por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Foi um grande jogo de futebol em que as novas contratações e as apostas de Luís Castro conseguiram, finalmente, produzir um resultado consistente com o que foi feito em campo nos jogos contra o Atlético (MG) e contra o Santos. A Comissão Técnica, dispondo de novos recursos, realinhou novamente a equipe para um sistema mais ofensivo e, sobretudo, mais envolvente, dominando completamente a partida, apesar da boa resposta do Athletico, de quem se pode dizer que não perdeu o jogo por demérito – foi o Botafogo que o ganhou com mérito!
Jogando num campo recuperado ao nível do gramado, as equipes mostraram vontade e vivacidade desde o início da partida, fustigando as áreas adversárias com critério, jogando o Botafogo sempre com a bola no chão e boa articulação de passes, movimentos e variações. O Athletico criou a sua única grande oportunidade aos 7’ de jogo, mas Gatito fez uma importante defesa para escanteio. Aos 11’ saiu a primeira oportunidade do Botafogo com Lucas Fernandes a chutar de média distância e a bola a embater na trave direita.
Aos 16’, após 15 toques sucessivos do ataque botafoguense envolvendo o Athletico, Erison irrompe na área e cara a cara com o goleiro permite-lhe defender com um reflexo monumental. Logo depois Erison ameaça novamente com um chute rasando a trave esquerda. O gol desenhava-se e, em contra ataque rápido, Jeffinho, muito veloz, cruzou rasteiro e tenso para a pequena área, o zagueiro ainda afastou a bola, que sobrou para Erison rematar com enorme intencionalidade, colocando a bola no ângulo superior direito da baliza. Golaço coroando vinte minutos de domínio de bom futebol do Botafogo!
O jogo continuou com domínio do Alvinegro e boa réplica do Athletico, mas com muita dificuldade de criação de oportunidades porque a dinâmica defensiva do Botafogo é outra coisa sem Saraiva nem Kanu. Daniel Borges cumpriu e Lucas Mezenga foi uma grande revelação. Pelo lado esquerdo Marçal foi muito eficiente e municiou bem a criação através de boas saídas de bola.
Criando sempre com muito perigo, Jeffinho quase ampliou o placar aos 46+4’ com novo remate de meia distância, fazendo a bola rasar o ângulo esquerdo da baliza.
Na segunda parte o Botafogo resolveu cedo a contenda. Garrincha reencarnou Jeffinho, que ganhou uma dividida na intermediária atleticana, disparou para a área em alta velocidade, driblou um adversário, rematou entre dois zagueiros e fez novo golaço para ampliar: Botafogo 2x0.
E daí em diante a equipe manteve a tranquilidade, a velocidade de contra-ataque e vários chutes de fora da grande área, meio campo muito organizado entre Tchê Tchê, Lucas Fernandes e Eduardo, sem se desprezar o papel de Piazon, continuando o ataque paranaense manietado e apenas com uma oportunidade de gol na segunda parte, que Gatito resolveu com uma boa defesa.
Na parte final do jogo, após as substituições, o Botafogo limitou-se a controlar o jogo, retendo a bola com tranquilidade e qualidade técnica. Foi simplesmente o melhor jogo da equipe em 2022, que se adivinhava desde que a equipe retomou uma postura mais ofensiva – sobretudo nos dois últimos jogos –, apesar de os ter perdido por ineficácia em frente ao gol e falhas da defesa, utilizando, neste jogo, um predominante 4x4x2 com meio campo bem povoado e ataque apoiado com boas articulações entre Jeffinho e Erison, além de uma defesa segura que jogou sempre o mais simples possível.
Gatito manteve-se seguro a defender, mas por duas vezes poderia ter tomado gol de cobertura porque avança muito na área e cria um espaço excessivo entre a linha de meta e ele próprio; a dupla Lucas Mezenga e Philipe Sampaio dominou praticamente todas as bolas; Marçal foi experiente e seguro, com boa marcação e saída de bola, criando boas expectativas para o lado esquerdo da defesa, e Daniel Borges colmatou bem a anterior avenida que Saravia deixava atrás de si; Eduardo e Lucas Fernandes entenderam-se perfeitamente, com o primeiro a evidenciar outra qualidade no controlo do meio campo; Tchê Tchê e Piazon, com boas atuações, ainda podem crescer bastante; Erison e Jeffinho estraçalharam a defesa atleticana; Luís Castro conseguiu finalmente aproximar-se do que pretende, com posse de bola, muita movimentação, mudanças de flanco e variações na criação de oportunidades.
