segunda-feira, 18 de abril de 2022

Botafogo 3x1 Ceará - comentários

Imagem de marca de Erison na comemoração de gols. Crédito: Vitor Silva / Botafogo.

por RUY MOURA

Editor do Mundo Botafogo

A equipe está em construção, ainda tem desfalques e posições por acertar, carece de preparação física e de entrosamento e Luís Castro sabia que o Botafogo ainda não tem condições da impor um modelo de jogo com posse de bola e assertividade atacante, tal como pretende (o técnico falou num mínimo de um mês para conjugar as peças), e montou uma estratégia de anulação do tipo de jogo do Ceará, o que conseguiu durante cerca de 30 minutos na primeira parte e em toda a segunda parte.

Desse modo, o Botafogo começou jogando bastante bem numa partida movimentada. A equipa travou muito bem o Ceará, que não conseguiu sequer chutar a gol até à abertura do placar pelo Botafogo, enquanto a nossa equipe se acercava com mais perigo da área adversária, especialmente em contra ataques, e acabou por marcar um gol, com alguma sorte, através de Victor Sá, aos 17’, a passe de Erison – que iniciou assim uma noite de fulgurante desempenho.

A marcação era bastante forte, mas a saída de bola era apenas mediana porque os passes saíam muitas vezes mal, porventura por falta de entrosamento entre jogadores que pouco jogaram juntos. Patrick de Paula, por exemplo, ainda se mostrava pouco assertivo, tal como Chay, e Saravia viu-se a braços com muitos problemas. E, pouco a pouco, o Botafogo perdeu capacidade a meio campo e não conseguia pressionar a defesa do Ceará que, paulatinamente, foi equilibrando a partida, especialmente a partir dos 30’ de jogo.

Bem organizado e rápido sobre a bola, o Ceará obrigava o Botafogo a fazer faltas perigosas perto da área porque conseguia fazer o cerco à defesa do Botafogo, que não foi capaz de sair da teia e recuou. De tal modo que entre os 35’ e 38’ o Ceará ameaçou seriamente e adivinhava-se o gol do empate. Que surgiu naturalmente, sem apelo nem agravo, porque o adversário impôs maior velocidade, antecipação nas divididas e cerco consistente à área do Botafogo. E se o Ceará não saiu para o intervalo vencendo foi porque se mostrou absolutamente ineficiente no jogo aéreo, já que o Botafogo perdeu todas, ou quase todas, as jogadas aéreas.

Não obstante, tendo o Botafogo dominado a primeira metade e o Ceará a segunda metade do jogo, aceita-se o empate por 1x1 como justo ao intervalo.

E já que estamos em carnaval, e ninguém leva a mal, segue-se os palpites da sapiente imprensa:

O segundo tempo evidenciou uma melhoria muito importante do Botafogo, que afinou a estratégia e a disposição das suas peças em campo, ao contrário de Dorival Júnior cujas substituições – já depois do 2º gol do Botafogo – desarticularam o Ceará, enquanto as do Botafogo cumpriram as intenções do técnico.

O mote para a segunda parte do jogo foi uma bola na trave enviada por Patrick de Paula e um gol anulado a ‘El Toro’ por impedimento, situações que animaram a partida e colocaram o Ceará em sentido. Por outro lado, as substituições no Botafogo aos 57’ surtiram efeito e, finalmente, o Botafogo recolou-se na frente do marcador com uma cabeçada fulgurante de Erison aos 60’ – um excelente oportunista em jogadas de ataque.

Vale a pena realçar, contudo, a enormidade de tempo que o VAR sempre precisa para decidir. É como se andasse à procura de prejudicar uns em benefício de outros. Ou estarão à procura do máximo rigor e serei eu exagerado no comentário?...

Por sua vez, as substituições no Ceará desarticularam a equipe, que se já não levava perigo efetivo à área do Botafogo, então nunca mais conseguiu tomar as rédeas do jogo com proficiência. Nos vinte minutos que se seguiram ao gol o Ceará foi inoperante até que, numa jogada de insistência, Erison serviu Romildo que foi travado em falta na área adversária. Erison bateu a penalidade máxima com enorme precisão junto à trave direita e ampliou o placar para 3x1 – brilhando em dois gols e em passes para o gol de Victor Sá e para Romildo na grande penalidade.

