caso, aos intentos dos torcedores do Botafogo e à
instituição ‘futebol brasileiro’.
Que me desculpem os/as leitores/as e amigos/as por algumas ironias que mencionei nesta
análise, mas a minha insatisfação não resistiu a ironizar, numa partida em que o Cruzeiro ganhou tão somente por apresentar um futebol de tipo 'juvenil' contra o futebol de tipo 'infanto-juvenil' do Botafogo.
FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x3 Cruzeiro
» Gols: Tiquinho
Soares, aos 4’, e Danilo Barbosa, aos 83’ (Botafogo); Lucas Silva, aos 19, Rafa Silva 74’ e Rafael Elias 90’+1’
(Cruzeiro)
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 14.04.2024
» Local: Estádio Mineirão,
em Belo Horizonte (MG)
» Público: 20.701
espectadores
» Renda: R$
623.060,00
» Árbitro: Matheus
Delgado Candançan (SP); Assistentes: Marcelo
Carvalho Van Gasse (SP) e Luiz Alberto Andrini Nogueira (SP); VAR: Rodrigo D’Alonso Ferreira
(SC)
» Disciplina: cartão amarelo – Gregore, Júnior Santos e Danilo Barbosa (Botafogo); Arthur Gomes, Zé
Ivaldo, Rafa Silva e Rafael Elias (CRU); cartão vermelho – Alexander Barboza (Botafogo)
» Botafogo: Gatito
Fernández; Mateo Ponte, Lucas Halter, Bastos (Alexander Barboza) e Marçal (Hugo);
Luiz Henrique, Gregore (Danilo Barbosa), Marlon Freitas (Tchê Tchê) e Jeffinho
(Savarino); Júnior Santos e Tiquinho Soares (Óscar Romero). Técnico: Artur
Jorge.
Cruzeiro: Anderson;
William, Neris, Zé Ivaldo e Marlon; Lucas Romero (João Marcelo), Ramiro
(Cifuentes), Lucas Silva (Mateus Vital) e Matheus Pereira (Gabriel Veron);
Arthur Gomes (Barreal) e Rafa Silva (Rafael Elias). Técnico: Fernando Seabra.
9 comentários:
Meu caro amigo, o texto é excelente e as ironias ótimas.
Historicamente os grandes times do Botafogo fazia dos contra ataques sua arma mais mortal, por essa razão as defesas eram sólidas, assim como no ano passado quando o Castro percebeu que o que tinha disponível era para ser um time propositivo, espero que o Artur Jorge tenha essa percepção.
O jogo de ontem foi uma pelada entre dois times bem medíocres e, se o Botafogo conseguiu perder para esse time do Cruzeiro, fico imaginando quando enfrentar times melhor qualificados.
Os três gols que o Botafogo sofreu ontem foram consequência de erros bizarros de seus jogadores, em especial os da defesa, se é que podemos chamar aquilo de defesa. Mas mais bizarro foi o gol perdido pelo Jefinho: baliza escancarada, dois companheiros livres e ele mira no local mais improvável da bola entrar, inacreditável!
Na minha opinião tudo o que está acontecendo é fruto de um planejamento equivocado, e pior, desde da demissão do Bruno Lage e a posterior equivocada do Tiago Nunes, isso para não falar do absurdo da breve efetivação do Lúcio Flávio. E o que dizer das contratações, qual foi o critério adotado? Por que nunca houve interesse em contratar jogadores capazes para a defesa? Realmente "o Botafogo tem a vocação para o erro".
Outro fato que me chamou a atenção é a falta de preparo físico além de deficiências técnicas gritantes de alguns jogadores, mas o pior é que o time todo espaçado, sem saber o que fazer parecendo um bando de baratas tontas.
Se não forem tomadas providências urgentes temos pelo futuro do time em todas as competições do ano. Abs e SB!
Obrigado, meu amigo. O Botafogo no tempo de Zagallo no seu comando foi sempre equipe de contra-ataque. Fechava-se bem na defesa, articulava com a criação que fazia passes longos de contra-ataque num futebol vertical que ainda prefiro ao tiki-taka de certas equipes hoje em dia.
Este Botafogo é bizarramente desarticulado, desequilibrado e mal preparado tecnicamente, fisicamente, taticamente e fisicamente. Esqueci-me de mencionar na análise o despreparo físico.
Concordo em tudo consigo: foi pelada, erros bizarros, planejamento equivocado, contratações vocacionadas para o erro, etc. etc. etc.
Também temo pelo futuro próximo porque AJ ainda não me deu garantias de coisa alguma com esse futebol de peito aberto no ataque sem cuidar da defesa nem prgredir na respetiva harmonização da equipe.
Abraços Gloriosos.
O negócio anda tão bisonho que estou torcendo para o Botafogo pegar meu America de Natal na Copa do Brasil. Pelo menos assim a disputa na terceira fase da competição nacional de tiro curto permanece "em casa" (rsrs).
Pois é, Vanilson. A vantagem de torcer por dois clubes é que o 'azar' de um pode ser compensado com a 'sorte' do outro. No seu caso, o encontro dos dois seria sempre sucesso para si! Homem de sorte! (rsrsrs)
Abraços Gloriosos.
Comecei a torcer primeiro pelo Botafogo (67/68), no interior do RN, só iniciei o acompanhamento americano para valer em 1975, quando passei a residir na capital (rsrs). Os dois herança paterna!
É caso pra dizer: "Tal pai, tal filho!" (rsrsrs)
Abraços Gloriosos.
Vanilson, não foi o Alvinegro carioca, mas, afinal, o América (RN) sempre vai defrontar outro alvinegro - o paulista. (rrsrs) Assim, podemos torcer duplamente pelo Botafogo e pelo América!!
Abraços Gloriosos.
Exatamente. Espero que o Botafogo melhore na CB. Na Libertadores ficou difícil. E claro: com o América zebrando contra o timinho Paulista! (rsrs)
Esperemos que sim, que melhore na CB, e seria formidável o América eliminar o Corinthians, cuja equipe, pelo menos por enquanto, não é grande coisa.
Abraços Gloriosos.
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