por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Um jogo de futebol que reunia o líder e o vice-líder, em
disputa direta pela manutenção ou alteração da liderança, dificilmente deixaria
de ser um jogo verdadeiramente interessante cujas equipes são comandadas por
dois grandes intérpretes da estratégia futebolística – Artur Jorge e Juan
Vojvoda.
Ambas as equipes jogaram reconhecendo a grande valia do
adversário e claramente se estudaram durante umas duas dezenas de minutos, com
o Botafogo dominando as operações de ataque e o Fortaleza cauteloso nas
operações de defesa.
Porém, sempre por cima do jogo, determinado a vencer, o
Botafogo preencheu o meio campo deixado pelo recuo do Fortaleza e concatenou
inúmeros ataques que desgastavam o adversário, enquanto a equipe de Vojvoda só
timidamente chegava ao ataque, explorando ligações diretas, mas esbarrando no
desempenho fenomenal de Barboza e na firmeza de Bastos – que não permitiam
nenhum ataque perigoso do adversário.
O Botafogo não somente fazia bem a transição atacante,
mas foi esmerado na transição defensiva, nunca descuidando da recomposição da
retaguarda.
E, assim, as oportunidades de gol não apareciam com clareza,
porque ambas as equipes montaram um sistema de marcação notável, e sem
descuidar o ataque sempre que possível. O Botafogo dominava a partida usando de
muita mobilidade, que exigia esforços redobrados do adversário a defender-se
para não se desarticular, atacando sempre com os dois meio-campistas ofensivos
e os dois atacantes, reforçado pelos dois laterais avançados, deixando a defesa
guardada pelos dois meio-campistas defensivos e a zaga, recuando os dois
laterais sempre que a bola era perdida na frente.
E nesse jogo estratégico a primeira oportunidade real de
gol pertenceu a Igor Jesus, que se ergueu livre no alto para cabecear aos 27’,
mas a pontaria não foi tão afinada quanto desejaria e a bola saiu ao lado com o
goleiro batido.
Daí em diante o Botafogo ainda cresceu mais, articulando
as suas melhores jogadas com a bola no solo e o gol parecia estar amadurecendo.
Seria apenas uma questão de tempo, embora Luiz Henrique, muito marcado e bem
menos criativo do que o habitual, perdia oportunidades de finalizar dentro da
área devido a não conseguir iludir a marcação.
Faltava, então, claramente, um homem para arrastar a
defensiva adversária, abrir espaços na muralha do Fortaleza e permitir a
entrada de um dos outros 3 homens que atacavam – tal como Júnior Santos fazia, no seu trabalho
claramente coletivo de criar oportunidades de gol aos companheiros.
Apesar disso, o Fortaleza cada vez mais sentia
dificuldades em conter a avalanche alvinegra, e eis quando aos 37’ o goleiro do
Fortaleza simulou um ‘dói-dói’ em jogada de gol iminente e ficou algum tempo no
chão aos cuidados da sua equipe médica, para esfriar os ânimos atacantes do
Botafogo.
Mas nem assim o Glorioso parou de atacar, embora o grande
objetivo de um jogo de futebol não fosse alcançado na 1ª parte – o gol!
Todavia, para que se tenha noção do que foi o filme da 1ª
parte, veja-se alguns dados do jogo: Botafogo com 75% de posse de bola, 8
escanteios contra 1, 12 remates contra 6, 6 remates bloqueados contra 1, em nehum momento o Fortaleza teve uma oportunidade real de gol.
Na 2ª parte o Botafogo aprofundou o seu domínio e aos 49’
Luiz Henrique teve a clara oportunidade de marcar através de remate frontal que
foi parar às mãos de João Ricardo; aos 55’ Savarino teve a oportunidade de rematar
no semicírculo da grande área, mas a noite não era sua e todos os seus remates
foram desenquadrados da baliza; aos 56’ um remate acabou por ser bloqueado in extremis após excelente teia de
triangulações urdidas pelo ataque botafoguense – novamente se sentindo a falta
do abre-defesas, Júnior Santos, para rebentar com o cadeado defensivo do Fortaleza.
Artur Jorge decidiu, então, refrescar o ataque para
desgastar mais ainda a defensiva contrária e fez entrar, de uma assentada,
Danilo Barboza, Tiquinho Soares e Matheus Martins em lugar de Gregore, Luiz
Henrique e Savarino, sendo Gregore por via de já ter um cartão amarelo e Luiz
Henrique e Savarino por maior desgaste numa noite que não havia sido das
melhores para eles.
E na jogada seguinte o gol inaugural que teimava em não
aparecer. Efeito das substituições? Efeito de uma jogada fenomenal de equipe?
