Primeira Fila, coluna de Mário Filho publicada n’ O Globo de 15.08.1942, no 38º aniversário do Botafogo Football Club.
5. O barão de Werneck escutou o filho. Estava indo muito bem. Mas era preciso esperar que o circo fosse embora. “E quando o circo vai embora?” O barão de Werneck não sabia. Só sabia que o Spinelli pagava cento e cincoenta mil réis por mês, de aluguel. “Vocês, para ficarem com o terreno, terão que pagar, também”. “Papai…’’ “Não tem, papai. Eu não vou dar um terreno assim, sem mais nem menos. E logo um terreno com renda fixa”. O barão abriu uma pausa. E depois sugeriu um outro terreno. “Eu tenho um, mais para cá, menor, que não me da renda nenhuma. Pois tomem conta dele”. Octávio Werneck já tinha andado por lá. “Não chega, papai. Só dá para bater bola.”. Era um terreno de trinta metros por vinte. Nos fundos de uma casa. “O que a gente pode fazer - explicou ele ao “velho” - é aproveitar o terreno menor para treinos, enquanto o circo não sai”. O barão de Werneck concordou. Avisando, porém, que cobraria um aluguel. E Octávio Werneck sorriu por dentro. “Vá esperando”. Seria até engraçado passar um calote no “velho”.
6. Os bate-bolas passaram a ser no campo pequeno da rua Conde de Irajá. Duas pedras de paralelepípedos serviam como balizas. Os jogadores apareciam uniformizados. Todas as tardes, voltando das aulas, eles iam trocar de roupa no “puxado” da casa em ruínas do conselheiro Gonzaga. E apareciam no largo de calções, camisas brancas, meias compridas - Flávio Ramos desistira das meias cor de abóbora - e de shooteiras. As travas cantavam no cimento da calçada. E uma ou outra janela se abria. Despertada pelo rumor de tropel. Atravessava-se o largo. Dobrava-se a esquina de Conde de Irajá e chegava-se logo ao campo. Nada de teams. Era defesa contra ataque. Bola fora do ataque significava goal a favor da defesa. E os dias foram passando. O Circo Spinelli não ia ficar lá toda a vida, ia? E, para que ele fosse embora mais depressa, Flávio Ramos, os Werneck, os Sodré, os Figueiredo, todo o Botafogo, deixaram de ir ao circo. Se o Spinelli não queria quebrar, precisava dar o fora.
Fonte: Blogue Arquiba Botafogo, de Paulo Marcelo Sampaio.
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