segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Entrevista exclusiva a Jairzinho


No âmbito da parceria Mundo Botafogo e BrahmaFogo foi assumida uma entrevista exclusiva de Jairzinho para o Mundo Botafogo, que só agora foi possível publicar. Fecho de ano com chave de ouro.

A entrevista foi construída exclusivamente com base em perguntas enviadas pelos leitores do Mundo Botafogo. Eis a entrevista integral:

1. Em 1958, aos 14 anos o Jairzinho era gandula do Botafogo quando a equipa tinha craques como Garrincha, Didi, Nilton Santos, Amarildo, Quarentinha e Zagallo.

P: Como foi a sua chegada ao clube?

R: Em 1961 cheguei ao Botafogo indicado pelo lateral esquerda reserva do Nilton Santos, Lucas.

P: Como era ser gandula e conviver com tais craques?

R: Nunca fui gandula, apenas fui morar na Rua General Severiano. Em minhas horas vagas eu e meus colegas pulávamos o muro para jogar peladas atrás dos gols.

P: Pode contar-nos uma história vivida por si nesse tempo?

R: No meu primeiro dia de teste na categoria juvenil o porteiro que ficava na Rua General Severiano com o nome Doroteo, não permitiu a minha entrada. Eu tinha que começar entrando pela entrada principal do Botafogo.

2. Três anos depois tornou-se campeão carioca juvenil ao lado de grandes promessas como Arlindo e Othon. Ambos tiveram que abandonar precocemente o futebol.

P: Lembra-se bem deles? Quais eram as principais características deles?

R: Arlindo foi para mim um dos melhores meio-campo que eu conheci, Othon foi um grande ponta esquerda nato.

P: Como era a vossa triangulação de ataque nesse tempo?

R: Eu comecei como ponta direita inspirado no meu ídolo Garrincha.

3. Em 1963, aos 19 anos, já tricampeão carioca juvenil foi convocado para o campeonato Pan-Americano.

P: Que emoções sentiu ao tornar-se campeão continental tão jovem?

R: Todo jogador de futebol pretende ser titular dos seus clubes, e ser titular de uma seleção é motivo de muita alegria, tive muita emoção em ser campeão Panamericano também.

P: Qual foi a importância dos craques do Botafogo nessa Seleção?

R: Todos nós levamos prestígio do Botafogo.

4. A sua posição inicial era ponta direita e depois migrou para ponta de lança.

P: Como foi que aconteceu essa mudança?

R: Eu comecei como ponta direita inspirado no Garrincha, mas desde criança procurei jogar em todas as posições de ataque. Mudei de posição com o objetivo de jogar ao lado do meu ídolo e consegui ser ponta de lança.

P: Como viveu essa mudança?

R: Eu vivi esta mudança com muito sucesso.

5. Que sensações e sentimentos ocorreram ao ser expulso de campo numa decisão quando se sabia que o Jairzinho era peça importante do time, como na final da Taça Guanabara em 1968 contra o América?

R: Fiquei triste na decisão em 1968 contra o América, perseguido com maldade pelo árbitro naquele dia.

6. Nesse mesmo ano o Brasil, representado por oito titulares do Botafogo, goleou a Argentina no Maracanã por 4x1, no jogo do olé.

P: Fale-nos desse jogo. Conte-nos pormenores desse olé.

R: Neste jogo Brasil e Argentina, o Botafogo representou o Brasil com a maior parte dos seus titulares. O olé foi a maior exibição que vivi em minha vida. O olé foi dado com 52 passes sem que os jogadores Argentinos tocassem na bola. O olé foi consagrado com o quarto gol da seleção brasileira feito por mim.

7. Em 1972 o Botafogo goleou o Flamengo por 6x0, com três gols da sua autoria.

P: O seu 3º gol foi feito de letra porque estava fácil ou pressentiu que a torcida botafoguenses merecia uma cereja assim no topo do bolo?

