terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O problema do Botafogo

por Carlos Eduardo Novaes
Jornal do Brasil, 8 e 9 de janeiro de 2011

Os frequentadores das casas de aposta clandestina chamam a Copa São Paulo de Juniores de Copag, abreviatura para Copa dos Garotos, que significa também uma conhecida marca de baralhos. As apostas comem soltas nesse torneio que abre a temporada do futebol brasileiro e reúne 92 times de todo o país, entre eles os conhecidos Lemense (SP), Carcerense, de Mato Grosso, e o Funorte, de Minas.

O Botafogo estreou empatando em 2 a 2 com um tal de Rio Preto. Nada demais, quando se sabe que o Botafogo adora empatar. O curioso é que quase todos os acertadores desse jogo éramos torcedores alvinegros. Gaguinho, o maître da casa, ainda me criticou:

- Va-vai cravar empa-pate jogando contra esse timeco desco-conhecido?
- Fica na tua, Gaguinho. Sei o que estou fazendo.

Ao final da partida, dei um capilé ao Gaguinho e escutei o treinador do Botafogo, Eduardo Pedro, declarar que o time não soube administrar o resultado. Que novidade! O Botafogo nunca sabe administrar os resultados, seja o time infantil ou o titular. Virou o primeiro tempo na frente do placar, cedeu o empate, marcou o segundo e, nos minutos finais, tornou a ceder o empate. Quer mais Botafogo do que isso? Já vi esse filme inúmeras vezes com os titulares.

De uns tempos para cá, o Botafogo vem revelando uma enorme dificuldade para ganhar jogos. Estão aí os recentes empates no Brasileirão que não me deixam mentir. Mesmo precisando ganhar, o time parece jogar pelo empate. Venho estudando o fenómeno desde a virada do século e descobri que tal dificuldade transcende a qualidade dos técnicos e dos jogadores. Pode botar Jesus Cristo de treinador que o time continuará inseguro, sem confiança, sem pegada, com o emocional à flor da pele.

Morro de medo quando o Botafogo faz 1 a 0 no início do jogo, porque sei que a possibilidade de vencer vira uma batata quente nas mãos (ou nos pés) dos jogadores. Alguém aí já fez um levantamento da quantidade de jogos no Brasileirão de 2010 em que o Botafogo saiu na frente e entregou a rapadura?

Qualquer torcedor quer ver o seu time abrir o placar o mais rápido possível. Não é o meu caso. Torço para que segure o 0 a 0 até 38, 39 do segundo tempo e, aí sim, faça o gol sem dar tempo de o adversário reagir. Os amigos da casa de apostas chegam a me gozar vendo-me diante do telão aos berros:

- Não marca! Não agora! Pelo amor de Deus! Só tem 20 minutos d ejogo! Deixa para mais tarde! Vocês não vão conseguir segurar o resultado!

Tal dificuldade, como afirmei, independe do treinador da hora: eles passam e a dificuldade permanece, como um estigma, uma maldição. Às vezes penso que o time sofre de um sentimento de inferioridade em relação ao seu próprio passado. É mais ou menos como se os jogadores que foram vestindo a camisa do clube nesses últimos 10 anos se perguntassem: “Se não temos um Didi, Ou um Gérson, ou um Amarildo, ou um Nilton Santos, ou um Garrincha, como podemos ser um time vencedor?” E aí o melhor a fazer é “arrecuá os hafes pra evitar a catastre”!

[As minhas razões para a reprodução do texto: 1) texto em português absolutamente correto, incluindo a pontuação, ao contrário da má escrita da comunicação social em geral; 2) e, sobretudo, porque, tal como o autor, eu partilho das suas convicções e peço sempre que a equipa aguente o 0 a 0 até ao minuto 39…]

4 comentários:

aaa disse...

Fique tranquilo meu caro Rui! Nosso entregador mór de paçocas está de saída!

LG irá para o cruzeiro!

Sem ele e sem o LF, sinto que cada vez mais estão trazendo o nosso Botafogo de volta!

Agora só estão faltando o Fahel e o Ale-Alessandro!

Abs

Allan Quinto

Ruy Moura disse...

Pois é, Allan, mas o Fahel e o Alessandro são mais que suficientes para entregar jogos decisivos. Já treinaram nisso o ano passado, quando entregaram alguns gols aos adversários.

Confesso que não estou tranquilo, em especial quando não vejo reforços sérios e apercebo-me que André Silva e Joel Santana estão 'felizes e satisfeitos'. Muito mau sinal.

Abraços Gloriosos!

Júlio Melo disse...

Esse texto é uma baita verdade. Se a gente for olhar só para o ano de 2010 a gente vai ver que o título do brasileiro escapou por isso.

O BFR nos tempo do Cuca (um cara que eu gosto e admiro) também era assim, o time não podia sofrer um gol que se desmachava.

Com o BFR a famosa frase "2 a 0 é um resultado muito perigoso" faz muito sentido, e dá até medo.

Ruy Moura disse...

Completamente de acordo, Júlio. Exceto no que respeita ao Cuca, porque nunca gostei dele. 2x0 é perigosíssimo... O melhor mesmo é o 1x0 no finalzinho...

Abraços Gloriosos!

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