por RUY MOURA
Editor do Mundo Botafogo
Uma pelada é algo em que toda a gente corre, perde constantemente a bola, chuta mal, geralmente muito acima do travessão, e quando a bola é lançada chega a espaços onde não há ninguém. É claro que faltas e escanteios também não resultam em coisa alguma. Essa foi a primeira parte de um jogo tecnicamente pobre de parte a parte, tão pobre que nem houve perdidas flagrantes de gol porque nem sequer foram criadas oportunidades para isso. O Botafogo chutou à baliza algumas vezes, nenhuma na direção do gol.
Ainda assim, o Botafogo estava melhor com a dupla Patrick de Paula e Kayque, mas a saída deste devido a mais uma contusão no elenco, liquidou com qualquer coisa mais criativa.
Na segunda parte brilhou Gatito Fernández e a Estrela da Sorte do Botafogo nos gols anulados e nas perdidas do Bragantino. À medida que o jogo se desenvolvia no segundo tempo, ainda tecnicamente pobre de parte a parte, mas com mais iniciativa do adversário, pensei que não conseguiríamos um gol sequer e o Bragantino acabaria por marcar numa confusão dentro da área, ou pelo lado de Saravia. Ledo engano. Futebol é futebol…
Efetivamente a equipe defendeu globalmente bem à zona e criou dificuldades de penetração ao Bragantino, mas no jogo aéreo ficávamos na zona da aflição e o afastamento das linhas e o desligamento do ataque era um verdadeiro óbice para vencer a partida. Porém…
Um gol anulado ao Bragantino por escassos centímetros deu lugar, um ou dois minutos depois, a uma oferta de Léo Ortiz a Vinícius Lopes que empurrou a bola para o fundo do barbante e inaugurou o marcador: Botafogo 1x0.
Novamente a Estrela da Sorte com outro gol anulado por escassos centímetros e Gatito Fernández brilhando face à avalanche de ataque – desordenado – do Bragantino para chegar ao gol. Não chegou – apesar do sempre desastrado Saravia, apesar da inexistência de criatividade no meio campo e apesar de Matheus Nascimento estar solitariamente isolado num sistema 3-6-1 e meio perdido no ataque – mas ter ajudado muito a equipe quando recuava –, devido à quase inexistente envolvência atacante do Botafogo – quer porque não conseguia boa saída de bola, quer porque não municiava Matheus Nascimento. Aliás, ao Matheus Nascimento, como responsável pelo comando de ataque aos 18 anos, e sem estar ainda tecnicamente polido, pode acontecer o mesmo que ocorreu com Luís Henrique há anos: levado ao comando de ataque do Botafogo aos 17 anos, sucumbiu ao peso da responsabilidade.
No conjunto, foi um mau jogo em que o Bragantino foi mais eficiente na criação de jogadas melhor articuladas e o Botafogo mais eficaz com a marcação do gol. Eis os números que vi sobre o jogo:
Bragantino |
|
Botafogo |
18 |
Remates |
9 |
6 |
Remates à baliza |
1 |
65% |
Posse de bola |
35% |
77% |
Precisão do passe |
67% |
11 |
Faltas |
19 |
1 |
Cartões amarelos |
4 |
1 |
Cartões vermelhos |
- |
9 |
Escanteios |
4 |
O Botafogo ficou claramente aquém do desempenho do Bragantino, com o pormenor de a precisão de passe ser paupérrima em ambas as equipes. O Botafogo chutou no enquadramento da baliza uma única vez, e fez gol!...
Novamente se mostrou positiva a existência do VAR, esperando-se que com a experiência as decisões melhorem gradualmente. E o árbitro foi corajoso ao manter a sua convicção de que não houve pênalti a favor do Bragantino. E realmente não houve.
Assim, apenas duas coisas justificam verdadeiramente a vitória e a importante conquista dos três pontos: GATITO FERNÁNDEZ (que o Clube parece estar a querer deixá-lo sair ao não renovar o contrato até agora) e a COMPLETA ENTREGA dos jogadores neste jogo, talvez querendo mostrar a Luís Castro que não gostam de ser tratados como jogadores da Segundona, embora tecnicamente deixem muito a desejar – embora também se deva realçar Castro como líder capaz de recuperar psicologicamente os atletas mais desanimados.
