por RUY MOURA |
Editor do Mundo Botafogo
As projeções estatísticas relacionadas ao
futebol, de matemáticos e instituições que querem ‘aparecer’, fazem-me sorrir,
independentemente de seguirem protocolos metodológicos mais ou menos corretos,
mas sempre – e necessariamente – na omissão de circunstâncias inesperadas, de
decisões enviesadas, de reforços das equipes ou de estratégias de desempenho
crescentes dos atletas, as quais afetam decisivamente o comportamento das
variáveis que conjugadamente apresentam determinados resultados estimados.
E tais variáveis não podem, simplesmente, ser controladas.
De semana a semana dois simples resultados mudam, ou podem mudar, o topo e o sopé da classificação geral, o ‘campeão’, a formação
do ‘G4’ e a formação do ‘Z4’.
Um simples jogo – segundo as probabilidades
estimadas por matemáticos e publicadas no dia seguinte à vitória do Botafogo
sobre o Fortaleza – mudou radicalmente a relação entre Botafogo e Fortaleza na
busca pelo título brasileiro: o Botafogo passou de 26,5% para 41,9% a sua probabilidade
de ser campeão; o Fortaleza passou de 52,4% para 36,5% a sua probabilidade de
ser campeão – isto é, o Botafogo cresceu 15,4% (mais de metade da previsão
anterior) e o Fortaleza diminuiu 15,9%!
Em simultâneo, também um outro matemático no
Infobola atribuía ao Botafogo 48% de chances e o Espião Estatístico do GE
apontava para 42,67%.
Sendo assim tão frequentemente abismais as
diferenças de rodada para rodada, qual é a utilidade destas ‘matematiquices’ no
futebol?...
Acredito que sejam puramente para consumo,
porque arte e ciência, e em particular no futebol, são pouco compatíveis entre
si – embora emoção e razão sejam partes de um todo –, a não ser quando a Inteligência
Artificial dominar a humanidade e estabelecer nova vida inteligente sucessora
dos humanos que se sucederam aos dinossauros.
Embora respaldadas em protocolos
metodológicos seguramente distantes da pura charlatanice, tais ‘probabilidades’
soam às ‘previsões’ de jornalistas, bruxos, cartomantes, videntes e outras
espécies de criaturas impreparadas para o efeito.
Lançou-se, então, a palavra ‘mágica’ para dar
credibilidade a tais previsões – ‘matemática’.
Porém, em futebol as projeções valem tão
pouco que me faz lembrar o grande Jô Soares quando perguntava no seu humor
peculiar: – “Sabes quanto vales, sabes?”.
E logo respondia: – “Vales zero! Vales
zero!”
Outra coisa é, internamente, os responsáveis
de cada equipe calcularem, segundo variáveis concretas – e ainda assim
susceptíveis de se trabalhar com intervalos de confiança pouco elevados –, relacionadas
a variáveis de desempenho e estado físico dos atletas que se afigurem prováveis
em determinados períodos do calendário competitivo, e tendo em conta confrontos
concretos. Porém, isso chama-se ‘planejamento’.
Caros amigos, não nos deixemos enganar como
em 2023: o essencial é o foco ‘treino a treino’, ‘jogo a jogo’ e ‘3 pontos’ a
conquistar rodada após rodada ou eliminatória após eliminatória. Cerrar
fileiras pelo Botafogo, estimular e blindar os jogadores como soubermos, na
qualidade de torcedores, e apoiar a sua comissão técnica neste período decisivo
que se aproxima, é crucial.
Em respeito à ciência, eu recusar-me-ia a
produzir as mencionadas ‘previsões’ matemáticas.
PS: Também sorrio várias vezes quando nos
portais desportivos leio a verborreia previsional de profissionais da imprensa
escrita acerca de resultados para a rodada ou quando se diz que a escrita
mostra que o clube X não perde há 20 anos para o clube Y, e logo nessa rodada o
tabu desfaz-se.
4 comentários:
Estava pensando neste assunto agora mesmo. Quando um blog de Natal reproduziu uma dessas "previsões". Mais uma vez o editor acerta em cheio um missel balístico na estagnada e estabanada imprensa nacional.
A melhor previsão e a mais acertada e na última rodada e se tudo de certo até lá estaremos ou com o título confirmado ou 99%. E vamos contribuir para veracidade da estatística quando a taça estiver na honrosa galeria de troféus do Glorioso. Não podemos ser ingênuos como em 2023.
É isso, Vanilson! Normalmente as nossas cogitações são muito aproximadas. A imprensa, se quisesse, e fosse capaz, tinha tanta matéria interessante para investigar e tantas pessoas com quem confrontar ideias. Mas preferem muitas vezes a mesmice e a notícia ou a reportagem vã. Quando não é pior: boicotar certos clubes com notícias de pedido à medida em vésperas de jogos.
Abraços Gloriosos.
Exatamente, Dinali! Fomos tão ingênuos que até o Tiquinho caiu na esparrela de postar o tema C.T.C.T. (coisa para torcedores, não para profissionais da bola) ou os torcedores envergando faixas com o título de campeão 2023 ou o Caçapa anunciando precocemente que estavamos disputando o título, em vez de manter o rumo 'jogo a jogo'.
Parece-me que, felizmente, tudo isso está ultrapassado, os torcedores estão mais contidos e o AJ trata de blindar a equipe e não os deixa entrar na roda de bobos. Aliás, esta equipe parece-me mais madura que a de 2023.
Lembro-me que o Ruben Amorim, no Sporting, até ser matematicamnete campeão na temporada de 2020/2021, rechaçou tdas as provocações de jornalistas que queriam que ele assumisse título. Assumiu quando matematcamente o Sporting já era campeão virtual antecipado. E depois, sim, a torcida explodiu de êxtase durante algumas semanas. Temos tempo para comemorar o título se lá chegarmos, mas apenas, como disse no seu comentário, quando a taça der veracidade à estatística! (rsrsrs)
O Ruben Amorim agora já assume que é candidato ao bicampeonato, porque a atual equipe amadureceu, conquistou dois títulos de campeã nacional em 4 anos e sendo o SCP atualmente campeão e com 13 jogadores que foram convocados por 8 seleções na data FIFA, pode assumir que é candidato, mas não passsa disso, 'candidato', já que o lema mantém-se na boca dele constantemente: 'jogo a jogo', 'foco nos 3 pontos' - até os 99% (rsrsrs)
Abraços Gloriosos.
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