Como uma advogada apaixonada em plena
batalha, levanto minha voz em defesa de uma causa frequentemente subestimada e,
por vezes, até escandalosamente negligenciada: a crônica. Sim, essa forma
literária tão singular e que muitos veem com um olhar condescendente, com se
fosse um mero passatempo de salão. Pois bem, preparem-se, porque estou aqui
para mostrar que ser cronista não é só uma arte; é uma verdadeira odisseia!
Vamos começar com uma verdade indiscutível:
escrever uma crônica não é um trabalho de pouca importância e eu sou a primeira
a sentir os efeitos disso. A começar pelo zumbido incessante no ouvido, que
tenho certeza absoluta ser um presente dos deuses da crônica. Afinal, nada mais
justo do que ter um lembrete constante da minha dedicação em ouvir até à última
fofoca cada risada contagiante e cada história curiosa que circula por aí.
E não é só isso: desde que abracei essa
missão de tentar transformar o cotidiano em crônicas interessantes, meu pescoço
nunca mais foi o mesmo. É exatamente isso! A famosa rigidez cervical,
consequência direta de passar horas em posições desconfortáveis, espichando o
pescoço na tentativa de ouvir conversas nas filas dos supermercados ou
analisando os movimentos dos que por mim passam. Se você acha que escrever
crônicas é fácil, experimente o torcicolo que vem com o pacote.
Mas… vamos além da questão física e do
zumbido irritante. A verdadeira batalha é a luta contínua contra o estigma que
esse gênero enfrenta. Muitas vezes a crônica é vista como uma escrita menor,
uma “coisinha” simples. Pois eu digo, com toda a minha indignação, que isso não
poderia estar mais longe da verdade! Não
se enganem, caros leitores, escrever uma crônica é um trabalho árduo! É preciso
esclarecer que ser cronista não é apenas sentar-se em frente ao computador e
magicamente transformar conversas de bar em prosa refinada. É muito, muito mais
que isso.
Ser cronista é ter, além de inspiração, uma
santa paciência para suportar o branco da tela zombando da sua momentânea falta
de criatividade. É observar o cursor, sem dó nem piedade, piscando
incessantemente. É perceber que as palavras não surgem, que elas têm vontade
própria e brincam de esconder nos recônditos mais profundos do cérebro, sem se
importar com o prazo, sempre à espreita. É querer chutar o pau da barraca ao
ver que as frases saem truncadas, as ideias embaralhadas, que o tempo passa, a
pressão aumenta, e a mente já exausta precisa escrever algo digno de ser lido. O
bloqueio criativo é assustador!
Ser cronista é tornar-se um verdadeiro
bisbilhoteiro profissional. É viver atrás de portas entreabertas, na esperança
de ouvir aquela conversa peculiar que há de inspirar o próximo texto.
Ser cronista é sentir-se um pouco Sherlock
Holmes das situações corriqueiras, com uma lupa imaginária nas mãos, procurando
detalhes curiosos pelas esquinas das ruas e nas entrelinhas das conversas. É
observar com olhar clínico o ato banal de um café da manhã e transformá-lo em
uma reflexão interessante sobre a vida, o universo e a importância da família
reunida em volta de uma mesa posta para as refeições.
Ser cronista, portanto, é ser uma espécie de
espião do cotidiano, um observador discreto das banalidades da vida. É
encontrar beleza e humor nas menores coisas e traduzir isso em palavras que
levem o leitor a rir ou refletir. E ainda que o gênero seja menosprezado por
alguns, é através dessas pequenas e significativas histórias que conseguimos
enxergar a grandeza das nossas experiências diárias.
Ser cronista é perceber que escrever é também
um ato de coragem. E que é necessário enfrentar os medos, as dúvidas, os
bloqueios. Aceitar que, muitas vezes, as palavras não vêm, que o texto nem
sempre sai perfeito, mas que há, sim, beleza na tentativa.
E se alguém ainda ousar dizer que a crônica é
um gênero menor, eu apenas sorrio. No final das contas, a vida de um cronista é
uma jornada de altos e baixos, de momentos de euforia criativa e de frustração
paralisante. Mas é também uma jornada de
descobertas e crescimento, uma busca continua por histórias inusitadas
descobertas através de lupas e com algumas consequências físicas como zumbidos
nos ouvidos, torcicolos ou tornozelo fraturado.
E se me permitirem um conselho, nunca
subestimem o poder de uma boa crônica. Elas podem não mudar o mundo, mas
certamente iluminam o dia de quem as lê.
26 comentários:
Oi, minha amiga
Passando pra te dizer que adoro tuas crônicas bem humoradas e que me fazem muito bem. E como bem dizes, elas não mudarão o mundo , mas certamente iluminam o dia de quem as lê. Eu sou testemunha disso!
Beijão da Lourdeca
Lucia,
Gostei de teres levantado a voz em defesa desse gênero literário tão interessante e peculiar. Sou apaixonada por crônicas e aqui deixo um elogio pra ti, cronista de mão cheia do nosso MUNDO BOTAFOGO! Que venham muitas outras pra alegrar nossos dias!
Clara da Oficina !
