[Nota preliminar: trata-se do excerto de uma
publicação do autor intitulada “Quando Baltazarino trouxe o Botafogo do Rio
para jogar em Barreiras”.]
por ROBERTO DE SENA | Mural do Oeste | 23 de julho de
2025
«Baltazarino Araújo Andrade entrou para a história como
um dos melhores prefeitos de Barreiras. Ainda hoje, muitos anos depois da sua
morte, suas obras continuam aí para todo mundo ver, como é o caso do CAB –
Centro de Abastecimento de Barreiras – Ginásio de Esportes, Estádio Geraldão,
entre muitas outras que não dá para enumerar e que são marcos da nossa
cidade. Mesmo realizando grandes obras, e sendo Barreiras ainda uma
cidade pequena e sem muito destaque no cenário nacional, Baltazarino conseguia
proezas inacreditáveis para a época, como, por exemplo, trazer o Botafogo do
Rio de Janeiro, campeão brasileiro do ano anterior e uma das melhores equipes
do País, para jogar em Barreiras. […]
Lembro-me como hoje. Corria o ano
de 1986, logo depois da Copa do Mundo, quando a notícia foi dada em primeira
mão pela rádio Barreiras. […]
Em dois minutos a notícia correu feito um raio. Na
Praça Castro Alves, conhecida popularmente por Praça das Corujas, um senhor que
era dono de uma barraca de vender cigarros e refrigerantes, bem na esquina de
frente para a avenida, dava pulos de alegria e gritava:
– “Finalmente vou realizar meu sonho. Eu sabia que não
iria morrer sem ver o meu Botafogo jogar. Só Baltazarino pra me dar um presente
desse! Enquanto vida eu tiver não deixo de votar neste homem é nunca.” E pulava
feito um doido dentro da barraca.
Um barbeiro por nome Didi que trabalhava em um salão
na Praça Coronel Antonio Balbino e que hoje é chamada de Praça 24 Horas, passou
o resto do dia soltando foguetes para comemorar a vinda do seu time de coração.
Já os adversários de Baltazarino se encarregaram de
lançar a dúvida no ar. […]
E ficava aquela discussão danada nas esquinas da
cidade. Os aliados de Baltazarino tiravam sarro com a oposição. […] Os
adversários rebatiam. […]
Quem ama o futebol como é o meu caso, sabe muito bem
que naquele tempo o Botafogo tinha um jogador chamado Josimar, famoso lateral
direito que havia sido o destaque da seleção brasileira na Copa do Mundo de
1986 realizada no México, tendo marcado dois gols que de tão belos entraram
para a história das Copas. Josimar era a estrela e estava sendo sondado para
jogar em grandes times da Europa. […]
O povo de Barreiras estava ansioso para ver de perto
as sensacionais jogadas do craque botafoguense que não fazia nem um mês todos
viam pela televisão jogando na Copa do Mundo, fazendo belíssimos gols pela
Seleção Brasileira. Os adversários de Baltazarino continuavam baixando o
sarrafo. […]
– Vocês acham que um jogador do nível
de Josimar vem jogar em Barreiras? […]
O certo é que o assunto tomou conta da cidade. Na hora
do almoço e do jantar quando as famílias estavam reunidas ou domingo depois da
missa. No famoso bar Aconchego de Nelli Nancy, no bar do Bento, no bar do
Humberto, no Mercado Velho, na loja de Naldomar Campos, no Supermercado Castro,
na loja de Annibinha, na Loja de Peças Sabbá, de Barrerinhas a Vila
Brasil, da Baraúna ao Mucambo, a vinda do Botafogo era o que se comentava por todos
os cantos entre ricos e pobres, pretos e brancos, adultos e crianças. Dizem que
até o padre Geraldo na época teria falado durante uma pregação da importância
do futebol para a saúde e o bem-estar do povo. Por aí se pode deduzir a
importância que se dava à vinda do Botafogo do Rio de Janeiro a Barreiras. […]
Dois dias antes de viajar para Barreiras o
Botafogo jogou em Brasília. Conta-se que Josimar pediu para não vir para
Barreiras e o empresário teria ligado para Baltazarino tentando dar um migué.
