por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Há muito, muito tempo, que não assistia a um clássico do
Botafogo em que as duas equipes jogaram de peito aberto para ganharem com base
em ataques constantes e muito bem organizados. Sou insuspeito nessa matéria
porque os jogos tu cá, tu lá, partidos e desorganizados, designados muitas
vezes por ‘eletrizantes’, não são do meu agrado. Porém, este tu cá, tu lá,
permanente, sobretudo na 1ª parte do jogo, foi algo absolutamente
extraordinário pela coragem, ousadia e qualidade dos intervenientes.
O início da partida foi esfusiante em dinâmicas de ataque
de grande recorte técnico, obstaculizadas por grande organização do setor
defensivo e dois goleiros de craveira superior. De tal modo que, pasme-se!, até a
arbitragem se rendeu ao espetáculo e deixou-o prosseguir com poucas
interrupções (exceptuando três paragens do contra-ataques rápidos do Botafogo
na 1ª parte com a alegação de haver jogadores contundidos no relvado).
Os esquemas táticos, as articulações, as variações
atacantes mostraram estarmos perante, muito provavelmente, os dois melhores
Coletivos futebolísticos do país, comandados, também provavelmente, pelos dois
melhores técnicos em ação no Brasileirão.
O Botafogo terá começado melhor a partida levando perigo
logo aos 2’ com avanço de Luiz Henrique servindo Júnior Santos que rematou ao
lado. O Palmeiras procurou responder, e aos 8’ John começou a brilhar defendendo
miraculosamente um remate de Flaco López. Logo depois, aos 9’, foi novamente o
Botafogo que poderia ter aberto o placar quando Savarino serviu Marlon Freitas
e este desperdiçou à entrada da área permitindo que o goleiro espalmasse a bola.
As duas equipes
permanecerem respondendo com ataques de qualidade e aos 14’ Júnior Santos teve
nos pés a sua melhor oportunidade de marcar, mas permitiu mais uma estupenda
defesa de Weverton. Aos 18’ foi a vez de John defender um gol quase certo de
Flaco López. Talvez na única grande distração da defesa do Botafogo, o palmeirense
recebeu um passe longo entre três defensores que lhe permitiram avançar e, cara
a cara com John, o nosso goleiro ia caindo para o lado direito mas ainda conseguiu
espalmar com a mão esquerda, na melhor defesa do encontro.
O jogo acalmou um pouco, o Botafogo conseguiu reprimir os
ataques do Palmeiras, as jogadas perigosas de contra-ataque mantiveram-se, mas
as oportunidades flagrantes escasseavam. As investidas mais perigosas eram de
Luiz Henrique – que finalmente estreou no Botafogo mais condizente com o seu
nível técnico –, mas Júnior Santos, embora muito esforçado, não tem sido letal
como antes, e Tiquinho fazia um extraordinário jogo de pivô, porém a sua
presença na área era menor.
E pelos 36’ o jogo tornou a aquecer novamente quando Raphael
Veiga recebeu dentro da grande área e Barboza salvou de cabeça. E um minuto
depois Luiz Henrique chutou um petardo cara a cara com o goleiro dentro da grande
área, mas o remate foi à figura de Weverton. E logo depois, aos 38’, Barboza cabeceou
perigosamente ao lado do ângulo direito da baliza do Palmeiras. As 45’, numa
grande trama de triangulação do contra-ataque botafoguense, Luiz Henrique
hesitou por um instante e perdeu aquela que seria a mais bonita jogada de gol.
Na 2ª parte o jogo manteve uma intensidade permanente,
com muita qualidade, belíssima de ver, e Júnior Santos poderia ter ampliado aos
53’, mas perdeu a oportunidade de marcar cara a cara com Weverton, que fez nova
grande defesa. Porém, logo aos 55’ Luiz Henrique arrancou pela ala direita, arrastou
consigo o lateral, foi à linha de fundo tal e qual Garrincha, cruzou para trás,
a bola atravessou a área e Tiquinho, isolado no lado contrário, inaugurou o
marcador. Botafogo 1x0.
Creio que a jogada foi estudada, porque Tiquinho já
marcou algumas vezes a partir dessa posição isolada pelo lado esquerdo quando
todo mundo está atento ao que acontece do outro lado, no caso, a fortíssima
investida de Luiz Henrique.
Aos 61’ foi a vez de John defender um perigosíssimo
remate de meia distância de Piquerez. Aos 69’ foi Tiquinho que girou sobre si
mesmo dentro da grande área, mas rematou à figura do goleiro.
