quinta-feira, 24 de julho de 2008

Finalmente, ‘habemus futurus’


Os jogos de futebol do Botafogo revelam sempre coisas interessantíssimas. Quer tenhamos comando técnico estável, quer não tenhamos, a equipa de futebol evidencia sempre novidades e ensinamentos vários.

Durante dois anos tivemos um comando estável e, todavia, o clube andou numa ebulição desastrosa, entre altos e baixos, entre exibições primorosas e acontecimentos inacreditáveis. Finalmente, os jogos foram revelando o esgotamento de um modelo de gestão do plantel e veio outro comando técnico que nunca chegou a mostrar adaptação ao clube e à equipa, e vice-versa.

Eis que, subitamente, um novo comando técnico emerge e o Botafogo retorna a uma forma técnica e física que não conhecia há meses. Os seus jogadores, essencialmente os mesmos, mostram uma renovada capacidade técnica e uma nova fibra.

O comando técnico do Botafogo – que, pela última vez, vou afirmar ter sido inicialmente a minha 2ª escolha – mostrou um profissionalismo que não se vê nos comandos técnicos do Botafogo há vários anos. Realmente, PC Gusmão foi eticamente condenável, Carlos Roberto exagerou no uso do ‘coração’, Cuca abusou do ‘paternalismo’ antagónico ao profissionalismo, Chamusca, Roth, Mário Sérgio e Geninho é como se não tivessem vindo.

Porém, o discurso público, o treino e a intervenção durante os jogos tem evidenciado, em apenas quatro jogos, que Ney Franco terá sido realmente a escolha mais adequada. As declarações de Ney durante a semana e antes do jogo foram rigorosamente ‘profissionais’ e usaram, sobretudo, da razão – e é para isso que temos capacidades cerebrais.

O treinador inaugurou – parece-me – uma nova Era no Botafogo, e espero que o apoio ao seu trabalho seja apenas a… 100%. Ney não tem olhares tristes e melancólicos, não se queixa do mundo, não quer ser ‘pai’ de jogadores, olha para a frente e estabelece horizontes claros. Ney escala sem medo e sem ‘compromissos’, estabelece a competição, ousa táticas arriscadas e é capaz de as desfazer por outras se as coisas estão correndo mal em campo.

No jogo de ontem, apesar de uma primeira parte obscura, devido precisamente às alterações táticas de Ney não terem dado fruto (sobretudo o posicionamento inicial de Carlos Alberto) e as saídas de bola serem muito desastradas, percebia-se que a qualquer momento podia acontecer um novo gol do Botafogo. Não é que o volume de jogo o mostrasse, mas a intuição sobre o funcionamento de equipas de futebol mostrava isso.

É certo que o Atlético precisou de lutar pelo empate desde o 1º minuto, mas o Botafogo iniciou-se a jogar de improviso, com base em jogadas individuais e lançamentos longos, não se vislumbrando a troca rápida de passes nem as ofensivas dos laterais.

Eis que Ney entra com um esquema bastante diferente, e mais ofensivo, na 2ª parte e… continua a não resultar!... O Botafogo joga ligeiramente recuado e o Atlético sempre tentando o empate. De notar, todavia, que Ney substitui Thiaguinho (que após a cartão amarelo fica impedido de jogar contra o Flamengo) e coloca no seu lugar Túlio, precisamente com vista a familiarizar o jogador com o lugar que provavelmente ocupará no próximo confronto no Maracanã se Alessandro ainda não estiver operacional.

Mas aos 14 minutos um jogador do Atlético é expulso e tudo muda. Nesse momento pensei, vamos ver como reage o esquema tático do Ney, porque nos últimos dois anos e meio de cada vez que o Botafogo ficava em vantagem numérica nada se modificava em campo, e ou mantinha-se o placar ou o adversário conseguia reagir mesmo em inferioridade numérica e marcar. Aconteceu sempre assim, mostrando que o Botafogo não conseguia mudar os seus esquemas no decorrer de uma partida. Montava o esquema durante os treinos e era incapaz de modificá-lo durante um jogo. E é precisamente para o fazer que os treinadores ocupam a lateralidade dos campos de futebol.

