sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Retalhos de uma vida…

 
Manequinho (Manneken Pis), em Bruxelas, na Bélgica, em viagens distintas (2014 e 2007).

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Viveu em 22 residências em África (São Tomé e Príncipe), na América do Sul (Brasil) e na Europa (Portugal), além de um acumulado para mais de 1800 dormidas em hotéis de todo o mundo.

 
Parque Nacional Krueger, na África do Sul (2007).

Conhece todos os continentes e 69 países, fez 28 cruzeiros marítimos e 45 longas viagens terrestres em países estrangeiros, bem como 330 viagens aéreas internacionais. Formou-se em duas universidades com uma graduação em sociologia, uma pós-graduação em gestão e um doutorado em economia. Publicou, no conjunto, cento e trinta livros, artigos científicos e artigos técnicos.

Baía de Luanda, em Angola (2012).

Viveu primeiro a democracia (até 1964) e depois a ditadura brasileira; ao invés, uns anos após viveu primeiro a ditadura e depois a democracia portuguesa (1974), fazendo parte das fileiras dos militares em cumprimento de serviço obrigatório no tempo inesquecível de participação na ‘Revolução dos Cravos’, que fez eclodir a Liberdade no país mais Ocidental do continente europeu.

Ponte Otomana de Mostar, na Bósnia-Herzegovina (2008).

Foi/é Professor Universitário, Cientista Social e Investigador no domínio Socioeconómico, Assessor de Governantes, Consultor Internacional, Diretor de Instituição de Solidariedade Social, Diretor de Empresa e Presidente de Associação Científica, entre outros cargos.

 
Dois Candangos, em Brasília, no Brasil (2011).

É especialmente fã de atletismo, basquetebol, ciclismo, futebol, futmesa, futsal, hóquei patinado, polo aquático, remo, turfe e voleibol. Foi campeão de futebol e de futsal em competições escolares e militares, mas também praticou ocasionalmente vários outros desportos.

A saga botafoguense acompanha-o desde longa data e na sua alma vibra uma paixão incomensurável pelo Glorioso Clube da Estrela Solitária.

Farmácia em Tallin, fundada em 1422, na Estónia (2023).

Nasceu sob a influência do elemento água e dos planetas Marte e Plutão. O seu signo diz, entre muitas verdades e algumas inverdades, que…

É dominador, por vezes cáustico, mas senhor de um poder psicológico notável. Apaixonado, mas também torturado pela sua capacidade de sentir todos os momentos da vida, é atraído pelo mistério, pelo inacessível, pelo oculto.

 
Vista parcial e Mosteiro à direita, em Brasov, na Bulgária (2017).

Absorvente, secreto e com um gosto especial para transformar os outros, saboreia com profundidade todas as etapas da sua existência. Gosta de subjugar aqueles que ama, fazendo-o muitas vezes de um modo extremamente subtil. Os momentos em que se sente exausto são, porventura, o preço que paga por isso.

Por vezes anjo, por vezes demónio, move-se entre os limites que dão profundidade e direção à vida. Não se compadece com meios-termos e detesta a hesitação.

 
Praça do Município, Ilha do Fogo, em Cabo Verde (2016).

Dominador e autoritário? Talvez seja, apenas, uma forte presença da paixão na expressão dos sentimentos que o leva a agir muitas vezes de um modo menos diplomático.

Tem fama de ser vingativo e ciumento. Puro engano. Ele é sim apaixonado pela vida, senhor de uma vontade férrea e de um forte sentido de justiça.

 
Muralha da China, na China (2012).

Ora santo ora demónio, vive enfeitiçado pelos limites, entre o destruir e o renovar, entre o fogo e as cinzas, entre a morte e a vida.

Autoritário com os outros e exigente consigo mesmo, é rígido nos seus métodos, nas suas ambições e nas suas atitudes.

 
Acessando o Mundo Botafogo ao ar livre, em Dubrovnik, na Croácia  (2008).

A estratégia, a persistência e o espírito crítico fazem parte da sua natureza. Investigadores, cientistas, detetives, psicanalistas e, em geral, profissões ligadas ao oculto, ao secreto, são algumas das carreiras que se podem relacionar com este tipo de pessoa.

 
Os famosos Cadillac americanos, em Havana, Cuba (2015).

Porém… não se sabe ao certo o que ele é. Até porque o escritor José Saramago expressou um dia que "dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que nós somos".

 
Castelos de Vale do Loire, em França  (2009).

Ao certo sabe-se que faz parte de uma nova franja social nascida depois de 1950, que se entusiasmou com Che Guevara, com os escritos Libertários, com The Beatles e The Rolling Stones e que afinou as suas Utopias durante o Maio Francês, acreditando que poderia mudar o mundo juntamente com os da sua geração. Hoje continua filosoficamente libertário, ainda nele habita o lema da ‘Liberdade, Igualdade e Fraternidade’ da Revolução Francesa e acredita que até agora a Social-democracia foi o sistema político aplicado que trouxe maior equidade à humanidade.

