por
RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Permitam-me os
leitores um introito à crônica sobre o ‘clássico da amizade’ reproduzindo um comentário
que fiz ontem no blogue em resposta a um comentário de Sergio Di Sabbato: “Vou confessar o que eu gostaria que
acontecesse: ganharmos a Libertadores com gol da vitória marcado por Júnior
Santos!”
Antes de assistir
aos jogos do Botafogo costumo ligar-me à Botafogo TV e assistir à antevisão feita
pela equipe do canal – e só depois ligar-me à transmissão dos jogos. Ontem,
aquando das previsões de placar e dos respectivos artilheiros, habitualmente feitas
pela equipe do canal, alguém sentenciou 2x0 com gols de Luiz Henrique e Igor
Jesus, e espontaneamente exclamei: “e 3x0,
gol de Júnior Santos!”
Estava crente –
´lendo’ o que vai na cabeça de AJ – que Júnior Santos entraria na 2ª parte e
marcaria um gol que selaria o seu regresso de modo triunfante, tal como merecia
o artilheiro da Libertadores que municiou a equipe para ultrapassar as
dificuldades iniciais.
Dito isto, a
minha felicidade, que se iniciou em Itaquera na véspera do jogo, atingiu o
clímax com o desempenho da orquestra botafoguense em campo, selada por um
desfecho musical à ‘El Loco Abreu’ com um sutil toque de ‘cavadinha’ do ‘Jacaré,
do ‘Raio’, do Júnior Santos!
Júnior Santos não é propriamente um 'craque', embora indiscutivelmente tenha um bom futebol e saiba decidir partidas, mas tem ganho, paulatinamente, na minha perspectiva, a graduação de 'ídolo', porque um ídolo necessita, antes de mais, de se identificar totalmente com o seu clube, e Júnior Santos é alma gêmea da alma botafoguense.
E, entretanto, novamente 6 pontos sobre o Palmeiras!
Quanto ao desenvolvimento
do jogo propriamente dito, muito se pode escrever sobre o assunto, mas também
se pode escrever pouco dizendo quase tudo: a orquestra está afinando o seu
clímax dezembrista!
O Botafogo entrou
soberbo, tal como, aliás, costuma entrar na maioria dos jogos, mas com uma
diferença fundamental: em jogos de ‘equipe grande’ contra ‘equipe pequena’ a
retranca é a estratégia eleita pelos adversários; em clássicos as ‘equipes
grandes’ encaram-se mais de olhos nos olhos, e o resultado é que em jogo aberto
não há equipe que resista ao Botafogo – como se viu contra o Peñarol.
Na verdade,
contra as ‘equipes’ grandes do Rio de Janeiro perdemos apenas um ponto e contra
as ‘equipes grandes’ de São Paulo também
perdemos apenas um ponto até agora; derrotados por ‘equipes pequenas’ como
Criciúma e Juventude, perdemos apenas dois pontos em sete jogos contra ao atuais
classificados no G6 – zona de Libertadores e pré-Libertadores.
Em suma, contra
os grandes é manter a pegada, atenta e porfiada, enquanto muita prudência é preciso
ter contra retrancas do Cuiabá, Vitória e até mesmo contra o futebol ‘mediano’
do Atlético Mineiro, a fim de não cometermos erros irreversíveis.
E tão soberbo
entrou o Botafogo que Adryelson quase inaugurava o marcador aos 2’ e,
sobretudo, aos 6’, quando, numa cabeçada em que o nosso zagueiro subiu nas
alturas, a bola embateu no poste. E logo depois Marlon enviou um passe longo
para Alex Telles na ala esquerda, o lateral disparou em direção à baliza, efetuou
o cruzamento milimétrico e Savarino, num remate súbito e perfeito, inaugurou o
marcador aos 9’. Botafogo 1x0.
Com o Vasco
totalmente desorientado pelo futebol avassalador que rasgou toda a defesa
cruzmaltina, o Botafogo lançou-se num soberbo ataque em jogada de 6 toques de
primeira, Thiago e Savarino tabelaram, este endossou a bola para Luiz Henrique que,
aparecendo na esquerda do ataque, tirou o goleiro da jogada e ampliou o placar
com dois preciosos toques técnicos. Botafogo 2x0.
