A partir deste jogo o Botafogo já
fala abertamente na Libertadores. Foi correta a posição de Jair eximindo-se a comentar
o assunto extemporaneamente, tirou o peso de responsabilidade excessiva de cima
dos jogadores – porque na verdade o que todos esperávamos era um final difícil
para nós face à equipe de Ricardo Gomes – e segue padrões bastante evoluídos de
comportamento face aos comportamentos rudimentares da maioria dos treinadores e
jogadores brasileiros atuando no país. Reitero que gosto das suas atitudes.
Jair segue a fórmula de que “em equipe
que está ganhando não se mexe”. Nunca concordei inteiramente com a frase, porque
a vida – toda a nossa ida – é movimento, e se não se mexe nela, declina,
definha e morre. Mas compreendo – e até apoio – que Jair, treinador jovem, não
queira arriscar ‘invenções’ típicas de muitos treinadores, habitualmente bem acusados
pelos torcedores como “estando a inventar” e acabando por perder os jogos.
Jair mantém a mesma equipe,
insistindo inclusive na escalação de Vinícius Tanque que nem sub-20 devia jogar
pelo Botafogo, dispõe equilibradamente as posições dos jogadores, ‘cozinha’ o
adversário durante a primeira etapa, faz uma marcação muito forte, tira-lhe o
estímulo de correr pelo campo fora provocando erros nossos, anula o aguilhão
atacante e encaixa-o no nosso próprio esquema tático adormecendo o adversário.
Na segunda parte avança novamente
com Sassá e Rodrigo Pimpão, procurando desorientar o adversário com arrancadas
mais rápidas em contra-ataque, e acaba por ter a sorte que procura agindo em
seu favor, especialmente nos dois últimos jogos com gols na parte final da
partida usando de contra-ataque.
Não discuto, por agora, as opções
Tanque (péssimo) na primeira parte e Sassá (que não está fisicamente a 100% ainda) e Pimpão na segunda parte, constatando apenas
a filosofia e a dinâmica de jogo de Jair, que se fecha bem na defesa e explora como pode o
contra-ataque.
Interrogar-se-ão os leitores: porque
razão o comentário se centra em Jair e não nos atletas? Bem… em cada setor
temos atletas que têm feito a diferença: um Sidão surpreendentemente muito bom –
com direito a ser também nosso ‘paredão’ –, um Carli seguríssimo e também muito responsável
pelos nulos na nossa baliza, um Airton bem organizador, um Camilo às vezes, e
mais à frente Sassá e Rodrigo Pimpão.
Pois… Mas… repare-se que o elenco à
disposição de Jair é o mesmo que tinha Ricardo Gomes com a agravante de aumento
de lesões em atletas mais significativos no plantel titular, e os resultados
são radicalmente diferentes. De décimo sétimo lugar e fortemente ameaçados por
mais uma degola, galgamos para a quinta ou a sexta colocação.
O diferencial é, claramente, Jair
Ventura. É justo dizê-lo.
E satisfaz-me o seu desempenho por
duas razões fundamentais:
(a) Sempre fui muito crítico de
Cuca no Botafogo – treinador que considero atualmente de qualidade muito melhorada
– porque nunca soube montar defesas boas quando foi nosso treinador. Lembro-me
de ele dizer textualmente que “montar defesa era fácil, difícil era criar um bom
ataque”. Ora, sempre me questionei: se era fácil porque não o fez? se era fácil
porque teve tantos empates de 2x2 (muitos dos quais após estar ganhando por
2x0), empates de 3x3 e até chegou a empatar por 4x4? A equipe
jogava bem no ataque, mas perdia os títulos na defesa, e muitas e muitas vezes
referi, no espaço deste blogue, que uma equipe constrói-se a partir do goleiro
e da defesa, não o contrário. Nenhuma equipe que conquiste títulos
significativos faz isso. O futebol de ataque faz-se salvaguardando a retaguarda…
(b) Já defendi várias vezes neste
espaço, nas últimas semanas, que o esquema de Jair é manter a defesa fechada, hibernar
o adversário e surpreendê-lo na segunda parte com o gol vitorioso em cima de
erros do adversário, numa equipe que, no segundo turno, ganhou cinco vezes por
1x0 e apenas duas vezes por 2x0 e uma vez por 3x0. Efetivamente, com equipes
tão ruins no campeonato, Jair sabe que até ao último minuto, e especialmente
nos últimos minutos face a maior desgaste, os adversários cometem erros fatais,
geralmente em contra-ataques nossos, que aproveitamos.
