segunda-feira, 16 de junho de 2025

Botafogo 2x1 Seattle Sounders – tempo de mudar a atitude e explorar a técnica

Crédito: Vitor Silva / Botafogo.

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Registrou-se uma vitória do Botafogo na estreia do mundial de clubes, uma má atuação e um campeão sul-americano irreconhecível.

O nosso técnico alegou falta de posse de bola e cansaço. Se o nosso DNA é a posse de bola (e essa não me parece ser a nossa principal característica), então o que é que o Botafogo anda treinando? Se a equipe está cansada e não jogava há 11 dias, que faremos então nos dois compromissos seguintes com apenas 4 dias de intervalo, e, pior, que faremos no resto da temporada tantas vezes com 2 jogos por semana? E que dizer da equivocada presença de Mastriani a titular, fazendo-nos jogar praticamente com 10 homens? E que dizer de Savarino jogando em esforço?

"O plantel está num 7 ou 8 a caminhar para 9." - Renato Paiva.

Não, Renato Paiva, esses não são bons argumentos e o plantel está longe de um interessante 7 ou 8. O que mais parece é que a equipe treinou mal, provavelmente descansou em relax excessivo, alguns jogadores atuaram desposicionados e não se fez uma preparação adequadamente cuidada para enfrentar o Seattle Sounders, sabendo-se que é uma equipe que se baseia na posse de bola e nunca desiste de tomar a bola seja em que circunstâncias for.

Desde o 1º ao último minuto o nosso adversário jogou sempre com muita intensidade, ganhou quase todas as segundas bolas (especialmente no 2º tempo) e porfiou em busca do empate até à última jogada, na qual não empatou a partida simplesmente porque existe um atleta botafoguense chamado John.

O Seattle entrou melhor do que nós no jogo e saiu melhor do que nós no final da partida. Os primeiros minutos foram do Seattle, jogando bem e rematando de meia distância devido à nossa zaga permitir espaços de progressão, como aconteceu, por exemplo, aos 15’ com um remate muito perigoso de Ferreira na linha da grande área. E o Botafogo só ameaçou tenuemente cerca dos 13’ com uma cabeçada de Igor Jesus e aos 14’ com um remate de Alex Telles, ambas as tentativas fáceis para a defesa do guardião americano.

O que se seguiu foi um domínio territorial do Seattle, evidenciando uma grande capacidade organizativa, bom posicionamento, boa troca de passes e ganho das segundas bolas, evidenciando assim muita eficiência processual no jogo, mas, para nossa sorte, uma eficácia nula, em parte devido à dificuldade de finalizações acertadas e de posse de bola inócua.

Somente aos 28’, contra a corrente do jogo, numa cobrança de falta por Alex Telles, é que o marcador foi inaugurado com uma cabeçada fulminante de Jair Cunha, concedida pelo zagueiro Kim, que deixou o nosso zagueiro subir à vontade e cabecear triunfalmente. Botafogo 1x0.

Porém, o resultado favorável não mudou o curso do jogo: o Seattle continuou intenso e agressivo, atacando com muita gente, ganhando divididas e segundas bolas, não permitindo ao Botafogo sair com a bola no chão, remetendo-o aos chutões para a frente a ver no que davam, mas sem eficácia para empatar.

Aos 42’, com um remate frontal dentro da grande área, mais uma vez o Seattle pecou pela má definição e isolou uma bola que teria selo de gol se os atacantes adversários não se revelassem tão ineptos nos remates.

E como “quem não marca leva”, e como o Botafogo não chegava à área com a bola corrida, apelou ao jogo aéreo e a eficácia não se compadeceu da eficiência adversária: Artur e Vitinho trocaram passes na ala direita, a infiltração na área continuava a não gerar perigo, então Vitinho apelou novamente ao jogo aéreo, cruzou para a cabeçada eficaz de Igor Jesus, mais uma vez com alguma complacência de Kim e talvez lentidão do goleiro a fazer-se à linha de tiro. Botafogo 2x0, contra todas as expectativas no decorrer do 1º tempo.

Porém, o sucesso futebolístico é feito de eficácia, e nisso o Botafogo soube ‘voar’ para vazar as redes adversárias.

O zagueiro Kim foi substituído ao intervalo…

Crédito: Vitor Silva / Botafogo.

Aos 49’ Artur conseguiu infiltrar-se na grande área, rematou, mas o goleiro defendeu no canto, e no rebote Vitinho chutou para fora. Seria o 3x0 para decretar o vencedor do jogo. Seria, mas não foi, e o Seattle tomou novamente conta do jogo: aos 57’, remate e rebote de dois atacantes do Seattle desperdiçando ‘escandalosamente’ a mitigação do placar.

E após essas perdidas o Seattle continuou insistindo, ganhando as divididas e as segundas bolas, mas sem eficácia, e o Botafogo entrou em sistema de gestão do jogo, abandonou praticamente as jogadas na grama e abdicou de contra-ataques, até que aos 75’ o Seattle reduzir o placar para 2x1. Neste caso por infelicidade de Igor Jesus, tendo a cabeçada do adversário batido no peito do nosso atacante e desviado completamente o percurso original da bola para o fundo das redes.