Em vez de perder
o controlo por completo, o Vasco reagiu, fez dois ou três ataques perigosos
devido ao Botafogo perder alguns passes indesejados, mas não criou
verdadeiramente, em todo o jogo, uma oportunidade de gol que se possa dizer ‘perdida’.
O Botafogo
retomou de imediato o ascendente e perdeu algumas oportunidades de ampliar o
resultado. Porém, independentemente da valia técnica de Thiago Almada e de Luiz
Henrique, fundamentais nas jogadas de ataque, deve-se dizer que ambos perdem
muitas sequências de jogo, Almada porque remata muito e mal, Luiz Henrique porque
dribla demais e acaba por ser desarmado. Na verdade, LH tenta fazer a mesma
jogada de Garrincha na linha de fundo, mas, claro, não tem nem o pique nem o domínio
de bola do mais efetivo driblador de todos os tempos do futebol mundial.
Acredito que Artur Jorge possa melhorar muito a eficiência e a eficácia de
ambos – cujo futuro se mostra risonho.
E assim o
Botafogo foi gerindo o resultado, até que aos 30’ de jogo, sozinho e cara a cara
com Léo Jardim, Igor Jesus faz o ‘impossível’: chutou rasteiro ao lado direito da
baliza com o outro lado totalmente desguarnecido. Aliás, Igor Jesus apaga-se
muito durante alguns jogos e precisa afinar mais as suas qualidades de
centroavante.
As 39’ tudo se
tornou mais fácil para o Botafogo quando João Victor, que levara o 1º carta amarelo
aos 37’, fez uma falta em Igor Jesus mesmo no limite da entrada da área e
recebeu o 2º cartão amarelo, que decretou a sua expulsão.
No segundo tempo
nada de novo ocorreu: o Vasco da Gama decidiu fechar-se mais em vez de procurar
reagir, o que se compreende, porque poderia estar iminente uma réplica do que
fizemos ao Peñarol. O Botafogo dominou sem grande esforço, também perdeu gols
sem grande esforço, e aos 68’ chegou a cereja do meu bolo: Júnior Santos entrou
em campo e dois minutos depois, em mais um ataque muito bem arquitetado, ‘Jacaré’
apareceu imponente pela esquerda e dentro da grande área tocou em ‘cavadinha’
que sobrevoou Léo Jardim e estufou o véu da noiva para o 19º gol do nosso
artilheiro desta temporada – e um reforço de peso nesta reta final. Botafogo
3x0.
E como é tão bom ver o Botafogo marcando gols em jogadas corridas de bom futebol!
Em suma, estamos
claramente em vantagem para conquistar o título de campeões brasileiros, mas…
NADA ESTÁ GANHO!
Sei que a ansiedade
é enorme, mas sejamos sóbrios nas nossas manifestações de alegria para podermos
ser os últimos a rir melhor.
Temos uma
campanha muito difícil pela frente e o nosso quarteto atacante, e não só, seguirá
sem descanso até ao final do Brasileirão, porque continuará jogando pelas Seleções
para as quais foram convocados.
Se queremos ser duplamente
felizes, temos que nos concentrar duplamente para duplamente comemorarmos! Aí
então poderemos dar largas à explosão de contentamento dos nossos corações!
JOGO
A JOGO! JOGO A JOGO! JOGO A JOGO!
OUSAR
LUTAR, OUSAR CRIAR, OUSAR VENCER!
FICHA TÉCNICA
Botafogo 3x0 Vasco da Gama
» Gols: Savarino,
aos 9’, Luiz Henrique, aos 12’, e Júnior Santos, aos 70’
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 05.11.2024
» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
» Público: 28.757
pagantes; 32.007 espectadores
» Renda: R$
2.351.620,00
» Árbitro: Bruno
Arleu de Araújo (RJ); Assistentes: Rodrigo
Figueiredo Henrique Correa (RJ) e Thiago Henrique Neto Correa Farinha (RJ); VAR: Rodolpho Toski Marques (PR)
» Disciplina: cartão amarelo – João
Victor e Paulo Henrique (Vasco da Gama); cartão vermelho – João Victor (Vasco da Gama)
» Botafogo: John;
Vitinho (Allan), Adryelson (Lucas Halter), Alexander Barboza e Alex Telles
(Cuiabano); Gregore, Marlon Freitas e Thiago Almada; Luiz Henrique (Júnior
Santos), Igor Jesus (Tiquinho Soares) e Savarino. Técnico: Artur Jorge.
