Em campo, o tetracampeão não era gênio. Mas
sempre marcou belos gols, ajudando o Fogão a conquistar o Carioca de 1961/62 e
o Rio-São Paulo de 1962, 64 e 66. Quando encerrou a carreira de atleta, começou
a trilhar o caminho de técnico vencedor no Botafogo, ao conquistar de cara seu
primeiro título em 1967.
por
ARMANDO CALVANO
Revista
Placar, edição nº 1242, Set/2002, retomando reportagem de 1985.
Quando
eu assumi a Seleção de 1970 […] alterei todo o plano tático. […]
Nas Eliminatórias o meio-campo era Piazza e Gerson. Jogavam na frente Jairzinho,
Pelé, Tostão e Edu. […] Fiz,
principalmente, uma mudança radical no meio-campo, com a entrada de Clodoaldo e
Rivelino, que estavam no banco. Então, armei o meio-campo com Clodoaldo, Gerson
e Rivelino. Abdiquei, assim, do ponta especialista, no caso, Edu, que cedeu seu
lugar a Rivelino.
A
equipe das Eliminatórias jogava num 4-4-2 e mudei o esquema para o 4-3-.
Coloquei ainda Everaldo na lateral-esquerda e desloquei Piazza do meio campo
para a quarta-zaga. Então, como se pode ver, a mudança foi mesmo radical. […] Evoluíamos quase com a equipe inteira no
ataque, ficando atrás Brito, Piazza e Everaldo. Ficávamos fazendo a marcação
‘três-em-cima-de-dois’, soltando o meio-campo e Carlos Alberto pela direita. […]
Eu
não via [o Tostão] como
centroavante, não acreditava nele no comando de ataque. Ele estava com um
problema muito sério na vista. […]
Mas ele acabou assumindo o comando de ataque e fez tudo naquela Copa. Ele
provou que eu estava errado.
Mas
vamos voltar à atualidade. […] É o
problema de jogar com ponta, jogar sem ponta. […] O Brasil sempre foi campeão do mundo com um falso ponta-esquerda. Eu […] jogava assim e Rivelino fez o mesmo papel
em 1970. […]
Não
importa se há ponta especialista ou não. […] A chave do problema é ter os espaços bem
ocupados tanto na hora de atacar quanto na hora de se defender. Nós temos de
abrir os olhos para o fato de as equipes europeias explorarem os contra-ataques
em alta velocidade. […]
O
futebol brasileiro atravessa um momento difícil nesse duelo com os europeus.
Quando encontramos um bloco rígido pela frente, nós sentimos as dificuldades,
pois nossa técnica caiu muito nos últimos anos. Pode-se anda formar uma boa
Seleção, mas nunca comparável às grandes seleções brasileiras de anos atrás. […]
Importa
é que o time vá para a frente com no mínimo seis jogadores, para abrir
caminhos. […] Jogando assim,
na hora em que perder a posse de bola, o time terá número suficiente de
jogadores na frente para combater a saída de bola do adversário. Evitará desse
modo o contra-ataque tão utilizado pelos europeus. […]
Hoje,
todos os jogadores têm de ter uma dupla função, não importa a posição. Todo
mundo sempre diz que os laterais modernos têm de atacar. Por que os pontas
modernos não têm também de defender? […] Nem mesmo o centroavante, hoje, pode ficar parado. Ele tem de buscar
jogo, tem de brigar. Não existe mais o time de 11 jogadores. Hoje, 11 valem por
22. É a lei do futebol.
Agradecimentos a Mauro Axlace, editor do blogue Aqipossa [https://aqipossa.blogspot.com] que gentilmente cedeu a informação.
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