por CARLOS
FERREIRA VILARINHO
especialmente
para o Mundo Botafogo
sócio-proprietário e historiador do Botafogo de Futebol e Regatas
[A narração que se segue antecipa o III Volume da coleção, a editar em 2022, e reporta-se ao ano de 1967]
A final sensacional (de 17/12/1967) atraiu um público imenso: 111.651 torcedores, sendo 19.770 menores. O recorde de renda foi novamente derrubado: NCr$220.902,00. Merecidamente, o Botafogo foi o campeão de renda. O temporal que desabou sobre a Guanabara provocou, como de costume, inundações na região do Maracanã. Além disso, o gramado ficou coberto de lama, cheio de poças, pesado e bastante escorregadio.
Exceto pelo desfalque de Fidélis, o Bangu veio com sua força máxima: Jaime, Ocimar e Aladim na meia-cancha; no ataque, Paulo Borges, Mário e Del Vecchio. O jogo é nervoso. Os dois times arriscam muito pouco. Na cobrança de uma falta próxima ao bico direito, Jaime atira um tijolo quente. Na dúvida quanto à direção do disparo, Manga (sem luvas, que ele detesta) não tenta segurar e espalma para a direita. Aladim penetra, porém, bem marcado por Paulistinha, deixa o couro sair pelo fundo. Ufa! Aos 12, Manga cobra o tiro de meta com extrema violência, lançando Jairzinho. Luís Alberto divide pelo alto com ele. Mário Tito apanha a sobra e tenta atrasar para Ubirajara, mas chuta o chão e a bola se oferece a Roberto, que avança e desfere um tiro seco, violento, no canto esquerdo: 1x0. Um gol sensacional!
O Bangu abandona a cautela e se manda. Paulo Borges cruza da direita. Gérson defende. Paulo Borges recupera. Gérson marca. O ponteiro atrasa para Jaime, marcado por Gérson. Jaime toca no meio para Paulo Borges, que busca o fundo e cruza violentamente, buscando Mário, mas Manga mergulha e agarra firme. Aos 40, Jaime lança na área. Del Vecchio corre de costas e dá uma cotovelada em Manga, impedindo-o de socar a bola, e ela morre dentro do gol. Antônio Viug, a um metro do lance, apita a infração, sem titubeio. Dez entre dez juízes (honestos) fariam a mesma coisa. No segundo tempo, logo aos 6 minutos, Jaime progride pelo meio e lança Del Vecchio, que gira e entrega a Mário, nas costas de Leônidas. Gérson não o alcança. Mário invade a pequena área e fuzila no ângulo direito, sem apelação: 1x1.
O Botafogo acorda e se manda. Aos 9, Paulo Cézar faz um carnaval na defesa e serve a Rogério, que cruza nas mãos de Ubirajara. Aos 11, Jairzinho arranca da meia-lua, vence Luís Alberto na corrida, mas Ubirajara divide. A bola sobra limpa para Rogério. Luís Alberto vai para debaixo do pau. Cabrita faz o mesmo. Aladim vem em socorro. Basta entregar a Roberto, livre, mas Rogério finta Ubirajara com um toque para dentro, chega à marca do pênalti e chuta de canhota, mascado, nas mãos do goleiro. Impossível! Mas aos 22, Gérson envolve Mário Tito com um toque curto para Paulo Cézar, recebe, ganha a grande área e atira um pelotaço no ângulo esquerdo: 2x1. Um gol eletrizante!
Aos 27, nas costas de Cabrita, Jairzinho escapa, finta Mário Tito e Luís Alberto com uma ginga de corpo e cruza na cabeça de Roberto, que pula antes do tempo e perde o gol que sepultaria o Bangu. Aos 36, dentro da área, Mário, cercado por Carlos Roberto e Paulistinha, gira e cruza para Paulo Borges, que chuta prensado com Valtencir. Zé Carlos devolve de canhota na coxa de Gérson, marcador de Aladim. A bola sobra para Aladim, que fuzila à queima-roupa, mas Manga, no reflexo, defende com o braço direito. Milagre! No rebote, Gérson toca para o fundo. Sufoco! Aos 39, Aladim bate o córner. Zé Carlos e Leônidas ficam presos embaixo do pau. Manga disputa a bola fora da pequena área com Del Vecchio, Paulo Borges e Paulo Cézar. Tenta aliviar de soco (como convém), mas falha. A sobra é de Ocimar, que escorrega e o tiro sai mascado. O couro passa por Mário. Em cima da linha, guarnecido por Gérson e Leônidas, Paulistinha dá um bico na bola com absoluta tranquilidade. Daí a pouco, Viug apita pela última vez. Botafogo Campeão!
O túnel grita e comemora. Zagalo (chorando) invade o gramado! Lídio e Chirol erguem os punhos! Gérson corre como um doido varrido!
Extraído do livro “O Futebol do Botafogo – 1966-1970” (a lançar em 2022).
Os volumes I e II podem ser adquiridos
através do endereço: https://mauad.com.br/index.php?route=product/search&search=o%20futebol%20do%20botafogo
2 comentários:
Tenho lido essas histórias, mas essa me fez recordar essa final, que não vi mas ouvi no antigo rádio de válvulas, mais velho que a "sede Braga" como minha saudosa tia sempre ralava sobre coisas velhas.
Sensacional essa descrição e, chama a atenção e vi o vídeo do jogo a razão de dizerem que o Mangá estava na "gaveta". Se tivesse o Botafogo não seria campeão. Enfim, posteriormente se fez justiça ao maior goleiro botafoguense em minha modesta opinião. ABS e SB!
As descrições de jogo do Carlos Vilarinho são sensacionais.
O João Saldanha era louco, e por causa dele e da brincadeira da pistola apontada ao Manga perdemos - injustamente - o maior guarda redes brasileiro de todos os tempos. Tal como perdemos o Leônidas da Silva por causa das obsessões do Carlito Rocha. Grandes botafoguenses, mas excessivos demais. Estes e outros...
Faço votos para que, pelo menos no âmbito da SAF - já que não creio termos uma Diretoria capaz de recuperar os demais desportos -, possamos ter gente equilibrada, liderante e discernente para o futebol, tal como Textor, Braga e Castro.
Abraços Gloriosos, Grande Sergio!
Abraços Gloriosos.
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