» Vasco da Gama: Léo
Jardim; Paulo Henrique (Rojas), João Victor, Léo Pelé e Lucas Piton; Hugo
Moura, Mateus Cocão e Payet (Galdames); J. Rodríguez (Alegria), Vegetti (Rayan)
e Jean David (Maicon). Técnico: Rafael Paiva.
3 comentários:
Meu caro Ruy, quando o Junior Santos fez o gol, eu na hora pensei na sua frase sobre ele fazer o gol do título da LA, e pensei: será que vai ser assim na Libertadores? O JS merece, e muito, e confesso, me emocionei com o gol dele ontem.
Segunda e terça feira foram futebolisticamente falando, muito bons. Na segunda a vitória do Corinthians, e ontem, vi oei time italiano, o Milan, ganhar de 3X1 do RM em Madri e, o Sporting sapecar 4X1 no M City, e para fechar com chave de ouro, a bela vitória do Botafogo por 3X0 sobre o Vasco.
Sobre o jogo não tenho muito o que dizer, apenas que o placar poderia ter sido mais dilatado, e isso seria importante, pois chegaríamos ao mesmo saldo do Palmeiras.
E que tem me chamo atenção, é que mesmo nas vitórias, muitos torcedores entram nas lives pós jogo para criticar jogadores do Botafogo, e um dos alvos prediletos é o Tiquinho. Realmente o Tiquinho não vive um bom momento, mas mesmo assim contribuiu com gols importantes, como o gol da da vitória sobre o Palmeiras no primeiro turno, assim como o passe primoroso para o segundo gol contra o Fortaleza e o gol contra o Criciúma. Eu não abro mão de nenhum jogador desse atual elenco, pois muitos mesmo não estando bem tem participações importantes, como o Eduardo nos dois gols contra Universitário, ou o Mateo Ponte, que depois da expulsão contra o Penarol tinha torcedor pedindo que ele fosse expulso do clube, esquecendo dos gols deles que deram a vitória ao time contra o Atlético Goianiense e contra o Cuiabá. Até o Hugo teve participação fundamental em dois momentos: o gol contra a LDU e a assistência para o JS contra o Bragantino no segundo jogo .Repito: não abro mão de ninguém nesse elenco, pois já mostraram que podem ser importantes e lista como o elenco está unido e fechado em busca dos títulos.
E mais uma vez temos que elogiar o nosso treinador, pois não mostra deslumbramento, tem os pés no chão e sabe que o importante é o jogo a jogo.
Individualmente o Botafogo está muito bem, tem um banco forte, mas ontem gostaria de destacar o Savarino e o Marlon Freitas, e claro o Luís Henrique, mas tirando uma ou outra desatenção, achei todos muito bem.
Que sigamos jogo a jogo em busca dos tão sonhados títulos. Abs e SB!
Sergio, respondendo por pontos:
1. Me emocionei com o JS porque é o meu ídolo neste elenco. O rapaz tem um caráter extraordinário, quer ultrapassando a pulso todas as dificuldades de vida, quer as dificuldades que defrontou no Botafogo, com algumas exibições menos boas no início antes de se encaixar perfeitamente na nossa equipe – e no Clube –, quer na vida profissional quando se lesionou no augue do seu desempenho e enfrentou uma dificílima recuperação. Um ‘craque’ pode não se tornar um ídolo (Seedorf, por exemplo, não chegou a ser ídolo; Dodô, que poderia ter sido, olhou sempre muito mais para si; etc.) e um ídolo pode não ser ‘craque’ (craque, para mim, é ao nível de Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Jairzinho, Gerson, Tostão, Rivelino, Sócrates, Zico, Ronaldinho Gaúcho,…). Um ídolo destaca-se não apenas pela sua qualidade futebolística, mas também pelo seu caráter, pela entrega de alma à equipe e ao Clube e também pelo seu empenho permanente, resiliência e carisma. Nas minhas preferências considera que no século XXI são ídolos, não sendo propriamente craques, Loco Abreu e Júnior Santos, que sendo tão diferentes um do outro em termos futebolísticos e pessoais, encarnam todas as características de um ídolo.