Finalmente vou realçar a minha faceta otimista, sem perder uma certa visão pessimista no curto prazo. Vale a pena mencionar que o Botafogo, apesar dos seus altos e baixos, mantém-se na 1ª metade da tabela classificativa, 8º lugar em pontos conquistados, empatado com o Flamengo, e a 3 pontos apenas da zona de acesso à pré-Libertadores. Por isso, deve-se realçar essa parte otimista em relação ao lugar ocupado pela equipe, mas o que sustenta algum pessimismo reside em não se verificar uma evolução clara da equipe, mesmo que perdesse alguns jogos. Admito que as contínuas lesões e suspensões estejam a dificultar muito a evolução e que a janela de transferências traga algumas novidades não vislumbradas por enquanto, permitindo então que a reconstrução da equipe e o crescimento do projeto se faça sentir reforçadamente a partir de 15 agosto com novo material humano no elenco.
Tal conclusão é fundamental, porque devemos todos compreender que Luís Castro não estará em causa, já que uma demissão seria injustificada devido ao lugar ocupado na tabela do Brasileirão e altamente prejudicial para a imagem de John Textor como dirigente-farol da SAF, além de que o objetivo de manutenção na Série A está perfeitamente ao alcance e a tutela técnica do projeto a médio prazo é o grande processo de futuro que justificou a escolha de LC pelo Botafogo em detrimento do Corinthians. E Textor não será influenciado pelo imediatismo dos torcedores e da decisão fácil de substituir treinadores, algo que não tem permitido aos clubes organizar um plano de médio prazo, como na Europa onde os treinadores estão anos à frente da mesma equipe.
FICHA TÉCNICA
Botafogo
1x0 Bragantino
» Gols: Vinícius Lopes, aos 63’
»
Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 04.07.2022
» Local: Estádio Nabi Abi Chedid, Bragança Paulista (SP)
» Árbitro: Ramon Abatti Abel (SC); Assistentes:
Kleber Lúcio Gil (SC) e Henrique Neu Ribeiro (SC); VAR: Wagner Reway (PB)
»
Disciplina: cartão amarelo – Matheus
Nascimento, Vinícius Lopes, Saravia e Lucas Fernandes (Botafogo) e Gabriel
Novaes (Bragantino); cartão vermelho – Eric Ramires (Bragantino)
»
Botafogo: Gatito Fernández; Kanu, Philipe Sampaio e Cuesta; Saravia, Patrick de
Paula, Kayque (Del Piage), Hugo, Lucas Fernandes e Vinícius Lopes (Daniel
Borges); Matheus Nascimento (Daniel Cruz). Técnico: Luís Castro.
»
Bragantino: Cleiton; Aderlan, Léo Ortiz, Natan e Luan Cândido; Lucas Evangelista
(Eric Ramires), Raul (Miguel) e Hyoran (Gabriel Novaes); Artur (Helinho), Alerrandro
e Sorriso (Carlos Eduardo). Técnico: Maurício Barbieri.
5 comentários:
Nada a acrescentar, comentário excelente como sempre. Como é bom ler esse tipo de comentário, inteligente e racional de um apaixonado pelo Botafogo mas que sabe como analisar a situação sem se deixar levar para comentários que mais demonstram uma paixão cega do que outra coisa.
O Botafogo passa por um processo difícil de reconstrução e prejudicado pelo grande número de contundidos e suspensos e, com o elenco limitado que tem as dificuldades de avolumam. Parece que há comentários absolutamente ofensivos tanto ao time quanto ao treinador e por tabelo o Textor.
É fato que o time ontem não foi bem, aliás eu diria que foi uma peladassa, se é que existe essa palavra, foi um dos piores jogos que vi desde que acompanho futebol. Porém, valeu pela vitória e é isso que importa no momento.
Esperemos que realmente venha reforços e que o Castro possa contar com jogadores que estão afastados, pois a cada jogo o número vde baixas dificulta e muito o trabalho de toda a equipe de futebol e comissão técnica.