– Bom dia prefeito, o Botafogo jogou ontem em Brasília, o time deu um show e vai fazer um grande espetáculo ai em Barreiras. Já estamos aqui prontos para embarcar.
Baltazarino abriu-se em sorrisos no telefone e mostrou
toda a sua alegria com o empresário.
– Muito bem, compreendeu, o povo de Barreiras tá
soltando foguetes na rua de alegria para ver o Botafogo. Vamos fazer uma
comitiva grande para recepcionar o time na entrada da cidade. Vou botar banda
de música, mandar fazer umas galinhas caipira no jeito para os atletas
sentirem o sabor do nosso tempero. Vai ser uma festança daquelas que nosso povo
sabe fazer.
– Só tem um pequeno problema seu prefeito, mas é coisa
sem importância, probleminha bobo que não vai atrapalhar em nada o espetáculo.
– Sim, pois não, pode falar. É dinheiro? Diga lá! O
que for a gente resolve. Aqui num tem parangolé não, compreendeu? […]
– Olha prefeito, o Josimar no jogo de
ontem sofreu uma contusão e vai ter que voltar para o Rio de Janeiro para ficar
em tratamento. […]
Baltazarino, que era explosivo, ficou irado e não
mediu as palavas
– Como é que é? É verdade o que eu tô
ouvindo? O Josimar não vem? É isso mesmo que você falou ou eu tô ficando doido?
– É isso mesmo, seu prefeito. Ele não
vai poder ir. Olhe, mas não tem problema nenhum. No jogo de ontem aqui em
Brasília, ele foi substituído por um jogador da base que jogou um bolão, deu um
show e a torcida gostou mais dele do que do Josimar. Sabe como é, Josimar
depois da Copa deixou a fama subir para a cabeça, tá pensando que é o rei da
cocada preta, mas num é não. Vamos provar ai em Barreiras que não precisamos
dele para fazer um grande espetáculo e dar um show de bola como a torcida
gosta. Né não prefeito?
– O quê! Cê tá pensando que eu sou
algum besta, é? Pois olhe, vou lhe dizer uma coisa: se Josimar não vier, não
precisa o Botafogo vir não. Pode voltar daí mesmo compreendeu? Nem venha me
enrolar com tal de jogador da base que eu num quero saber de base nenhuma.
Aliás, se o Botafogo tiver a coragem de vir até aqui sem o Josimar aí vocês vão
conhecer a base direitinho pois vão sair daqui na base da taca. Vai ser na base
da taca compreendeu. É taca de vergalho de boi para aprender a cumprir a
palavra. […]
Dizem que não passaram nem 10 minutos, o empresário
voltou a ligar.
– Prefeito, o senhor me desculpe, eu entendi mal, o
jogador que tá machucado é um tal de Clerismar, que eu mesmo num sei nem quem
é. É esse que não pode ir. O Josimar vai sim. […]
O certo é que o Botafogo chegou a Barreiras debaixo de
imenso foguetório e muita festa. Josimar era tietado por todos, embora não
tivesse dado muita atenção para quase ninguém.
No dia do jogo o Estádio Geraldão estava tão lotado
que parece que a cidade toda estava lá. Pelas ruas em volta podia se ver ônibus
de caravanas que vinham de Santa Rita de Cássia, Formosa do Rio Preto, Riachão
das Neves e as demais cidades da região. […]
No dia seguinte, quando o Botafogo foi embarcar de
volta para o Rio de Janeiro, centenas de torcedores foram ao hotel e levaram
presentes para os jogadores. Carne de bode, buchada, doce de buriti, peta,
ginete, licor da caju, rapadura, mel de abelha, litros e mais litros de cachaça
brejeira. Kincão e Hugo Assis, do antigo Cine Foto Revelação, racharam de
ganhar dinheiro tirando foto do povo com os jogadores. […]
Era assim o nosso saudoso Baltazarino. Não engolia “H”
de ninguém e nem aceitava vissunagem. Quando alguém vinha com conversa mole,
com enrolação, ele percebia no ato e ia logo dizendo: “Sabedoria quando é
demais vira bicho e come o dono.”»
2 comentários:
Só faltou a foto de Josimar. No jogo! (Rsrs)
Pois é, mas essa não foi divulgada.
Abraços Gloriosos.
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