Terraço do hotel, em Bissau, Guiné (2015).

Mas… o tempo passa e…

Se estivermos atentos podemos notar que está aparecendo uma nova franja social: a das pessoas que entraram na década dos setenta anos de idade – os ‘septualescentes’ – e fazem parte da geração que rejeita a palavra ‘septuagenário’, porque simplesmente não está nos seus planos deixar-se envelhecer.

 

Meridiano de Greenwich, linha imaginária que intercepta o Ocidente e o Oriente, em Londres, Inglaterra (2013).

Trata-se de uma verdadeira novidade demográfica – parecida com a que, em meados do século XX, se deu com a consciência da idade da adolescência, que deu identidade a uma massa de jovens oprimidos em corpos desenvolvidos, que até então não sabiam onde meter-se nem como vestir-se.

 
Cidade de Petra, na Jordânia (2010).

Este novo grupo humano que hoje ronda os sessenta/setenta anos teve uma vida razoavelmente satisfatória.

São homens e mulheres independentes que trabalham há muitos anos e que conseguiram mudar o significado tétrico que tantos autores deram durante décadas ao conceito de trabalho. Que procuraram e encontraram há muito a atividade de que mais gostavam e que com ela ganharam a vida.

 
Estátua à porta do Museu de Cristiano Ronaldo, no Arquipélago da Madeira, em Portugal (2017). 

Talvez seja por isso que se sentem realizados… Alguns nem sonham em reformar-se. E os que já se reformaram gozam plenamente cada dia sem medo do ócio ou da solidão, crescem por dentro quer num, quer na outra.

Miradouro no Centro Histórico de Vilnius, na Lituânia (2023).

Desfrutam a situação, porque depois de anos de trabalho, criação dos filhos, preocupações, falhanços e sucessos, sabe bem olhar para o mar sem pensar em mais nada, ou seguir o voo de um pássaro da janela de um 5.º andar ou fruir numa casa da serra a vastidão dos campos e dos montes…

 
Mural de Graffiti, em Moçambique (2010).

Neste universo de pessoas saudáveis, curiosas e ativas, a mulher tem um papel destacado. Traz décadas de experiência de fazer a sua vontade, quando as suas mães só podiam obedecer, e de ocupar lugares na sociedade que as suas mães nem tinham sonhado ocupar.

 
Estádio Olímpico Nilton Santos, Botafogo 1x0 River Plate, no Rio de Janeiro, no Brasil (2007).

Esta mulher ‘septualescente’ sobreviveu à bebedeira de poder que lhe deu o feminismo da década de 1960. Naqueles momentos da sua juventude em que eram tantas as mudanças, parou e refletiu sobre o que na realidade queria.

 Castelo do Conde Drácula, Transilvânia, na Roménia (2017).

Algumas optaram por viver sozinhas, outras fizeram carreiras que sempre tinham sido exclusivamente para homens, outras escolheram ter filhos, outras não, foram jornalistas, atletas, juízas, médicas, diplomatas… Mas cada uma fez o que quis: reconheçamos que não foi fácil, e no entanto continuam a fazê-lo todos os dias.

Algumas coisas podem dar-se por adquiridas.

 
Cidade romana de Palmyra, na Síria (2010).

Por exemplo, não são pessoas que estejam paradas no tempo: a geração dos ‘setenta’, homens e mulheres, lida com o computador como se o tivesse feito toda a vida. Escrevem aos filhos que estão longe (e vêem-se), e até se esquecem do velho telefone para contatar os amigos – enviam emails com as suas notícias, ideias e vivências. E movimentam-se com à vontade nas redes sociais.

Roça de São João dos Angolares, em São Tomé e Príncipe – paixão paradisíaca (2011).

De uma maneira geral estão satisfeitos com o seu estado civil e quando não estão, não se conformam e procuram mudá-lo. Raramente se desfazem em prantos sentimentais.

 
Linha do Equador imaginária que intercepta o Hemisfério Norte e o Hemisfério Sul, na Ilha das Rolas, em São Tomé e Príncipe – paixão paradisíaca (2011).

Ao contrário dos jovens, os ‘septualescentes’ conhecem e pesam todos os riscos. Ninguém se põe a chorar quando perde: apenas reflete, toma nota, e parte para outra…

 
Árvores da minha vida, em São Tomé e Príncipe – paixão paradisíaca (2011).

Os maiores partilham a devoção pela juventude e as suas formas superlativas, quase insolentes de beleza; mas não se sentem em retirada. Competem de outra forma, cultivam o seu próprio estilo…

Castelo de Sigulda, em Riga, na Letônia (2023).

Os homens não invejam a aparência das jovens estrelas do desporto, ou dos que ostentam um terno Armani, nem as mulheres sonham em ter as formas perfeitas de um modelo. Em vez disso, conhecem a importância de um olhar cúmplice, de uma frase inteligente ou de um sorriso iluminado pela experiência.