Nem no gol do Seattle o remate foi certeiro…

E daí em diante só deu Seattle, sempre com total ineficácia nos momentos de remate, apesar de sufocar a nossa defesa – o que é inaceitável para um campeão continental. Não obstante, na ânsia do empate, o Seattle abriu-se na retaguarda e aos 89’ foi a nossa vez de desperdiçar o 3x1. Uma péssima saída de bola foi intercetada por Joaquín Correa aos 89’, que tocou para Santi, este endossou novamente para Correa que se deslocava em velocidade e dentro da pequena área rematou para o goleiro salvar o 3x1 com a ponta da chuteira.

E como com o Botafogo o susto vai sempre até ao apito final, aos 90+4’ Barboza rechaçou uma bola que levava selo de gol e no rebote para o empate John salvou o Botafogo no susto, assegurando a vitória no último lance do encontro.

Devo mencionar que, como seria expectável, nem Joaquín Correa nem Arthur Cabral estão com ritmo de jogo, que Mastriani foi um a menos, Santi Rodríguez pouco contribuiu e Savarino está fora de forma e jogou desposicionado. Igor Jesus, eleito o melhor do jogo, John com defesas cruciais e Gregore na marcação, foram os melhores do Botafogo.

Finalmente, deve-se mencionar que os reforços não reforçaram a equipe porque a gestão do plantel, conforme expresso em publicações anteriores, tem sido desastrosa, apresentando-se no Mundial de Clubes uma equipe prejudicada por ter dispensado na 1ª janela – e não na 2ª com deveria ter sido – os três melhores atacantes campeões sul-americanos (Luiz Henrique, Almada e Júnior Santos) e sequer beneficiada com reforços que não reforçam na medida em que não estão entrosados com a equipe e não têm jogado recentemente nos seus clubes de origem.

Pelo que se viu em matéria de capacidade técnica apresentada, seremos provavelmente o clube 3º classificado no Grupo, mas… como o Botafogo é imprevisível, quem sabe se a falta de técnica será compensada, uma vez mais, pela atitude em campo? – Que assim seja!

FICHA TÉCNICA

Botafogo 2x1 Seattle Sounders

» Gols: Jair, aos 28’, e Igor Jesus, aos 43’ (Botafogo); Cristian Roldán, aos 75’ (Seattle Sounders)

» Competição: Mundial de Clubes

» Data: 15.06.2025

» Local: Estádio Lumen Field, em Seattle, estado de Washington, E.U. América

» Público: 30.151 espectadores

» Árbitro: Glenn Nyberg (Suécia); Assistentes: Mahbod Beigi (Suécia) e Andreas Söderkvist (Suécia); VAR: Marco di Bello (Itália)

» Disciplina: cartão amarelo – Alexander Barboza e Joaquín Correa (Botafogo); Nouhou e Ragen (Seattle Sounders)

» Botafogo: John; Vitinho, Jair, Alexander Barboza e Alex Telles (Cuiabano); Gregore e Marlon Freitas (Danilo Barbosa); Artur, Igor Jesus (Santiago Rodríguez), Mastriani (Joaquín Correa) e Savarino (Arthur Cabral). Técnico: Renato Paiva.

» Seattle Sounders: Frei; Álex Roldán, Kim (Bell), Ragen e Nouhou (Baker-Whiting); Cristian Roldán, Vargas e Rusnák; Ferreira (De La Vega), Musovski (De Rosario) e Kent (Rothrock). Técnico: Brian Schmetzer.

7 comentários:

jornal da grande natal disse...

Parece um amontoado de jogadores. Reunidos as pressas para um amistoso. Reflexo ainda do entra e sai pós conquistas do ano passado.

Ruy Moura disse...

Apreciação objetiva, direta realista, José Vanilson: parece mesmo uma reunião apressada de jogadores para o Clube ganhar uns cobres em amistosos. Com a desvantagem de não haver Garrincha para animar a pelada...

A gestão de um grande Clube jamais pode ser feita com desmembramento anual da equipe vendendo os melhores sem tempo de se criarem raízes para que a floresta seja consistente e possa exportar madeira ano após ano sem desbaste insustentável - mas sim mediante uma gestão sustentável.

Abraços Gloriosos.

jornal da grande natal disse...

Exatamente. As grandes equipes se formam com uma base consistente. Com substituições pontuais. Historicamente foi assim. Mas hoje o entra e sai prejudica os fornecedores de mão de obra ou RH para os grandes clubes europeus

Sergio disse...

