sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Botafogo em Barreiras: o prefeito Baltazarino, o empresário e a ‘estrela’ Josimar

Fonte: https://eurio.com.br

[Nota preliminar: trata-se do excerto de uma publicação do autor intitulada “Quando Baltazarino trouxe o Botafogo do Rio para jogar em Barreiras”.]

por ROBERTO DE SENA | Mural do Oeste | 23 de julho de 2025

«Baltazarino Araújo Andrade entrou para a história como um dos melhores prefeitos de Barreiras. Ainda hoje, muitos anos depois da sua morte, suas obras continuam aí para todo mundo ver, como é o caso do CAB – Centro de Abastecimento de Barreiras – Ginásio de Esportes, Estádio Geraldão, entre muitas outras que não dá para enumerar e que são marcos da nossa cidade.  Mesmo realizando grandes obras, e sendo Barreiras ainda uma cidade pequena e sem muito destaque no cenário nacional, Baltazarino conseguia proezas inacreditáveis para a época, como, por exemplo, trazer o Botafogo do Rio de Janeiro, campeão brasileiro do ano anterior e uma das melhores equipes do País, para jogar em Barreiras. […]

Lembro-me como hoje. Corria o ano de 1986, logo depois da Copa do Mundo, quando a notícia foi dada em primeira mão pela rádio Barreiras. […]

Em dois minutos a notícia correu feito um raio. Na Praça Castro Alves, conhecida popularmente por Praça das Corujas, um senhor que era dono de uma barraca de vender cigarros e refrigerantes, bem na esquina de frente para a avenida, dava pulos de alegria e gritava:

– “Finalmente vou realizar meu sonho. Eu sabia que não iria morrer sem ver o meu Botafogo jogar. Só Baltazarino pra me dar um presente desse! Enquanto vida eu tiver não deixo de votar neste homem é nunca.” E pulava feito um doido dentro da barraca.

Um barbeiro por nome Didi que trabalhava em um salão na Praça Coronel Antonio Balbino e que hoje é chamada de Praça 24 Horas, passou o resto do dia soltando foguetes para comemorar a vinda do seu time de coração.

Já os adversários de Baltazarino se encarregaram de lançar a dúvida no ar. […]

E ficava aquela discussão danada nas esquinas da cidade. Os aliados de Baltazarino tiravam sarro com a oposição. […] Os adversários rebatiam. […]

Quem ama o futebol como é o meu caso, sabe muito bem que naquele tempo o Botafogo tinha um jogador chamado Josimar, famoso lateral direito que havia sido o destaque da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1986 realizada no México, tendo marcado dois gols que de tão belos entraram para a história das Copas. Josimar era a estrela e estava sendo sondado para jogar em grandes times da Europa. […]

O povo de Barreiras estava ansioso para ver de perto as sensacionais jogadas do craque botafoguense que não fazia nem um mês todos viam pela televisão jogando na Copa do Mundo, fazendo belíssimos gols pela Seleção Brasileira. Os adversários de Baltazarino continuavam baixando o sarrafo. […]

Vocês acham que um jogador do nível de Josimar vem jogar em Barreiras? […]

O certo é que o assunto tomou conta da cidade. Na hora do almoço e do jantar quando as famílias estavam reunidas ou domingo depois da missa. No famoso bar Aconchego de Nelli Nancy, no bar do Bento, no bar do Humberto, no Mercado Velho, na loja de Naldomar Campos, no Supermercado Castro, na loja de Annibinha, na Loja  de Peças Sabbá, de Barrerinhas a Vila Brasil, da Baraúna ao Mucambo, a vinda do Botafogo era o que se comentava por todos os cantos entre ricos e pobres, pretos e brancos, adultos e crianças. Dizem que até o padre Geraldo na época teria falado durante uma pregação da importância do futebol para a saúde e o bem-estar do povo. Por aí se pode deduzir a importância que se dava à vinda do Botafogo do Rio de Janeiro a Barreiras. […]

Dois dias antes de viajar para  Barreiras o Botafogo jogou em Brasília. Conta-se que Josimar pediu para não vir para Barreiras e o empresário teria ligado para Baltazarino tentando dar um migué.

Bom dia prefeito, o Botafogo jogou ontem em Brasília, o time deu um show e vai fazer um grande espetáculo ai em Barreiras. Já estamos aqui prontos para embarcar.

Comandante do 4º BEC, Cel. Fernando Porres Ferreiras e esposa e o prefeito Baltazarino Araújo Andrade e sua esposa D. Josefa (casal à direita da foto), na inauguração do Parque de Exposições. Crédito: Acervo pessoal da historiadora Ignez Pitta de Almeida.

