por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Os treinadores de futebol não chegam a aquecer o lugar nos clubes brasileiros. O tempo que se lhes dá para a construção de equipes consistentes é exíguo e, quiçá, ridículo. Mal um clube tem uma série negativa e zás! – RUA com o treinador!
Intenção?... Supostamente – além de livrar a cara dos maus dirigentes – para que rapidamente o clube recupere outra dinâmica vitoriosa por efeito mágico em menos de três tempos.
Foi assim no Botafogo 2020 com os treinadores Alberto Valentim, Paulo Autuori, Bruno Lazaroni, Ramon Díaz e Eduardo Barroca. Um recorde de mudanças!
Resultado?... Ah, sim… foi a descida de divisão para a SÉRIE B 2021!
Porém,
os verdadeiros despromovidos do futebol e das nossas demais atividades
desportivas foram os inenarráveis Nelson Mufarrej e Carlos Eduardo Pereira,
dupla que comandou o Glorioso entre 2015 e 2020 e fez declinar o basquetebol, o
futebol, o futsal, a natação, o polo aquático, o remo e o voleibol.
Nota: em 2018-2019-2020-2021 o Botafogo totalizou 16 técnicos!
4 comentários:
Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra... Embora em menor número, houve temporadas mesmo na última década com estabilidade como 2010/11 (Joel Santana), 2012/2013 (Oswaldo de Oliveira), 2017 (Jair Ventura).
No caso do Joel, não fossem as inúmeras lesões naquele Brasileirão, ao menos na fase de grupos da Libertadores o Botafogo teria se classificado.
A situação do Ventura foi uma união de fatores que apontaram para aquelas inesquecíveis campanhas - o tempo de casa, a união dos jogadores, as contratações pontuais (algo que o Mazzuco tem muito a aprender com o Antônio Lopes quando se trata de eficência e custo x benefício nas contratações) além da sorte que, finalmente, parecia ter sorrido ao Glorioso, mas a malandragem do Renato Gaúcho com o drone superou a raça daquela limitada equipe (tanto em número quanto em técnica) que, nas palavras do próprio Renato, propiciou o jogo mais difícil do Grêmio naquela conquista. Que conste: Não estou passando pano para os erros do Carlos Eduardo Pereira que, a meu ver, começaram quando Bernardo Santoro saiu do clube.
Por fim, e a ressaltar a semelhança com o Luis Castro no que se refere a espectativas e investimentos (estes guardadas as devidas proporções), o trabalho e Oswaldo de Oliveira foi qualquer coisa de instável aos extremos em 2012 (boa campanha no Carioca com uma catástrofe nas finais; Copa do Brasil na média do que o clube estava apresentando naqueles anos; Brasileirão de altos e baixos com um ridículo 12º lugar). Entretanto, em 2013, com o desabrochar do 'cinderello' Rafael Marques, o time encaixado e a chegada do Lodeiro, os resultados foram outros e, só não foram melhores pela implosão na qual já vinha internamente a administração do Maurício e da qual o ovo da serpente foi o possante Eduardo Húngaro e aquele time circense que jogou a Libertadores em 2014.
Com tudo isso em conta, penso que o benefício a dúvida deve ser dado à Castro neste próximo ano. E, conforme dito acima, a comparação dos resultados obtidos pelo O. Oliveira são um ótimo parâmetro comparativo, sobretudo se considerarmos que: 1) As vagas à Libertadores hoje são 2/3 maiores que naquele tempo; 2) O investimento é incomparavelmente superior (desde elenco até a estrutura); 3) O clube tem estádio pra jogar, coisa que não teve em 2013; 4) Em termos de títulos e trabalhos prévios, Oswaldo de Oliveira era um treinador de currículo maior que o Castro (mesmo levando em conta que este último teve trabalhos em Portugal - 6º ou 7º mercado europeu -, Ucrânia e Emirados Árabes, já que o próprio Oliveira tivera temporadas campeãs no Japão, que, dentre os mencionados, perde apenas para o mercado português).
Penso que estes são argumentos factualmente incontestáveis, mas gostaria de saber a vossa opinião.
Aguardemos e torçamos por vôos mais altos!
S.A.N.
O seu comentário é bom e bem recheado de argumentos interessantes para discussão. Darei a minha visão/opinião.
Concordo com o equilíbrio da sua análise. Todavia, eu creio que temos alguma diferença no que respeita aos pressupostos de partida para cada um dos períodos que mencionou, todos com conteúdo objetivo.
A primeira nota que gostaria de mencionar é que foquei a minha análise em dois eixos:
1) a questão dos treinadores, cuja rotatividade coloquei exclusivamente em 2020, e que, em nota final, para reforçar a rotatividade, fiz a constatação de 16 treinadores no Botafogo em 2018-2019-2020-2021, à média de 4 treinadores por ano, não tendo retrocedido a anos anteriores. As suas observações vão mais atrás (2010-2017) e são corretas, mas não me referia a esse período.
2) a questão das diretorias, sobre as quais só mencionei as de CEP-NM, consequentemente situando o período em 2015-2020, já que a anterior diretoria conduziu o Clube à bancarrota que nos custaria muita Série B se Textor não tivesse surgido no nosso horizonte.