Daí em diante o Palmeiras forçou mais os ataques em busca
do empate, jogando-se com muita intensidade, mas os setores mais recuados da
nossa equipe tinham absoluta compreensão do jogo jogado, fechou todos os
espaços ao Palmeiras, que apesar da posse de bola não criava situações
eficazes, e então passou ao chuveirinho durante largos minutos até ao fim do
jogo, sobressaindo mais ainda a boa zaga do Botafogo, já que Bastos Quissanga e
Alexander Barboza cortaram eficientemente todas as bolas aéreas do Palmeiras.
Gerindo a partida com muita qualidade, efetuando as
faltas inteligentes necessárias, o Botafogo continuou a marcar fortemente os
adversários e soube travar as derradeiras tentativas do Palmeiras mediante uma
soberba postura de assertividade futebolística. E Kauê ainda teve uma perdida
flagrante para ampliar ao 87’ fruto de contra-ataque, mas isolou a bola.
O resultado foi termos conseguido pela 1ª vez neste
Brasileirão quatro vitórias consecutivas e três jogos sem tomar gols, depois de
nos seis anteriores termos tomado gols em todos os jogos. A afinação do setor defensivo
aumentou e se reforços vierem teremos uma superdefesa com um supergoleiro.
Em suma, jogo sensacional, equilibrado na maior parte dos
itens, mostrando dois sérios candidatos na disputa pela liderança e
evidenciando a maior eficácia do Glorioso, que venceu com toda a justiça.
O gol e a vitória permitem avaliar que Artur Jorge tem
razão quando não gosta de destacar individualidades, porque, sejamos claros, o
craque pode decidir o resultado, mas quem vence é o coletivo!
Ousar Criar, Ousar Lutar, Ousar Vencer!!!
FICHA TÉCNICA
Botafogo 1x0 Palmeiras
» Gols: Tiquinho Soares, aos 55’
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 17.07.2024
» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
» Público: 35.810 pagantes; 39.570 espectadores
» Renda: R$ 2.545.730,00
» Árbitro: Anderson Daronco (RS); Assistentes: Lúcio
Beiersdorf Flor (RS) e Michael Stanislau (RS); VAR: Daniel Nobre Bins (RS)
» Disciplina: cartão amarelo – Alexander Barboza e Damián Suárez (Botafogo)
» Botafogo: John; Damián Suárez, Bastos, Alexander Barboza e Marçal; Gregore e
Marlon Freitas (Danilo Barbosa); Luiz Henrique (Kauê), Júnior Santos (Igor
Jesus), Tiquinho Soares (Tchê Tchê) e Savarino. Técnico: Artur Jorge.
» Palmeiras: Weverton; Marcos Rocha (Mayke), Murilo, Gustavo Gómez e Piquerez;
Aníbal Moreno, Gabriel Menino (Felipe Anderson) e Raphael Veiga (Caio Paulista);
Estêvão (Mauricio), Flaco López e Rony (Dudu). Técnico: Abel Ferreira.
4 comentários:
Ontem foi provavelmente o melhor jogo no Brasil nos últimos anos, protagonizado por duas equipes muito fortes, tando individual mas sobretudo coletivamente. Depois do jogo fiquei a pensar: se viesse o Artur Jorge ao invés do Bruno Lage, muito provavelmente o Botafogo seria campeão ano passado, é um treinador muito inteligente, sabe armar uma equipe e tirar o melhor de seus jogadores, e o exemplo da visão que tem do campo foi a correção que fez na marcação da defesa depois daquela investida do Flaco Lopez que resultou numa defesa extraordinária do John. Repito, dois times muito bons com dois treinadores de ponta.
Confesso que ao perguntar a você sobre o Artur Jorge, fiquei preocupado quando disse que o problema dele era a parte defensiva, mas parece que ele melhorou muito nesse quesito e que os possíveis reforços para a defesa poderão melhorar muito o desempenho, muito embora a atuação da defesa tenha sido muito boa. O elenco do Botafogo esse ano é muito forte, superior ao do ano passado.
De um modo geral gostei do time, mas gostaria de destacar dois em especial: o goleiro John e o Luís Henrique. A razão de destacar esses dois atletas é pelo fato de um sem número de cornetas criticando os dois. O John com defesas soberbas e o Luís Henrique começando a jogar o que sabe, e a referência ao Garrincha foi exata, esta era a jogada mortal do Garrincha.