2. O começo da segunda-feira e o final da terça-feira constituem 24 horas a perdurar nas nossas memórias. Pelo Botafogo e pelo Sporting. [Antigamente eu também torcia pelo Milan, mas algo ocorreu pelo caminho que me deixou sem time em Itália: foi durante a gestão de Berlusconi. No entanto, as derrotas do Real Madrid de Florentino Pérez são sempre de saudar.]
3. Em saldo de gols estamos atualmente empatados com o Palmeiras; com o Cuiabá teremos teoricamente a possibilidade de estabelecer uma diferença a nosso favor. Porém, se mantivermos esta pegada, não será preciso qualquer desempate.
4. Sobre Tiquinho não estamos de acordo. Tiquinho praticamente acabou as suas boas performances desde a sua 1ª lesão e do pênalti perdido que teria retirado ao Palmeiras o título. Tiquinho nunca mais se recuperou mentalmente. Foi bom jogador, mas, em minha opinião, não é resiliente e está muito aquém deste elenco. Um ou outro gol marcado já não o justificam no plantel. E há outros que o Sergio apontou que seguramente não será opção para 2025. O Artur Jorge vai, finalmente, poder escolher jogadores à medida da identidade que pretende consolidar na equipe.
(continua)
5. O AJ é absolutamente crucial para a eventual conquista dos títulos em disputa nesta difícil reta final, porque se não for ele teríamos até final gente a entrar de sapato alto e perder jogos e torcedor comprando faixas de campeão antes de tempo, como em 2023. Textor no comando de uma gestão racional e excelentes contratações (umas caras outras a preço zero), bem como AJ no comando da equipe dotando as mentes dos seus jogadores de profissionalismo e pouco espaço para oba-obas, são os grandes obreiros desta equipe. Sem a ação deles não seria possível estarmos a disputar estes dois títulos.
6a. Sobre Savarino, Luiz Henrique e Marlon Freitas. Vejamos Savarino. Ao contrário daqueles torcedores que começaram desde início a considerar Savarino um excedente, gostei sempre dele e até o defendi junto de amigos, porque o homem é sóbrio, não dá nas vistas e é de uma eficiência (11 assistências) e eficácia (11 gols) extraordinárias. Em minha opinião Savarino é, provavelmente, o jogador mais crucial da equipe, considerando que é crucial um meia ofensivo em qualquer equipe. Qual outro jogador esteve presente diretamente em 22 gols?
6b. Vejamos Luiz Henrique. É bastante tecnicista, foi a salvação do Botafogo quando JS se lesionou e eu fiquei muito preocupado antes de perceber que o LH passou a ser o ‘rasgador’ dos defensores, mas considero-o muito individualista e com muita necessidade de ser burilado pelo AJ de modo a trabalhar mais para a equipe e menos para a sua autoimagem. Isso é visível pelo seu modo de gostar de dar nas vistas (ao contrário de Savarino) tanto em campo como em entrevistas em que se autoelogia.
7c. Marlon Freitas. Sou daqueles torcedores que tem um quiproquó com Marlon Freitas e nunca gostei do seu modo de jogar. Porém, reconheço (tal como o fiz com LH) que é de uma grande utilidade no meio campo porque é bom distribuidor de bola e faz alguns passes longos que rasgam totalmente as defesas contrárias e geram gols. Ainda assim, creio que é jogador indiscutível para 2025, tal como, entre outros, John, Gatito, Adryelson, Bastos, Alexander Barboza, Alex Telles, Cuiabano, Vitinho, Gregore, Almada, Savarino, Luiz Henrique, Igor Jesus, Júnior Santos… Em suma temos um bom elenco, que deve dispensar alguns atletas no final da temporada e reforçar-se com outros, segundo a própria ótica do que Textor tem dito nos últimos dias. Mas para manter LH, IJ, TA e outros é preciso que conquistemos, pelo menos, um de dois títulos em disputa. E, claro, o título inédito que nos projetaria no mundo, que é o de Campeão Sul-americano.
Abraços Gloriosos.
Enviar um comentário