R: Em 1972 eu estava vivendo o momento de muita qualidade técnica quando nós jogamos contra o Flamengo, eu fiz três gols e um de letra que aconteceu numa jogada que eu só podia jogar de letra.

P: Como foi vivido esse momento pelos torcedores?

R: Este momento foi vivido pela torcida Botafoguense como uma das maiores goleadas do Botafogo no Flamengo.

8. Em 1969, 1970, 1971 e 1972 o Botafogo era notoriamente o melhor elenco do Rio de Janeiro e do Brasil e um dos maiores do mundo.

P: Como é que se explica o Botafogo não tenha ganho nenhum título estadual e nacional nesses anos? Que reais motivos existiram para essa ausência de títulos?

R: Acidente de percurso.

P: Para si como foi viver esse período sem títulos sabendo-se que em 1970 se sagrou campeão mundial com gols da sua autoria em todos os jogos da Copa do Mundo?

R: Em 1971 fui covardemente atingido pelo Moisés (jogador do Vasco na época ele me deixou sem jogar na metade do ano 1971 até 1972) com uma entrada violenta no meu joelho esquerdo.

9. Apesar dos fabulosos times do Botafogo nas décadas de 1950-60-70, a nossa presença na Taça Libertadores da América foi sempre insignificante.

P: Qual era a relação do Botafogo com a Taça Libertadores da América?

R: O Botafogo e a maioria dos clubes populares do Brasil não se interessava com a taça Libertadores da Américas.

P: Existia muita violência, à semelhança do que ocorreu na Taça de 1973, em especial no jogo contra o Cerro no Paraguai, com a sua expulsão após o tumulto causado pelo árbitro e pelas agressões policiais?

R: Existia sim muita violência, eu fui um dos alvos em um jogo em 1973 entre Botafogo e Cerro no Paraguai.

10. Últimas curiosidades, grande campeão botafoguense e brasileiro:

P: Durante a sua carreira admite que a imprensa como um todo agia de maneira discriminatória em relação ao Botafogo? E hoje, ainda age?

R: Sim, existia e existe até hoje.

P: Qual foi a maior decepção na sua história futebolística?

R: A minha maior decepção e tristeza foi 1966 na copa do mundo na Inglaterra.

P: Qual foi a maior alegria da sua história futebolística?
. 
R: A maior alegria foi ter sido Tri campeão do mundo em 1970 e considerado por muito países como o melhor jogador da copa. Inclusive recebi um convite pelo Governo de Portugal para desfrutar de 10 dias de comemorações com o governo. Recebi também a chave de Portugal com sendo o melhor jogador da copa de 70. Até hoje recebo carinhosamente o título de ‘furacão da copa’, e também o único jogador a ter feito gols em todos os jogos em uma copa do mundo, sendo 6 jogos e 7 gols. 

Imagem: Autoria do nosso amigo MAM.

8 comentários:

Sergio Di Sabbato disse...

Muito boa essa entrevista. Poderia comentar várias coisas, mas vou me deter especificamente na questão da Libertadores e na do melhor jogador da copa de 70 e na de que o Botafogo é perseguido..
O que o Jairzinho fala sobre o Libertadores é a mais pura verdade, pois os times brasileiros nunca se importaram muito com esse torneio e, os que o Botafogo ganhou na Europa foram muito mais importantes e relevantes, embora não sejam oficiais. Muitos torcedores do Botafogo parecem desconhecer esse fato. Além disso, amador como sempre foi o nosso futebol, só as excursões eram capazes de manter um elenco forte. A Libertadores voltou a ganhar importância quando os cathiformes resolveram que queriam ser os "melhores do mundo!
Que Jairzinho e o Gérson foram os melhores jogadores de 70 eu não tenho a menor dúvida. O Furacão foi decisivo, e digo mais, o Brasil seria campeão sem o Pelé, mas não seria sem o Jairzinho. Aliás, o Pelé só foi fundamental em 1 jogo do Brasil: contra o país de Gales em 58. Muito pouco para o "rei do futebol".
Quanto ao Botafogo ser perseguido e sempre ser motivo de chacota, fica evidente uma inveja sem tamanho. Pois se fossemos tão insignificantes, porque seríamos sempre alvo de maledicência de certos setores da imprensa e de outros torcedores. O Botafogo incomoda e incomoda muito, porque somos diferentes e tivemos jogadores que poucos clubes no mundo tiveram.
Rui, não sei onde escrevi o seu endereço postal, por favor, mande pro meu email o seu endereço, pois gostaria de enviar o CD que o Canarinhos de Petrópolis gravaram neste final de ano. É um CD de música Sacra brasileira contemporânea e há uma peça minha, o Salmo VIII. Como seu que você gosta desse tipo de música, ficaria honrado em lhe mandar um CD. Grande abraço e um grande 2013.

