domingo, 3 de novembro de 2024

‘Carta ao Torcedor do Botafogo’: reposição de uma carta premonitória

Nota preliminar

No dia 1º de dezembro de 2014 tínhamos acabado de descer à Série B e o atleticano Alexandre Silva escreveu uma ‘Carta ao Torcedor do Botafogo’ que ainda hoje me arrepia de emoção. Conta as amarguras e a emoção única de o Atlético Mineiro ter sido campeão sul-americano e antecipa a chegada futura do Botafogo à final da Copa Libertadores da América.

Lida hoje ainda é mais notável. Alexandre Silva torceu pelo Botafogo e por outros tantos clubes quando marcaram presença em finais após períodos difíceis das suas vidas, porque ele sabe que as dificuldades, o esforço, a disciplina e a esperança precedem as glórias. O que Alexandre Silva não sabia é que nessa final futurista do Botafogo ele não poderia estar torcendo novamente, como em 1995, pelo nosso Clube, embora o tenha prometido na Carta, porque… o adversário é precisamente o clube dele!

“Coisas que só acontecem” a quem escreve uma Carta aos torcedores do Botafogo... Mais uma vez obrigado, Alexandre Silva. Segue a reposição da crônica publicada há 10 anos. E, sim, os botafoguenses tudo farão para concretizar a sua profecia de que “O IMPOSSÍVEL NÃO EXISTE!”

Carta ao Torcedor do Botafogo

por ALEXANDRE SILVA | blog do Alexandre Silva | 1º de dezembro de 2014

Prezado(s) torcedor(es) do Botafogo

Aqui quem fala é um co-irmão. Dividimos as mesmas cores, o mesmo sofrimento e por muito tempo dividimos o mesmo “azar”. Apesar de vocês serem nossos algozes em algumas... quer dizer, muitas, decisões por mata-mata, eu gosto de vocês. Tenho uma empatia natural pelos mais sofridos, acho que sofrimento molda o caráter. Nos ensina a lidar melhor com as desgraças da vida. Quem ganha tudo se acostuma mal, se torna mimado e quando se depara com a verdadeira derrota se comporta pateticamente, tentando desmerecer a conquista do outro ou usando de argumentos imbecis de desdém. Dessa falha de caráter nós não sofremos, pois aprendemos desde cedo que para conquistarmos algo tem de ser tudo com muita luta. Nada é fácil. Sei reconhecer conquistas, como me comportar nas derrotas e tudo isso foi ensinado pelo meu time.

No próximo fim de semana meu time joga com o de vocês numa partida que não vale absolutamente mais nada pra nenhum dos dois lados. Sei (e como sei) que aquilo que vocês menos precisam agora é da compaixão de torcedor de outro time, mas acredite... eu sei exatamente o que vocês estão passando. E não só eu, mas torcedores como os de Internacional e Santos também sabem. Digo isso pois me lembro de ouvir uma “carta-desabafo” no extinto Cartão Verde da TV Cultura, lá pelos idos de 2000, sobre o sofrimento que era torcer pro Santos. Viver de um passado tão distante e de não poder sonhar com nada de positivo em breve. Em 2002 surgiram Diego, Robinho e aquela geração que deu início a uma nova era no clube da Vila. Me lembro também de um texto que li numa Revista Placar em 2001 (que jamais reli e não sei o autor), de um torcedor do Internacional, mergulhado naquela espiral de derrotas sem fim que era o Inter nos anos 90. Citou até o Atlético neste texto. E em 2006 veio a glória suprema.

Vocês vivem hoje mais um momento extremamente delicado. Acabaram de cair para a Série B, dívidas monstruosas assolam o clube e olhando pro futuro, vocês parecem não sentir mais esperança.

Acreditem. Eu também já me senti assim.

Um dia eu também cheguei a pensar que jamais iria ter um retorno do meu time em campo. Aliás, vivia sem nem ao menos esperar mais alguma coisa ou conquista, continuava apenas porque amava aquele time e me encontrar com ele nos fins de semana ou nas noites de quarta era algo que ainda, de certa forma me fazia bem. 

Hoje meus caros, os atleticanos vivem um sonho.

Sabe quando eu pensei em ver o Atlético campeão da Libertadores? Ganhando uma Copa do Brasil em cima do maior rival? Ganhando uma Recopa Sul-Americana? Tendo um dos maiores jogadores do mundo em seu elenco? Poder ver ao vivo verdadeiros ídolos como Diego Tardelli, Victor, Luan e Leonardo Silva? Pois é... nunca. Nem nos sonhos mais otimistas.

Por isso eu peço a vocês que tenham calma, mas que não abandonem o Botafogo.

Eu já passei por tudo isso aí... e hoje, graças ao Bom Deus vejo a melhor geração da história do meu time. Uma história construída diante dos meus olhos. Os meus outrora desanimados e desesperançados olhos, tem hoje o privilégio de poder ver e no futuro contar aos netos sobre Luan, Leonardo Silva, Diego Tardelli e o “santo” Victor.

Eu me lembro de ver vocês campeões com aquele fantástico ataque formado por Túlio Maravilha e Donizete. Inclusive torci muito por vocês naquela final de 95. Assim como torci para o Corinthians naquela Libertadores de 2012 e consequentemente no Mundial de Clubes. Para o Internacional em 2006 e 2010. Para o Santos em 2002. E como nunca para a Ponte Preta na final da Sul-Americana em 2013.  Como eu disse, gosto de quem é moldado pelo sofrimento.

O que assola o Botafogo hoje é o fantasma do “precisa ganhar”, a pressão que vira uma bola de neve gigantesca de tragédias, derrotas e “azar”. Vocês vão ver que quando um muro cair, o horizonte que aparecerá a frente será glorioso. E tudo vai ser bom. Vão acontecer derrotas, mas as lembranças das vitórias jamais se esvairão.

