sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A vocação do erro


O meu querido amigo Luiz Sergio Cunha publicou um excelente artigo no dia 12 de novembro subordinado ao título ‘Para conhecimento de jovens torcedores’, no qual me revejo e reconheço (rubrica 'colunistas' no sítio http://www.torcedorbotafoguense.com.br). O texto é notável e muito me orgulho da nossa ética e responsabilidade perante a sociedade ao longo do tempo, não pactuando com tudo aquilo que estiola e degrada as sociedades.

Luiz Sergio tomou por padrão Octávio Pinto Guimarães, benemérito botafoguense, que fez parte de muitas diretorias do Glorioso e foi presidente da Federação Carioca de Futebol (FCF), entre 1967 e 1978, e da sucessora Federação de Futebol do Rio de Janeiro (FFRJ), da qual também foi presidente entre 1979 e 1985. E o nosso ilustre botafoguense seguiu no ano seguinte, e até 1989, como presidente da CBF, cujo cargo abandonou por doença e faleceu em 1990.

Isto significa que durante 22 anos ele foi mandatário do futebol carioca e durante mais 3 anos foi mandatário do futebol brasileiro, tendo o seu clube de coração amargado um jejum de 21 anos sem títulos oficiais justamente nesse período.

O que significa isso? – pergunta Luiz Sergio.

Para o nosso amigo significa várias coisas, em suas próprias palavras:

(1)   Que temos autoridade para protestar contra os favorecimentos, porque quando tínhamos o poder utilizamos sempre a improbidade e jamais beneficiamos causas próprias.

(2)  Que o Botafogo sempre foi um exemplo de conduta moral desde pelo menos 1911, quando no caso Delamare preferiu abandonar o campeonato do qual éramos campeões para defender o ‘nosso’ Delamare, e enquanto outro clube carioca perdeu nove dos seus titulares para não correr riscos nenhum jogador do Botafogo saiu – o que para Luiz Sergio evidencia, provavelmente, a mais extraordinária de todas as atitudes do nosso futebol, mostrando o nosso ‘caráter’.

(3)  Que as nossas conquistas – não sendo notáveis em campo –, são excecionais fora dele e ninguém é mais exemplo que o nosso clube.

Finalmente, o meu bom amigo interroga-se retoricamente: Não é admirável que um clube fique 21 anos sem ganhar um campeonato estadual, tendo um seu benemérito como o poderoso da Federação?

É, Luiz Sergio. É.

Mas eu interrogo-me: Não é admirável que o Fluminense esteja a comemorar a conquista do campeonato brasileiro quando certos sítios esportivos contabilizam os erros das arbitragens – ‘clamorosos’ em alguns casos – e concluam que o Atlético Mineiro deveria estar em 1º lugar?

E torno a interrogar-me: Não é admirável que pelo menos desde 2005 provavelmente nenhum dos campeões deveria tê-lo sido se suprimissemos os erros ‘clamorosos’ das arbitragens (gols indevidamente validados ou invalidados, penalidades máximas indevidamente assinaladas ou omitidas, marcação ou omissão de faltas perigosas perto da grandes áreas, expulsões injustas ou omissão das justas)?

E permaneço nas minhas interrogações: Não é admirável que o Botafogo deveria ter mais uns quantos títulos estaduais, mas no registro histórico eles pertencem a outros clubes? Não é admirável que o Botafogo deveria ter mais títulos nacionais, mas no registro histórico pertencem a outros clubes?

Certamente que comemorarei, se um dia isso ocorrer, embora contrariado, um título resultante de erros de arbitragem, mas apenas se entrar na categoria ‘erro simples’ ou ‘erro humano’, jamais no ‘erro grosseiro’ visto por todos no estádio. Neste último caso seria um título com sabor amargo. Por isso os botafoguenses não querem títulos ‘oferecidos’ ou fruto de absoluta e descomunal incompetência, mas saborosos títulos ‘conquistados’ justamente – e por isso todo o texto do Luiz Sergio faz sentido.

Porém, há algo que me espanta nos botafoguenses: é que quando os botafoguenses estão/estiveram no poder, como nesse período tão ruim da nossa história citado pelo Luiz Sergio, não conseguem impor a ética e a responsabilidade social exigidas de modo a anular esses ‘erros clamorosos’, sejam por má-fé, incompetência ou qualquer outra razão, já que em qualquer caso existe uma necessidade imperiosa de uma grande e monumental vassourada em se tratando de futebol profissional no qual as pessoas trabalham duro durante toda uma semana para obter resultados justos com o seu trabalho no fim-de-semana futebolístico, e ao fim e ao cabo são desrespeitadas por decisões inacreditáveis em campo. Para já não falarmos de decisões absolutamente inimagináveis emitidas fora de campo por via administrativa ou judicial.

Havendo um botafoguense em cargos da maior relevância de tão importantes instituições e tendo nós sido prejudicados tão intensamente como fomos durante 21 anos sem que tenham sido anulados erros sucessivos ano após ano, como avaliar a qualidade da gestão seguida e as características dos processos ocorridos?... Seremos nós inocentes?... Temerosos?... Inócuos?... Incompetentes?... – às vezes me pergunto seriamente quem somos nós, botafoguenses.

E durante essas minhas cogitações ocorre-me muitas vezes pensar que nos aproximamos perigosamente da figura de Dom Quixote de La Mancha, envolvido em aventuras tão fantasiosas quanto desmentidas pela realidade multidimensional da vida.

E se pensar num Dom Quixote botafoguense me ocorre apenas às vezes, a verdade é que me ocorre sempre a frase de um dos mais ilustres intelectuais botafoguenses, Augusto Frederico Schmidt:

O Botafogo tem a vocação do erro.

4 comentários:

Gil disse...

Rui,

Mais uma vez Perfeito!!!

Temos, também, os erros grosseiros favoráveis a um certo time, que o livrou(a) do rebaixamento por diversos anos.

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

luiz sergio cunha disse...

RUI,

cabe ainda citar que foi mimi sodré o primeiro jogador no futebol brasileiro a falar para o árbitro que seu fora virregular, pois tinha posto a mão na bola e lhe pediu para anulá-lo, mo que foi atendido.

abraços,

LSCUNHA

Ruy Moura disse...

´R verdade, Gil, especialmente a esse time. Mas há outros que em geral são reiteradamente beneficiados. Coincidências...

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Exato, Luiz. Mimi é por isso distinguido no Botafogo como o seu atleta exemplo.

Mas há muito mais nesta saga de gente extraordinária: Flávio Ramos, nos anos 30, gritou ao árbitro, a partir da arquibancada, para que expulsasse um jogador do Botafogo - seu próprio clube que fundara - por violência em campo contra o adversário.

Tudo isso me faz ser botafoguense. Mas... bem... Se estivesse em cargos de influência certamente que não permitiria que o Botafogo fosse prejudicado e tudo faria internamente, e proclamaria externamente, para travar injustiças, fossem quais fossem. A não ser que alinhasse em certos 'jogos de bastidores' para sobreviver no meio.

Porque uma coisa é pedir para anular um gol que fiz com a mão e evidenciar ética; outra coisa é calar-me vendo a adversário fazer gol com a própria mão na minha baliza...

E nós calamo-nos tantas vezes... Por isso me interrogo quem somos nós, botafoguenses. Resmungamos e berramos como o Pato Donald, mas mantemo-nos tão pobres de títulos importantes como ele de dinheiro.

E decididamente nunca fui fã da figura de Dom Quixote.

Abraços Gloriosos.

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