segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Estrela Solitária (III)


Foto: Flávio Carneiro; Crédito: Angélica Soares

por FLÁVIO CARNEIRO

Talvez por isso, por essa absoluta imprevisibilidade, o Botafogo seja, até prova em contrário, o time que mais combina com quem lida com literatura. Se você, meu amigo ou minha amiga, é poeta, contista, romancista ou exerce a crítica literária e ainda não tem time, não se acanhe: as portas estão abertas. Entre, aperte os cintos e se prepare para embarcar na nave louca!

Não era assim que pensava, por exemplo, o Paulo Mendes Campos? É dele a frase: “Enfim, senhoras e senhores, o Botafogo é um tanto tantã (que nem eu). E a insígnia de meu coração é também (literatura) uma estrela solitária”.

E o Vinícius de Moraes? Diz ele que escolheu torcer pelo alvinegro por um muito nobre motivo: alguns nomes de ruas do bairro de Botafogo. Nomes sublimes, sugerindo belas senhoras: Bambina, Mariana, Clarisse.

Dizem que o poeta, em seus tempos de diplomata, conheceu em Los Angeles o magnata Mr. Buster, arquimilionário que se espantou quando o brasileiro decidiu abandonar o poder e a grana que lhe oferecia o cargo e voltar para o Rio. Mais tarde, Vinícius escreveria um poema criticando a vida de luxo de Mr. Buster e afirmando os motivos de sua decisão. Entre eles: torcer para o Botafogo.

E aí estão escritores contemporâneos que não me deixam mentir. De estilos e gerações variados, eles se espalham pelo país e até pelo exterior, como a Adriana Lisboa, botafoguense por herança paterna, materna e o que mais possa existir, e que hoje espalha a glória do clube no país em que futebol se chama soccer.

Agora, nem a Adriana nem o Luís Fernando Veríssimo têm manias de torcedor, o que é digno de nota em se tratando de botafoguenses. Quer dizer, o Veríssimo só não gosta de falar durante o jogo, mas o Veríssimo não querer falar não chega a ser, convenhamos, uma grande novidade. O que é diferente, no caso, é que ele também não gosta que falem com ele enquanto o Botafogo (ou o seu Internacional) está jogando.

De manias o Jorge Viveiros de Castro diz que se livrou, depois de tantos anos e várias mandingas fracassadas. Tudo bem que continua roendo unha, xingando juiz, mandando algum jogador para aquele lugar, coisas assim, normais. Agora, mania não tem mais não. Cansou. Quer dizer, dia desses ele foi flagrado assistindo a um jogo do Botafogo, na televisão, encostado na parede e plantando bananeira. Jorge explicou que era apenas um exercício de ioga, para amenizar a tensão. Sei.

Fonte: http://rascunho.com.br/estrela-solitaria

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