domingo, 8 de maio de 2022

O Botafogo e a Grande Guerra

Ilustração de Lorenzo Mollas. Crédito: O Globo Sportivo, 1945.

Artigo em Homenagem ao dia 8 de maio de 1945 quando o Nazismo foi inapelavelmente derrotado. Ontem como hoje, a democracia completa vencerá!

por RUY MOURA

Editor do Mundo Botafogo

Em 1945 o Botafogo de Futebol e Regatas realizou um grande banquete em honra de todos os atletas e associados que integraram a Força Expedicionária Brasileira e participaram na II Grande Guerra.

Acorreram ao evento as mais importantes figuras de prestígio do grande Clube carioca, tendo discursado Lyra Filho, presidente do Conselho Nacional de Desportos, o sargento Manoel Maria e Vasconcellos pelo Corpo Expedicionário, e o poeta e vice-presidente do Botafogo Augusto Frederico Schmidt, o qual “pronunciou patriótica e comovente oração”.

Eis o excerto final do discurso do vice-presidente do Botafogo que, a par de Vinícius de Moraes, Clarice Lispector, Olavo Bilac e tantos outros Botafoguenses, faz parte do panteão da cultura brasileira:

“[…] Recebemos – vocês soldados do Brasil e rapazes botafoguenses – como delegados da maior e mais importante representação que já enviamos a qualquer parte. Sentimo-nos orgulhosos de vocês e mesmo comovidos, porque vocês fizeram com que a bandeira deste Clube, iluminada pela estrela solitária, figurasse, humilde e invencível embora, entre as grandes bandeiras que drapejaram nos céus da vitória.

Vocês foram escolhidos pelo destino para testemunhar o maior acontecimento que as gerações, desde os tempos mais remotos, conheceram. Vocês possuem a maior dignidade de que um homem se pode orgulhar: a de soldados da grande guerra, da maior, da mais justa, da mais heroica de todas as guerras.

Vocês trouxeram para o Brasil, para a nossa história, e também para este Clube, o maior troféu: a participação nessa vitória que nos tornou homens de um mundo livre.

Banquete dos Dirigentes do Botafogo com os Associados e Pracinhas que integraram a Força Expedicionária Brasileira. Crédito: O Globo Sportivo, 1945.

Vocês foram escolhidos para um grande destino e um grande testemunho. Desejaria, falando com toda a simplicidade, aqui na intimidade deste nosso Clube, que vocês servem e amam – tornar porventura mais consciente, mais preciosa, mais nítida, mais exata em vocês a noção dessa dignidade excepcional de que vocês estão revestidos: a dignidade da guerra que decidiu a liberação do mundo.

Vocês viram muitas coisas, vocês sentiram muita miséria, vocês contemplaram muitas paisagens mártires pelas guerras antigas e ilustres que percorreram e onde lutaram. Vocês presenciaram muitas coisas tristes. E é preciso que não percam nada disso. É preciso que realizem a beleza, a grave beleza, de que a mocidade de vocês se reveste. Vocês podem e vão voltar para a vida que sempre levaram, vão jogar football, vão praticar outros esportes, vão trabalhar, vão constituir família, vão envelhecer, vão lutar, vão participar das poucas doçuras e das muitas coisas amargas que a vida reserva aos homens; mas vocês serão sempre pracinhas, serão sempre soldados da grande guerra contra o nazi-fascismo, serão sempre diferentes dos outros homens que lutarão com vocês, estejam onde estiverem.

Que o sentido desta demonstração que o nosso Clube lhes está dando não desapareça; que vocês sintam o que realmente significa, e que a nossa emoção não lhes passe desapercebida, mesmo com esta alegre e efêmera aparência de regozijo e de festa.

Saudamos em vocês os que voltaram à pátria, depois do dever cumprido até ao fim; saudamos em vocês os que ajudaram o Brasil a se dignificar e elevar no conceito do mundo; saudamos em vocês a bravura dos nossos soldados, a despreocupação, a simplicidade e a heroica modéstia dos nossos pracinhas; saudamos em vocês também os que não voltaram, os que tornaram mais sagrada, maior e mais pura a nossa participação na luta cruenta; saudamos em vocês, aqui presentes, a mocidade que lutou, que venceu e que nos trouxe uma aurora, um motivo de crença e de confiança no povo e no destino do Brasil.”

2 comentários:

Gil disse...

Grande Rui,

A Belíssima história do nosso Amado Botafogo se mistura e confunde com a história do Brasil em todos os níveis.

Infelizmente não temos mais esses valorosos, bravos e heróicos soldados nas Forças Armadas brasileiras.

Transcrevo um trecho de uma publicação de outro Professor, José Fernandes, que concordo plenamente sobre o atual momento das forças armadas brasileiras, principalmente o exército.

"Já passou da hora de apertarmos com mais contundência o que está ocorrendo com o Brasil e nossas instituições permanentes, como as Forças Armadas.
Estão sendo reduzidas a um braço armado a serviço de personagens que fazem do crime dentro da política o seu modo de ganhar dinheiro...
O mesmo Exército que observa a destruição das nossas florestas, massacre de indígenas, doação de nossas empresas estratégicas e destruição de nossas infraestruturas..."

Abs e Sds Botafoguenses

Ruy Moura disse...

Cada época tem a sua história própria, meu querido amigo. Por exemplo, o Brasil mudou sensivelmente na viragem da primeira para a segunda metade do século XX. Não há nada que sempre dure. Todas as gerações que chegam fazem mudanças, que se acumulam e que um dia produzem saltos qualitativos (quase estive para escrever 'quânticos') em direção a novas coisas (sejam boas, sejam más). O tempo é inexorável, e na vida do Universo só uma coisa é garantida: que a mudança é permanente. Então, esses gloriosos soldados ficam lá na história, nesse momento trágico e simultaneamente renovador para outros horizontes. O futuro, espero, trará novos progressos que um dia também farão parte da memória dos jovens de hoje.

Hoje, como ontem, e como amanhã, é preciso OUSAR!

Abraços Gloriosos.

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