Foto: Flávio Carneiro; Crédito: Angélica Soares
por FLÁVIO CARNEIRO
Se torcer para um time de futebol é sempre uma aventura, torcer para o Botafogo é um pouco mais do que isso. Nunca se sabe como vai acabar a partida, se é que vai acabar. Aliás, não se sabe exatamente nem como é que vai começar. Quer um exemplo? Essa aconteceu comigo. Em 1996, o time estava disputando a Taça Teresa Herrera, na Espanha, e ia jogar contra o Juventus, da Itália. Só consegui chegar em casa no início do segundo tempo e quando liguei a televisão vi o Juventus com sua camisa tradicional (com listras verticais, brancas e pretas) e o adversário (supostamente o Botafogo) de camisa azul!
Levei um tempo até
entender aquilo. Parecia outro time. Mas não, lá estava o figuraça Túlio
Maravilha, na sua vistosa camisa cor de anil. O que aconteceu: o árbitro achou
que as camisas do Juventus e do Botafogo eram parecidas e fez um sorteio para
ver quem mudava. O Botafogo foi o escolhido. Como não tinha levado uniforme
reserva, pegou emprestadas as camisas do… La Coruña!
Agora me responda com
sinceridade: é normal isso? E o Botafogo ainda foi o campeão do torneio! A
valer a superstição — outro traço típico da torcida botafoguense — o time só
deveria jogar de camisa azul, ou pelo menos só deveria disputar outras vezes
esse torneio com camisa dessa cor.
Por curiosidade,
resolvi investigar se isso já havia acontecido antes. Claro que não me
surpreendi quando descobri que sim, várias vezes.
Alguns exemplos.
Contra o Americano de Campos, em 1923, o time usou — repare bem — o segundo
uniforme do Andarahy Athletico Club! Cor da camisa? Verde! Dez anos depois,
mesma confusão de uniforme e o Botafogo novamente joga com camisas emprestadas,
agora contra o Engenho de Dentro, entrando em campo com camisas vermelhas
(dessa vez sequer se tem registro de quem emprestou o uniforme).
Em 1968, em pleno
Maracanã (portanto com mando de campo naquela partida), o time entra com a
tradicional camisa listrada, o Grêmio também (com a sua de cores preta, branca
e azul) e quem é que vai mudar de uniforme? Adivinha. O Botafogo pega
emprestadas as camisas azuis da Adeg (a associação desportiva do antigo estado
da Guanabara).
Já na década de 70, o
episódio se repete. O estádio é o mesmo Maracanã, o jogo é contra o Paissandu,
de Belém. A Adeg agora virou Suderj, quer dizer, o nome é diferente mas a
função continua a mesma: emprestar camisa para o Botafogo — dessa feita,
amarelas!
Fonte: http://rascunho.com.br/estrela-solitaria
Fonte: http://rascunho.com.br/estrela-solitaria
3 comentários:
Fala Ruy!
Tá vendo por que é sempre bom vir aqui?
As outras nao poderia ter visto, mas não me lembro dessa de 96.
Adorei ler, no fundo é essa parte do esporte que mais cativa. Essa coisa quase amadora.
Depois disso me coloquei a pensar, em 89 depois de um 3x3 com um golaço contra do bom Gonçalves, perguntei a meu pai o seguinte: se trocarmos nossos jogadores por aqueles outros jogadores, temos que torcer pra o outro time.
Meu pai respondeu: - temos que torcer sempre pra nossa camisa.
Eu retruquei: mas papai, é o Zico!
Ele disse: sempre a nossa camisa.
Então estou aqui com 40 anos e esse texto me lançou a outro dilema, Botafogo de azul com a camisa do La Curuna , era o Botafogo ou um grupo de jogadores do Botafogo?
Fiquei confuso amigo Ruy, e não tenho mais meu pai pra perguntar, responde aí! Hahahaha
Uma dúvida aos 10 que me voltou aos 40!
Será um clube a sua camisa? Será um clube o seu escudo? Será um clube a qualidade dos seus atletas? Será um clube os seus títulos? Será um clube a sua torcida? Bem... Um Clube é uma IDEIA!
E as duas ideias que fundaram o Club de Regatas Botafogo e o Botafogo de Fotball e Regatas complementaram-se fabulosamente numa só, pelas circunstâncias de 1942 e pela arte estratégica de Augusto Frederico Schmidt. Não há ideia desportiva igual em todo o mundo!
Grande abraço, Leymir!
Gostava que seu pai fosse vivo. Teria certamente boas histórias pra contar. E também, por exemplo, qual foi a ideia que presidiu à fundação do Flamengo.
Grande abraço!
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