quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Botafogo 1x0 Internacional

A partir deste jogo o Botafogo já fala abertamente na Libertadores. Foi correta a posição de Jair eximindo-se a comentar o assunto extemporaneamente, tirou o peso de responsabilidade excessiva de cima dos jogadores – porque na verdade o que todos esperávamos era um final difícil para nós face à equipe de Ricardo Gomes – e segue padrões bastante evoluídos de comportamento face aos comportamentos rudimentares da maioria dos treinadores e jogadores brasileiros atuando no país. Reitero que gosto das suas atitudes.

Jair segue a fórmula de que “em equipe que está ganhando não se mexe”. Nunca concordei inteiramente com a frase, porque a vida – toda a nossa ida – é movimento, e se não se mexe nela, declina, definha e morre. Mas compreendo – e até apoio – que Jair, treinador jovem, não queira arriscar ‘invenções’ típicas de muitos treinadores, habitualmente bem acusados pelos torcedores como “estando a inventar” e acabando por perder os jogos.

Jair mantém a mesma equipe, insistindo inclusive na escalação de Vinícius Tanque que nem sub-20 devia jogar pelo Botafogo, dispõe equilibradamente as posições dos jogadores, ‘cozinha’ o adversário durante a primeira etapa, faz uma marcação muito forte, tira-lhe o estímulo de correr pelo campo fora provocando erros nossos, anula o aguilhão atacante e encaixa-o no nosso próprio esquema tático adormecendo o adversário.

Na segunda parte avança novamente com Sassá e Rodrigo Pimpão, procurando desorientar o adversário com arrancadas mais rápidas em contra-ataque, e acaba por ter a sorte que procura agindo em seu favor, especialmente nos dois últimos jogos com gols na parte final da partida usando de contra-ataque.

Não discuto, por agora, as opções Tanque (péssimo) na primeira parte e Sassá (que não está fisicamente a 100% ainda) e Pimpão na segunda parte, constatando apenas a filosofia e a dinâmica de jogo de Jair, que se fecha bem na defesa e explora como pode o contra-ataque.

Interrogar-se-ão os leitores: porque razão o comentário se centra em Jair e não nos atletas? Bem… em cada setor temos atletas que têm feito a diferença: um Sidão surpreendentemente muito bom – com direito a ser também nosso ‘paredão’ –,  um Carli seguríssimo e também muito responsável pelos nulos na nossa baliza, um Airton bem organizador, um Camilo às vezes, e mais à frente Sassá e Rodrigo Pimpão.

Pois… Mas… repare-se que o elenco à disposição de Jair é o mesmo que tinha Ricardo Gomes com a agravante de aumento de lesões em atletas mais significativos no plantel titular, e os resultados são radicalmente diferentes. De décimo sétimo lugar e fortemente ameaçados por mais uma degola, galgamos para a quinta ou a sexta colocação.

O diferencial é, claramente, Jair Ventura. É justo dizê-lo.

E satisfaz-me o seu desempenho por duas razões fundamentais:

(a) Sempre fui muito crítico de Cuca no Botafogo – treinador que considero atualmente de qualidade muito melhorada – porque nunca soube montar defesas boas quando foi nosso treinador. Lembro-me de ele dizer textualmente que “montar defesa era fácil, difícil era criar um bom ataque”. Ora, sempre me questionei: se era fácil porque não o fez? se era fácil porque teve tantos empates de 2x2 (muitos dos quais após estar ganhando por 2x0), empates de 3x3 e até chegou a empatar por 4x4? A equipe jogava bem no ataque, mas perdia os títulos na defesa, e muitas e muitas vezes referi, no espaço deste blogue, que uma equipe constrói-se a partir do goleiro e da defesa, não o contrário. Nenhuma equipe que conquiste títulos significativos faz isso. O futebol de ataque faz-se salvaguardando a retaguarda…

(b) Já defendi várias vezes neste espaço, nas últimas semanas, que o esquema de Jair é manter a defesa fechada, hibernar o adversário e surpreendê-lo na segunda parte com o gol vitorioso em cima de erros do adversário, numa equipe que, no segundo turno, ganhou cinco vezes por 1x0 e apenas duas vezes por 2x0 e uma vez por 3x0. Efetivamente, com equipes tão ruins no campeonato, Jair sabe que até ao último minuto, e especialmente nos últimos minutos face a maior desgaste, os adversários cometem erros fatais, geralmente em contra-ataques nossos, que aproveitamos.