Ora bem o atleticano foi expulso aos 14’ e Ney fez sair Lúcio Flávio para a entrada de Leandro Guerreiro, recolocou Carlos Alberto na sua posição de meia e deixou o ataque a funcionar – com Washington Paulista, Gil e com Jorge Henrique a carregar jogo. Esta foi, aliás, a minha sugestão nos comentários sobre o último jogo. A escalação ideal que sugeri, do meio para o ataque foi (e cito):

“Diguinho, Túlio, Carlos Alberto;
Jorge Henrique
Wellington Paulista e Gil”

E foi precisamente com esta escalação que o Botafogo assinalou mais três gols. A saída de Lúcio Flávio (com a ressalva de ser notável a marcar grandes penalidades) e a ocupação do lugar pelo Carlos Alberto e a entrada de Leandro Guerreiro deram mais consistência ao meio-campo e, no ataque, Jorge Henrique ficou mais livre nos espaços que antes ocupava Carlos Alberto, e Wellington Paulista e Gil puderam utilizar os seus recursos atacantes.

Daqui resultou que, finalmente, Gil mostrou um ar da sua graça marcando um gol de bom efeito, Wellington Paulista só não marcou porque os goleiros existem para defender as bolas dos atacantes e Jorge Henrique evidenciou que a sua posição ideal é um pouco mais recuada, entre o ataque e o meio-campo, fazendo a ligação.

Em suma, Ney mudou o esquema para ‘arrumar’ uma equipa desarmonizada e aproveitar a vantagem numérica, obtendo, então, um resultado esmagador que até poderia ter tido mais expressivo.

Um outro momento que considero decisivo foi o gol de Carlos Alberto. Na primeira parte, jogando como atacante, Carlos Alberto perdeu dois gols à boa maneira de Jorge Henrique, não conseguiu chutar de fora da área como estava previsto e não logrou puxar o contra-ataque. Isso só aconteceu após a última substituição, tendo então Carlos Alberto puxado o contra-ataque e daí surgiu o gol de Triguinho.

Porém, no momento em que conseguiu dominar a bola à entrada da grande área e ficou magistralmente à frente do goleiro, pensei: “É agora. É agora que se vai ver quem é realmente o Carlos Alberto”. E foi o Carlos Alberto!... Nada parecido com os chutes em linha, geralmente desferidos de forma automática pelo Wellington Paulista e pelo Jorge Henrique, e que colidem com a figura do goleiro. O craque, como bem observou o meu amigo Rodrigo Federman no seu blogue, mostrou a sua classe: com muita tranquilidade pensou rapidamente, contornou o goleiro e… empurrou a bola!... E ‘matou’ o jogo, coisa que Jorge Henrique tem muitíssima dificuldade em fazer. Quantas vezes Jorge Henrique fez o gol dos 3x0?...

Naquele momento ficou claro que há jogadores bons no Botafogo e que Carlos Alberto está acima deles – é muito bom o rapaz!...

Como notas de rodapé diria que Lúcio Flávio mostrou que deve ser reserva de Carlos Alberto, Castillo evidenciou novamente problemas com as bolas aéreas (2’30’’ 2ºT), as saídas de bola continuam muito aquém do desejável, especialmente por virtude de Renato Silva e André Luís serem zagueiros de chutão para a frente. Mas gostei da movimentação geral no ataque durante o 2º tempo.

A título de curiosidade, vejamos os quatro últimos jogos dos três últimos treinadores:

Cuca: 0x1, 1x2, 1x1, 2x1 = 4 pts; 4x5 gols
Geninho: 0x1, 0x0, 2x0, 2x5 = 4 pts; 4x6 gols
Ney: 2x2, 4x0, 1x2, 4x0 = 7 pts; 11x4 gols

Em suma, com Ney Franco temos mais pontos, mais gols marcados, menos gols sofridos e… sobretudo muito maior alegria a jogar futebol, seja ganhando, empatando ou perdendo. Os mesmos homens, dirigidos diferentemente, apresentam resultados diferentes.