O mais empolgante da vitória ontem, foi que o Botafogo não ganhou de um adversário qualquer, mas de um dos melhores times sul americanos, e isso é animador.
O Botafogo será campeão? Não sei, mas acho que vai brigar pelos títulos que está disputando, e uma coisa ficou bem claro no jogo de ontem e de algumas outras partidas: o elenco está maduro, sabe o que fazer para controlar a partida e é um time muito difícil de ser batido. Abs e SB!
Análise cirúrgica, Sergio. Só faço uma ressalva: o Textor arrependeu-se, e confessou ter sido o maior erro dele, quando foi atrás da conversa do Mazzuca e despediu o B. Lage para efetivar o L. Flávio. Na verdade, embora com mais dificuldade, o Lage teria sido campeão. Com ele não faríamos aquelam figura desastrosa de não ganharmos nenhum dos últimos onze jogos. Ele acabaria por endireitar a lateral e colocar o Tiquinho novamente em forma como antes da lesão. Quem acabou com o campeonato foi o frouxo do L. Flávio e depois o inoperante T. Nunes.
No mais, perfeitamente de acordo: (1) não quis ir tão longe como o Sergio sobre ser o melhor jogo no Brasil em vários anos, até porque não vejo jogos dos outros clubes, mas acredito piamente que sim; (2) ao contrário dos muitos treinadores que o Botafogo teve desde o nefasto Assumpção, AJ sabe ler bem o que se passa em campo e age em conformidade; (3) o AJ parece que aprendeu bastante com as três goleadas de 5x0 que levou do Sporting e percebeu que o seu propor jogo deve ser dimensionado sempre tendo em conta o adversário, e não apenas a identidade da sua equipe; (4) eu talvez escolhesse, no limite John e Luís Henrique como os melhores em campo, mas é muito difícil avaliar isso, porque toda a equipe se movimentou muito bem, Tiquinho um grande pivô, Júnior Santos arrastando os defesas e dando espaço para Tiquinho marcar, Luís Henrique foi o maior desequilibrador da defesa adversária, Savarino foi um distribuidor fantástico, Gregore e Marlon Freitas foram incansáveis, os laterais desempenharam bem, a zaga excedeu-se e o goleiro cresce a olhos vistos.
Não penso em títulos, penso no próximo jogo e nos três pontos para fruir mais uma vitória. Vamos disputar taco a taco cada jogo e no final faremos as contas, treino a treino, jogo a jogo, vitória a vitória. Vão-se ver ‘gregos’ para nos ganhar porque a equipe está totalmente unida, cm moral e blindada pelo treinador. Tenho fé num ano com muitas e belas vitórias.
Abraços Gloriosos.
Concordo que com o Bruno Lage o Botafogo poderia ser campeão, e de fato o Textor se arrependeu de tê-lo mandado embora. Felizmente o Mazzuco saiu do Botafogo e, apesar de algumas boas contratações, os erros de gestão no segundo turno cometidos pelo ex diretor for de uma falta de inteligência incrível.l, culminando na contratação do Tiago Nunes, cujo único trabalho consistente foi no Atlético Paranaense. Depois desse trabalho só desastres. Abs e SB!
É o eterno problema da estrutura de poder. Mazzuco não suportava Castro nem Lage, porque nenhum dos dois o deixava meter o nariz onde não era chamado, e nunca aceitou essa situação absolutamente legítima dos dois treinadores. Preferiu chamar "Lento" Flávio e depois o Tiago Nunes, que podia controlar. Admito que o JT tenha decidido mais tarde a saída dele e por isso o Mazzuco foi à procura de outros ares. Simplesmente, quem sugeriu e ou apoiou L. Flávio para técnico, seja Mazzuco seja apenas torcedor, ou não percebe nada de futebol, tendo em conta que L. Flávio nunca poderá ter capacidade de gerir crises, ou, n caso de Mazzuco, prefere alguém que possa controlar inteiramente independentemente de clocar em risco os objetivos traçados.
PS: B. Lage é um perfeito incapaz no domínio da comunicação, acumulando erros sucessivos e desnecessários - além de brusco na relação social -, e foi isso que o tramou. Porque tinha razão quanto a Tiquinho, isto é, ele estava - e manteve-se -, numa péssima forma depois da lesão, e havia que prepará-lo em treino para a melhria de forrma, e o Tchê Tchê como lateral era uma solução de recurso, como, aliás, já sucedera antes - porque aquela lateral era um vazadpuro para gls dos adversários.
Abraços Gloriosos.
Enviar um comentário