Ruy Moura disse...

Também concordo, Sergio. Pouco se ligava à Libertadores e coisa nenhuma à copa intercontinental. Os torneios da época eram muito mais prestigiantes. O único problema, em termos de futuro, é que agora só se contabiliza como 'bom' os torneios oficiais da FIFA e todos os demais declinaram.

Creio que a FIFA poderia fazer um trabalho de catalogação dos torneios que efetivamente reuniam os melhores clubes e atribuir-lhes um título oficial do estilo 'Torneio Mundial'.

Sobre Copas: eu acho que as duplas que desequilibraram no trimundial foram Didi/Garrincha (58), Garrincha/Amarildo (62), Gérson/Jairzinho (70). Pelé realmente é um tricampeão que não contou para quase nada, e outros designados 'campeões' nem sequer jogaram. Os botafoguenses não eram reservas, mas titulares.

Obrigado pela sua deferência quanto à sua música, que muito aprecio. Oportunamente reenviar-lhe-ei o endereço por e-mail.

Feliz ano para si e para todos os que ama.

Abraços Gloriosos!

Chico da Kombi disse...

#

Feliz 2013, caro Rui Moura!

Gloriosas Saudações Alvinegras.

#

Ruy Moura disse...

Obrigado, Chico. Também para si e para os seus.

Abraços Gloriosos!

Aqipossa Informativo disse...

"O seu 3º gol foi feito de letra porque estava fácil ou pressentiu que a torcida botafoguenses merecia uma cereja assim no topo do bolo?"

Ele foi modesto na resposta...

Um abraço Rui,

Mauro.

Ruy Moura disse...

Também concordo, Mauro. Assim como foi cavalheiro ao responder que a falta de títulos entre 1969 a 1972 foi "acidente de percurso"...

Abraços Gloriosos!

Biriba disse...

Rui, a final de 1968 foi o que me fez tornar-me botafoguense -- eu não fui escolhido (rs). Mas a participação do 'Furacão da Copa' em 70 foi muito emocionante e gratificante pra um botafoguense.

Naquela Copa, eu torcia sempre pra que o Caju entrasse em campo. Infelizmente (ou o contrário, se preferirem; eu não prefiro) o técnico era o Zagallo, que deixou dois dos melhores pontas de todos os tempos de fora (o Caju ainda jogou uma pertida, se não me engano, e tenho certeza que fez uma ótima jogada que quase terminou em gol; o Edu nem no banco ficava). E ainda tinha o Roberto, que eu admirava muito. E demorou pra eu descobrir que o Gérson já não era jogador do Botafogo, o que me fez 'curtir' bastante aquela Copa.

Parabéns pela entrevista. Que venham outras.

Saudações botafoguenses!

Ruy Moura disse...

Luiz, o Paulo César jogou dois jogos completos e entrou a substituir atletas em mais dois jogos. O Edu entrou a substituir o Clodoaldo em uma partida. Mas não jogaram a final.

Quanto ao Gérson, ele estava lá pelo que jogara no Botafogo antes...

Também gostava muito do Roberto 'Vendaval'. E... sou um torcedor mais velhote... 1960.

Veremos se consigo mais alguma entrevista. Talvez...

Abraços Gloriosos!

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