Penso não estar a ser exagerado ao concluir que habemus tecnicus, habemus homines, habemus futurus

FICHA TÉCNICA
Botafogo 4x0 Atlético Mineiro
Gols: Lúcio Flávio, 1' 1ºT, Triguinho 23' 2ºT, Carlos Alberto 38’ 2ºT e Gil 44’ 2ºT
Competição: Campeonato Brasileiro
Estádio Olímpico João Havelange, o ‘Engenhão’; 23/07/2008
Arbitragem: Leonardo Gaciba da Silva (SP); Marcelo Bertanha Barison (RS) e José Antônio Chaves Franco Filho (RS)
Cartões amarelos: Triguinho, Thiaguinho e Túlio (Botafogo); César Prates, Gedeon, Francis, Márcio Araújo, Serginho e Calisto (Atlético)
Cartões vermelhos: César Prates e Yuri (Atlético)
Botafogo: Castillo, Renato Silva, Andre Luis e Triguinho; Thiaguinho (Jorge Henrique), Túlio, Diguinho, Lucio Flavio (Leandro Guerreiro) e Zé Carlos (Gil); Carlos Alberto e Wellington Paulista - Técnico: Ney Franco.
Atlético: Édson, Mariano, Vinícius, Marcos e César Prates; Francis (Yuri), Serginho, Gedeon, Márcio Araújo e Renan Oliveira (Marques); Eduardo (Calisto). Técnico: Alexandre Gallo

8 comentários:

Zêro Blue disse...

Eu tenho a melhor opinião sobre Ney Franco. Acredito com certeza que se lhe derem chance de ficar um bom tempo, fará grande trabalho no Botafogo.

Eu o queria como técnico do meu time (ele já esteve bem perto disso), e sonho com essa possibilidade num futuro próximo.

Abração Rui.

Saudações Celestes
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ENTREM E SINTAM-SE A VONTADE

snoopy em p/b disse...

olá, rui!

não precisamos entrar, mais uma vez, nos diálogos que já tivemos sobre o cuca. hehe
temos nossas opiniões e considero que seus argumentos são condizentes com suas opiniões a respeito do treinador.
algumas delas, inclusive, me fizeram repensar sobre sua jornada no botafogo e expus isso aqui.

mas, falando de ney franco, concordo com suas opiniões de um modo geral.
no jogo contra o santos, fiquei meio pé atrás com ele porque achei que faltou humildade e sobrou soberba ao atribuir a si exclusivamente a boa atuação que o time teve. o mesmo aconteceu contra o ipatinga.

depois, o vi dizendo que está aproveitando do bom trabalho feito pelo cuca. ou seja, passou a dizer o que eu queria ouvir.

mas fato é que, desde o começo, embora não sendo o técnico que eu sonhava para o botafogo, passei a acreditar no bom trabalho dele.
na verdade, me parecia o último fio de esperança.

e que bom que está dando certo. mesmo querendo acreditar nele desde o começo, confesso que ele já superou minhas expectativas.

está tendo o mérito de fazer nossos bons jogadores voltarem a ser bons jogadores.
e eles o tivessem sido na copa do brasil, não teríamos perdido.

ontem, como você falou, mesmo vendo que o time não viha bem, sabíamos que venceríamos.

sobre a formação tática, não gostei da inicial.
e foi um dia atípico porque os jogadores que vinham bem nas partidas anteriores não estavam rendendo, como zé carlos e thiaguinho.
penso que isso pode ter prejudicado o esquema montado.
então, as substituições melhoraram o time no final.

agora, contra o framengo, o ânimo é outro.
e, por ser clássico, isso serve pro outro lado também.
não tem favorito.
mas, convenhamos, se vencermos, o panorama mudará de vez.
o astral será outro e tudo conspirará, ainda mais, a favor de uma boa temporada.
isso, certamente, me fará acreditar que seremos campeões da sulamericana e conquistaremos, ao menos, uma vaga na libertadores.

é possível porque, como costumo dizer, não somos piores do que, pelo menos, uns 16 times do brasileirão.

forte abraço, amigo, e sds. botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

Carlão, compreendo a sua posição, mas o Ney no Cruzeiro espero que só num futuro... longínquo!... eheheh... Você queria era que ele desse cabo do Galo de uma vez por todos aí no Mineirão!... (mas também não tinha graça, porque depois com quem você zoava?... com o Ipatinga?... eheheh...)