É difícil e pode parecer piada hoje, mas no dia em que o Botafogo estiver lá, disputando uma final de Libertadores a um passo de vencer... lembrem-se de mim. Lembrem-se que eu, atleticano mineiro, estarei em algum lugar torcendo por vocês. Porque todo mundo merece a glória de ser campeão. Todo mundo merece se embebedar um pouco com uma alegria tão efêmera como essa que nos traz o futebol.

Impossível? Apenas lembrem-se que para nós também era. E lhes confesso que nossas vitórias não seriam tão doces se não fossem pelos amargos que já passamos nessa longa estrada.

Amigos botafoguenses, meu time é a prova viva de um clichê que pode ser utilizado também para vocês: O IMPOSSÍVEL NÃO EXISTE!

Levanta a cabeça, Fogão!

Saudações Atleticanas.

Fonte: http://www.alexandresilva8.com.br/2014/12/carta-ao-torcedor-do-botafogo.html#sthash.oGKRtzu5.dpuf [Passaram 10 anos e este endereço já não existe]

6 comentários:

Ronaldo disse...

Que bom, você ter colocado esta carta, Rui. Eu lembrei muito dela nesta semana. O autor Atlético, Alexandre Silva, traz grande honra, não só para suas cores, mas também para o ideal esportivo. Espero o título, mas gostaria muito que a decisão seja restrita ao que diz respeito apenas ao esporte. Um grande abraço.

Sergio disse...

É algo surpreendente vir de um torcedor de outro clube um texto tão comovente como esse. Parece uma artimanha do destino que o Botafogo possa ser campeão ganhado do Atlético Mineiro, clube do autor da carta. Pelo respeito demonstrado ao Botafogo pelo torcedor atleticano, sendo o Botafogo campeão da Libertadores talvez esse torcedor não fique tão triste, uma vez que o Galo já conquistou esse torneio. É pura especulação a minha sobre a reação do torcedor, mas que esse destino vez por outra prega suas peças, disso eu tenho quase certeza. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

O ideal desportivo devia estar acima de tudo, Ronaldo, mas infelizmente a humanidade gosta muito de levar vantagem a qualquer custo. Faltam muitos Alexandres Silva ao desporto e à humanidade. No que toca ao desporto, eu tenho, desde sempre, o espírito de Pierre de Coubertin e o respectivo lema olímpico "Citius, Altius, Fortius" (“mais rápido, mais alto, mais forte”).
Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

É surpreendente por não ser padrão, Sergio, mas felizmente ainda há pessoas como o Alexandre entre as torcidas. Aqui no blogue têm passado, e passam, de vez em quando, comentários que demonstram maturidade desportiva muito próxima do espírito evidenciado pelo Alexandre Silva.

Gostava de saber o que foi feito dele, já que a sua página desapareceu.

E às vezes, por via de grandes coincidências, até parece que há destinos traçados. Haverá?...

Abraços Gloriosos.

Dinafogo disse...


De início, gostaria de mostrar um pouco a relação desses dois alvinegros: o nosso ilustríssimo Tarzan, que era torcedor atleticano em MG e, quando veio para o RJ, foi escolhido pelo Glorioso. Devemos recordar também que, em sua única conquista internacional até aqui, o Botafogo teve que superar o clube mineiro e o rival uruguaio nas semifinais, apenas com a ordem invertida (superstição sempre fez parte do nosso folclore). É contra o Atlético-MG que o Botafogo possui o melhor retrospecto entre os chamados G11. Ambos foram os primeiros campeões nacionais dos seus respectivos Estados. Além disso, possuem as mesmas cores e, por muito tempo, apenas observaram o protagonismo dos seus respectivos rivais.

O Galo foi campeão em 2013 depois de amargar o Brasileiro de 2012, no qual era favorito, e agora o Botafogo é finalista, após amargar o Brasileiro de 2023, em que também possui o favoritismo. No ano de 2013, o Galo tinha Ronaldinho e o Glorioso, Seedorf. Hoje, o Galo tem Hulk e o Botafogo, Thiago Almada (novamente, um estrangeiro que ninguém acreditava que chegaria está em General Severiano, e um craque que já brilhou mais na seleção está em Belo Horizonte).

Tanto Botafogo como Atlético-MG possuem uma história repleta de craques, momentos marcantes, torcida apaixonada, mas, infelizmente, um número de títulos muito aquém dessa grandeza. Nunca é tarde para buscar e mudar os horizontes, e as SAFs conseguiram, com o tempo, reparar um pouco essa história.

Desejo que seja uma partida respeitosa e do tamanho que se espera de uma Libertadores, ainda mais uma Libertadores que coloca frente a frente dois gigantes alvinegros: Galo x Glorioso.

Nota: Carta bonita e respeitosa.

Nota 2: Estarei torcendo para o meu Botafogo, mas desejo sorte ao Atlético no restante da temporada, em especial na Copa do Brasil (bica, Galo!).

Ruy Moura disse...

Nós sempre encontramos coincidências, que infelizmente nem sempre concretizam o que desejamos, mas Atlético e Botafogo têm efetivamente muitas coisas em comum, seja pela sua história, seja pelo principal rival local. Felizardo era Tarzan que torcia pelos dois!!! (rsrsrs)

Quanto à partida, não sei se será espetacular, porque o mais certo é que as equipes se estudem muito no 1º tempo. No entanto, claro,em futebol uma jogada pode tornar um jogo monótono num jogo formidável.

O que espero/desejo mesmo é que sejam adversários leais e a arbitragem não interfira no placar. E que o Galo faça a reviravolta na Copa Brasil em Belo Horizonte e a vença!

Abraços Gloriosos.

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