Primeira Fila, coluna de Mário Filho publicada n’ O Globo de 12.08.1942, no 38º aniversário do Botafogo Football Club.
Um talão de recibos fez com que o clube se chamasse Electro. Por economia.
10. Flávio Ramos não quis dizer porquê o clube ia ter aquele nome. O Electro fora um clube fundado pelos Couto, pelos Vianna, Basílio e Paulo, pelos Bastos, Heitor e Álvaro, para animar o esporte das corridas a pé. E fracassara, não durando mais do que uma corrida. A única recordação que existia dele era um talão de uns duzentos recibos. O talão tinha ficado com Alfredo Chaves. E Alfredo Chaves, ouvindo falar em um nome clube, mostrara a melhor boa vontade deste mundo. “Se vocês quiserem, eu darei o talão de recibos. Assim vocês pouparão a despesa de mandar fazer um”. O diabo era que, em cada talão, havia escrito, em letras pretas, o nome “Electro Clube”. “Por que vocês não aproveitam o nome?” “É que Electro…”. “Electro, até, é um nome moderno. Cheirando a civilização. E depois que nome vocês têm melhor do que Electro?”. Emanuel Sodré tratou de arranjar um. Flávio Ramos, outro. Octávio Werneck quebrou a cabeça, e nada. “Será Electro mesmo”. O nome era feio. Mas era econômico.
A fundação do Botafogo com um “nome moderno”. Os candidatos da chapa oficial votaram em si mesmos. Senão quem votaria neles?
11. Estava tudo combinado. A chapa da primeira diretoria do Electro foi feita em páginas de caderno de colégio. Lia-se, escrito pela mão nervosa de Jacques Raymundo: para presidente, Flávio Ramos. E, depois, vinha a lista. O vice-presidente ia ser Emanuel Sodré. Jacques Raymundo, pela meticulosidade, o secretário. Álvaro Werneck tomava conta do dinheiro das mensalidades – pagava-se três mil réis por mês – e das subscrições, como tesoureiro. Para diretor de esportes e capitão: Octávio Werneck. Quase não havia necessidade de eleição. Havia necessidade, porém, de uma cerimônia qualquer. Por isso carregou-se uma mesa para o fundo da casa velha do conselheiro Saraiva. E cadeirinhas de palha, também. Os fundadores – era a tarde de 12 de agosto de 4 – encontraram escancarado o portão que dava para o largo dos Leões. Era só atravessar o quintal. Junto do muro da casa de Máximo Pereira via-se um tanque de lavar roupa. E, quase pegado a ele, uma escada de madeira. Íngreme. Subiu-se por ela, com cuidado. Lá em cima abria-se uma porta dando para um quarto amplo do “puxado” para empregados. Foi aí onde se reuniram os fundadores do Botafogo. Flávio Ramos assumiu a presidência da mesa e Jacques Raymundo redigiu a ata. Em uma folha de papel almaço, Flávio Ramos surpreendeu-se votando nele para presidente. Os candidatos tinham que fazer isso. Senão, quem os elegeria?
FIM da publicação de 12.o8.1942 – segue-se a publicação de 15.08.1942.
Fonte: Blogue Arquiba Botafogo, de Paulo Marcelo Sampaio.
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