 
Restaurante típico mais famoso da África Austral, na Suazilândia (2007).

Hoje, as pessoas nos anos dos setenta, como tem sido seu costume ao longo da sua vida, estão estreando uma idade que não tem nome. Antes seriam velhos e agora já não o são. Hoje estão de boa saúde, física e mental, recordam a juventude mas sem nostalgias inócuas, porque a juventude, ela própria, também está cheia de nostalgias e de problemas.

Deserto do Saara, na Tunísia (2009).

Celebram o sol em cada manhã e sorriem para si próprios... Talvez por alguma secreta razão que só sabem e saberão os que já chegaram aos 70 no século XXI...

 
O meu refúgio da Serra, em Portugal.

Tal como Fernando Pessoa, “Sinto-me renascido a cada momento para a eterna novidade do mundo…

Imagens: Fotografias obtidas a partir de 2007 (quando comecei a participar como colunista em diversos blogues botafoguenses e de futebol e criei o Mundo Botafogo), data a partir da qual passei a levar nas minhas viagens profissionais e de lazer as camisas do Botafogo por sugestão de um amigo botafoguense – usando e abusando da Camisa Gloriosa desde então.

7 comentários:

Anónimo disse...

Rui grande amigo Tuga e Botafoguense apaixonado (como eu). Parabéns pelo belo, sincero relato histórico sobre si. Notei que no deserto do Saara vc não esteve com a camisa gloriosa. Um ponto a menos hahaha.
Enfim, meus PARABÉNS.
Ano que vem entro na firma que você titulou, e gastei, de septualescentes.
Viajei pelas fotos e oelos lugares apaixonantes e pelo seu cantinho na terrinha. Abs
Jacob

Ruy Moura disse...

Obrigadão, meu estimadíssimo Jacob! De vez em quando faço coisas estranhas e inesperadas como essa (que já havia feita uma vez, antes). Coisa de septualescente... Ou de pessoa 'estranha'... (rsrsrs)

No Saara as camisas do Botafogo aquecem ainda mais o corpo. Ainda me lembro, apesar de serem viagens que fiz antes de 2007 - ano de criação do blogue -, dos 50 graus que apanhei nos desertos de norte a sul do Egito (incluindo a viagem 'escaldante' pelo Nilo) e os 70 graus dentro das pirâmides, e mais recentemente no deserto da Jordânia fazendo a rota de Lawrence da Arábia. Por isso é necessário cuidado. Também já apanhei 'congelamentos' na Rússia, nos Alpes e nos Pirinéus. Aí são outros cuidados, mas esses são mais suportáveis do que o calor dos desertos. Admiro os ultramaratonistas que fazem marchas em territórios climaticamente extremistas em busca de recordes inacreditáveis e de fama.

E podes entrar na Liga dos Septualescente com distinção face à saúde e ao bom trato físico que exibes! Sejas bem-vindo! (rsrsrs)

Abraços Gloriosos.

Alexis disse...

Tudo muito bacana. Agradável esta junção entre viagens nacionais e internacionais, história e o Botafogo.

Ruy Moura disse...

É divertido escrever textos desse tipo. E divirto-me muito com o nosso Botafogo e as pesquisas que faço. É uma tendência desde os 9 anos em que devorava todos os jornais no sótão do meu avô. Comecei a esboçar textos sobre futebol e turfe, acabei por escrever um romance que nunca publiquei, convivi com os morcegos que viviam no sótão (talvez por isso aprecio o estilismo do Batman) e acabei por levar o hábito da pesquisa para as atividades profissionais que escolhi e para plasmar neste blogue o mundo percorrido pelo Botafogo desde 1894 130 anos a comemorar em 2024. Uma delícia!

Abraços Gloriosos.

Sergio disse...

Que retalhos e que trajetória! Patente por uma vida tão intensa e acima de tudo botafoguense! Eu viajei muito pouco, mas o que viajei me fez muito bem, mas a minha maior viagem sempre foi iniciar uma composição e conseguir termina-la de modo satisfatório, posso garantir que é uma bela viagem. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Em termos de atividade profissional compreendo perfeitamente essas viagens musicais. Eu tenho sentido muitas vezes o mesmo quando chego ao fim de uma pesquisa científica e se descobrem novas realidades em emergência ou ocorrências importantes até aí ocultas. Na 'sua' arte e na minha 'ciência' há uma forte complementaridade de descoberta 'espiritual'. E certamente noutras profissões haverá semelhanças de belas viagens.
Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Adenda. Um exemplo incrível de como se pode viajar nas mais diversas profissões: quando fui diretor-geral de uma instituição tinha um chefe de contabilidade que adorava ter contas erradas, nem que fosse por um tostão, para encetar uma viagem de busca intensa e no final 'aprisionar' o dito tostão 'malicioso'. Ficava com o espírito a transbordar de alegria!

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