Os substitutos não acrescentaram nada em especial, além de mais minutos nas pernas, parecendo que Matheus Fernandes e Patrick de Paula, tão badalados pela mídia e pela torcida, não rendem o esperado. Quanto a Luís Henrique, creio que terá que se esforçar muito para justificar a contratação.
Vamos sonhar um pouco além da realidade, mas… com calma, com apoio a esta equipe em construção e a certeza de que o que se está a construir não é apenas um equipe de futebol, mas uma nova instituição do topo à base no que respeita a estratégia global, gestão local e operacionalização baseada num conjunto de recursos e infraestruturas que o tempo mostrará essenciais para o SUCESSO SUSTENTADO DO FUTEBOL BOTAFOGUENSE.
Botafogo 2x0 Athletico
» Gols: Erison, aos
19’, e Jeffinho, aos 54’
» Competição:
Campeonato Brasileiro
» Data: 23.07.2022
» Local: Estádio
Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
» Público: 8.105
espectadores; 7.463 pagantes
» Renda: R$
203.630,00
» Árbitro: Anderson
Daronco (RS); Assistentes: Rafael da Silva Alves (RS) e Tiago Augusto Kappes
Diel (RS); VAR: Pablo Ramon Gonçalves Pinheiro (RN)
» Disciplina: cartão
amarelo – Tiago Heleno e Terans (Athletico)
» Botafogo: Gatito
Fernández; Daniel Borges (Saravia), Philipe Sampaio, Mezenga e Marçal; Tchê
Tchê, Lucas Fernandes (Patrick de Paula), Lucas Piazon e Eduardo; Erison (Matheus
Nascimento) e Jeffinho (Luís Henrique). Técnico: Luís Castro.
» Athletico: Bento; Orejuela
(Khellven), Matheus Felipe, Thiago Heleno (Nicolás Hernández) e Abner Vinícius
(Vitinho); Fernandinho (Erick), Hugo Moura e Terans; Rômulo, Pedrinho e
Canobbio (Vitor Bueno). Técnico: Luiz Felipe Scolari.
9 comentários:
Nunca entendi o Jeffinho no time B, pois havia percebido grande qualidade em seus jogos pelo Resende, marcando gols em todos os grandes atuando com muita ousadia, desenvoltura. Da mesma forma que o Mezenga, sempre que exigido, mostrou grande segurança, e isso não garantia oportunidades, pra mim já era pra ser o titular na série B. Erison, teu problema nos últimos jogos era claramente físico, jogando no sacrifício, abaixo de suas capacidades. A contratação de um atacante experiente deve ser prioridade para auxiliar na evolução dele e do Matheus. Enfim Ruy, jogamos futebol. Saudações alvinegras, abraço!
Comentário brilhante, estou vendo o jogo através da sua descrição. Esse comentário parece com um grande analista de música italiano que descreve tão bem as análises musicais, e lendo suas análises chegamos a ouvir a música, no caso a nona de Beethoven o magistral D. Giovanni de Mozart. Falo de Massimo Mila, brilhante professor de história e análise musical. Ruy, fico feliz em poder compartilhar de seus escritos.
Realmente com a entrada de reforços de qualidade e a brilhante atuação do Jefinho, finalmente o Luís Castro consegue moldar um esquema que funciona.
Não adianta apenas ser um treinador com ideias, é preciso ter quem as execute, e ontem podemos destacar Marçal, Eduardo, Lucas Fernandes e o crescimento do Tchê Tchê, Erison é a bela atuação do Jefinho. De um modo geral o time foi muito bem e as entradas do Lucas Mezenga e Daniel Borges deram consistência a defesa.
Sempre achei que apesar de alguns problemas no esquema, o maior problema do Castro era a falta de jogadores qualificados, sempre o defendi mas as ofensas tanto a ele como ao time beiravam a irracionalidade, que se estendiam a várias várias contratações, julgadas dentro de um prazo mínimo, em especial de jogadores que ainda se adaptavam ao futebol brasileiro.
