Foto: Flávio Carneiro; Crédito: Angélica Soares
por FLÁVIO CARNEIRO
Fernando Molica é um
botafoguense autêntico, o que equivale a dizer que não regula muito bem da bola
(com o perdão do trocadilho). Repetir (ou não) determinada camisa, rezar para
que, depois de um primeiro tempo ruim, algo o obrigue a mudar de lugar no
estádio (não pode ser por vontade própria, tem que acontecer alguma coisa),
variar (ou não) de amigos na arquibancada, pedir aos céus para ver, no dia do
jogo, alguém com a camisa do Botafogo antes que apareça alguém com a camisa do
adversário são algumas de suas, digamos, estratégias.
O historiador Raul
Milliet Filho, autor de ‘Vida que
segue: João Saldanha e as Copas de 1996 e 1970’, não gosta de ver jogo
do Botafogo na televisão. Diz que prefere o estádio porque dali pode ter uma
ampla visão do campo e analisar taticamente a partida. “Na televisão você o
lance, mas não vê o jogo”, justifica. Tudo bem, mas que pode haver algo
estranho por trás disso, pode. Para alguém que jamais cruza as pernas quando
está vendo jogo do Botafogo, tudo é possível.
Essas histórias todas
levam a crer que, se dependesse de manias, o Botafogo seria campeão mundial
todos os anos, com folga. E por que não é? Porque se trata de tolice, mera
superstição, dirá você, leitor incrédulo. Pois tenho outra hipótese para a
explicação do fenômeno: uma esquisitice atrapalha a outra. Isso mesmo, uma
está anulando a outra. E são tantas que, claro, nos perdemos.
Faço aqui, portanto,
nesse momento histórico, uma proposta que pode devolver ao alvinegro seus dias
de glória: uma uniformização das manias. Se estão aí a querer uniformizar a
língua portuguesa, que façamos também isso, nós que na história já trocamos tantas
vezes de uniforme: uma gramática das manias botafoguenses. Sentar bem no meio
do sofá: certo ou errado? Vestir a meia do avesso na véspera do clássico: certo
ou errado? Entrar de lado na catraca do Maracanã: certo ou errado? Quem sabe
funciona.
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