Baltazarino abriu-se em sorrisos no telefone e mostrou toda a sua alegria com o empresário.

– Muito bem, compreendeu, o povo de Barreiras tá soltando foguetes na rua de alegria para ver o Botafogo. Vamos fazer uma comitiva grande para recepcionar o time na entrada da cidade. Vou botar banda de música, mandar fazer umas  galinhas caipira no jeito para os atletas sentirem o sabor do nosso tempero. Vai ser uma festança daquelas que nosso povo sabe fazer.

– Só tem um pequeno problema seu prefeito, mas é coisa sem importância, probleminha bobo que não vai atrapalhar em nada o espetáculo.

– Sim, pois não, pode falar. É dinheiro? Diga lá! O que for a gente resolve. Aqui num tem parangolé não, compreendeu? […]

Olha prefeito, o Josimar no jogo de ontem sofreu uma contusão e vai ter que voltar para o Rio de Janeiro para ficar em tratamento. […]

Baltazarino, que era explosivo, ficou irado e não mediu as palavas

Como é que é? É verdade o que eu tô ouvindo? O Josimar não vem? É isso mesmo que você falou ou eu tô ficando doido?

É isso mesmo, seu prefeito. Ele não vai poder ir. Olhe, mas não tem problema nenhum. No jogo de ontem aqui em Brasília, ele foi substituído por um jogador da base que jogou um bolão, deu um show e a torcida gostou mais dele do que do Josimar. Sabe como é, Josimar depois da Copa deixou a fama subir para a cabeça, tá pensando que é o rei da cocada preta, mas num é não. Vamos provar ai em Barreiras que não precisamos dele para fazer um grande espetáculo e dar um show de bola como a torcida gosta. Né não prefeito?

O quê! Cê tá pensando que eu sou algum besta, é? Pois olhe, vou lhe dizer uma coisa: se Josimar não vier, não precisa o Botafogo vir não. Pode voltar daí mesmo compreendeu? Nem venha me enrolar com tal de jogador da base que eu num quero saber de base nenhuma. Aliás, se o Botafogo tiver a coragem de vir até aqui sem o Josimar aí vocês vão conhecer a base direitinho pois vão sair daqui na base da taca. Vai ser na base da taca compreendeu. É taca de vergalho de boi para aprender a cumprir a palavra. […]

Dizem que não passaram nem 10 minutos, o empresário voltou a ligar.

– Prefeito, o senhor me desculpe, eu entendi mal, o jogador que tá machucado é um tal de Clerismar, que eu mesmo num sei nem quem é. É esse que não pode ir. O Josimar vai sim. […]

O certo é que o Botafogo chegou a Barreiras debaixo de imenso foguetório e muita festa. Josimar era tietado por todos, embora não tivesse dado muita atenção para quase ninguém.

No dia do jogo o Estádio Geraldão estava tão lotado que parece que a cidade toda estava lá. Pelas ruas em volta podia se ver ônibus de caravanas que vinham de Santa Rita de Cássia, Formosa do Rio Preto, Riachão das Neves e as demais cidades da região. […]

No dia seguinte, quando o Botafogo foi embarcar de volta para o Rio de Janeiro, centenas de torcedores foram ao hotel e levaram presentes para os jogadores. Carne de bode, buchada, doce de buriti, peta, ginete, licor da caju, rapadura, mel de abelha, litros e mais litros de cachaça brejeira. Kincão e Hugo Assis, do antigo Cine Foto Revelação, racharam de ganhar dinheiro tirando foto do povo com os jogadores. […]

Era assim o nosso saudoso Baltazarino. Não engolia “H” de ninguém e nem aceitava vissunagem. Quando alguém vinha com conversa mole, com enrolação, ele percebia no ato e ia logo dizendo: “Sabedoria quando é demais vira bicho e come o dono.”»

Publicação completa em https://muraldooeste.com/cronica-de-roberto-de-sena-quando-baltazarino-trouxe-o-botafogo-do-rio-para-jogar-em-barreiras/

2 comentários:

jornal da grande natal disse...

Só faltou a foto de Josimar. No jogo! (Rsrs)

Ruy Moura disse...

Pois é, mas essa não foi divulgada.
Abraços Gloriosos.

Botafogo em Barreiras: o prefeito Baltazarino, o empresário e a ‘estrela’ Josimar

Fonte: https://eurio.com.br [Nota preliminar: trata-se do excerto de uma publicação do autor intitulada “Quando Baltazarino trouxe o Bota...