quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

No tempo de Peracio, Patesko e Carvalho Leite


[Nota prévia do Mundo Botafogo: O artigo que se segue é citado integralmente, razão pela qual os ‘erros’ contidos não são de ortografia, mas correspondentes à escrita da época. É uma análise interessante ao futebol dos anos trinta [a edição do jornal é de 1938], revelando muitas parecenças com situações que sentimos nos dias de hoje e constituindo um notável testemunho dos analistas da época. São preciosos os comentários, alguns dos quais muito divertidos e outros muito próximos dos nossos problemas atuais: “nós chronistas, olhámos uns para os outros”; “que viveis assombrados com as proezas dos cracks”; “omnibus que se raspa furiosamente pelas avenidas”; “aspecto de ruína que a peleja apresentou”; “no foot-ball da ‘pelada’ não se perdôa o garoto que não sabe tirar corners…”; “não são jogadores para serem apresentados em campo como integrantes de uma equipa de profissionaes”; “sempre tão preocupados com o problema de juízes”; etc… Divirtam-se com o texto integral que se segue.]

Botafogo 4 x América 2

O PROFISSIONAL QUE NÃO SABE BATER “CORNER”…

Cumprindo a promessa feita por vários leitores do interior, iniciámos, no número passado, os commentarios sobre a rodada do campeonato de foot-ball, que aqui na capital se desenrola sob os auspícios da L. F. R. J. e com grande interesse publico. Começámos com um Fla x Flu, pobre de technica, e para não fixarmos as falhas sensíveis que a peleja nos proporcionou, focalizámos os aspectos mais interessantes, sem esquecer, todavia, que o Fluminense foi, como heróe da cancha, nitidamente superior ao rubro-negro.

Esta semana, a nossa apreciação racahiu sobre o jogo Botafogo x América, o mais attingido pela publicidade.

Em se tratando de um cotejo entre velhos rivaes, as nossas attenções voltaram-se para o stadium da Avenida Wencesláu Braz, na esperança de transportarmos para o papel os coloridos de uma porfia bonita, sem fracassos de ordem technica.

Tal não se verificou. Quando o juiz deu o ultimo apito, nós chronistas, olhámos uns para os outros e em cada physionomia havia desalento e pessimismo…

Veremos no proseguir do campeonato um encontro que nos reserve melhor impressão e que não seja tão medianamente disputado como esses que vamos tragando à força?...

Chi lo sá…

Amigos carissimos do interior do Brasil!, que viveis assombrados com as proezas dos “cracks” sempre e sempre envolvidos em aureola de glorias – o sacrifício do observador que caminha até o campo para assisti-los em exibição, não é em nada recompensado. Uma hora de viagem num omnibus que se raspa furiosamente pelas avenidas, para ver foot-ball, representado na cancha, por três ou quatro figuras…

Depois… se diz que vamos assistir foot-ball, mas, o que menos se faz atualmente é – Foot-ball…

Aymoré, Zezé, Carola, Possato, Peracio e Patesko andaram acertadamente, salvando o aspecto de ruína que a peleja apresentou desde os minutos iniciaes. E para se fazer uma synthese criteriosa do panorama fraco apresentado aos olhos do publico, basta citar que o América fez mais excursões ao campo do Botafogo e este venceu por um “score” significativo: 4x2.


Foi mais combativo o América com um team em frangalhos; dahi, é fácil deduzir o quanto de inútil produziu o Botafogo…

Os extremos rubros não são jogadores para serem apresentados em campo como integrantes de uma equipa de profissionaes. A direcção sportiva e technica do América tem que responder pelas exibições desses esforçados rapazes que, sem a reflexão devida, srgiram perante um publico pagante. Sem maiores commentarios: o extrema direita do América tentou bater corners, e não conseguiu. No foot-ball da “pelada” não se perdôa o garoto que não sabe tirar corners…

Carvalho Leite fez três tentos para o Botafogo, o ultimo sem querer… Nessa proeza documenta-se a sua presença em campo…

Agora, Aymoré salvou o seu arco varias vezes, produzindo intervenções de um arqueiro de classe. Enquanto isso, Thadeu, numa tarde sombria, deixou escapar duas bolas que attestam um estado de nervos compromettedor… O vento podia ter desviado a trajectória da bola que Patesko cabeceou, mas a vivacidade obrigatória de um goal-keeper, não permitte a paralysação da mesma no fundo das rêdes…

O América adoptou um systema de marcação interessante. Cuidou a sua defeza dos meias, deixando os extremas e o centro completamente livres. Insistiu nessa táctica errada que podia redundar numa saraivada de tentos caso o Botafogo tivesse os seus artilheiros… num dia de chance…

O Botafogo, por sua vez, falhou muito também… Martin jogou mal, muito recuado, emquanto Zezé aproveitou-se para se fazer o “motor” dos alvinegros. Peracio e Patesko não comprometteram o renome…

Agradou muito a actuação acertada de Fioravante D’Angelo, um arbitro sem fama, mas um conductor activo e enérgico. A sua estreia em partidas de destaque, valeu para uma affirmativa das suas qualidades. É um nome que deve merecer um estimulo dos nossos clubs, sempre tão preocupados com o problema de juízes…

Fonte
Pesquisa de Rui Moura (blogue Mundo Botafogo)
Sport Illustrado, 1938

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