“Durante a segunda guerra mundial, em 1943, o boletim do Botafogo publicou uma charge de Romano que prenunciava, pitorescamente, o fim do nazismo.
O Botafogo contribuiu com vários de seus craques para a Força Expedicionária Brasileira. E eles, Mato-Grosso, Dunga, Geninho, Walter e Marcos, são vistos no tombadilho do navio que os trouxe de volta ao Rio de Janeiro, respondendo às saudações da delegação do Botafogo, que foi recebê-los no cais do porto.”
In: Pepe, Braz; Miranda, Luiz; Carvalho, Ney (1996): Botafogo O Glorioso – uma história em preto e branco. Gráfica Jornal do Brasil. Petrópolis.
3 comentários:
Esse texto (principalmente o título) me lembrou um texto que eu li quando fazia a minha monografia. Vale a pena ler... É um artigo do Chefe da Polícia Civil do Estao do Rio de Janeiro Allan Turnowski: "Quando todos vão à guerra".
EM MEADOS do ano retrasado, estive em Israel com uma comitiva da área de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro para conhecer e viabilizar a compra de veículos blindados de categoria leve, escudos e coletes à prova de bala para serem utilizados pelas polícias Civil e Militar do nosso Estado.
Trata-se de equipamentos de ponta, de uma empresa com orçamento anual de US$ 600 milhões, utilizados por diversas polícias do mundo, entre elas de Suécia, Alemanha e Israel.
Muitas dessas polícias atuam em países onde não há a realidade de confrontos do Rio de Janeiro, mas que adquiriram esses equipamentos para proteção de seus policiais e redução de distúrbios urbanos.
Durante as várias horas de conversas e negociações para eventual aquisição dos veículos blindados, solicitamos algumas adaptações nos equipamentos com a finalidade de adequá-los à realidade carioca, com foco na relação custo/benefício, especialmente no que tange ao valor de manutenção dos equipamentos.
Assim, pedimos a supressão de alguns itens de segurança, menos utilizados em nossa realidade cotidiana, como sistema antiminas terrestres e equipamento contra armas químicas.
Por fim, pedimos a diminuição do tamanho do vidro dianteiro, pois, em caso de dano, sua troca seria financeiramente mais em conta, apesar da perda da visibilidade do motorista.
Era preocupação da cúpula da segurança a integridade física dos seus policiais. No entanto, naquele momento, o foco das discussões era o custo do equipamento.
A diretora-executiva da empresa dos blindados, incomodada com a perda de visibilidade do motorista, interrompeu nossa argumentação e nos disse, em inglês: "Senhores, aqui em Israel, nossa preocupação principal é com a integridade física do nosso policial.
Quando nossos filhos vão defender nosso país, temos de trazê-los de volta para casa, vivos e saudáveis, mesmo que tenhamos de pagar mais por isso".
Naquele momento, tive dois pensamentos. O primeiro, de vergonha, pela percepção dos israelenses sobre a maneira que tratamos nossos policiais. Em seguida, de reflexão, quando percebi a real diferença entre as culturas de países tão distintos.
Em Israel, todos são obrigados a servir o Exército, sejam ricos, sejam pobres. Logo, o filho do banqueiro, do empresário, do professor e do lixeiro vão à guerra, onde todos se nivelam, pois os tiros e as bombas do inimigo não sabem distinguir diferentes camadas sociais.
No Brasil, a realidade é outra. O concurso para as polícias ainda não atrai o interesse de membros de determinadas classes sociais formadoras de opinião. Portanto, os membros dessas camadas mais influentes da sociedade não estão nas trincheiras dessa luta diária travada pelos nossos valentes policiais para a manutenção da ordem pública e a defesa de toda a sociedade.
Como consequência, essas classes não veem o policial como um integrante de sua casta, mas apenas um número na estatística de violência de nossa cidade. Por essa razão, não se preocupam se esses policiais voltarão vivos ou mortos dessa batalha. Preocupam-se apenas com as suas próprias batalhas.
O único caminho a ser seguido é melhorar a qualidade do serviço prestado, buscar reconhecimento profissional e, por conseguinte, melhores salários, o que nos levará a um melhor processo de seleção, que atingirá todas as camadas sociais e aí, então, a integração com toda a sociedade.
Enquanto isso, solicitamos aos nobres sociólogos que nos incluam em sua luta de classes por uma sociedade mais justa e respeitadora dos direitos humanos. Detalhe: não conseguimos importar os blindados.
Notável a sua colocação, Júlio. Os trechos, palavra por palavra, são a realidade social nua e crua e evidenciam, claramente, o abismo que existe entre as democracias criadas como realidade jurídica e as democracias criadas como realidade social e, sobretudo, realidade interiorizada e sentida por cada um dos cidadãos.
Muito há que evoluir ainda para se atingir esta última.
Abraços Gloriosos!
Nota: Júlio, o título é original do livro citado.
Abraços Gloriosos!
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