Saudações esportivas

Ruy Moura disse...

Caro amigo snoopy, achei curioso o seu comentário anterior sobre não pôr o Gil a jogar junto com o Jorge Henrique mais recuado, e ter sido precisamente o que aconteceu ontem quando o Ney 'arrumou' o time na 2ª parte e marcou mais três gols...

Não sei se o Ney só diz que aproveita o bom do Cuca e do Geninho por uma questão de tática política com a torcida. Mas a verdade é que não há razões para não aproveitar os aspectos positivos do Cuca e a preparação física que o Geninho repôs na equipa.

A bem da verdade, o problema do Cuca não era certas ousadias no ataque, mas a incapacidade de montar uma defesa decente. Portanto, o Ney bem pode aproveitar o que há de bom, mas tem que olhar para aquela defesa, que nem o Cuca nem o Geninho deram jeito nela (se não fosse a defesa tinhanos ganho ao Santos e empatado com o São Paulo e isso são 3 pontos...). O RS e o AL são só chutão para a frente, não sabem fazer saída de bola. O Ferrero, que era o único que saía a jogar foi queimado pelo Cuca com o argumento de que ele era lento (na verdade, era argentino... como o Escalada...). E o RS, chega sempre à hora para defender?!... Quase nunca... Portanto, a grande questão, quanto a mim, são os zagueiros. As laterais já têm boas soluções e o meio-campo também. Falta a defesa e... talvez um atacante 'matador' (Gil ou Zárate serão?...).

Saudações Botafoguenses

Anónimo disse...

Rui,

Espero que deixem o Carlos Alberto comandar o meio-campo do Botafogo. Não entendi porque o Ney desarrumou o time todo só para manter o LF entre os titulares (melhoramos a saída deste para entrada do Leandro Guerreiro).


Patrick

Ruy Moura disse...

Patrick, absolutamente de acordo consigo. penso que o Ney está tirando o LF de 'mansinho', para não dar bronca... Espero que sim. O LF já fez excelentes jogos antes e talvez no banco comece a pensar em jogar futebol novamente. Ele tem piorado a olhos vistos e, sinceramente, ontem vi-o apenas cobrar uma falta, para a qual tomou a distância de dois passos e... entregou-a ao goleiro. Até dava para o goleiro se fazer à fotografia...

SAUDAÇÕES BOTAFOGUENSES

Anónimo disse...

Rui, muito interessantes e corretas as suas observaçôes, principalmente a que você faz sobre o aproveitamento de espaços quando o Botafogo passou a ter um jogador a mais e depois dois. Anteriormente, não sei porque, raramnete o Botafogo tirava partido da superioridade numérica. Isto é um bom sintoma, mostra que o nosso atual comandante observa e passa com precisão o tática a ser usada. Espero que continue o bom trabalho do Ney Franco, pois acho que ele é um bom técnico, apesar da birra inicial que eu e muitos torcedroes do Botafogo tinhamos a respeito dele, talvez por causa de às vezes agirmos emocionalmente apenas como torcedores. Afinal, ele passou pelos mulamboas e, aquela imagem dele comandano o framengo deve ter nos afetado. Mas que o NF é bom técnico, lá isso ele é. O Trabalho que fez no Ipatuinga mostra isso. É incrível como muita coisa melhorou no Botafogo, inclusive o preparo físico. Uma vitória domingo poderá fazer com que o Botafogo dispute as primeiras posições, que sabe, uma vaga para a Libertadores ou até o título. O que não podemos é que caso não venha nenhuma das duas coisas, destruir o trabalho que está sendo feito e que precisa de tempo para dar melhores resultado. Grande adraço e saudações botafoguenses.

Ruy Moura disse...

Amigo Sergio, eu não penso tão alto. Julgo que nem vale a pena pensar no título brasileiro.´É algo que oprecisa de muito planeamento, preparação, concentração e ambição. Se evoluirmos bem o G4 não é impossível.

Quanto à Copa Sul-americana, acho que temos mais hipóteses. Se o Ney souber priorizar e quiser apostar nessa Copa, claro.

SAUDAÇÕES BOTADFOGUENSES

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