sexta-feira, 29 de abril de 2022

Fragmentos ‘futebol do botafogo 1966-1970’: campeões sobre Barcelona e arbitragem… [14]

por CARLOS FERREIRA VILARINHO

especialmente para o Mundo Botafogo

sócio-proprietário e historiador do Botafogo de Futebol e Regatas

 [A narração que se segue antecipa o III Volume da coleção, a editar em 2022, e reporta-se ao ano de 1967]

No dia 26 de janeiro de 1967, uma quinta-feira, o Botafogo desembarcou em Caracas para participar da tradicional Pequena Copa do Mundo, que ele disputara em 1952. Agora, os adversários seriam o Barcelona, da Espanha, e o Peñarol, campeão mundial de 1966, que atuaria sem cinco titulares, convocados para defender o Uruguai (futuro campeão) no campeonato sul-americano.

No sábado à noite, o Botafogo só empatou (0x0) quando merecia derrotar o Peñarol por dois gols de diferença, no mínimo. Aos 16 minutos do primeiro tempo, lançado por Roberto, Paulo Cézar abre a contagem, mas o soprador local, Angel Ortega, anula o tento legítimo, acusando impedimento inexistente de Airton. Aos 20, Roberto é derrubado na área, mas o juizinho “não vê”. Aos 41, Airton cruza e Roberto fuzila na trave. Na etapa final, o Peñarol equilibrou o jogo. O empate beneficiou o Barcelona, que já havia derrotado os uruguaios (1x0) na quinta-feira.

Na noite de terça-feira, nos dez minutos iniciais, o Barcelona agrediu bastante. No primeiro ataque, Manga defendeu milagrosamente a cabeçada de Fusté à queima-roupa. Num córner cobrado por Juan Seminario, Manga, com mão de gato, tirou a bola da cabeça de Silva (vendido pelo Corinthians). Aos 14, num esticão de Leônidas, Airton aproveita a falha de Ferran Olivella para fazer 1x0.

Logo no início da fase final, o garfador local, Rodolfo Isasia, soprou impedimentos de Airton e Paulo Cézar. Depois, nas barbas do soprador, Fusté entrou impedido, porém, Manga praticou outra defesa espetacular. Aos 14, desviando o tiro de Edinho, Gérson acerta um sem-pulo de bicicleta (ao estilo Didi): 2x0. Um “golaço épico” – escreverá Geraldo Romualdo da Silva. Aos 40, num rush fulminante, Paulo Cézar faz 3x0, decidindo o jogo. Silva diminui (aos 41): 3x1. Então, aos 43, o juizinho sopra um toque de mão de Leônidas (na área) que só ele viu. Silva aproveita: 3x2. Ao final do encontro, depois da volta olímpica, Joel levantou o valiosíssimo troféu!

Logo após a decisão, Fabiano de Barros Franco enviou o seguinte telegrama ao presidente Ney Palmeiro: “Apesar juiz, espetacular vitória três dois, Airton, Gérson, Paulo Cézar pt. A taça é nossa pt. Abraços pt. Fabiano”.

No dia seguinte, João Havelange, ouvido por Luiz Bayer, disse que o Botafogo não o surpreendeu: “O seu triunfo sobre o Barcelona foi o resultado de uma equipe que está readquirindo o seu poderio e ao mesmo tempo prova que o futebol brasileiro tem motivos para estar confiante”.

Na quinta-feira, Nelson Rodrigues não poupou elogios: “O Barcelona sumiu diante do alvinegro. Dirá alguém que o escore de 3 a 2 sugere uma partida igual e dura. Não, senhor. Até o quadragésimo minuto do segundo tempo, o Botafogo ganhava por 3 a 0 e dava um baile de gols e de bola. (...) Venceu o Botafogo e de banho, fazendo virtuosismo e trançando luminosamente. Por outro lado, fala-se muito de um novo astro brasileiro: o alvinegro Paulo Cézar. Tem 17 anos como o Pelé de 58”.

No mesmo dia, azedo, Armando Nogueira, em vez de exaltar o triunfo maiúsculo do Botafogo, alvejou Gérson: “O front botafoguense manda dizer que o médio Afonsinho é uma das melhores figuras na temporada internacional da equipe. Com o que conclui-se que Gérson amansou um pouco, porque o que se dizia na roda alvinegra era que Afonsinho jogava mal no time titular porque Gérson passava o jogo todo a chateá-lo com ranhetices”. Armando devia estar se referindo à redação do JB (o front) e à roda da Rua Miguel Lemos, ninhos de intrigantes iguais a ele.

No dia seguinte, Geraldo Romualdo da Silva escreveu a crônica “Vitória do Botafogo retumba no estrangeiro como grande feito”. Ele disse: “Essa formidável vitória, que ainda valeu a conquista definitiva do Trofeo Circolo de los Deportistas Esportivos de Caracas, ainda hoje é exaltada, por todos os jornais da capital da Venezuela, como marca inconfundible del mejor futebol del mundo desde hace muchos años”.

Destacou a “ação dinâmica” e o “estonteante poder de imaginação” de Gérson. Mas também assinalou a força do time: “Impetuoso, decidido, com um extraordinário sentido de ataque e defesa, que se tornava imbatível à medida em que o espírito de solidariedade do conjunto aumentava, sufocado pelo perigo, o Botafogo chegou ao triunfo merecido, deixando o estádio sob palmas dos torcedores”.

Geraldo Romualdo destacou a estrondosa repercussão internacional da conquista alvinegra: “Ainda que não se recusem a falar do time, no seu todo, nem a render toda sorte de homenagens à bravura dos vencedores, o que parece de fato ter importado mais, para os cronistas venezuelanos, foi o gênio artístico de Gérson, no gol de bicicleta, una das mas fantásticas chilenas jamas vistas em nuestros fields. Depois, vem outro e escreve: “Gérson, es um abilisimo sordo (canhoto). Asi como es capaz de hacer goles de médio metro, también los hace del médio de la cancha. Outro aspecto por demais ressaltado na atuação do Botafogo é a radiosa juventude del plantel, cujo promedio de edad se contrapone a lo del Barcelona, um equipo ya viejo, lleno de altos y bajos, indeciso, desamorado, sobretudo cuando se dispone a hacer del futebol un festival tonto de exibiciones inutiles. Muy buena – frisa El Espectador – la conducta dei pibe (garoto) Paulo Cézar, que nosotros desconocíamos y que tiene rayos de luzes de gran crack”.

Extraído do livro “O Futebol do Botafogo – 1966-1970” (a lançar em 2022).

Os volumes I e II podem ser adquiridos através do endereço:  https://mauad.com.br/index.php?route=product/search&search=o%20futebol%20do%20botafogo

Sem comentários:

Botafogo campeão estadual de futebol sub-17 (com fichas técnicas)

Fonte: X – Botafogo F. R. por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo O Botafogo conquistou brilhantemente o Campeonato Estadual de Futebol...