Como tive que acordar muitoedo não vi o jogo, mas vi os melhores momentos, e fiquei assustado com os espaços oferecidos pelo Botafogo. Me pareceu um primeiro tempo razoável do Botafogo, mas o segundo me pareceu uma tragédia.
Eu de minha parte não acredito que o time do Botafogo vá longe nessa competição, pela simples razão do desastroso início de temporada, e me causa surpresa o Textor ter dito que esse mundial era a menina dos olhos e fazer o que fez.
Além de mal preparado para o mundial, o Botafogo ainda teve a infelicidade de pegar meu ver, o melhor time no atual momento, o PSG, e como de não bastasse, o bom time do Atlético de Madri. Se o Botafogo não tivesse desmontado sua equipe do ano passado poderia ter melhor destino, mesmo considerando o PSG muito superior, não só taticamente, mas individualmente há jogadores de muita qualidade no time francês. Vou ser sincero, torço para que o Botafogo não tome uma goleada humilhante na próxima quinta-feira, pois não acredito nem num empate, pois o time do Botafogo taticamente não se acerta e há jogadores que não estão rendendo. Um clube que fez muitas partidas épicas e conquistou títulos internacionais contra equipes estrangeiras, espero que a história do Botafogo não seja manchada nesse torneio. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

Pois, também espero que não fique manchada e nos demais jogos mostrem mais atitude e afinem as suas capacidades técnicas, sob pena de uma goleada do PSG. Ademais, o Atlético chega com muita gana de desfazer a má imagem dos 4x0 que sofreu,o que piora a coisa para o nosso lado.

O Textor diz e desdiz. De uma temporada 2025 que prometeu tão auspiciosa como 2024, já fala somente em Top 3 todos os anos e EVENTUALMENTE (!) conquistar títulos - top 3 quer ele dizer atrás do Palmeiras e do Flamengo. Afirmações bem diferentes uma da outra, não é?

Assisti ao jogo (3 horas da manhã em Lisboa) e por isso deitei-me depois das 5 hras da manhã e lhe garanto que o Seattle dominou territorialmente desde o minuto 1 ao minuto 94. Às vezes os resumos são enganadores. O de ontem pode ter sido enganador (não vi) devido aos dois gols que conseguimos. A sorte é que o adversário nem no gol acertou o alvo: foi o peito de Igor que desviou a bola do goleiro e a meteu no canto direito da baliza com o John a cair (corretamente) parra o lado esquerdo da baliza. O Seattle foi eficiente em quase tudo, excepto no essencial: finalizar às redes. Valeu-nos isso, porque boas oportunidades de gol eles tiveram mais de 5, seguramente.

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

José Vanilson, eu tenho consciência que mesmo os grandes clubes brasileiros, tal como os grandes clubes portugueses, e de muitos outros países, precisam de revelar jogadores e vendê-los bem, ou comprar jogadores a partir do scouting para os potenciar à venda. Mas não com duração de um ano no clube. O Textor vendeu os melhores de 2023 (Lucas Perri e Adryelson) e depois os melhores de 2024 (Luiz Henrique, Almada e Júnior Santos), ainda antes de final de 2025 vai vender pelo menos Igor e o Jair - e a reposição até agora não é semelhante. Assim não há equipe que se mantenha consistente no topo, até porque os jogadores já sabem que os melhores vão ser vendidos e não criam raízes. O LH disse a semana passada que queria ter ficado para 2025, até porque assim seria convocado para a Seleção e disputaria o Mundial, onde se podia valorizar mais e fazer o Botafogo brilhar no palco do mundo. A gestão do futebol não funciona com desmanches anuais consecutivamente, mas sim com vendas cirúrgicas que não quebrem a espinha dorsal da equipe [roubar-nos ao mesmo tempo 3 atacantes (2024), ou roubar-no o melhor atacante e um zaguerio ainda em crescimento (2025) é quase 'crime' de lesa-majestade]. Por exemplo, Jair e Igor teriam que ficar dois anos, crescerem, contribuirem para a equipe, vencerem e então saírem. O Sporting, sem milhões para investir, mas com uma gestão criteriosa, conseguiu sair do marasmo, vencer 3 campeonatos em 5 e conquistar Taças da Liga e Taça de Portugal, comprar jogadores desconhecidos com muito potencial, afinar-lhes as capacidade por 2 ou 3 anos e depois poder vender apenas um por temporada, a bom preço, e repor substituto com semelhante qualidade a menor custo (que é o que vai acontecer nesta janela). Com Textor longe do Clube e com foco no Lyon, a 'confusão gestionária' instala-se e ganha terreno. Há uma grande diferença entre um calculista proprietário capitalista e um apaixonado presidente sportinguista.

As minhas observações não são para ver Textor longe do Botafogo, pelo contrário, são observações para o conquistar para a nossa causa, embora agora ele diga que antes de proteger os fãs (do Botafogo) tem que proteger os interesses dos jogadores. Eu creio que devia era proteger o Clube para ter títulos, ganhar fama mundial e com isso, sim, o Botafogo tornar-se-ia talvez gigante e os lucros subiriam astronomicamente.

Enfim, não digo mais por agora e aguardo o que por aí vem.

Abraços Gloriosos.

jornal da grande natal disse...

Comentários perfeitos!

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