Se vierem os reforços especulados creio que podemos sonhar com um Sul Americana, e quem sabe uma pré Libertadores. Porém, ficando na série A o objetivo primeiro desse projeto que tem em torno de 5 meses será cumprido
Entretanto a atuação de ontem e o crescimento de vários jogadores nos dá esperança de dias melhores. ABS e SB!
Saulo, não se vou ser certeiro na minha apreciação sobre Jeffinho e Mezenga. Talvez sim, talvez não. Tanto Jeffinho como Mezenga têm duas características em comum: são muito jovens, especialmente o Mezenga, e vêm de clubes de pequena dimensão, que não têm na sua cultura a ambição de títulos importantes e, consequentemente, nem a exigência da nossa nossa torcida. Então, eu creio que deveriam, tal como foi feito, passar por experiências dentro do Botafogo que não fossem na equipe principal, para se aperceberem da nossa cultura sem correrem o risco de fracassarem por questões psicológicas/mentai. Os nossos torcedores pegam tão facilmente no pé de um jogador (Lúcio Flávio, por exemplo) como enaltecem jogadores que nunca foram grandes futebolistas (Castillo, por exemplo) ou colocam nos píncaros da lua jogadores muito jovens que acabam por sucumbir pelo excesso de responsabilidades que lhe atribuem (por exemplo, Luís Henrique, que foi colocado no comando do ataque do Botafogo aos 17 anos e hoje joga em equipes da Noruega...). Então, é necessário preparar jogadores jovens com calma e não os atirar para a 'fogueira' precipitadamente, porque acaba-se por prejudicar o jogador e o clube. Eu temo por Matheus Nascimento, por exemplo. O rapaz tem algumas qualidades técnicas óbvias, mas é excessivamente garoto, não tem corpo para lutar com zagueiros numa posição de centroavante, e vê-se como depois de excessivamente enaltecido não consegue realmente produzir nada de especial. É preciso acarinhá-lo, dar-lhe minutos de jogo, mas jamais colocá-lo em campo como atacante principal. É isso que penso. Já o Erison é outra coisa, porque é forte fisicamente, é forte mentalmente, e apesar da sua pouca técnica sabe fazer gols e é muito descarado com os adversários, irrompendo pela área sem 'respeito' nenhum pelas zagas, isto é, criando as maiores dificuldades aos zagueiros. E ontem até conseguiu assinar um gol fenomenal, muito difícil de fazer pela sua precisão cirúrgica. Vai ser um grande atacante. Muitos atacantes com poucas qualidades técnicas (Quarentinha, por exemplo), mas usando de recursos que o Erison possui, tiveram imenso sucesso. E considero que o Saulo tem absoluta razão sobre um novo atacante. Se experiente ou não, não sei, mas gosto do perfil do Ojeda. Uma palavra final: o que o Castro fez ontem é de uma grande coragem, porque mexer em cinco jogadores após um jogo bem conseguido tecnicamente contra o Santos é um enorme risco, incluindo o lançamento de gente tão jovem, jogo que se desse para o torto estariam hoje todos crucificando novamente o Castro.
Abraços Gloriosos.
Meu querido amigo, Você como músico de orquestra e eu como simples beneficiário da música que os músicos produzem, somos ambos apaixonados por tantas e tão extraordinárias composições, desde Beethoven a Mozart ou de Vivaldi a Prokofiev, que nos encantam intemporalmente. Mas nada comparável à minha simples escrita analítica, que é intelectualmente honesta e vivida com intensidade, mas longe do brilho de tão extraordinários artistas.
Ainda assim, sinto-me surpreendido positivamente por gostar tanto dos meus escritos, que seguem muito a linha de logicidade das minhas publicações científicas. Mas isso é recíproco, porque, como muito bem sabe, adoro o seu repertório musical. Até estou sentindo vontade de ouvir agora a sua música para orquestra de cordas.
[pausa]
Retirei um CD do Strauss da unidade de DVD do computador e fiz entrar agora a sua orquestra de cordas - CD1, lembra-se?...
