segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A inconsistência futebolística

Não podemos esquecer de quem representa o futebol no país. A maior parte dos bons jogadores vai para fora. Você vê uma oscilação que existe em todos os níveis e é difícil manter uma constante. Você vê a dificuldade de um time brasileiro em se manter no top por dois ou três anos. E a gente fala sobre isso em nível competitivo. São tantos jogos em nível fraco, mesmo aqueles envolvendo as equipes que lutam para ficar em cima. […] Em competição de "bom nível", time com campanha irregular não disputaria G-6.” – Paulo Autuori, treinador do Atlético Paranaense.

Efetivamente, Paulo Autuori coloca o dedo em cima das feridas que sangram no futebol brasileiro. Do topo do mundo em 1970 chegou-se abaixo da linha mediana do futebol em comparação com os continentes europeu e sul-americano. O futebol brasileiro tem péssimos dirigentes – confederativos, federativos e clubistas –, treinadores que não evoluem, árbitros incapazes, medicina desportiva ineficiente, juízes de tribunal parciais, jornalistas sem competência nem ética, e somente o celeiro de jogadores continua a funcionar, mas – como sugere Autuori – emigram para a Europa os melhores e para outros ‘futebóis’ os medianos, restando maioritariamente os mais frágeis a disputar o campeonato brasileiro.

Quando um fraco Camilo se torna CaMITO… Ou Luís Henrique se torna xodó… Ou Sassá é o artilheiro… Enfim… Desculpem-me os torcedores mais novos, mais eu vi jogar no Botafogo gente a sério: Didi, Nilton Santos, Garrincha, Amarildo, Zagallo, Quarentinha, Othon, Arlindo, Manga, Parada, Bianchini, Sicupira, Gérson, Ferretti, Jairzinho, Roberto, Paulo César Lima… Ou mesmo gente como Carlos Roberto, Afonsinho, Nei Conceição, Mendonça, Marinho Chagas, Mauro Galvão, Túlio Maravilha…

Aparentemente, os torcedores permanecem de costas voltadas à pobre realidade do futebol brasileiro, aparentemente conformados com a miséria futebolística dos dias de hoje. Ficam contentes em o seu clube ganhar meia dúzia de jogos e perder quase outros tantos, subir um pouco na classificação para logo descer e, sobretudo, continuam se focando em zoações banais, a maioria delas rotineiras, repetitivas e sem imaginação: o Vasco é sempre vice, o Flu é sempre flores, o Fla é sempre freguês da polícia, o Bota é sempre sem torcida…

Na verdade, a maioria dos torcedores parece não se preocupar com o que é verdadeiramente importante: ver o seu Clube política e financeiramente estável, prestigiado na sociedade pelos seus comportamentos éticos exemplares, dotado de uma estrutura administrativa eficiente e de uma estrutura desportiva eficaz, profissionalizado na gestão como os maiores clubes europeus, enfim, um Clube com futuro e glória à vista.

A inconsistência referida por Autuori é flagrante: o São Paulo foi tricampeão brasileiro (!) há oito anos e sumiu-se do Brasileirão; o Cruzeiro torna-se bicampeão e logo anda na zona de rebaixamento; o Vasco da Gama vai e vem entre a 1ª e a 2ª divisão; o Flamengo não desce por favor; o Fluminense foi campeão em um ano e no outro safou-se da descida na última rodada; o ‘campeão de tudo’ anda este ano periclitante nos lugares mais baixos da tabela classificativa; o Botafogo, forte candidato à descida, bastou-lhe mudar de treinador e é candidato à Libertadores…

As palavras de Paulo Autuori são o respaldo para o que nunca desistirei de fazer neste blogue: colocar em perspectiva crítica o nosso Clube, a sua vida e os seus caminhos, os seus objetivos e as suas ambições, até que estejamos perante um Clube seriamente empenhado em resgatar a Grandeza de outrora.

Estou certamente muito contente com os resultados nacionais obtidos nos últimos anos pelo remo e pelo pólo aquático – duas seções muito bem dirigidas – e com o 5º lugar do futebol no campeonato brasileiro, apesar de a gestão permanecer amadora, embora empenhada. Porém, não darei tréguas ao nosso Clube na construção do seu futuro, porque é a crítica séria, empenhada, feita simultaneamente com a razão e com a emoção clubista que efetivamente serve os interesses do Botafogo – e não a omissão e a subserviência, seja de má ou boa fé.

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