Leitura aconselhada: Erison: a fulminante carreira do Jogador Revelação do Cariocão 2022 

Em suma, na segunda parte o Botafogo soube montar melhor a sua estratégia, deixando a posse de bola ineficiente com o Ceará, recompondo a sua defesa na marcação para não se deixar cercar, tendo Saravia melhorado bastante, assim como Patrick de Paula, que se tornou mais ágil a criar e passar a bola, melhorando a articulação entre as linhas e explorando o contra ataque com mais eficiência nas bolas longas – que na primeira parte foram quase todas perdidas – e evidenciando que já começa a esboçar outros esquemas de jogo

Não obstante, a equipe ainda não se soltou e precisa de tempo para melhorar a defesa na marcação e na bola aérea, maior plasticidade no meio campo, nos lançamentos longos e nas mudanças de flanco e de ritmo, imprimindo mais velocidade nos contra ataques.

Finalmente, uma nota talvez bastante importante: as equipes de Luís Castro costumam sofrer bastantes gols e isso é algo que necessita de ser considerado para o futuro da equipe.

Leitura aconselhada: Luís Castro: a carreira do 1º treinador da SAF Botafogo 

No deve e haver do jogo os resultados afiguram-se favoráveis à evolução da equipe, principalmente tendo em consideração que o Ceará vinha como o ‘papão’ do bicampeão Sul-americano e a possibilidade de segunda derrota era real para uma equipe mais rodada que a do Botafogo.

FICHA TÉCNICA

Botafogo 3x1 Ceará

» Gols: Victor Sá, aos 17’, Erison, aos 60’ e 80’ (pen) (Botafogo); Lima, aos 43’ (Ceará)

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Data: 17.04.2022

» Local: Estádio Governador Plácido Castelo (‘Arena Castelão’), em Fortaleza (CE)

» Árbitro: Raphael Claus (SP); Assistentes: Danilo Ricardo Simon Manis (SP) e Neuza Inês Back (SP): VAR: Rodrigo D’Alonso Ferreira (SC)

» Disciplina: cartão amarelo – Chay, Diego Loureiro, Saravia e Kayque (Botafogo) e Bruno Pacheco (Ceará); cartão vermelho – Lima (Ceará)

» Botafogo: Diego Loureiro; Saravia, Phillipe Sampaio, Kanu e Daniel Borges; Luís Oyama (Barreto), Patrick de Paula (Kayque), Diego Gonçalves (Vinícius Lopes), Chay (Romildo) e Victor Sá; Erison (Lucas Piazon). Técnico: Luís Castro.

» Ceará: João Ricardo; Nino Paraíba, Messias, Luiz Otávio e Bruno Pacheco (Kelvyn); Richardson (Geovane), Richard (Léo Rafael) e Rodrigo Lindoso (Erick); Lima, Zé Roberto (Cléber) e Mendoza. Técnico: Dorival Júnior.

7 comentários:

Sergio disse...

Como sempre uma leitura perfeita do jogo, vimos a mesma partida, logo não vejo necessidade de falar sobre a peleja mas sim da admiração que começo a ter pelo Luís Castro, percebendo que sabe ler o jogo, não fica parado na área técn
ica e parece que potencializa os jogadores. A postura do início do jogo e a do segundo tempo mostra o dedo do treinador. Espero não estar enganado sobre o LC, além disso é uma pessoa de uma educação ímpar, não foge às responsabilidades e admite os erros quando os comete.
Acho que com o tempo e a melhor forma de alguns jogadores acho que o time vai crescer, principalmente na segunda janela.
Melhor ainda foi o ver a imprensa "especializada" no futebol errar de forma unânime, coisa que aliás não é exceção, é regra, como no ano passado decretaram que o Botafogo não subiria e esse ano alguns já decretaram que é candidato ao rebaixamento. Realmente para quem teve a chance de ouvir os comentaristas do passado percebe que essa turma não sabe nada, não são comentaristas mas sim ,"opinólogos" (seria um neologismo?), salvo as raras exceções é claro. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Bom ia, Sergio. Obviamente que Castro não é um técnico de topo. Isso está reservado para os 'gurus' Klopp, Guardiola, Anceloti e outros de nível próximo. No entanto, como eu manifestei aos amigos, é um homem sério, empenhado, estudioso e esclarecido. E reune uma lógica à moda de Textor: tem experiência de grande trabalho realizado nas bases, conhece bem os jogadores brasileiros no trabalho que fez pelo Shakhtar, fala português, é um gentleman e sabe de futebol. Aliás, é uma pena que uma pessoa com a sua categoria pessoal esteja exposto aos opinólogos como já ouvi, que menorizaram o técnico pelos poucos títulos que arrecadou na sua carreira. Fizeram o mesmo com o Jorge Jesus e o Abel Ferreira e viu-se os resultados que eles alcançaram.