Eis as minhas observações principais:
1) Quando me refiro a tempo de um treinador num clube não me refiro a uma ou a temporada e meia (do tipo 2010-2011), mas a 3, 4, 5 anos. Isso infelizmente não existe no futebol do país, o que também não incita os treinadores a incrementarem os seus conhecimentos, estudando e atualizando-se, já que sabem que ao 1º desaire saem. Treinador com tempo refiro-me aos anos de Klopp, no Liverpool, de Guardiola, no City, de J. Jesus, no Benfica, de Conceição no FC Porto, de Simeone no Atlético Madrid, etc. Já sem falar nos anos de A. Ferguson ou A. Wenger à frente do United e do Arsenal, respectivamente. Observar a cronologia profissional dos treinadores brasileiros é verificar que dificilmente se encontra um período do tipo 2013-2015. Veja que os dois clubes mais bem preparados desde há alguns anos, que se reestruturaram, seguiram a mesma linha: entre 2016-2022 o Flamengo teve 17 treinadores (sem contar sequer com os diversos interinos); entre 2016-2020 o Palmeiras teve 12 treinadores, e não teve mais porque o Abel ganhou títulos de topo em 2020-2021-2022, caso contrário já teria seguido a sua vida.
2) Sobre Joel, teve algumas virtudes, e se ficou mais algum tempo foi porque deu a volta à nossa derrota de 6x0 para o Vasco em 2010 e conseguiu chegar a campeão carioca. Mas no ano seguinte também marchou para fora de General Severiano. Quanto a Oswaldo Oliveira, deve-se notar que é um mau treinador (e muito arrogante pessoalmente), que só ganhou algo significativo no início em 1999-2000 porque despediram o treinador anterior que tinha preparado o caminho da equipe para o futuro, e depois nada mais significativo ganhou em clubes de ponta, incluindo a grande equipe do São Paulo em 2002-2003, e acabou emigrando para o ‘fabuloso’ (?) mercado do Japão. Quando regressou foi para o Botafogo, mas o seu mediano sucesso deveu-se claramente a Seedorf (além do acerto do Rafael Marques e do bom desempenho do Lodeiro), que foi o verdadeiro treinador da equipe e a ele se deve a campanha de sucesso (há conhecimento sobre a influência de Seedorf). Depois disso que fez O. Oliveira? Nada, é mau treinador. Inclusive foi ele que discriminou Loco Abreu para não fazer sombra ao seu ‘querido’ Rafael Marques, e por isso acabou por sair extemporaneamente para o Figueirense. De quem gostei realmente foi de Jair Ventura, e foi lamentável que tenha feito, mais ou menos, como fez Túlio Maravilha ao sair do Botafogo. Ainda hoje acredito que JV possa ser um bom treinador se decidir estudar, atualizar-se e ser mais humilde em certos comportamentos profissionais.
3) As Administrações de Assumpção levaram o clube à bancarrota, salvando-se as contratações de Loco Abreu e Seedorf e a alavancagem dada a diversas modalidades desportivas do Clube. Fora isso, liquidou-nos na reta final em favor de interesses próprios, tais como a clara vingança de demitir 4 dos 5 melhores atletas na reta final e carimbar-nos a Série B. Quanto a CEP, nada fez, porque o único aspecto positivo foi nomear Bernardo Santoro para as Finanças do Clube, mas Santoro percebeu logo com quem estava metido e largou o barco no ano seguinte, sob pretexto de apoiar um amigo numa campanha eleitoral. Depois disso, o descalabro continuou, nas finanças, no futebol, nas demais modalidades e nas promessas incumpridas, além de terem a nossa bela piscina abandonada a estiolar ao sol e que se encontra destruída, tal como as modalidades desportivas que citei no texto.
4) Sobre o Castro, a minha análise é simples. Quando fiz o perfil do LC no Mundo Botafogo e vários comentários subsequentes, realcei as suas virtudes ofensivas e os seus defeitos defensivos, e considerei que é um treinador honesto e muito estudioso dos métodos do futebol e do próprio jogo (e que pelos seus excelentes conhecimentos foi contratado pela SporTV e O Globo para comentar a Copa do Mundo), mas não é um Ancelotti, Mourinho, Klopp, Guardiola, etc. É um treinador com experiência em clubes medianos (um deles no ‘fabuloso’ (?) futebol do Qatar), à excepção do Shaktar, um grande clube, e tem o maior desafio da carreira, porque não foi contratado para chegar e vencer títulos de caras, mas sim para algo bem mais difícil – reestruturar todo o futebol botafoguense, assunto pelo qual clamo há mais de 15 anos. Em suma, tem também o meu benefício da dúvida enquanto treinador – porque efetivamente não tem os ‘golpes de asa’ dos melhores treinadores do mundo, mas é sério e trabalhador –, mas também devo reconhecer que os objetivos de JT e LC foram inteiramente cumpridos no que respeita aos resultados desportivos e à reestruturação do futebol desde as bases à equipe principal e com foco também nas infraestruturas para 2023.
Em suma, acredito no projeto. Acredito em Textor com as reservas próprias de acreditar numa pessoa com interesses no alto capitalista e acredito em Castro sobretudo para nos reposicionar estruturalmente para o futuro. O que Castro está fazendo é ‘Futurar o Botafogo’ e fazer-nos pensar de outro modo, e não no imediatismo de títulos sem equipe consistente que se esboroa logo a seguir de cada conquista.
Confesso que tenho esperança em um título importante em 2023 (CdB ou Sul-americana), mas sobretudo quero um Clube e uma equipe de futebol consistente, resiliente, competitiva e que os seus dirigentes, treinadores e jogadores trabalhem com honestidade, dedicação e devoção, porque sem valores nada se constrói com verdadeira sustentabilidade.
OUSAR CRIAR, OUSAR VENCER em 2023!
Abraços Gloriosos.
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