E Jair faz isso porque sabe, obviamente, que a equipe é frágil tecnicamente e só pode jogar para ganhar fechando-se na defesa e explorando erros do adversário. Considero isso bastante inteligente face aos meios que o técnico dispõe.

Temos, assim, a defesa menos vazada do segundo turno, apenas com três gols sofridos. O problema é que as nossas três derrotas foram justamente por 1x0 com esses três gols sofridos, o que pode significar que não temos capacidade de marcar após sofrermos o primeiro gol, já que isso desmancha completamente o nosso esquema de jogo: nessas circunstâncias é preciso não jogar no contra-ataque, não esperar pelo erro adversário, mas partir para cima do antagonista, sufocá-lo, provocar-lhe o erro e marcar. E para isso não temos claramente capacidade.

E é por não termos essa capacidade que, desde já, alerto para o caso de uma eventual classificação para a Libertadores: com esta equipe seremos eliminados muito provavelmente na fase de grupos, e com novo vexame.

Não nos devemos esquecer, a título de exemplo, que tempos atrás Sassá no banco era considerado pela torcida como um desperdício e uma opção de substituição a menos, enquanto hoje essa mesma torcida não compreende que Sassá esteja no banco e não seja titular... [Nota: apesar de possuir pouca técnica, sempre gostei da movimentação e da capacidade de luta de Sassá, tendo apoiado a sua permanência quando isso esteve em causa.]

Quer isto dizer, e vou escrevê-lo pela segunda vez, que a diretoria precisa iniciar desde já a preparação da temporada de 2017, porque, como todos sabemos, a nossa gestão de contratos dos atletas é manifestamente má (Arão, Luís Henrique, Diogo…) e a maioria esmagadora termina contrato em dezembro, sendo poucos os que deviam ficar e muitos os que devíamos atrair para o nosso lado.

Porém, como provavelmente iremos em busca do custo zero, quer isso dizer que já devíamos ter ‘olheiros’ a descobrir jogadores com algum talento para integrar os nossos quadros.

Feliz pelos resultados do segundo turno (8 vitórias e 3 derrotas), temo que as aquisições de Antônio Lopes sejam parecidas com as últimas: em cinco estrangeiros temos um zagueiro muito bom e quatro nulidades.

Apoiando a equipe que merece a nossa gratidão pelo esforço que fazem em cumprir em campo os planos da semana, devemos manter os olhos bem abertos para o futuro imediato com atitudes simultaneamente ambiciosas, exigentes e participativas.

Avante, Glorioso!

FICHA TÉCNICA
Botafogo 1x0 Internacional
» Gols: Sassá, aos 84’
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 12.10.2016
» Local: Arena Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ)
» Público: 9.087 pagantes
» Renda: R$ 196.750,00
» Árbitro: Marielson Alves Silva (BA); Assistentes: Kléber Lúcio Gil (SC) e Guilherme Dias Camilo (MG)
» Disciplina: cartão amareloCarli, Airton, Vinícius Tanque (Botafogo) e William e Paulão (Internacional)
» Botafogo: Sidão, Alemão, Carli, Emerson e Victor Luís; Airton, Dudu Cearense (Rodrigo Pimpão), Rodrigo Lindoso e Camilo; Neilton (Nuñez) e Vinícius Tanque (Sassá). Técnico: Jair Ventura.
» Internacional: Danilo Fernandes, William, Paulão, Eduardo e Ceará (Geferson); Anselmo e Rodrigo Dourado; Valdivia (Eduardo Sasha), Alex (Seijas) e Gustavo Ferrareis; Vitinho. Técnico: Celso Roth.

2 comentários:

marlon disse...

Belíssima análise, caro Rui!

Ruy Moura disse...

Fico contente que tenha gostado, Marlon, e que haja partilha de ideias.

Abraços Gloriosos.

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