Nada disso. Foi efeito do momento mais inspirador e criativo de um atleta do
Botafogo durante toda a partida – um passe de 40 metros de Alexander Barboza
direitinho para os pés de Igor Jesus descaído pela direita do ataque do
Botafogo e já entrando na grande área. O artilheiro avançou, amorteceu a bola
no peito, a marcação colocou-se imediatamente à sua frente, o goleiro fechou o
ângulo, mas a rapidez do remate de primeira e cruzado de Igor Jesus descobriu
um espaço milimétrico e o esférico aninhou-se no fundo das redes do ex-líder do
campeonato a partir daquele instante. Botafogo 1x0.
Gol do 99 e a liderança adversária que morre!
Ferido de morte, o Fortaleza ainda tentou atacar
galhardamente, mas o Glorioso fora renovado de forças no ataque e o desgaste
foi-se acentuando com tantos ataques do Botafogo ao longo do jogo – que dominou
de ponta a ponta.
Aos 79’ um chutaço de Tchê, Tchê saiu rasando o poste e
aos 85’ era visível o desnorte no rosto de Vojvoda perante a avalanche
botafoguense e a energia da sua defensiva a claudicar. Que fazer? – pensava
ele. E não encontrava resposta possível para uma equipe que tipicamente joga na
defensiva e espera pacientemente por um erro adversário, que não aconteceu, nem
a meio campo, nem na zaga, onde Alexander Barboza não cometeu nenhum erro,
acertou em todas as suas intervenções e fez – embora de outro modo – o papel que Júnior Santos fazia para desbaratar a defesa, no caso concreto rasgando a defesa com um passe fenomenal à Gérson, Canotinha de
Ouro, ou à Didi, como prefira o leitor, para o gol tão esperado, amadurecido e
profundamente desejado por toda a enorme multidão que no Niltão incitou o
Botafogo durante todo o tempo.
E eis que com a vitória na mão, Tiquinho Soares tocou de
calcanhar para Marlon Freitas lançar de primeira, ainda na nossa intermediária,
Igor Jesus, que, na corrida, bateu dois defensores do Fortaleza já estafados da
surra de ataques impostos pelo Glorioso e fuzilou João Ricardo, aos 90+1’, estabelecendo
o placar final que mostra à evidência que o Botafogo joga futebol a sério,
concentrado e determinado desde o primeiro ao último minuto. Botafogo 2x0.
Como notas finais:
I
Vale lembrar que a CBF poderia cuidar de se livrar do seu
ridículo papel de pretender diminuir a dinâmica da equipe nas partidas no
Niltão ao desmembrar todos os jogos do Botafogo para os sábados à noite,
visando dificultar a presença da torcida (e talvez diminuir a receita de
bilheteira), porque isso não vai desmobilizar uma torcida que sempre disse que
jamais se renderá – o que faz é diminuir a dinâmica de um campeonato cujo
esforço dos atletas a CBF não é merecedora!
II
Destacar que bastou uma semana para o Botafogo renovar
energias e elevar o seu futebol ao nível das estrelas, mostrando à saciedade
que o calendário CBF é absurdo, ‘homicida’ do desempenho dos atletas e
prestador de um péssimo serviço ao futebol brasileiro – dentro e fora de
portas!
III
O Botafogo não permitiu ao ex-líder Fortaleza evidenciar as suas qualidades atacantes, não havendo, ao longo do jogo, nenhuma real oportunidade de gol a favor do adversário, evidenciando o absolutismo do futebol do Glorioso.
IV
Realçar que, apesar de poucas vezes destacar as ações
individuais dos atletas para os desfechos das partidas, porque o individual
pode ser decisivo aqui e ali, mas o coletivo é que faz as conquistas, anoto com
muita satisfação o desempenho de Alexander Barboza por não ter errado nenhum
desarme nem nenhum passe e ser o responsável para o lindo passe ‘fatal’ – pelo
que, pese embora o par de gols obtido por Igor Jesus, considero que Barboza foi
o maior destaque individual da partida, o ‘craque’ do jogo.
V
Finalmente partilhar com os leitores que fui enxadrista
em tempos idos – ainda pratico quando os amigos a isso se dispõem – e que este
foi um jogo tipicamente de xadrez em que a paciência, aliada à ousadia,
sobrepôs-se claramente à estratégia defensiva que espera tão-somente um deslize
adversário para o encurralar. A estratégia defensiva é legítima, mas raramente
acaba por chegar ao estrelato.
E o Botafogo é o Clube da Estrela d’Alva, ou seja, Vênus,
designada nos tempos romanos como a ‘Deusa do Amor e da Beleza’ – e assim se
juntaram, na Gloriosa noite de ontem, o Amor da torcida à Beleza estratégica e
tática do melhor futebol brasileiro da atualidade.
Porém, sem esquecer a máxima: “jogo a jogo”, que vale
tanto para a comissão técnica e o plantel como para a torcida. Ou como assevera
o ditado popular: “de grão a grão, enche a galinha o papo”.
Abraços Gloriosos e muita fruição nos próximos 15 dias,
saboreando a vitória e a liderança.
FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x0 Fortaleza
» Gols: Igor Jesus, aos 72’ e 90+1’
» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
» Data: 31.08.2024
» Público: 28.594 pagantes; 32.564 espectadores
» Renda: R$ 1.890.400,00
» Árbitro: Flávio Rodrigues de Souza (SP); Assistentes: Bruno Boschilia (PR)
e Danilo Ricardo Simon Manis (SP); VAR: Rodrigo
Guarizo Ferreira do Amaral (SP)
» Disciplina: cartão amarelo
– Gregore, Bastos, Artur
Jorge e Marçal (Botafogo) e Cardona, Brítez, Pedro Augusto e Kervin Andrade
(Fortaleza)
» Botafogo: John; Mateo Ponte (Tchê Tchê), Bastos, Alexander Barboza e Cuiabano (Marçal); Gregore (Danilo Barbosa), Marlon Freitas e Thiago Almada; Luiz Henrique (Tiquinho Soares), Igor Jesus e Savarino (Matheus Martins). Técnico: Artur Jorge.
» Fortaleza: João Ricardo; Brítez, Kuscevic, Cardona (Felipe Jonathan) e Bruno Pacheco; Lucas Sasha (Kervin Andrade); Hércules (Pedro Augusto) e Pochettino (Emmanuel Martínez); Moisés (Yago Pikachu), Breno Lopes e Lucero. Técnico: Juan Pablo Vojvoda.
2 comentários:
Meu caro Ruy, análise perfeita. A única dúvida minha é ler o nome do Júnior Santos em alguns momentos como se ele estivesse em campo, creio que foi um lapso.
Realmente o time do Botafogo ontem jogou muito bem, não deixou o Fortaleza jogar . E discordo daqueles que disseram que o Fortaleza jogou como time pequeno, não jogou como time pequeno não, é um bom time que tem uma estratégia de esperar o adversário e conseguir o contra ataque fatal. Na verdade não minha visão foi o Botafogo que não deixou o Fortaleza jogar. O Botafogo descansado e com os titulares é um time difícil de ser batido e tem a paciência para resolver o jogo.
Gostei muito da atuação de todos os jogadores, destaco a importância do Marçal que muitos queriam fora do Botafogo. Pode não ser craque mas nos momentos de sufoco ele dá conta. Mesmo achando bem todos os jogadores do Botafogo que participaram da partida ontem, não posso deixar de destacar s atuação espetacular do Alexander Barboza: impecável na defesa e o seu lançamento para o primeiro gol do Igor Jesus com certeza o Gerson assinaria. Esse lancer lembrou muito o lançamento do Canhotinha na copa de 70 no 4X1 contra a Tchecoslováquia, inclusive a matada no peito do Igor Jesus.
Com as duas últimas contratações e a volta do Júnior Santos e do Jefinho, o leque de opções aumenta muito para o Artur Jorge. O elenco está muito forte e tem condições de brigar nas duas competições. Grande vitória. Abs e SB!
Sergio, também considero que o Fortaleza não joga como equipe pequena, isso é apenas um jargão utilizado que não faz muito sentido quand nos referimos a Fortaleza. O que sucede é que Vojvoda reconhece a superioridade do Botafogo e utiliza exatamente a mesma estratégia que o inominável treinador fugitivo para as Arábias utilizava no ano passado, relembrando-me da espetacular vitória sobre o Palmeiras por 1x0 com 30º% de posse de bola, e foi com essa estratégia predominante que chegou à liderança disparada. elenco do Fortaleza e d Botafogosãoincomperáveis e naturalmente que Vojvoda não poderia terçar as mesmas armas do adversário. O que não esperava era o Botafogo ser capaz de anular todo e qualquer ataque do Fortaleza. Nem sequer um único deslizezinho...
Ontem não gostei da atuação de Savarino. Ele costuma ser muito mais decisivo. Assim como o Luiz Henrique. Mas, enfim, todos nós temos dias mais felizes e menos infelizes.
Em minha opinião Marçal é um bom reserva e deve permanecer no plantel.
É injusto para Barboza que as pessoas destaquem o 'craque do jogo' apenas pelos gols que marca. Igor Jesus teve uma nota talvez de 9,5, já que falhu em algumas ocadsiões, mas Barboza é nota 10, sem nenhum erro e sendo decisivo a abrir a defesa do Fortaleza.
Sobre o JS eu citei-o sempre como fazendo falta à equipe e não me pareceu que se confundisse com 'estar em jogo', mas se o Sergio teve essa dúvida, provavelmente outros leitores também tiveram e, por isso, já ajustei as 3 citações sobre JS de modo a procurar evidenciar que ele fazia falta justamente porque não estava jogando.
Com os reforços, JS e Jeffinho, o plantel fica muito forte. Se não houver lesões longas como as do Tiquinho e do JS, o Botafogo vai ser um osso muito duro de roer e capaz de 'devorar' os adversários (rsrsrs).
Abraços Gloriosos.
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