Sobre a avaliação ao técnico, ainda é cedo para que eu possa opinar sobre o trabalho por razões várias, entre elas porque precisa de tempo para montar uma equipe que praticamente não se conhece entre si e porque foi apenas a sua primeira aparição oficial no banco. Mas quero acreditar que tenha sucesso nos objetivos traçados. Se ganhar o vestiário e obtiver resultados relativamente depressa, calará as vozes de mal-dizer.

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Um acréscimo, Sergio: vi hoje de manhã a coletiva do Luís Castro e ele representa o tipo de treinador que me agrada como pessoa. Tem uma postura e uma comunicação absolutamente assertiva exatamente como eu gosto. Na verdade, sobre os dois treinadores portugueses que citei, reconheço-lhes determinadas capacidades técnicas, mas não aprecio o excesso de auto vangloriação de J. Jesus nem o excesso de humildade de Abel Ferreira. Castro é assertivo, muito claro, culto e de postura irrepreensível - sem lamechas emocionais.

Abraços Gloriosos.

jornal da grande natal disse...

A imprensa sempre acha que pode advinhar e prevê o futuro. Essa mania tem antiguidade. Em 1966 os sabidos gravaram o tri para o Brasil. Com a eliminação a desculpa: - Pelé foi caçado em campo pelo zagueiro Coluna e Manga falhou. Na verdade a seleção portuguesa engoliu a Amarelinha com jogo rápido, eficiente e passes certeiros para as bolas indefensaveis ao arco do arqueiro botafoguense. Os vídeos não mentem.

Sergio disse...

Ruy, perfeito o que falou sobre o Luís Castro, também acho que não é um técnico de topo, mas inteligente, sabe treinar, é está muito, mas muito a frente dos treinadores brasileiros, aliás todos os portugueses que estão aqui são bem superiores. Essa qualidade da humildade e reconhecimento das qualidades dos adversários também bem chamou a atenção, gostei e gosto muito dele e, suas coletivas têm sido muito boas. Eu que sempre detestei assistir coletivas da maioria dos técnicos que o Botafogo teve ultimamente pois sempre arrumavam desculpas e nunca assumiam às responsabilidades, com o Luís Castro é bem diferente.
Sobre ter poucos títulos me parece que é coisa de opinólogos, pois o Cuca levou anos para conquistar um título importante mas sempre o achei um bom treinador, nenhuma sumidade, mas dos menos ruins que o país tem. Infelizmente nossa mídia é muito ruim e pior, parcial, mas como dizia o João Saldanha " vida que segue"., ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Verdade, José Vanilson. Os torcedores, e outros interessados, encontram sempre um bode expiatório. O primeiro de todos foi o goleiro Barbosa em 1950, quando na verdade não foi surpresa o resultado final porque nesse ano o Uruguai já havia ganho ao Brasil. Estragaram a reputação de Barbosa para não se admitir a derrota justa. Uma enorme injustiça!

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Eu também suporto mal a conversa da maioria dos técnicos de todo o mundo, mas Castro é outra coisa. Já conhecia as suas coletivas do tempo do FC Porto, e sempre gostei dele. Agora, apenas assisti à coletiva de apresentação e à de ontem. A de ontem foi muito superior à primeira porque permitiu falar concretamente da arte de treinar. Foi notável. Completamente diferente da lenga-lenga discursiva de desculpas.

O Cuca era um dos casos em que inevitavelmente os títulos chegariam. Luís Castro tem todas as potencialidades para galgar novos degraus.

Abraços Gloriosos.

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