E Jair faz isso porque sabe,
obviamente, que a equipe é frágil tecnicamente e só pode jogar para ganhar
fechando-se na defesa e explorando erros do adversário. Considero isso bastante
inteligente face aos meios que o técnico dispõe.
Temos, assim, a defesa menos vazada
do segundo turno, apenas com três gols sofridos. O problema é que as nossas
três derrotas foram justamente por 1x0 com esses três gols sofridos, o que pode
significar que não temos capacidade de marcar após sofrermos o primeiro gol, já
que isso desmancha completamente o nosso esquema de jogo: nessas circunstâncias
é preciso não jogar no contra-ataque, não esperar pelo erro adversário, mas
partir para cima do antagonista, sufocá-lo, provocar-lhe o erro e marcar. E para
isso não temos claramente capacidade.
E é por não termos essa capacidade
que, desde já, alerto para o caso de uma eventual classificação para a
Libertadores: com esta equipe seremos eliminados muito provavelmente na fase de
grupos, e com novo vexame.
Não nos devemos esquecer, a título de exemplo, que tempos atrás Sassá no banco era considerado pela torcida como um desperdício e uma opção de substituição a menos, enquanto hoje essa mesma torcida não compreende que Sassá esteja no banco e não seja titular... [Nota: apesar de possuir pouca técnica, sempre gostei da movimentação e da capacidade de luta de Sassá, tendo apoiado a sua permanência quando isso esteve em causa.]
Quer isto dizer, e vou escrevê-lo
pela segunda vez, que a diretoria precisa iniciar desde já a preparação da
temporada de 2017, porque, como todos sabemos, a nossa gestão de contratos dos
atletas é manifestamente má (Arão, Luís Henrique, Diogo…) e a maioria
esmagadora termina contrato em dezembro, sendo poucos os que deviam ficar e
muitos os que devíamos atrair para o nosso lado.
Porém, como provavelmente iremos em
busca do custo zero, quer isso dizer que já devíamos ter ‘olheiros’ a descobrir
jogadores com algum talento para integrar os nossos quadros.
Feliz pelos resultados do segundo
turno (8 vitórias e 3 derrotas), temo que as aquisições de Antônio Lopes sejam
parecidas com as últimas: em cinco estrangeiros temos um zagueiro muito bom e
quatro nulidades.
Apoiando a equipe que merece a
nossa gratidão pelo esforço que fazem em cumprir em campo os planos da semana,
devemos manter os olhos bem abertos para o futuro imediato com atitudes simultaneamente
ambiciosas, exigentes e participativas.
Avante, Glorioso!
FICHA TÉCNICA
Botafogo 1x0 Internacional
» Gols: Sassá, aos 84’
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 12.10.2016
» Local: Arena Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ)
» Público: 9.087 pagantes
» Renda: R$ 196.750,00
» Árbitro: Marielson Alves Silva (BA); Assistentes: Kléber
Lúcio Gil (SC) e Guilherme Dias Camilo (MG)
» Disciplina: cartão
amarelo – Carli, Airton,
Vinícius Tanque (Botafogo) e William e Paulão (Internacional)
» Botafogo: Sidão, Alemão, Carli, Emerson e
Victor Luís; Airton, Dudu Cearense (Rodrigo Pimpão), Rodrigo Lindoso e Camilo;
Neilton (Nuñez) e Vinícius Tanque (Sassá). Técnico: Jair Ventura.
» Internacional: Danilo Fernandes, William, Paulão,
Eduardo e Ceará (Geferson); Anselmo e Rodrigo Dourado; Valdivia (Eduardo Sasha),
Alex (Seijas) e Gustavo Ferrareis; Vitinho. Técnico: Celso Roth.
2 comentários:
Belíssima análise, caro Rui!
Fico contente que tenha gostado, Marlon, e que haja partilha de ideias.
Abraços Gloriosos.
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