" Ser cronista é tornar- se um verdadeiro bisbilhoteiro profissional. É viver atrás de portas entreabertas , na esperança de ouvir "aquela "conversa
peculiar , que há de inspirar o próximo texto" .Pronto! Definição melhor não poderia haver. Parabéns, cara cronista!
Sou seu fã há tempos e fiquei admirado com a sua bela defesa desse gênero tão simples e sofisticado a um só tempo.
João Martini.
Oi, Lúcia Senna
Não posso sequer imaginar alguém que despreze as crônicas. Ao contrário, é um gênero literário que merece nossos aplausos, por apresentarem um texto pequeno, mas de qualidade irrefutável, na maioria das vezes. Exemplo maior disso, são as suas, Lúcia, sucesso absoluto no blogue.
Guilherme
Cara cronista
Não consigo conceber, alguém que tenha contato com suas crônicas possa ter o pensamento de que se trata de um texto qualquer, simplório ou sem relevância. Em plena era digital , posso lhe assegurar que ter acesso a esse material autêntico e rico é simplesmente maravilhoso. Só tenho a agradecer por transformar o cotidiano em verso e prosa, dotados de sentimentos.
Raquel
Boa noite, cara cronista!
Parabéns pela crônica, tão importante e que deveria ser lida por todos aqueles que menosprezam o gênero.
Nos dias atuais ,que nos falta tempo pra ler, a crônica é a melhor pedida.
Uma verdadeira lufada de vento fresco no nosso cotidiano, sempre tão apressado.
Amauri
Lúcia, além de excelente cronista, agora advogada. ÓTIMA!!!!.com toda maestria, seu jeito gostoso de falar dos múltiplos assuntos, é único e me encanta. Que venham mais e mais para iluminar e colorir nossos momentos.
Carmita
Ser cronista é viver intensamente na busca de histórias interessantes para contar. E isso não é pouca coisa; é, sim, maravilhoso! Adoro suas crônicas!
Laura
Obrigada, queridona!
Se, de alguma forma, elas iluminam teu dia, já me dou por muito satisfeita!
Beijocas.
Valeu, Clarinha! O elogio que me fazes é delicioso. Coisas de amigas queridas, né mesmo?
😀. Beijos!
Ah, João...seus comentário, sempre tão gentis, me deixam sensibilizada! Obrigada pelo carinho de sempre.
Grande abraço!
Poxa, Guilherme, não sei nem o dizer. ..
Só me resta agradecer tuas palavras carinhosas .
Abração!
Que lindo comentário, Raquel!
Obrigada, nora querida!
Beijão!
Boa noite, Amauri!
Você estava bem sumido aqui do blogue. Bom demais te reencontrar ! Sem falsa modéstia, tenho que concordar que crônica é uma excelente pedida, nesse mundo tão apressado que vivemos.
Obrigada pelo ótimo comentário.
Abração!
Oi, Carmita!
Se consigo te encantar com meus textos...bem, esse é o melhor elogio que uma cronista poderia ouvir.
Valeu, amiga!
Obrigada,Laura!
Grande abraço!
Sensacional! Uma defesa e tanto! Qualquer juiz te daria ganho de causa!
Edson
Morri de rir com os bastidores de uma cronista, muito bem descrito por você.
Parece que só mesmo uma palavra para definir tantos obstáculos a serem vencidos : uma ODISSEIA! kkkkk
Passando só pra te parabenizar por mais uma crônica inusitada : uma crônica sobre os bastidores de uma cronista ao escrever seus textos. Taí, gostei!
Celso Rodrigues
Lucia querida!
Sempre escrevendo textos divertidos ,ainda quando o assunto é sério. Sim, não sabia que o ato de escrever uma crônica, poderia trazer até mesmo sofrimentos físicos como Zumbido no ouvido ou torcicolos. Deus, meu! Kkkk
Que tenhas saúde pra continuar na luta,
Bjsssss
Leila
Bom dia, Lúcia!
Prazeroso é acordar cedinho, acessar o blog e deparar- me com mais uma crônica sua, sempre tão inspirada e criativa. A ideia de escrever sobre as dificuldades físicas e mentais no momento da concentração para executar o texto, é sobretudo super divertido. Essa é a sua marca: fazer do limão, uma suculenta limonada.
Parabéns por mais essa refrescante limonada.
Paulo
Será, Edson?
Se fosse você o juiz, não teria dúvidas...kkkkk
Obrigada, amigo!
Abraço!
Um comentário tão bacana no anonimato?
Pois é, caro leitor, é mesmo a única palavra que me ocorreu para definir a saga de uma cronista Kkkkkk
Gloriosos abraços
Que bom , Celso, saber que você gostou. É pra isso que uma cronista enfrenta tantos desafios. E , no final das contas, depois de comentários tão estimulantes assim, ver que a odisséia valeu a pena kkkk.
Obrigada
Oi, Leila
Pois é, minha amiga
Mas tudo é esquecido quando ao postar no blogue ,recebo tantos comentários bacanas.
Beijão e obrigada por comentar. Esse retorno é muito importante pra mim.
Oi, Paulo!
Amei seu comentário!
E que venham as doces limonadas ...
Grande abraço!
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