Sobre o nosso Botafogo - ao som das 'cordas' - eu acredito que o LC vai levar o nosso Clube ao sucesso, quer no plano desportivo quer no plano infraestrutural em 'sociedade com JT. O plano de jogo do LC não se concretiza do dia para a noite porque é muito trabalhado e precisa de tempo, e durante este período ele não teve boas condições de trabalho devido a um número de lesões e suspensões simultâneas como eu não me lembro de ver na equipe principal, além de as infraestruturas atuais não oferecerem qualidade de trabalho e de ele não ter experiência de campeonato brasileiro. Se lhe tivessem dado uma equipe como a do Palmeiras, provavelmente o seu estilo de jogo já estaria em funcionamento pleno, mas pegou um Brasileirão pela 1ª vez e teve que ajustar-se à força, como, por exemplo, colocar a equipe na retranca com uma linha de cinco devido a uma clara falta de recursos humanos ao nível da execução.
Note que não se pode esperar que LC seja um Ancelotti, um Klopp, um Mourinho, mas é um bom treinador e um homem seriíssimo que com recursos adequados consegue montar equipes ofensivas jogando bom futebol. A sua maior fraqueza - e eu descrevi isso no artigo que publiquei no MB sobre o seu perfil - é a defesa, justamente por atacar muito, e daí que as suas equipes marquem, em média, muitos gols, mas também sofram bastantes. Isto é, com os reforços que já teve, com outros reforços e recuperação dos lesionados, temos equipe para tranquilamente nos classificarmos para a Sul-americana. Se os adversários bobearem, até podemos arranhar a pré-Libertadores, mas isso já é sonho - o objetivo era a manutenção e a Sul-americana já será um brinde extra.
A 1ª Sinfonia para Cordas é verdadeiramente inspiradora, Sergio!
Abraços Gloriosos.
Saulo, veja a errata do meu comentário: o comentário deve começar por "Saulo, não sei se vou ser certeiro..." em vez de "Saulo, não se vou ser certeiro..." - Abraço!
Rui, nada a acrescentar a não ser o ingresso do Carlos Eduardo, que se tornou um elo entre os setores, das saídas de bola para as transições através das linhas defensivas, as triangulações laterais e o meio, as viradas de jogo rápidas, uma dinâmica espetacular. Nós não tínhamos ninguém com essas características no elenco, e fica a torcida pra que confirme no médio prazo o que apresentou nas partidas iniciais, passadas a empolgação pela estreia e uma nova etapa na carreira, e também uma possível falta de conhecimento dos adversários sobre o seu pontencial.
Saudações botafoguenses!
Luiz, observando o Eduardo ocorre-me pensar que joga como se estivesse na sombra do Lucas Fernandes, isto é, muito experiente e discreto na sua atuação eficaz, entendendo-se perfeitamente com o LF e deixando o 'brilho' para o jovem. Eu penso que, finalmente, teremos um meio campo capaz, coisa que este ano se mostrava absolutamente carente porque não conseguiamos criar boas jogadas para o ataque executá-las. E até posso estar enganado, mas Tchê Tchê e Piazon parece-me que ainda vão crescer e PdP vai ficar sem espaço. A não ser que...
Abraços Gloriosos.
Perfeito Ruy, de fato nossa torcida tem o hábito de queimar promissores jogadores, por outro lado, Hugo teve incontáveis oportunidades, desde o ano passado, apesar de jovem. E sim, Ojeda seria um reforço espetacular, é atualmente o jogador com maior rendimento no futebol sul-americano, sem exagero algum. Ponta esquerda, porém joga também na ponta direita e como camisa 10, e finaliza como centroavante, possui um grande potencial. É o líder de participação em gols no futebol argentino esse ano. Abraços!
É verdade, Saulo, queimamos jogadores e eu tenho criticado muito isso, embora compreenda que isso acontece porque sempre tivemos muitos craques e estamos sequiosos deles. E qualquer possibilidade de termos um craque entusiasma-nos demais. Porém, devemos não ser apenas torcedores emocionais, mas também torcedores que compreendam os aspetos objetivos, os métodos e os tempos, a construção do edifício a partir da base e não do telhado. Havemos de chegar lá, à compreensão da importância de uma gestão abrangente que propricie os meios e os recursos para grandes desempenhos esportivos. Quanto ao Ojeda, assino em baixo das suas palavras, e arrisco dizer que poderia vir a ser a contratação do ano. Abraços Gloriosos.
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