E mais uma vez aos verdadeiros torcedores que estiveram presentes ao estádio e apoiaram o time apesar dos inúmeros problemas, o amor superou o ódio. ABS e SB!
Sergio, eu tenho críticas a fazer ao Textor, ao Mazzuco e ao Castro, e faço-as - já as fiz -,mas aprendi que dar tiros nos próprios pés é um disparate. Estamos num momento crucial, podemos e devemos criticar porque isso é saudável se for construtivo, mas não ao nível do bota-abaixo, da cornetagem mais elementar. A crítica deve ser acompanhada de contenção para não expor Textor ao nível do comando gestionário e Castro ao nível do comando técnico, porque não tenhamosdúvida que vão ser ambos chave para o projeto - a não ser que uma hecatombe caísse sobre a equipe, e issoé poucoprovável quando se definiu comoúnico objetivo desportivo mantermo-nos na Série A. Não devemos esquecer que o objetivo central do plano para 2022 é exatamente esse e não outro. E talvez possamos acrescentar a qualificação para a Copa Sul-americana. Tudo o que possa ocorrer de melhor é ganho extra.
Tenho confiança. Porém, preocupa-me que os jogadores continuem com muito poucos progressos técnicos e que o próprio Castro não tivesse conseguido manter a sua linha de futebol de posse de bola com eficácia porque isso seria do nosso interesse, já que é isso que ele irá fazer, se possível, ainda em 2022. Porque dificilmente deixará de aplicar o seu 4-3-3 predileto com posse de bola.
Abraços Gloriosos.
Só mais uma nota, Sergio: para escrever bobagens chega bem as linhas editoriais de certos blogues e portais botafoguenses, bem como as redes sociais mais usadas. A linha editorial seguida pelo MB desde 2007 tem uma proposta bem diferente e procura compatibilizar a pesquisa e compilação da história botafoguense com as ocorrências do presente e algumas linhas de reflexão para o futuro - e a qualidade de quem tem colaborado ou comentado no MB evidencia bem que este é um espaço de cidadania desportiva e cultural.
Abraços Gloriosos.
Rui, concordo com a análise da partida, mas destaco aqui minha concordância em relação aos últimos parágrafos, por considerar muito importante que os torcedores tenham clareza sobre aspectos do projeto, que parecem estar sendo esquecidos, apesar de terem sido amplamente divulgados. 1) O histórico do Luís Castro no âmbito da formação de atletas foi o fator que mais influenciou a decisão por sua contratação; 2) a soma da qualidade do elenco atual com a média do desempenho da equipe nos colocam longe de alguma especulação bem fundamentada sobre rebaixamento; 3) ainda não sabemos qual será o elenco a partir da janela de transferência, e o resultado desse incremento. Destaco esses aspectos porque considero muito importante que a torcida entenda as propostas e o momento, para que possamos nos comportar a partir de uma perspectiva esclarecida, desempenhando o papel de '13o torcedor' com maior clareza a respeito da nossa importância na composição do espetáculo e da opinião pública. Sem esse "apoio esclarecido" da torcida o empreendimento correria o risco de enfrentar grandes dificuldades, porque a torcida é um elemnto crucial para a criação da “narrativa” pretendida pelo Textor, que agora nos trata, não por acaso, por "parceiros" - ou mesmo "sócios" - do empreendimento.
Saudações botafoguenses!
Muito bem destacado, Luiz. Concordo inteiramente. O objetivo para este ano foi definido como "manutenção na Série A" e o Castro foi contratado sobretudo para lançar as bases fundamentais para o futuro ao nível do futebol de bases e das infraestruturas. Textor assegurou reforços importantes, se o não fizer será responsável direto por eventuais maus resultados. O apoio e a paciência dos torcedores é fundamental num momento em que se inicia a construção da casa nova. Se o torcedor quiser logo o telhado, então não teremos projeto com futuro. Mas acredito que haja paciência entre a maioria dos torcedores. Se não temos nenhum título importante desde 1998 (24 anos), vale a pena mais um sacrifício. Com paciência e apoio da torcida estaremos no cimo entre 3 a 5 anos. E o cimo é haver conquistas internacionais.
Abraços Gloriosos.
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